Entrevista sobre reunião com principais economistas do PSDB

“Nós, da oposição, não somos e jamais seremos contra o Brasil. Propostas exequíveis, realistas serão analisadas por nós com todo o interesse e boa vontade, mas não podemos – até porque perdemos a eleição – subir a rampa do Palácio do Planalto e começar a governar. Não podemos fazer aquilo que a presidente Dilma não vem fazendo”, afirmou Aécio Neves, em entrevista, ontem (10/09), ao falar sobre o agravamento da crise brasileira a partir do rebaixamento do país pela Standard & Poor’s, uma das três principais agências do mundo de classificação de risco.

O presidente nacional do PSDB anunciou que o partido reunirá no Senado, na semana que vem, reconhecidos economistas para debater a realidade brasileira. “Nós vamos começar a apontar caminhos porque o governo perdeu até isso: a capacidade de ter um projeto para o país”, afirmou.

Aécio Neves e Geraldo Alckmin – Entrevista em São Paulo

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, concederam entrevista coletiva, nesta quinta-feira (10/09), em São Paulo (SP). Eles falaram sobre o encontro do PSDB em SP, novas filiações, perda do grau de investimentos do Brasil, crise econômica e impeachment da presidente da República.

Leia trechos da entrevista:

Aécio Neves
Sobre o encontro do PSDB em São Paulo.

Mais um ato importante do PSDB onde o PSDB tem a sua mais sólida estrutura que é o estado de São Paulo. As filiações de hoje atestam o bom momento porque passa o partido. Como a alternativa mais bem preparada e mais qualificada a propor ao Brasil, no momento em que isso for necessário, um novo ciclo de desenvolvimento, de justiça social, de correção de rumos. Eventos como esse têm acontecido em outros estados brasileiros. Iniciamos uma campanha de filiação nacional ao PSDB. Os resultados têm sido extraordinários nos país inteiro e, hoje, a convite do governador e presidente do partido Pedro Tobias, vim aqui, mais uma vez, agradecer a solidariedade de São Paulo ao PSDB, mas também cumprimentá-los pelo trabalho de fortalecimento do partido que estamos vivendo.

O sr. e o governador tiveram uma reunião antes, certamente discutiram a instabilidade do cenário nacional, a perda do grau de investimento do Brasil noticiado no mundo inteiro. Qual a avaliação os dois fizeram sobre a atual situação e o que o PSDB vai fazer daqui para frente?

A perda do grau de investimentos do Brasil, como era esperado, já levou também à perda do grau de investimentos de inúmeras empresas brasileiras, a começar pela Petrobras. O Brasil colhe hoje, infelizmente, as consequências do desgoverno, da irresponsabilidade e da incompetência do governo do PT. Sempre conversamos, vamos continuar conversando sobre cenários, mas a nossa preocupação é muito grande. Inclusive o governador Geraldo Alckmin tem externado que mesmo em São Paulo, que é o estado mais poderoso da nação, um estado que ainda suporta grande parte do desenvolvimento do país, já se percebe também os efeitos dessa gravíssima crise com o desaquecimento de setores da economia.


Governador Geraldo Alckmin

Os deputados do PSDB lançaram um movimento para colher assinaturas das pessoas pró-impeachment. Como o senhor vê esse movimento? Acha que pode dar certo?

Alckmin – Quero dizer da alegria de receber aqui em São Paulo, Aécio Neves, presidente do nosso partido, em um momento importante, vamos ter eleições municipais no ano que vem. O partido precisa ter base para poder crescer, precisa amadurecer, precisa amassar barro para, nessa argamassa, construir as bases de um país melhor, é isso que precisamos. Hoje estão ingressando do partido prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, ex-prefeitos, candidatos. Isso é bom para a democracia.

Eu tinha dito, algumas semanas atrás, que o PT tinha ido ao fundo do poço, mas parece que o fundo do poço é móvel. Acho que agravou ainda mais a situação. Então, infelizmente, é uma história sem fim. O que temos defendido? Investigação de maneira profunda, acho que tem ainda um caminho longo de investigação, e o cumprimento da Constituição brasileira. O impeachment é previsto na Constituição. Então, o que é importante é que haja investigação, e são os fatos que vão trazer a questão do futuro.


O senhor acha que a bancada está equivocada?

Alckmin – Não. A bancada está traduzindo o sentimento da sociedade.

