Real, 22 anos

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 04/07/2016

Não é a primeira vez que me refiro, neste espaço, ao advento do Real, que está completando 22 anos.

Faço isso como reconhecimento a um esforço que reuniu coragem, responsabilidade e compromisso com o país e acabou por se transformar em um ponto fora da curva na história da administração pública brasileira, refém, tantas vezes, da passividade e de interesses que não os coletivos.

Desse ponto de vista, a estabilidade monetária foi uma das maiores conquistas da sociedade brasileira nos anos recentes, após inúmeras tentativas de derrotar a doença crônica da inflação, que roubava os salários dos trabalhadores muito antes de cada mês terminar.

A atuação decidida dos governos dos presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso venceu resistências e superou expectativas. Naquele percurso, foram sempre fundamentais a confiança e a adesão da população, bases sobre a quais se estabeleceram no país, legitimamente, as novas regras para o funcionamento da economia.

Tombada a inflação, o passo seguinte foi a busca do controle dos gastos públicos, uma tarefa tão difícil quanto a primeira, na medida em que o desafio era enfrentar com determinação um regime de descontroles incrustado anos a fio no corpo do Estado brasileiro.

Se avançamos com a edição de uma lei de responsabilidade fiscal, a obra, contudo, ficou incompleta.

Os governos que se sucederam transformaram o controle da inflação e o respeito ao dinheiro público em temas de menor importância. Os 13 anos de gestão petista reavivaram a carestia e tornaram letra morta a responsabilidade fiscal.

É por essa razão que vem em boa hora a manifestação explícita do Banco Central de que buscará, sem subterfúgios, atingir a meta de inflação, tornada miragem nos últimos anos. A autoridade monetária visa a normalidade institucional que no passado se tornara regra, mas que a leniência petista desvirtuou.

Será, contudo, sempre mais difícil alcançar esse objetivo se a política monetária não estiver ancorada em rigorosa sobriedade fiscal. É crucial fechar a torneira da farra dos gastos públicos, prática ainda não inteiramente assumida pelo novo governo. Alguns sinais dados nas últimas semanas não contribuíram para fortalecer a ideia de que realmente entramos em um outro momento.

O Brasil só conseguirá vislumbrar perspectiva melhor, real, se a transparência e a responsabilidade ancorarem as decisões de governo, demonstrando à população o tamanho do desafio em curso e os sacrifícios que serão exigidos de todos. Sem exceção.

O caminho é árduo, mas precisa ser trilhado. Assim como foi no passado, na vitória de todos contra a inflação. Sem concessões a quem quer que seja.

Leia também aqui.

Brasil Real Inflação

BR12

Plano Real, 20

O país está em festa. Milhares de brasileiros estão nas ruas e passarelas do samba, protagonizando uma das maiores e mais bonitas celebrações populares do mundo e a nossa excepcional diversidade cultural.

Neste momento, suspendemos as tensões e eventuais diferenças e idiossincrasias para ocupar as avenidas, sob o signo da alegria. Poucos fenômenos são capazes de construir uma convergência assim, tão ampla e verdadeira.

 

Leia mais: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/aecioneves/2014/03/1420228-plano-real-20.shtml.

“Estamos lenientes com a inflação”

Entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à revista Isto É Dinheiro, publicada no dia 27 de dezembro de 2013

No dia 17 de dezembro, antes de iniciar a entrevista à DINHEIRO, na sede do seu instituto, no centro de São Paulo, conferiu todos os compromissos da semana. “Vixe, quanta coisa”, disse, em tom de lamentação. FHC admite que sente falta de Brasília, mas não abre mão de morar e trabalhar na capital paulista. Falar sobre os 20 anos do Real é também uma oportunidade para relembrar erros e acertos do período em que governou o País, de 1995 a 2002.

