Entrevista sobre a Sessão Impeachment

“Não podemos fazer um pugilato congressual. Somos juízes de uma causa gravíssima que pode levar ao afastamento da presidente da República. As pessoas têm que olhar para essa Casa e respeitá-la”, afirmou o senador Aécio Neves, nesta sexta-feira (26/08), ao criticar o enfrentamento ocorrido esta manhã no plenário do Senado entre senadores do PT e da base do governo, durante o segundo dia de julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

Aécio Neves Entrevista Julgamento Impeachment

Foto: George Gianni

Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre o julgamento do Impeachment

Trechos da entrevista:

Como fica o clima no Senado para o julgamento?

Acho que chegamos no limite ou talvez tenhamos ultrapassado o limite do aceitável. Isso aqui é o Senado da República. E todos nós quando aqui chegamos temos que nos despir das nossas fraquezas e sermos representantes da Federação. Nesse período de intervalo, conversei com o presidente do Senado. Tenho conversado com os líderes da base do governo Michel Temer, aqueles que apoiam o impeachment, e até mesmo com lideranças da hoje oposição.

A nossa expectativa é de que no retorno dos trabalhos, cada palavra seja medida. Não podemos fazer um pugilato congressual. É claro que existem provocações desde ontem. Foi indevida a colocação da senadora Gleisi, ao contestar a legitimidade, a moral desta Casa e ela própria, acredito, reconhece isso. Um senador no microfone chamar o outro de desqualificado também é indevido. Como também reações mais exacerbadas.

Acho que esse episódio deverá servir para que cada um compreenda a dimensão do papel que exerce hoje em nome dos cidadãos brasileiros. Somos juízes de uma causa gravíssima que pode levar ao afastamento da presidente da República. Até a nossa posição hoje de sermos base de governo uns, e oposição outros, é secundária, se comparado ao papel que neste momento deve prevalecer, que é de juízes. E de juízes espera-se equilíbrio, sensatez.

Portanto, é com este espírito que tenho conversado com todas as lideranças e chegará ao momento de manifestarmos a nossa posição através das nossas declarações de votos por fim do voto e, para isso, resolvemos tirar as nossas inscrições no questionamento às próximas testemunhas de defesa até porque, com a exceção do Dr. Beluzzo, todas as outras já depuseram e tiveram a oportunidade de fazê-lo na Comissão Especial (do Senado).

O próprio Dr. Beluzzo a quem ouviremos, mas sem questionamentos, por não ter participado do governo, na verdade, expressará aqui uma opinião pessoal que não acredito impactará na decisão de qualquer senador, mas é preciso que, em especial aqueles que defendem a presidente Dilma, permitam que o processo caminhe. E ele não caminhará com sucessivas Questões de Ordem ou em pedidos reiterados de Palavra Pela Ordem para fazer discursos políticos. É hora de nos colocarmos à altura das expectativas da sociedade brasileira.

Vocês não vão perguntar então?

A nossa decisão de agora, desse instante, é não perguntarmos. A não ser que, eventualmente, alguma questão colocada justifique uma palavra nova. Estaremos no plenário. Não vamos nos ausentar.

Só o PSDB?

Não. Todos aqueles que apoiam de forma já expressa o impeachment estão retirando as suas assinaturas. Por que? Porque essas testemunhas já foram ouvidas na Comissão Especial e elas trazem consigo um objetivo intrínseco, para usar uma palavra muito na moda aqui no Congresso Nacional que é a protelação, que é avançarmos muito nos próximos dias com este processo. Por isso, estaremos presentes, mas por economia processual, só iremos intervir se houver algum que justifique essa nossa intervenção.

Com isso, tenta-se adiantar o processo?

Exatamente. É para adiantarmos o processo e irmos para a parte final, que é a participação da presidente Dilma, e nisso quero discordar pelo menos de uma parte da fala do presidente Renan porque não podemos – e ninguém pode – cancelar a vinda da presidente da República. Isso é um direito processual, isso faz parte do processo, o direito da presidente estar aqui para se defender.