Entrevista sobre o grau de investimento do Brasil

“A presidente da República não quis perder popularidade para vencer as eleições e nos colocou nessa crise extremamente profunda, que é de responsabilidade exclusiva deste governo”, afirmou o senador Aécio Neves em entrevista, nesta quinta-feira (10/09), ao falar sobre o rebaixamento da nota do Brasil pela agência de Standard &Poor’s.

O presidente nacional do PSDB disse que enquanto o governo Dilma Rousseff não recuperar a confiança e a credibilidade dos brasileiros e dos investidores nenhuma medida será efetiva para retomar o crescimento da economia.

Aécio diz que oposição quer discutir propostas realistas para o país, mas que governo Dilma é o responsável por apontar saída para a crise

“Nós, da oposição, não somos e jamais seremos contra o Brasil. Propostas exequíveis, realistas serão analisadas por nós com todo o interesse e boa vontade, mas não podemos – até porque perdemos a eleição – subir a rampa do Palácio do Planalto e começar a governar. Não podemos fazer aquilo que a presidente não vem fazendo”, afirmou Aécio Neves, em entrevista nesta quarta-feira (10/09), ao falar sobre o agravamento da crise brasileira a partir do rebaixamento do país, ontem, pela Standard & Poor’s, uma das três principais agências do mundo de classificação de risco.

O presidente do PSDB disse que os partidos de oposição permanecerão cobrando do governo federal a responsabilidade pela crise econômica, que irá piorar a partir da perda pelo Brasil do selo de bom pagador. Com isso, o país perderá ainda mais investimentos e empregos.

“A responsabilidade pela situação por que passa o Brasil, e que irá se agravar, é exclusiva deste governo. É responsabilidade do governante, daquele que foi eleito, ter desgastes quando for necessário, principalmente desgastes em razão de erros cometidos por eles próprios. Não esperem que seja o Congresso a apontar o caminho dos cortes. Apresentem as propostas. Vamos debatê-las intensamente aqui no Congresso Nacional pensando no Brasil”, afirmou Aécio, que reunirá no Senado, na semana que vem, os principais economistas do PSDB para debater a economia brasileira.

O senador disse que o rebaixamento da nota do Brasil era esperado em razão da incapacidade do governo federal em recuperar as condições de governabilidade necessárias para retomada da confiança dos investidores e da sociedade.

Aécio Neves disse que as oposições não aceitarão que a presidente Dilma Rousseff cobre da sociedade a responsabilidade pelos erros cometidos pela equipe de governo, ao propor mais impostos.

“Não há como aceitar que o governo busque cobrar da sociedade brasileira, novamente, a partir de aumento de carga tributária, um esforço que ele não fez internamente. O ministro (da Fazenda) disse ontem que a presidente usou da sua popularidade para tomar medidas corretivas. Não é verdade. É o oposto. A presidente da República não quis perder popularidade para vencer as eleições e nos colocou nessa crise extremamente profunda”, afirmou.


Impeachment

O presidente tucano disse que o movimento lançado hoje na Câmara dos Deputados em favor do impeachment da presidente da República é uma iniciativa da sociedade e tem a participação de deputados dos partidos de oposição e não do PSDB em especial.

“Esse é um movimento da Câmara dos Deputados, do conjunto de partidos de oposição, não do PSDB em especial, e ele parte de um sentimento da sociedade de que este governo perdeu as condições de governabilidade. É um movimento legítimo, que se sustenta em previsões constitucionais, mas não deve ser um movimento de um partido político, muito menos um movimento do PSDB. É um movimento da sociedade, e, enquanto parte da sociedade, parlamentares do nosso partido, como de outros partidos de oposição, vão participar dele”, disse.


Caos anunciado

Aécio Neves voltou a cobrar da presidente Dilma ter escondido dos brasileiros a realidade do país durante a campanha eleitoral. Ele lembrou que as oposições apontaram os erros cometidos pelo governo do PT desde o primeiro semestre do ano passado.

“Vivemos hoje o caos anunciado há muito tempo. A presidente quer passar a impressão de que só soube do agravamento da crise após as eleições. Isso não é verdade. Falta com a verdade a presidente da República, porque já no primeiro semestre de 2014 já tínhamos uma queda de receita em relação ao primeiro semestre do ano anterior, de 2013, o que por si só já justificaria uma reorganização das despesas públicas. O que fez a presidente da República? Ampliou os gastos. É por isso que não há mais confiança em relação ao governo. A presidente Dilma privou o Brasil de um debate sério em relação a aquilo que precisava ser feito”, afirmou o senador.