“Se o Gustavo (Franco) tivesse feito aquela operação, teria dado certo, porque o mercado tinha medo dele”, afirma FHC, referindo-se à maxidesvalorização cambial de 1999, conduzida pelo economista Francisco Lopes, que durou poucos dias na presidência do Banco Central. Nesta entrevista, o tucano relata os bastidores do Plano Real, reclama do nível atual de inflação – “acaba erodindo o poder de compra das famílias” – e alerta que o Brasil precisa rever sua estratégia global. “Estamos isolados”, diz.
Confira a entrevista, que abre o Especial 20 anos do Real:
DINHEIRO – Qual foi o diferencial do Plano Real em relação aos planos anteriores?

Fernando Henrique Cardoso – O Plano Real aprendeu com os planos anteriores uma série de coisas. Uma delas, fundamental para o sucesso da estabilização, foi não ter dado aumento de salário, porque a estabilização em si gera ganhos de renda. Se há sobreposição de um ao outro, estoura o consumo. Como não há produção suficiente para atender à demanda, a inflação volta. Foi importante também a decisão que tomamos de não transformar um plano num susto, ou seja, anunciar o que iria ser feito. Isso foi fundamental para que a população entendesse e apoiasse as medidas.

DINHEIRO – Qual foi o papel da Unidade Real de Valor (URV) nessa transição?

Foi fundamental, pois a URV permitiu que a população entendesse o que era a inflação, visse que era possível ter uma moeda estável e escolhesse a moeda corrente ou a URV. Essa possibilidade de escolha evitou processos judiciais no futuro.

DINHEIRO – O STF, presidido pelo ministro Joaquim Barbosa, vai decidir em breve sobre as perdas de correntistas com os planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor. Quando o sr. vê que o Plano Real está fora dessa lista, qual é o sentimento?

De que o plano foi correto. Aqueles planos todos tiveram um risco de contestação e se o Supremo der ganho de causa aos poupadores, arrebenta a Caixa Econômica e o Ban­­co do Brasil, de imediato.

DINHEIRO – Qual foi o grau de autonomia que o então presidente Itamar Franco deu ao sr. no Ministério da Fazenda?

Enorme. O Itamar foi uma pessoa que me deu apoio o tempo inteiro. Mesmo quando não estava tão entusiasmado com as ideias, ele confiou e me apoiou irrestritamente. Ele não era uma pessoa de conhecimentos técnicos, mas tinha sensibilidade política. No final, na hora de implementar a URV, houve um momento de tensão porque alguns ministros não tinham entendido bem a URV e tinham medo de que houvesse prejuízo aos salários, um tema ao qual o Itamar era sensível. Naquele momento, tive de ser mais duro com a equipe toda e o Itamar me apoiou.

DINHEIRO – Olhando o primeiro mandato, como o sr. avalia a política cambial? O sr. teria feito alguma coisa diferente?
No primeiro mandato, nós não tínhamos margem de manobra. Ainda havia dificuldades na área fiscal. Agora, olhando para trás, eu teria tentado ajustar o câmbio um pouco antes. Mas isso é engenharia de obra feita. Na hora que você está atuando, depende do que as pessoas estão fazendo, da sua equipe. Não basta querer, é preciso ver se a equipe está de acordo, tem de ver quem vai executar. E na época não havia na equipe essa mesma visão. Talvez tivesse sido possível ajustar o câmbio no final de 1996, porque foi um ano calmo, sem crises. Nós tentamos no final de 1995, logo no começo do meu governo, ajustar o câmbio. Mas teve a crise do México e os mercados estavam muito sensíveis. Então, a primeira tentativa não deu certo.

DINHEIRO – Por que só mudaram o câmbio em 1999?

Ficamos com medo de mexer no câmbio e estourar a inflação, porque estava tudo muito de­­sorganizado. Estávamos a­­­­penas começando a desindexar a economia e colocar ordem nos Estados e municípios. Quando teve a crise de 1999, eu queria mudar o câmbio e por isso mudei o presidente do Banco Central. Mas isso não era uma visão unânime. E quando nós fomos mexer, fizemos mal. Se o Gustavo tivesse feito aquela operação, teria dado certo, porque o mercado tinha medo dele. Eles acharam que o Chico Lopes ficou um pouco dubitativo. Eu queria mexer porque era óbvio que tinha de acertar o câmbio.

DINHEIRO – Por que não foi o Gustavo Franco que fez a operação?

