Crise Social

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 01/06/2015

 

A crise que o Brasil enfrenta não é apenas moral e econômica. Ela vai se confirmando também como social. Enquanto o governo reluta em reconhecer a existência da primeira, deliberadamente fecha olhos e ouvidos para a segunda.

O último reajuste concedido ao Bolsa Família foi anunciado há mais de um ano, não por acaso, véspera do período eleitoral. A realidade de hoje joga por terra os números do discurso do governo, que foi alimentado por uma milionária campanha publicitária que apontava quantos brasileiros teriam deixado a miséria no país.

O desemprego chega a milhares de lares brasileiros e nunca os slogans do governo foram reduzidos tanto a meras peças de ficção, totalmente descolados da vida real da população como agora.

 

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Brasil cai 20 posições em ranking de logística

O Brasil caiu 20 posições no ranking mundial de logística do Banco Mundial (Bird), que mede a eficiência dos sistemas de transporte em 160 países. O relatório, divulgado nesta quinta-feira, leva em conta a percepção dos empresários em relação à eficiência da infraestrutura de transporte. O Brasil passou a ocupar o 65.º lugar no ranking. Trata-se da pior colocação desde que o ranking foi lançado, em 2007.

Paulo Fleury, diretor-geral do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), define o resultado como “desastroso” para o País. “A hora da verdade chegou: o Brasil investiu bilhões em obras de infraestrutura de transporte que, por problemas de gestão, não foram terminadas, e está aí o resultado.”

Na avaliação de Fleury, o fato de o estudo não medir os avanços ou retrocessos físicos, mas a percepção dos empresários, é sintomático. Pouca coisa mudou na infraestrutura do País nos últimos anos, mas a posição do Brasil no ranking foi se alterando. Em 2007, quando a pesquisa foi lançada, o Brasil ocupava o 61.º lugar. Em 2010, ficou na sua melhor colocação: 41.º posto. Em 2012, caiu para a 45.ª posição. De lá para cá, despencou para a sua pior colocação.

Fleury atribui as oscilações às mudanças nos cronogramas das obras. “Quando a primeira pesquisa foi realizada, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) havia acabado de ser lançado e a expectativa de melhora empurrou o indicador para cima por um tempo”, diz Fleury. “Como as obras não saem do papel, mas a demanda por transporte aumenta, estrangulando o sistema, a frustração só fez aumentar e nem as concessões no ano passado conseguiram melhorar os ânimos.”

Levantamento do Ilos mostra que o atraso médio nas obras do PAC é de 48 meses. Há também enorme descompasso entre o custo orçado e o custo que se viu na prática. O aumento médio foi de 85%.

Muitas deficiências. O Banco Mundial também divulgou a classificação dos países em seis itens específicos na área de logística e transporte, usados em conjunto para determinar a classificação geral. O segmento que o Brasil está mais bem colocado é na “qualidade e competência logística” (50.ª posição) e o pior no “serviço de aduanas e alfândegas” (94.ª). Na categoria “rastreamento e monitoração” está na 62.ª e, nas “entregas internacionais”, na 81.ª.

Outros países da América Latina estão em posições bem melhores que a do Brasil, como Chile (42.º lugar, o melhor classificado da região), México (50.º) e Argentina (60.º).

Desigualdades. As três primeiras posições do ranking são ocupadas por países desenvolvidos – Alemanha, Holanda e Bélgica. Entre os últimos estão Somália, Afeganistão e República Democrática do Congo. O Banco Mundial reconhece que reformas no setor são complexas e a melhora do transporte exige pesados investimentos, o que dificulta o avanço em países em desenvolvimento. Por essa razão, os países de alta renda são maioria entre os que ocupam as dez primeiras posições do ranking, destacou a instituição no material enviado à imprensa.

A principal conclusão do estudo é que a diferença na logística entre países com melhor sistema de transporte e aqueles com pior rede ainda é muito grande, apesar da ligeira melhora desde o início da pesquisa em 2007.

O Banco Mundial avalia vários fatores para montar o ranking geral – qualidade da infraestrutura de transporte, de serviços e a eficiência do processo de liberação nas alfândegas, rastreamento de cargas, cumprimento dos prazos das entregas e facilidade de encontrar fretes com preços competitivos. A instituição ouviu cerca de mil profissionais de logística pelo mundo. Com base nas entrevistas e na metodologia, o Banco Mundial desenvolveu o Índice de Desempenho Logístico (LPI, na sigla em inglês), que é usado para organizar o ranking.