Aécio Neves – Entrevista em Brasília

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta quinta-feira (10/09), em Brasília. Aécio falou sobre rebaixamento da nota do Brasil, entrevista do Joaquim Levy, ajuste fiscal, encontro com economistas do PSDB, movimento pró-impeachment e crise econômica.

Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre a entrevista do ministro da Fazenda Joaquim Levy.

Estamos, como todos os brasileiros já percebem, vivendo hoje o caos anunciado e diferente do que diz a presidente da República, anunciado há muito tempo. A presidente quer passar a impressão de que só soube do agravamento da crise após as eleições. Isso mais uma vez não é verdade. Falta com a verdade a presidente da República. Porque já no primeiro semestre de 2014 nós já tínhamos uma queda de receita em relação ao primeiro semestre do ano anterior, de 2013, o que por si só já justificaria uma reorganização das despesas públicas. Obviamente com a sua contenção.

O que faz a presidente da República? Ampliou os gastos. Ontem à noite o ministro da Fazenda, a quem eu respeito pessoalmente, fez duas afirmações que eu devo aqui contestar. A primeira delas pelo menos em relação à forma como foi alcançado. Ele fala que os gastos discricionários deste ano estão retornando ao patamar de 2013. É verdade, mas sem dizer como retornou ao patamar de 2013 passa-se a impressão de que o governo está fazendo o que deveria fazer, que é conter as suas despesas. Isso não aconteceu. Porque esse retorno ao patamar de 2013 diz respeito em grande parte ao corte dos investimentos públicos. Até agora, até o início do mês de agosto, foram 19 bilhões de cortes de investimentos públicos, que é o pior dos cortes.

Portanto, o ajuste que se propôs ao Brasil até agora, e é por isso que não há mais confiança em relação ao governo, se dá de um lado pelo corte desses investimentos e pela busca do aumento de tributos, por outro lado. Apenas para que tenhamos uma dimensão clara do que estou dizendo, nos quatro primeiros anos, no primeiro mandato da presidente Dilma, as despesas do governo aumentaram algo em torno de 200 bilhões de reais. Esse foi o aumento das despesas, do conjunto das despesas do primeiro mandato da presidente Dilma. Nesse conjunto, de investimentos públicos federais, o aumento foi de R$ 20 bilhões.

Então, em quatro anos, mesmo num período positivo da economia, ela consegue aumentar os investimentos públicos, aqueles que geram emprego, aqueles que impactam na infraestrutura do país e, portanto, na competitividade da nossa economia, aumentaram R$ 20 bilhões. Dos R$ 200 bilhões apenas R$ 20 bilhões em investimentos. Apenas até agosto deste ano, todo esforço de crescimento do investimento do governo da presidente Dilma, do primeiro mandato inteiro, se foi, foi embora.

E é aí que está o corte do governo. Não há como aceitar que o governo busque cobrar da sociedade brasileira, novamente, a partir de aumento de carga tributária, um esforço que ele não fez, ele não fez internamente. E o ministro disse ontem, se eu entendi bem, que a presidente usou da sua popularidade, ou gastou a sua popularidade, este ano, para tomar medidas corretivas.

Não é verdade. É o oposto. A presidente da República não quis perder popularidade para vencer as eleições e nos colocou nessa crise extremamente profunda que é de responsabilidade exclusiva deste governo.

Em 2008, vocês vão se lembrar, ganhamos grau de investimento da mesma agência Standard & Poor’s. No ano de 2008, quando o mundo vivia uma gravíssima crise, elevamos nosso grau de investimento. Portanto, passaram-se esses anos todos, todo mundo se recupera e o Brasil perde seu grau de investimento. Isso é a demonstração dos equívocos gravíssimos desse governo. E enquanto esse governo não recuperar a confiança, a credibilidade, – e confesso a vocês, não sei se terá mais condições de recuperar – nenhuma medida será efetiva no sentido de retomar o crescimento da economia. Portanto, o que quero reafirmar aqui hoje é que a responsabilidade exclusiva pela situação por que passa o Brasil, que irá se agravar a partir desse rebaixamento da nossa nota, é responsabilidade exclusiva deste governo.