Porque o Gustavo achava que a condição fiscal não permitia a desvalorização cambial. Então ele queria mexer muito lentamente, com desvalorização gradual. Ele não confiava na estrutura fiscal. Mas no final das contas, foi uma surpresa positiva quando em abril nós vimos que a inflação não disparou. Nós tínhamos desarticulado bastante as indexações. Naquele mo­­mento, o Itamar ameaçou uma moratória e causou comoção mundial. Para restabelecer a confiança no sistema fi­­nanceiro leva muitos anos, mas para perdê-la é rápido.

DINHEIRO – Qual foi o papel do Proer e do Proes?

Foi fundamental. Alguns bancos estavam em situação muito de­­licada quando pararam de ter lucro com o floating, os ganhos com a inflação. Aquilo deixou os bancos muito vulneráveis. Nós tínhamos de ter um instrumento que evitasse o que aconteceu no passado, quando o ministro da Fazenda telefonava para um banco e o obrigava a engolir o outro. E o Banco Central arrumava as contas depois. Nós queríamos fazer uma coisa transparente e o Proer foi isso, um mecanismo transparente. E mais: fizemos com que os acionistas dos bancos que estavam em dificuldade ficassem com seus bens bloqueados. E tivemos exemplos difíceis no mercado. Um dos bancos era de um ministro meu (o Bamerindus, de José Eduardo de Andrade Vieira). Mostramos que nós não estávamos brincando, era para valer (leia infográfico sobre os bancos). Depois o Banco Central passou a implementar as regras de Basileia, diminuindo a alavancagem e salvando o sistema financeiro brasileiro. Ao contrário do que o pessoal da oposição dizia, não eram os bancos que mandavam no Banco Central. Já o Proes foi muito importante porque os bancos estaduais eram bancos emissores (de moeda), que emitiam na forma de dívida dos Estados. Os tesouros se endividavam junto ao banco e não pagavam. Depois os Estados passaram a fazer dívida no mercado, a taxas de juros altíssimas, e nós tivemos de fazer a consolidação das dívidas. A oposição dizia que a dívida estava au­­mentando, mas estávamos apenas reconhecendo que existiam esqueletos e se­­gurando-os. Colocamos regras até a che­­­gada da Lei de Responsabilidade Fiscal.

DINHEIRO – Essa dívida de São Paulo, que está para ser renegociada, tem juros de 9% ao ano mais IGP-M. O sr. concorda que é um reajuste draconiano?

Se você olhar para o passado, a inflação era de 9% ao mês. O governo federal ficou com o ônus dessas dívidas todas e os Es­­tados passaram a nos pa­­­­gar a uma taxa que, para a época, era muito razoável. Agora, pode atualizar o indexador, mas com cuidado, pois não deveriam retroagir contratos. O mais grave disso aí é o seguinte: quando você dá mais folga aos Estados e municípios, o que eles vão fazer? Vão se endividar para poder fazer obras. É complicado, é uma gestão difícil. Se for investimento, é bom, mas às vezes vai para o inchaço da máquina.

DINHEIRO – De quem foi a ideia do tripé econômico?

Foi uma construção que partiu do Armínio Fraga e do Pedro Malan, no segundo mandato. Ao contrário do que as pessoas costumam dizer, o segundo mandato foi muito mais transformador do que o primeiro. Porque o tripé se consolidou no segundo mandato, como o câmbio flutuante, o sistema de metas de inflação e a Lei de Responsabilidade Fiscal. E todas as bolsas sociais, das quais depois o Lula se beneficiou, vêm do segundo mandato.

DINHEIRO – O sr. acha que a avaliação do seu segundo mandato é injusta?

É falta de conhecimento das pessoas. O segundo mandato foi em condições políticas mais difíceis, porque tinha a sucessão e o PFL (atual DEM) rompeu. O segundo mandato consolidou as conquistas do primeiro.

DINHEIRO – O sr. mencionou o ministro Pedro Malan. Por que ele ficou nos oito anos do seu mandato?

