Meirinha nos lembra que o país continua pobre, desigual, atrasado

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 12/12/2016

Em um ambiente tomado por crises agudas, como o que vivemos, a tendência é sempre tentar dimensionar o tamanho dos problemas por meio das estatísticas. Acabamos aprisionados em um cipoal de dados e números que relatam vários desastres anunciados, em aflitiva busca por saídas, perdendo de vista o país real, aquele que sobrevive às mazelas de diferentes governos e resiste. Muitas vezes, milagrosamente.

A Folha publicou, no sábado (10), a história de Rosimere Amorim da Costa, a Meirinha, síntese desse Brasil marcado pelas imensas falhas do Estado nacional em melhorar, de fato, a vida das pessoas.

Se é exemplo da incompetência do poder público, Meirinha é também referência do que temos de melhor para superar os desafios à frente: o nosso povo. De criança desnutrida, que impressionou o país ao ser apresentada pela TV no início dos anos 1990, ela se tornou mãe de família e, hoje, ainda com muita dificuldade, cria três de seus cinco filhos em Fortaleza.

Quem vê sua fotografia, 26 anos atrás, não imagina que uma criança naquelas condições pudesse ter forças para sobreviver. Mas sobreviveu. Superou. Construiu sua vida. Quantas, contudo, ficaram e ainda ficam pelo caminho?
Este é o Brasil que nos desafia e precisa mudar. Meirinha nos lembra que, ao contrário do que nos disseram nestes últimos anos, o país continua pobre, desigual, atrasado. Injusto. Parcela importante do nosso povo continua vivendo mal, sem saúde, sem saneamento, sem moradia. Sem quase nada.

Durante anos, números contraditórios que não resistem a nenhuma análise nos foram repetidamente apresentados como prova de que a miséria havia acabado no Brasil. Sabemos que isso nunca foi verdade.

A verdade é que o governo se dedicou a fazer a gestão diária da pobreza em vez de buscar a sua superação.

Políticas emancipatórias, que poderiam abrir melhores perspectivas de vida e oportunidades para novas gerações, foram relegadas.

Vivendo uma profunda e disseminada crise, o país permanece em dívida com todas as Meirinhas, reféns da ausência de oportunidades. Elas são o retrato real que desnuda a fantasia de que o Brasil foi vítima nos últimos longos anos.

É por causa de pessoas como Rosimere que precisamos empreender uma vigorosa agenda de mudanças que combatam privilégios, enfrentem corporações e democratizem o acesso à riqueza que o país pode produzir.

Pessoas como Meirinha dificilmente serão ouvidas em Brasília a cada embate por um novo Brasil. O grito mais alto será sempre dos mais organizados na defesa de seus interesses, justos ou não. Que o silêncio de milhões de Meirinhas ecoe com mais força do que todos eles junto ao governo e ao Congresso Nacional.

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Para Fernando Henrique, os vencedores estão com caras atormentadas e não sabem o que fazer

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rebateu nesta sexta-feira (14/11), em São Paulo, a campanha liderada pelo PT que o  PSDB pretenda dividir o Brasil entre pobres e ricos, Norte e Sul. Segundo ele, o desespero dos governistas é evidenciado não apenas nos atos e discursos políticos, como também na aparência de cada um deles registrada nas fotografias.

“Vejam as fotografias dos que venceram: caras atormentadas. Não sabem o que fazer”, afirmou Fernando Henrique, durante ato político em São Paulo, que reuniu mais de 700 pessoas, em São Paulo.  “Hoje temos democracia. É dever nosso preservar a democracia, respeitar a democracia, aceitar as regras do jogo, derrotado ou vitorioso cumprir a lei.”

Fernando Henrique reiterou que houve uma tentativa de dividir o Brasil criando uma falsa sensação de verdade no país: “Diziam que havia pobre contra o rico, Nordeste contra o Sul. Mentira. O Brasil a despeito de tudo saiu com o maior vigor dessa campanha. Não saiu dividido.”

 

Garra

O ex-presidente elogiou a garra e o espírito combativo do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, que concorreu às últimas eleições, obtendo mais de 51 milhões de votos, promovendo a eleição mais acirrada dos últimos anos no país.

“A garra do Aécio é qualquer coisa de admirável. Nos piores momentos, ele jamais fraquejou. Jamais deixou de ser generoso, carismático e trabalhador. Isso é a fibra do Aécio. Enquanto eu tiver energias, vamos estar juntos lutando pelo povo, pela democracia e pelos nossos candidatos”, destacou Fernando Henrique.

Fernando Henrique brincou com o fato de conhecer Aécio Neves há muitos anos. “Eu conheço o Aécio desde meninote. Hoje ele está um pouco mais maduro com os cabelos embranquecendo”, disse ele, arrancando risadas dos presentes.

 

Intensidade

O ex-presidente comparou a intensidade das eleições de 2014 com a campanha pelas Diretas Já, nos anos de 1983 e 1984 – quando milhares de pessoas saíram às ruas pedindo eleições diretas para presidente da República. “Raramente vi o que vi nos últimos meses”, afirmou o ex-presidente, demonstrando sua surpresa.

Fernando Henrique destacou ainda que o momento é de “olhar para frente” e não reagir motivado pelo revanchismo.

“Chega de mentira! Vamos ter orgulho do nosso passado. Nada de ter o olho no retrovisor. Na nada de revanchismo. Vamos olhar para frente. Nada de voltar os ponteiros para trás. A oposição se opõe. Não é contra o Brasil. É contra o desmando dos que estão no governo”, ressaltou ele.