O que queremos é atuar para que não seja sequer adiado por algumas horas, ou mesmo um dia, a presença dela. Vamos, com essa economia processual que acabamos de decidir, vamos ter aqui a presidente, acredito eu, no dia 9. Vamos fazer uma arguição clara, dura, mas sempre respeitosa, para que possamos dar ao Brasil a chance de um recomeço. Isso só vai acontecer no momento em que esse processo for finalizado.

Como é que o senhor avalia a postura e reação do presidente Renan Calheiros?

Acho que é muito difícil você analisar uma manifestação pessoal sem avaliar no contexto no qual ela se deu. Acho que o que de mais grave ocorreu aqui foi a manifestação da senadora Gleisi de contestar a moral do Senado Federal. Se ela acha que essa Casa não tem moral, ela deveria dela ausentar-se, não participar ou então dizer também que ela se insere entre aqueles que ela considera sem moral. Foi um erro grave, acirrou os ânimos, palavras Pela Ordem apenas para atacar companheiros, como fez também um senador do PT, não contribui.

É claro que as respostas acabam muitas vezes excedendo também o razoável. É hora de botarmos pano quente, vamos zerar daqui para trás e olhar para frente. Esse processo tem que terminar, e queremos que ele termine até na madrugada da próxima terça-feira.

Ontem falou ‘sem moral’ e hoje ‘hospício’. Onde é que vai parar?

É o que tenho dito. Esse é Senado Federal. As pessoas têm que olhar para essa Casa e respeitá-la. O meu papel, nesse instante, por mais que me indigne com algumas situações que vem sendo feitas, por mais que veja equívocos graves na conduta dos defensores da presidente Dilma, é muito grave essa questão dessa testemunha que recebe um cargo do Senado Federal indicado por uma senadora.

Mas acho que tudo isso é absolutamente secundário. Não foi o relatório do doutor Júlio Marcelo que está levando o Brasil hoje a estar nas portas de um afastamento da presidente da República. Não foi a contribuição que lhe deu o dr. D’Ávila que está levando o Brasil a esse impasse. Não. É sim o conjunto da obra que vem acontecendo ao longo desses últimos anos.

Portanto, serenidade. A minha palavra será sempre de absoluta serenidade. Dou exemplo pessoal me contendo. Gostaria de muitas vezes de ir ao microfone, mas quando vejo que ali é apenas uma propaganda pessoal, ou uma manifestação sem qualquer consequência produtiva para o processo, eu tenho evitado ir. Espero que esse seja o mesmo espírito dos senadores que agora tomando um chazinho de camomila e suco maracujá possam voltar mais calmos para concluirmos esse processo.

Após confusão em plenário, Aécio Neves pede por bom senso

REPÓRTER:

Em entrevista coletiva, nesta sexta-feira, o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, defendeu serenidade e bom senso no andamento dos trabalhos da sessão de julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. O apelo do senador tucano foi feito logo após o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, antecipar o intervalo de almoço da sessão devido a uma discussão generalizada no plenário do Senado, motivada por troca de ofensas entre senadores do PT e do PMDB.

SONORA DO SENADOR AÉCIO NEVES

“Acho que esse episódio deverá servir para que cada um compreenda a dimensão do papel que exerce hoje em nome dos cidadãos brasileiros. Somos juízes de uma causa gravíssima que pode levar ao afastamento da presidente da República. Até a nossa posição hoje de sermos base de governo uns e oposição outros é secundária, se comparado ao papel que neste momento deve prevalecer, que é de juízes. E de juízes espera-se equilíbrio, espera-se sensatez.”

REPÓRTER:

Aécio Neves também disse que os senadores favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff não farão questionamentos às testemunhas de defesa nesta sexta-feira. A decisão foi tomada para permitir que o processo caminhe com mais agilidade.

De Brasília, Shirley Loiola.

Aécio Neves: “O Brasil passa a ter uma nova chance de reescrever uma nova história”

O plenário do Senado Federal aprovou na manhã desta quinta-feira a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff por 55 votos a favor e 22 contra. Com a decisão, ela fica afastada do mandato por até 180 dias. Agora, o vice Michel Temer assume a Presidência da República. Em entrevista coletiva após a votação, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, disse que a partir de agora o Brasil tem a chance de mudar sua história.