Porque era um exemplo da pessoa dedicada ao bem público, ele não arreda o pé. Não faz propaganda dele próprio, é correto, não falha. Ele tinha algo que é essencial, que é a respeitabilidade e a confiança. O Pedro pediu demissão em janeiro de 1999, e eu não aceitei.

DINHEIRO – O sr. sempre ressalta que no seu governo houve muitas crises externas. Foi azar?

O capitalismo tem ciclos. Quando fui eleito, em outubro de 1994, e veio a crise do México, eu pensei: “mala suerte”. Quan­­­­do o Lula assumiu, ain­­­da estava em má fase. Em 2004, empinou. Em 2009, piorou de novo. Agora a Dilma está numa fase baixa. Os governos têm a ilusão de que eles fazem e tudo acontece, mas não é bem assim. Há movimentos que não dependem só dos governos, mas das condições gerais do sistema econômico, do ciclo de acumulação do capital. Nunca ninguém pegou tanta crise junta como eu. Porque era um momento em que o sistema global estava se redefinindo com novas tecnologias, interconexão dos mercados financeiros, abertura de economias. Eu só não tive crise em dois anos: 1996 e 2000. Em 1995, tivemos uma em consequência da crise de 1994, no México. Em 1997, veio a crise da Ásia; em 1998, da Rússia; em 2001, dos Estados Unidos. E, em 2002, o Lula.

DINHEIRO – Os principais parceiros que o Brasil tinha no mundo naquele período ajudaram o País?

Eu não posso criticar o governo americano porque o Bill Clinton deu muito apoio. Mas não foi o único. Alemanha, Portugal, Espanha e Inglaterra nos deram apoio. Começamos a estreitar relações com a China, que ainda não era o que é hoje. O mundo não nos foi hostil, pelo contrário. Naquela época, o Brasil exercia a liderança com tranquilidade na América Latina. Tivemos problemas com a Argentina, mas em geral a coisa foi bem. Mantivemos relações com a Rússia. O termo BRICS surgiu em 1999 e a relação entre os BRICS foi muito positiva. E também com a África, inclusive Mandela esteve aqui. Tivemos dificuldades tópicas com o Canadá, por causa da Embraer, e com os Estados Unidos, quando abrimos processo na OMC no caso do algodão. Uma coisa é ter relações diplomáticas, outra coisa é ter relações comerciais cada um defende o seu. Ao entrar numa briga comercial, isso não deve ser estendido a uma briga política. Um país maduro não precisa dizer que é líder disso ou daquilo, ele é e pronto. Na América Latina, nós ajudamos a equilibrar bastante o Paraguai, o Equador, o Peru e a Venezuela. Melhoramos a nossa relação com o México. Foi o começo da expansão do Brasil no mundo.

DINHEIRO – O sr. tem uma proximidade com o presidente Bill Clinton. Não dava para ter esperado um pouco mais dos Estados Unidos?

Naquela época, eles nos apoiaram quando houve dificuldades. Não há amigos em relações comerciais. Você tem, às vezes, amigos políticos quando o mundo está dividido. No nosso caso, a Guerra Fria já tinha acabado. Então não havia inimigos políticos.

DINHEIRO – E os nossos vizinhos? O Mercosul se desenvolveu como o sr. imaginava?

Não. O Mercosul não deu os passos para avançar mais. Não ficou nem numa zona de comércio e nem houve propriamente uma integração. Isso agora causa problemas, porque ficamos muito amarrados ao Mercosul e não desenvolvemos relações bilaterais.

DINHEIRO – Olhando para o futuro, qual tema mereceria a mesma atenção que o Plano Real?

Acho que temos de rever a nossa visão estratégica. Depois do governo Lula, ficou a sensação de que o novo mundo que se formaria seria um mundo de declínio dos Estados Unidos, principalmente, e de emergência da China, dos países árabes e do Terceiro Mundo. Quando veio a crise, essa crença se fortaleceu. Mas estamos saindo da crise e o que aconteceu é outra coisa. Então, nós temos de nos ajustar, pois estamos isolados. Temos de voltar a ter uma posição mais ativa no mundo.

DINHEIRO – Apesar do Plano Real, o Brasil ainda cresce pouco?