O senhor vai se engajar junto com outros líderes do PSDB nessa campanha iniciada de deputados do movimento pró-impeachment?

Esse é um movimento da Câmara dos Deputados, do conjunto de partidos de oposição, não do PSDB em especial, e ele parte de um pressuposto, de um sentimento da sociedade brasileira de que este governo perdeu as condições de governabilidade. É um movimento legítimo, é um movimento que se sustenta em previsões constitucionais, mas não deve ser um movimento de um partido político, muito menos um movimento do PSDB. É um movimento da sociedade e, enquanto parte da sociedade, os parlamentares do nosso partido, como de outros partidos de oposição, vão participar dele.


Sobre o corte de gastos, o orçamento tem uma previsão de aumento para os servidores de R$ 15 bilhões. O senhor acha que o governo poderia cortar por aí?

Não somos nós da oposição que vamos dizer onde o governo terá que cortar. É o que o governo tentou fazer. A meu ver um gesto de covardia. Não assumiu a sua responsabilidade seja na definição dos cortes que são necessários, seja na definição de outras e novas fontes de receita. O governo quis transferir essa responsabilidade para o Congresso Nacional e aguardamos que ele aponte os caminhos para a busca do equilíbrio orçamentário.

Nós, da oposição, não somos e jamais seremos contra o Brasil. Propostas exequíveis, realistas serão analisadas por nós com todo o interesse e boa vontade, mas não podemos – até porque perdemos a eleição – subir a rampa do Palácio do Planalto e começar a governar. Não podemos fazer aquilo que a presidente não vem fazendo. Enquanto ela estiver lá, é ela que deve governar. E é responsabilidade do governante, daquele que foi eleito, ter desgastes quando for necessário, principalmente desgastes em razão de erros cometidos por eles próprios. Não esperem que seja o Congresso a apontar o caminho dos cortes. Apresentem as propostas. Vamos debatê-las intensamente aqui no Congresso Nacional pensando no Brasil.

E pensando no Brasil, na próxima quinta-feira, estaremos realizando aqui mesmo no Senado Federal ampla discussão com alguns dos principais economistas do PSDB na busca de saídas a partir do diagnóstico sereno, independente e isento que faremos da realidade do país, vamos, com a presença de Armínio Fraga, com a presença de Gustavo Franco, Marcos Lisboa, Mansueto (Almeida), e do Samuel Pessôa, vamos fazer um seminário sobre economia, com a presença também do presidente Fernando Henrique. E começar a apontar caminhos para o país. O governo perdeu até isso, a capacidade de apontar caminhos, de ter um projeto para o país. E essas contradições internas, que são escancaradas a todos os instantes, dentro da própria estrutura do governo, só ajudam a consolidar este sentimento de ingovernabilidade que vivemos no Brasil hoje. E percebo, inclusive em setores privados, de mercado, empreendedores, investidores, grandes empresários, que de alguma forma estavam solidários ao governo, o que percebo é que também vai se esvaindo, vai se perdendo a confiança nesses setores. O governo da presidente Dilma, a meu ver, está por um fio.


A nota da agência cita o elevado risco para a política fiscal a dinâmica fluida do Congresso. O sr. acha que o Congresso também não tem responsabilidade, se não pela crise ter chegado a este ponto, mas pelo andamento da situação?

Quando você vive em um regime presidencialista que é o nosso caso, o governo precisa ter uma base de sustentação em torno de um projeto e amalgamar, construir a sua base de sustentação em torno de um projeto de país. Esse governo não fez. O governo construiu a sua base em cima quase que exclusivamente, na distribuição de favores e de cargos públicos. Portanto, em um momento em que o governo se fragiliza, não há nada que una a sua base. Não há como cobrar da oposição uma responsabilidade que deve ser daqueles que foram eleitos. Estamos prontos a debater qualquer um dos temas que chegam ao Congresso Nacional, igual a uma lei. Em muitos momentos, é aqui mesmo no Senado que temos impedido o avanço de medidas que seriam ruins não para este governo, mas ruins para o país no futuro, para o equilíbrio fiscal, para a possibilidade de retomada do crescimento da economia.