Sonora do senador Aécio Neves

“Hoje não é um dia de comemorações para ninguém, apenas o que estamos assistindo é a reafirmação dos nossos valores democráticos e da nossa Constituição. Foi cumprida a Constituição do Brasil, que estabelece limites para a ação do governante. O sistema presidencialista, ele funciona com pesos e contrapesos. O presidente pode muito, mas não pode tudo e as regras contidas na Constituição foram cumpridas a partir de um rito estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal e o Brasil passa a ter uma nova chance de reescrever uma nova história.”

Aécio Neves afirmou que espera que o novo governo tenha sintonia com a população brasileira para suprir as reais necessidades do país.

Sonora do senador Aécio Neves

“O que esperamos é que o governo que agora assume, com base no que determina a Constituição, se coloque à altura das expectativas e dos enormes desafios do país. Um governo enxuto, um governo efetivo do ponto de vista das propostas que venha a apresentar e que já hoje, no máximo amanhã, apresente ao Congresso Nacional um conjunto de medidas que sinalize de forma clara para o início de uma nova fase na história do Brasil.”

Agora, o Senado passará a colher provas, realizar perícias, ouvir testemunhas de acusação e defesa para instruir o processo e embasar a decisão final. O julgamento será presidido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. O impedimento definitivo da presidente depende do voto favorável de 54 dos 81 senadores, em julgamento que ainda não tem data para ocorrer.

De Brasília, Shirley Loiola.

Boletim

Oposição apoia manifestações marcadas para 13 de março

Os partidos de oposição no Congresso Nacional oficializaram nesta terça-feira apoio às manifestações marcadas por movimentos sociais para o próximo dia 13. Após reunião com os líderes oposicionistas, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, ressaltou a importância do ato diante do agravamento da crise política, econômica, social e moral no país.

Sonora do senador Aécio Neves

“Estaremos conclamando os nossos companheiros em todas as regiões do país, de todos os municípios, para que se façam presentes nesse momento de profundo agravamento da crise política, econômica, social e moral que vem devastando o Brasil. E o compromisso final e formal é de que nós estaremos semanalmente nos reunindo e traçando uma estratégia cada vez mais articulada e mais vigorosa no sentido de dar ao Brasil o início de um novo tempo”.

Aécio destacou que a oposição também irá pedir uma audiência com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, para cobrar celeridade na análise do processo que trata do rito na Câmara dos Deputados do processo de impeachment da presidente Dilma. O tucano destacou a importância das novas investigações da Operação Lava Jato e anunciou que o PSDB protocolou na Justiça Eleitoral um pedido para que as provas que levaram à prisão do marqueteiro do PT, João Santana, sejam juntadas à ação que pede a cassação do mandato da presidente Dilma em razão do uso de dinheiro de Caixa 2 na campanha eleitoral.

Sonora do senador Aécio Neves
“É preciso que o governo comece a se defender não politicamente, não atacando a oposição, mas das acusações formais que são feitas. E esse episódio das últimas horas é um fato de extrema gravidade que, tenho certeza, será analisado pelos ministros. Aqui não há qualquer tipo de pressão espúria. O que queremos e que haja alguma agilidade para que essa sensação hoje da sociedade brasileira de desgoverno absoluto possa ser superada.”
De Brasília, Shirley Loiola.

Boletim

Oposição cobra agilidade no processo de impeachment

O presidente nacional do PSDB anunciou que os partidos de oposição pedirão agilidade ao STF nas decisões necessárias para o Congresso retomar a tramitação do pedido de impeachment da presidente da República e querem que o pagamento feito no exterior ao marqueteiro do PT seja investigado também pela Justiça Eleitoral. O publicitário João Santana foi preso hoje pela Polícia Federal acusado de receber US$ 7,5 milhões, em conta no exterior, pagos por empresas envolvidas na Lava Jato.

“Esse episódio das últimas horas é um fato de extrema gravidade que, tenho certeza, será analisado pelos ministros”, afirmou Aécio.