Se você olhar com objetividade, o grau de crescimento econômico do Brasil é baixo. Não me refiro a este governo, estou generalizando. Se você olhar nos últimos 30, 20 ou 10 anos, a taxa de crescimento nossa chega a 2,5% e 3%, na média. É pouco. A produtividade está decaindo. E não é a produtividade na fábrica, é a produtividade global, é o custo Brasil. Alguma coisa está errada. Os governos que me sucederam acreditaram muito que poderiam continuar crescendo com base na continuidade de investimento externo e no consumo das famílias. Isso é positivo, mas tem limites. A taxa de poupança nunca aumentou. Com poupança de 17%, 18% do PIB, você não cresce mais do que 2,5% do PIB. Esse problema não foi enfrentado. Para enfrentá-lo, nós temos necessidade de investir. Essa infraestrutura parou porque pararam as concessões. Agora que voltou, pois havia um preconceito ideológico. Agora o governo faz e diz que não está fazendo privatização. O que foi feito com a telefonia é exatamente o que foi feito no leilão de Libra ou no leilão de aeroportos. O governo dá a concessão durante um certo período e depois tudo volta ao Estado. Temos de dar mais energia às agências reguladoras e dispôr de projetos efetivos de investimentos. Sem falar em questões difíceis como educação e saúde.

DINHEIRO – A inflação tem ficado acima do centro da meta, de 4,5%. Em algum momento devemos ambi­cionar reduzi-la?

Eu acho que precisaria porque o mundo mudou. Antigamente a taxa de inflação era uma variável não tão importante quanto é hoje. Mas atualmente, por causa da competitividade, a média de inflação no mundo é 2%. Nós estamos lenientes com a inflação. E isso acaba erodindo o poder de compra das famílias. Quando começa a erodir, elas se endividam. Para haver a expansão do consumo, houve um aumento enorme do crédito. Isso também tem limite. O que aconteceu? O crédito privado refluiu e os bancos decidiram ficar com os melhores pagadores. O setor público não refluiu, mas vai ficar com pagadores discutíveis, que têm como garantia final o Tesouro. Se você olhar a Caixa Econômica, saberá que daqui um tempo o Tesouro vai ter de socorrê-la. O BNDES, presidido por Luciano Coutinho, já está sendo socorrido pelo Tesouro. Isso tem limite. Para ter programa de longo prazo e aumentar a taxa de investimento, tem de elevar a pou­­pança interna e externa, tem de fazer mais investimento e não pode confiar que o crédito é elástico até o infinito, porque ele não é.

DINHEIRO – O governo Dilma já sinalizou que o BNDES vai voltar a ter um papel um pouco menor. É correto, então? 

Sim, o governo se assustou porque há a ameaça de um downgrade na sua nota de risco. Eles sabem o que isso significa. Mas, na prática, ainda não estão fazendo nada, por enquanto é só palavra.

DINHEIRO – Em 2009, o Brasil foi colocado pela The Economist como queridinho e este ano o Cristo Redentor está desgovernado. Qual análise está correta?

As duas são exageradas. Nem foi tão bem, nem vai tão mal.

DINHEIRO – Por que a visão estrangeira é tão equivocada?

É sempre assim. Os mercados exageram. A visão estrangeira é a visão do mercado financeiro, e o mercado tende a exagerar.

DINHEIRO – Há alguma relação entre a falta de mão de obra qualificada e os problemas na educação? Qual é o caminho?

Tem a ver, sim. Acho que o presidente Lula, talvez pela sua trajetória pessoal, resolveu colocar ênfase nas universidades. O problema central do Brasil não são as universidades. É o ensino fundamental e o ensino técnico. Foram criadas muitas universidades, sabe lá Deus de que qualidade. Por outro lado, houve perda de estímulo na educação fundamental. E aí tem uma coisa da visão corporativa sindical de querer que os salários sejam homogêneos, que não haja diferenciação pela produtividade. O professor que vai melhor ganha mais, como tentamos fazer em âmbito federal. Algo de meritocracia tem de haver. É óbvio que tem de haver uma base salarial boa, mas depois tem de premiar quem produz mais intelectualmente e se dedica mais aos alunos.