 

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Brasil cai em ranking de atração de investimentos

O Brasil segue um caminho inverso ao que foi registrado pelos demais mercados emergentes, cai no ranking dos destinos para investimentos em 2013 e, neste ano, pode sofrer uma nova contração por causa do impacto das eleições presidenciais.

O alerta é da ONU, que, na terça-feira, 28, publicou um informe sobre investimentos no mundo em 2013. Segundo dados da entidade, o fluxo internacional de investimentos voltou à média dos anos pré-crise, ainda que o pico de US$ 2 trilhões atingido em 2007 esteja distante de ser atingido. Em 2013, o volume total foi de US$ 1,4 trilhão. No ponto mais baixo da crise, em 2009, o volume foi de US$ 1,2 trilhão.

Já a economia brasileira recebeu 4% menos de investimentos em comparação com 2012, enquanto o fluxo mundial aumentou em 11%. Entre os emergentes, a alta foi de 6%, abaixo da média e já indicando que a desaceleração dessas economias poderia afetar sua capacidade de captar investimentos.

O resultado foi a queda da posição do Brasil de quinto maior destino de investimentos para sétimo lugar. Em 2013, o Brasil recebeu um total de US$ 63 bilhões em investimentos. Rússia e Canadá ultrapassaram o País.

Um detalhamento dos dados, porém, mostra que multinacionais promoveram uma redução significativa na aquisição de empresas brasileiras.

Em 2012, elas haviam gasto US$ 17 bilhões. Em 2013, esse volume caiu para US$ 9 bilhões. A compra de ações por empresas estrangeiras também caiu, de US$ 52 bilhões para US$ 40 bilhões. O único item que registrou alta foi o que mede o fluxo de empréstimos de uma matriz para uma filial no Brasil, passando de US$ 12 bilhões para US$ 18 bilhões.

Para 2014, a previsão da ONU é de que a expansão de investimentos para alguns emergentes pode sofrer uma desaceleração. Segundo James Zhan, chefe da divisão de Investimentos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o motivo seria a eleição. “Algumas multinacionais podem adotar uma estratégia de esperar e ver antes de realizar um investimento importante”, disse Zhan.

Além do Brasil, economias emergentes consideradas estratégicas também passam por eleições: Turquia, África do Sul, índia e Indonésia. “Existe o risco de uma desaceleração nos investimentos”, afirmou Zhan.

Segundo ele, o que também pode afetar o fluxo em 2014 é uma mudança na política monetária nos EUA, reduzindo a liquidez nos emergentes e atraindo capital de volta para o mercado americano. Zhan evita fazer uma projeção sobre o que pode ser o volume de investimentos no Brasil em 2014. Mas diz que o País tem sido “muito turbulento” na variação dos fluxos. “É difícil prever”, indicou.

O fluxo para o Brasil vai em sentido contrário ao crescimento de investimentos para a América Latina. Em 2013, o aumento foi de 18%, acima da média mundial e puxada principalmente pelo México. Mas países que atraem investimentos no setor de commodities foram afetados pelo fim no boom dos preços de minérios e de outros produtos primários.

Mas, para os próximos dois anos, a ONU prevê uma desaceleração da expansão dos investimentos aos emergentes. “A imprevisibilidade em alguns mercados emergentes pode afetar, assim como mudanças nas políticas nos EUA.”

Para 2014 e 2015, o volume global de investimentos deve crescer para US$ 1,6 trilhão e US$ 1,8 trilhão. Mas o motor será o mercado de países ricos, em recuperação.

 

Novo mapa

Apesar da desaceleração dos emergentes em 2013 e de uma previsão sombria para 2014, a ONU revela que os cinco anos de crise transformaram o mapa dos investimentos no mundo. Segundo os dados da ONU, pela primeira vez o fluxo de investimentos para a América Latina se equiparou a tudo o que a Europa recebe, cerca de US$ 300 bilhões. O Velho Continente foi por décadas o maior recipiente de investimentos no mundo.

Outra constatação da ONU é de que nunca a proporção de investimentos para os países ricos foi tão baixa quanto em 2013. De cada US$ 10 investidos no mundo, apenas US$ 4 foram para os mercados desenvolvidos. Para os emergentes, foram cerca de US$ 759 bilhões em 2013 e parte significativa foi para a Ásia.

Ásia, Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e o Mercosul dobraram sua participação no volume total de investimentos no mundo em comparação com os dados registrados antes da crise de 2008. A economia americana ainda é a maior recipiente, com US$ 159 bilhões. Mas os Brics já representam 20% dos investimentos. O Mercosul representa 6% dos investimentos mundiais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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