O governo pela forma como agiu, achando que comprava o Congresso Nacional com emendas parlamentares ou como distribuição farta de cargos, viu que se não tiver um projeto de país ele não se sustenta. Tem outro dado extremamente relevante do ponto de vista econômico que teremos este ano de 2015, uma participação do investimento público federal na constituição do PIB de 0,8%. Me lembro que na campanha, quando quisemos tratar este debate, o governo falava em algo acima de 2%. Portanto, o investimento público federal este ano será de 0,8% do PIB. Voltamos ao ano de 2007. Retrocedemos oito anos. Esse é o resultado da obra perversa desse governo do PT. Porque quando tentamos, durante a campanha eleitoral, debater a necessidade de ajustes, falarmos, por exemplo, da necessidade de qualificarmos os subsídios, o governo nos considerava os pessimistas, aqueles que iriam fazer maldades para as pessoas.

A presidente Dilma privou o Brasil de um debate sério em relação a aquilo que precisava ser feito. Vocês se lembrarão da questão dos subsídios que são necessários para determinados, são necessários transitoriamente para outros setores. Fomos acusados de perseguir os setores que mais contribuíam para a empregabilidade no país. No Orçamento de 2016 o Brasil gastará com o Bolsa Família algo em torno de R$ 28 bilhões, que é um investimento importante. Apenas com o pagamento dos subsídios já dados pelo governo, gastaríamos mais R$ 28 bilhões. Em 2010 essa conta era de R$ 8 bilhões.

Aí vocês imaginam o que esse governo fez para vencer as eleições. A conta dos subsídios apenas significa um outro Bolsa Família no Brasil. Com quais resultados? Que ninguém sabe. Esses setores ganharam escala? Empregaram mais? Ao contrário. Estão todos hoje dependentes, cada vez mais, desses mesmos subsídios. O que mais, acho, que me incomoda nesse instante, falo de forma absolutamente franca, é não ter tido a oportunidade porque o governo não aceitou esse debate e ter discutido o que era necessário ter feito nos dois últimos anos porque o custo seria, hoje, muito menor. Inclusive em relação ao rebaixamento da nota do Brasil, talvez não tivesse ocorrido se tivéssemos debatido com a verdade e não com a mentira que conduziu o governo.

O PSDB vai votar contra o aumento de impostos?

O PSDB é contrário, já dizíamos isso na campanha, reiteramos hoje, contra o aumento de carga tributária. E não reconhecemos autoridade em um governo que propõe aumento de carga tributária e que não fez os cortes necessários. Os cortes que o governo fez substancialmente foram nos investimentos. Não cortou até agora na própria carne. E na verdade, esse vai e vem do governo, com propostas que ele lança ao vento para ver se colam, só aumenta o descrédito, só aumenta a incapacidade desse governo de conduzir o Brasil.


O senhor disse que o governo da presidente Dilma está por um fio. O que é preciso acontecer para esse fio se romper?

Estamos vendo o agravamento da crise econômica e o esgarçamento das relações políticas desse governo. Ainda dou uma chance a ele. Digo o seguinte: ou ele assume a sua responsabilidade que não assumiu até agora, por exemplo, apontando ao país, do ponto de vista orçamentário, onde vão ser feitos os cortes, qual o caminho para o incremento de receitas. Mas o governo se acovarda. Temos hoje uma presidente sitiada e um governo que, na verdade, não governa mais.

Brasil precisa crescer e controlar a inflação, diz Aécio em sabatina

O candidato à Presidência pela Coligação Muda Brasil, senador Aécio Neves, participou na manhã desta quarta-feira (16) de sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, SBT, portal UOL e rádio Jovem Pan e defendeu a urgente necessidade de retomada do crescimento da economia brasileira, com foco em regras claras e transparentes para não afugentar investidores. Aécio também se comprometeu a retomar o controle da inflação e a adotar uma política fiscal transparente e austera. Confira a seguir os principais assuntos abordados pelo senador na entrevista.

 

Crescimento

Aécio diz que tomará as medidas necessárias para recolocar o Brasil no rumo do crescimento. Em suas palavras, “um crescimento sustentável, com controle da inflação e melhoria dos índices sociais”. Para o senador, hoje estamos imersos num cenário de crescimento pífio, com a inflação ultrapassando o teto da meta, sem que o governo acene de forma clara com medidas que tomaria para reverter esse quadro, que Aécio classificou como “perverso”. Disse o senador: “Nós vamos resgatar a credibilidade dos investidores, com política fiscal transparente e austera. Esse é o caminho de um novo ciclo para o Brasil”. A palavra-chave para isso, segundo Aécio, é previsibilidade. Os investidores querem regras absolutamente claras para trabalhar. “Hoje, a desconfiança do setor produtivo aumenta a cada mês”, afirmou o senador.