DINHEIRO – Qual foi o grande acerto do Plano Real?

Foi um plano que explicou ao País o que ia fazer e fez. Isso não foi um truque, foi uma coisa verdadeira. Foi um plano que deu certo, a moeda está aí até hoje. Se você pegar o que houve no pas­­sado, o País é outro após o Real. Não teria possibilidade de ter o avanço que houve sem a estabilização. Junto com a estabilização, nós aumentamos o salário mínimo, sempre. O aumento de salário mínimo real vem desde 1993. Isso melhorou o bem-estar da sociedade.

DINHEIRO – Vinte anos depois, o sr. sente orgulho do Real?

Creio que a palavra orgulho é muito forte. Fiz o que tinha que fazer. Arrisquei o que tinha que arriscar. Nunca me preocupei com popularidade. Sempre fiz o que achava que era bom para o Brasil. Podia estar errado, mas a minha consciência estava tranquila. Hoje todo mundo fala de estabilidade econômica. Antigamente, os que me criticavam diziam que estabilidade era só para o capital, não era para o trabalho. Hoje eles aprenderam. Isso incorporou uma preocupação comum no Brasil de que não se pode deixar a inflação ter o ímpeto que ela teve. Nós estamos reclamando da inflação hoje, mas está entre 5% e 6% ao ano. Naquele tempo era de 20%, 30% ao mês, uma barbaridade. Aquilo foi a principal fonte de manutenção da po­­breza e de aumento dela no período anterior ao Real.

 

Leia a entrevista completa também aqui

Aécio, FHC e governadores realizam em Minas ato em defesa de estados e municípios

Oito governadores, 230 prefeitos, parlamentares e lideranças políticas reuniram-se, nesta segunda-feira (18/11), em Poços de Caldas (MG), para defender o fortalecimento da Federação brasileira e reivindicar a distribuição mais justa de recursos para Estados e municípios.

O encontro coordenado pelo presidente do PSDB, senador Aécio Neves, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e líderes tucanos de São Paulo e Minas, deu início à mobilização que o partido fará em favor de um novo debate sobre a excessiva concentração de recursos e poder no governo federal, e a crescente incapacidade de municípios brasileiros na prestação de serviços básicos à população.

Aécio Neves e líderes tucanos lançaram a Declaração Poços de Caldas + 30 e lembraram o encontro ocorrido trinta anos atrás, em 19 de novembro, na mesma cidade mineira, quando os governadores de Minas, Tancredo Neves, e de São Paulo, Franco Montoro, se uniram em defesa das eleições diretas.

“Trinta anos atrás, aqui mesmo, no Palace Hotel, nesta mesma sala, o então governador Tancredo, ao lado do governador Franco Montoro, governadores dos dois mais populosos estados brasileiros, assinaram um documento convocando a uma grande mobilização em torno da recuperação da democracia, em torno das eleições diretas para presidente da República. Passados 30 anos, nos reunimos hoje em Poços de Caldas para fazermos aqui um outro grande brado, outro chamamento pela recuperação dos municípios e dos estados brasileiros, pelo fortalecimento da Federação”, afirmou Aécio Neves.

 

Moeda Real

Em seu discurso, o presidente do PSDB destacou outro importante momento na história do país ocorrido em Poços de Caldas, com o lançamento oficial da primeira moeda do Real, pelo então presidente FHC.

“O que vejo hoje é a junção daquele sentimento de emoção que galvanizou o Brasil e permitiu que as ruas fossem tomadas pela nossa gente, e que nos levou à reconstrução da democracia, com outro grandioso momento. Quando o presidente eleito pelo voto popular, que sucedia outro grande presidente mineiro, nos fazia reencontrar com a estabilidade econômica, com a modernização da nossa economia, com o resgate da credibilidade do Brasil. Um corajoso e extraordinário homem público, ao maior estadista vivo no Brasil, Fernando Henrique Cardoso”, afirmou Aécio Neves

 

Fim do ciclo de poder

O encontro foi aberto com a execução do Hino Nacional para cantora Fafá de Belém, considerada musa da campanha pelas Diretas Já. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em discurso, que a situação da Federação hoje revela o fracasso do atual modelo de poder. Ele pediu que o senador Aécio seja o porta-voz do partido para denunciar os desmandos do governo do PT e propor uma nova agenda para o país.

“Estamos denunciando que está falido esse ciclo de poder. As estruturas políticas perderam credibilidade, pois aqueles que exercem hoje o papel maior da República não souberam honrar a confiança que o povo depositou neles. Temos que dar um basta nisso. E nossa palavra tem que ser serena, mas firme. E gostei de ouvir o Aécio aqui, sereno, mas firme. Chegou o momento, Aécio, de assumir a responsabilidade. A história, na sua impetuosidade, seleciona. Não sei se é justa ou injusta, mas é o momento. E o é seu, assuma o momento. Fale por nós com força, com firmeza, com franqueza, sem medo”, afirmou Fernando Henrique.

 

Esperança

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, reiterou o pedido do ex-presidente Fernando Henrique para que o senador Aécio Neves percorra o país e converse com a população sobre os problemas vividos. Para ele, o ato político em defesa da Federação é movido pela esperança.

“É a esperança que nos traz hoje aqui, a Minas, para dizer ao senador Aécio que percorra o Brasil, ouça o povo brasileiro fale com o povo brasileiro, leve a esperança que a população brasileira precisa. Com sua juventude, com sua experiência e sua competência para servir ao povo brasileiro”, discursou Alckmin.

 

Ato político

Mais de mil pessoas participaram do ato político em defesa da Federação. Além dos discursos do senador Aécio Neves, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de governadores e parlamentares, os presentes acompanharam trechos em vídeo de discursos dos ex-governadores Tancredo Neves e Franco Montoro em defesa da autonomia e da descentralização de recursos em favor de Estados e municípios.

Os oito governadores do PSDB compareceram ao encontro: Geraldo Alckmin (SP), Antonio Anastasia (MG), Beto Richa (PR), Marconi Perillo (GO), Simão Jatene (PA), José de Anchieta Jr. (RR), Siqueira Campos (TO) e Teotônio Vilela (AL).

 

Lideranças de Minas reafirmam compromisso com fortalecimento da Federação

Lideranças do PSDB de Minas Gerais assinaram, nesta segunda-feira (18/11), a Declaração de Poços de Caldas +30, clamando por mais democracia e distribuição mais justa dos recursos arrecadados no país. O encontro “Federação Já, Poços de Caldas +30” reuniu mais de 1.000 pessoas no tradicional Palace Hotel com a presença de oito governadores do PSDB, de 230 prefeitos, do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de deputados estaduais e federais vereadores do PSDB e de outros partidos.

O governador Antonio Anastasia afirmou que é preciso chamar a atenção para a gravidade da situação dos 27 estados e de mais de 5.500 municípios brasileiros.

“A desconcentração é fundamental para aquilo que hoje o povo brasileiro mais clama e solicita que são as melhorias dos serviços públicos. Sem esta descentralização, lamentavelmente não teremos a boa educação, a boa saúde a boa segurança”, afirmou Antonio Anastasia.

O senador Aécio Neves afirmou que refundar a federação é fundamental para garantir melhores condições aos estados e municípios enfrentar as dificuldades do dia a dia.

“O que estamos fazendo aqui hoje, com a reunião de todos os governadores do PSDB, é fazer um grande chamamento à construção de uma agenda que permita que os estados e municípios tenham melhores condições, mais recursos e maior autonomia para enfrentar as questões da saúde, da educação e da segurança pública”, afirmou o senador Aécio Neves.

Além de reafirmar o compromisso do PSDB com a soberania e o pluralismo da Federação brasileira, o encontro “Federação Já, Poços de Caldas +30” marcou os 30 anos da assinatura da “Declaração de Poços de Caldas” – primeiro documento público do Movimento das Diretas Já, divulgado em 19 de novembro de 1983 pelos governadores Tancredo Neves (MG) e Franco Montoro (SP).