 

Retomada da confiança

Para o senador, analistas de dentro e de fora do Brasil afirmam que uma vitória do PSDB será capaz de gerar exatamente o efeito inverso do clima de incerteza que vivemos hoje. “Isso será possível graças à clareza de nossas convicções e à história de quem está do nosso lado”, afirmou. Outra consequência muito importante disso, segundo o senador, será a geração de um ambiente propício para o país registrar um superávit primário verdadeiro, muito diferente daquele que vem sendo obtido nos últimos anos pelo governo do PT por meio de criatividade e manobras fiscais. “Queremos regras claras, para as pessoas percebam exatamente qual é o ambiente que estamos construindo”, salientou Aécio.

 

Aprimorar os programas sociais

O senador garantiu que irá manter e aprimorar os programas sociais que estão dando certo. Na opinião de Aécio, quem não sabe ver virtude nos outros é o PT, que não reconhece, por exemplo, que o Bolsa Família é originário do Bolsa Alimentação, criado no governo FHC. O Bolsa Família, disse o senador, não só será mantido como também será transformado num programa de Estado, para finalmente deixar de ser algo vinculado à agenda eleitoral, como o PT vem fazendo. Segundo Aécio, o programa Mais Médicos também será mantido e aprimorado, porém sem ser tratado como solução para todos os problemas de saúde do país. O senador apresentou dados que mostram a falta de planejamento do governo do PT para a área. Em 2003, a participação do governo federal nos gastos da saúde era de 54%. Hoje essa participação caiu para 45%. Foram fechados 13 mil leitos hospitalares. Portanto, sem trata-lo como salvação da saúde no país, o programa será mantido e os médicos estrangeiros serão bem-vindos. Aécio se comprometeu a dar a eles cursos de qualificação e estabelecer regras novas. No caso específico dos médicos cubanos, compromete-se a pagar diretamente o salário aos médicos, e não ao governo de Cuba.  “Nós não vamos ter que concordar com o governo cubano, eles que deverão concordar conosco.”

 

Inflação alta e crescimento baixo

Na opinião de Aécio, as medidas mais impopulares são as que o atual governo está tomando. “As pessoas mais prejudicadas por essas medidas são justamente aquelas que o governo diz proteger”, afirmou. O senador pontuou que, com a inflação do jeito que está, o aumento real do salário mínimo será de somente 1%. E frisou ainda que a inflação dos alimentos hoje já está na casa dos dois dígitos. Aécio deixou claro que não aceita a tese de que uma das formas de combater a inflação é com o desemprego. Para o senador, isso é uma grande bobagem. “Se fosse assim, na época da hiperinflação teríamos emprego recorde.”

 

Diretrizes de governo

O senador deixou claro que as diretrizes do seu plano de governo são resultado de um trabalho muito amplo, que está sendo feito com a consulta dos mais diversos setores da sociedade, o que propiciou um aprofundamento que é totalmente inédito na história eleitoral brasileira. Para Aécio, nenhuma outra campanha permite antever com tanta clareza o caminho que o candidato irá percorrer depois de eleito.

 

Reformas necessárias

Aécio declarou na sabatina que as últimas reformas importantes no Brasil ocorreram todas no governo FHC. Para o senador, de lá para cá o PT optou pelo adiamento e pelo arquivamento de tudo o que fosse contencioso ou o que contrariasse os interesses de seus simpatizantes. Aécio se comprometeu a discutir as reformas necessárias, a previdenciária, a tributária e a política, com o conjunto da sociedade brasileira. E concluiu dizendo que essa incapacidade do governo de assumir o protagonismo nessas questões precisa acabar.

 

FHC

Na opinião de Aécio, o sucesso do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso possibilitou que o governo Lula existisse e tivesse os indicadores que teve. “O ex-presidente FHC não só vai participar da minha campanha como já está participando. Cito um antigo pensado espanhol, Baltasar Gracián, que dizia que, “se você não pode ter sob seu domínio todo o conhecimento, cerque-se dele”. “Eu tenho me cercado das melhores pessoas”, afirmou o senador.