 

Diz a Declaração de Poços de Caldas +30:

“Há 30 anos, os brasileiros se uniram em torno da causa da liberdade. Hoje nos unimos em torno da causa da solidariedade. Da solidariedade política, econômica e social, traduzida pela inadiável necessidade de construirmos um novo pacto federativo…Governadores, parlamentares, prefeitos, lideranças políticas e sociais, aqui reunidos, manifestamos o nosso apoio a todos os que, em diferentes partes do país, se mobilizam em torno dessa bandeira, que não tem caráter partidário nem pode servir a projetos individuais.” 

 

Momento histórico

O presidente do PSDB-MG, deputado federal Marcus Pestana, afirmou que o encontro “Federação Já, Poços de Caldas +30”, foi um marco histórico.

“Foi um encontro com um significado especial, um simbolismo extremo. Oito governadores e centenas de prefeito dando um grito, ecoando a tradição de 30 anos atrás quando a luta pela liberdade de democracia se colocou e Tancredo e Montoro deram o brado e a palavra de ordem Diretas Já. Hoje aqui ecoou o sentimento da Federação Já e de um programa alternativo para o claro esgotamento do projeto do PT”, afirmou Marcus Pestana.

O deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB-MG), que estava presente na assinatura da Declaração de Poços de Caldas, há 30 anos, destacou a situação de penúria dos prefeitos mineiros e suas dificuldades para conseguir recursos.

“Vamos entrar no período de chuvas, as pontes irão cair, os barrancos irão deslizar, as estradas estarão com os buracos abertos e os prefeitos fazem o quê? Correm para Belo Horizonte porque para Brasília não adiantam correr mais. Os prefeitos não tem mais recursos para estradas, para educação ou para saúde”, afirmou.

O presidente do Instituto Teotônio Vilela de Minas Gerais (ITV-MG), ex-ministro Pimenta da Veiga, destacou que o Brasil já demonstrou que quer mudar como há 30 anos, quando o país foi às ruas defendendo as eleições diretas.

“Trinta anos atrás, propusemos eleições diretas para o Brasil. Hoje, iniciamos este grande movimento para reabilitação da federação que, sem dúvida, dará novos rumos ao país. O Brasil, por muitos sintomas e avaliações, já disse que quer mudar. E para mudar precisamos de uma liderança que marcará época em Minas e no país”, disse Pimenta da Veiga.

 

Recursos longe dos municípios

O prefeito de Manaus, o tucano Arthur Virgílio, em nome de todos os prefeitos do país, defendeu que o Brasil precisa dar um novo passo, encerrando a injusta centralização de recursos pela União.

“Queremos um pacto federativo, que o Brasil encontre seu caminho, agora com crescimento econômico com justiça social. Está na hora de darmos um novo passo, de distribuir justiça”, disse.

O presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), prefeito de Barbacena, Toninho Andrada (PSDB), disse que a Federação no Brasil está desfigurada porque os recursos se concentram longe dos municípios, onde a população vive os problemas.

“Os municípios estão ávidos por uma renovação do pacto federativo no país que está desfigurado. Precisamos de sua refundação porque há excesso de recursos em Brasília em prejuízo dos municípios e dos estados. Hoje, cerca de 70% de tudo o que se arrecada no Brasil fica em Brasília. O dinheiro fica longe do problema e os prefeitos passam sérias dificuldades. Os municípios estão esperançosos com a refundação da federação”, disse.

 

Emoção

O encontro Federação Já, Poços de Caldas +30 foi marcado por forte emoção. Além dos discursos do senador Aécio Neves, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de governadores e parlamentares, os presentes acompanharam trechos em áudio de discursos dos ex-governadores Tancredo Neves e Franco Montoro em defesa da autonomia e da descentralização de recursos em favor de estados e municípios.

A cantora Fafá de Belém interpretou o Hino Nacional e a canção “Menestrel das Alagoas”, de Milton Nascimento, música que marcou as Diretas Já. O ator mineiro de Poços de Caldas, Paulo Pioli, leu texto que faz conexão entre os dois momentos históricos vividos na cidade.