 

Futebol e Copa do Mundo

Aécio criticou a maneira como a presidente Dilma Rousseff tentou se apropriar politicamente da Copa do Mundo e destacou que ele preferiu assistir ao evento como torcedor. “O que eu vi foi uma tentativa desesperada do governo de tentar de apropriar a qualquer custo do êxito da Seleção”, disse. O senador defendeu a proposta de Lei de Responsabilidade do Esporte e criticou uma vez mais a tentativa de intervencionismo do governo no futebol. Para o senador, se a presidente Dilma criasse a Futebras, essa seria a 14ª empresa criada pelo governo do PT.

 

Questão energética

O senador Aécio Neves criticou o intervencionismo da presidente Dilma Rousseff no setor energético. “Foi uma das coisas mais perversas o intervencionismo da presidente da República num setor que ela dizia conhecer com profundidade. Isso custa hoje ao Tesouro, aos contribuintes, portanto, algo em torno de 30 bilhões de reais. Esse é o custo da desastrada intervenção que tirou capacidade de investimento de um setor essencial para a retomada do crescimento da economia, e a incapacidade de gestão do governo se alinha a esse intervencionismo. O Brasil é hoje um cemitério de obras abandonadas”, afirmou. O senador defendeu a atração de capital para investimento em energia e a exploração de energias alternativas, como a eólica e a biomassa. “O Brasil jogou fora o programa do etanol”, afirmou.

 

Petrobras

Aécio afirmou ter havido muitos equívocos na administração da Petrobras, que levaram a estatal a participar mais das páginas policiais do que das páginas econômicas dos jornais, com escândalos envolvendo a compra da refinaria de Pasadena e o superfaturamento da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.

Ele aproveitou para defender uma administração mais previsível, incluindo na definição a política de preços da gasolina. “Vamos ter regras claras, as pessoas vão saber o que vai acontecer com os preços”, afirmou. O senador também defendeu uma discussão aprofundada com a sociedade brasileira e com especialistas sobre qual o melhor modelo de exploração de petróleo: se o de concessão ou de partilha.

 

Privatizações e meritocracia

Aécio Brasil defendeu que o que precisava ser privatizado já foi privatizado, como os setores de aviação, telecomunicações e siderurgia. E garantiu que ao vencer a eleição irá reestatizar empresas públicas que foram privatizadas por interesses escusos. “A Petrobras vai ser devolvida aos brasileiros”, disse. Ele defendeu a meritocracia no serviço público. “As pessoas não vão ocupar postos no governo em razão da simples indicações ou da baixa qualificação que é a marca desse governo”, disse. E citou o exemplo de Minas Gerais, Estado em que, sob seu governo, passou a ser praticada a análise de desempenho para todo o funcionalismo.

 

Exemplos de Minas

Aécio lembrou das experiências em Minas Gerais que fizeram a saúde e a educação do Estado melhorarem. Graças a elas, Minas tem hoje a melhor educação fundamental do Brasil e um dos melhores índices de saúde do país.

 

Segurança pública

O candidato da coligação Muda Brasil pregou a necessidade de reforma do Código Penal e do Código de Processo Penal.  “O governo federal deve assumir o controle e apresentar ao Brasil uma política de segurança pública. Ouvi uns anos atrás o ministro da Justiça dizer que as nossas cadeias mais parecem masmorras medievais. Passaram três anos do governo, e sabe quanto foi executado do que foi aprovado do Fundo Penitenciário? Sabe quanto foi usado pelo ministro para transformar as masmorras medievais em cadeias minimamente aceitáveis? 10%”, disse o senador.

 

Alianças

Aécio deixou claras as suas diferenças em relação à candidatura do PT dizendo que a aliança que se formou ao redor dele não é por cargos, mas por um futuro do Brasil. “Não tenho cargos a dar, tenho um projeto para o futuro do Brasil”, afirmou.

 

Conceitos políticos

O senador disse que está buscando fazer uma campanha competitiva sem viés ideológico. Para ele, os conceitos políticos de hoje (progressista, conservador, esquerda, direita) são abstratos demais. E provou com o seguinte raciocínio: se houvesse um governo sob o qual o mercado financeiro obteve lucros recordes, e outro que colocou 97% das crianças na escola, as pessoas diriam que o primeiro é de direita, e o segundo, de esquerda. Portanto, concluiu o senador, pelo o que aconteceu na história recente do Brasil, o governo Lula seria de direita, e o de FHC, de esquerda.