“Lula faz maldade com Dilma”, diz Aécio em entrevista ao Correio

Depois de mais de oito meses das eleições presidenciais de 2014, o tucano Aécio Neves esboça um sorriso ao ser questionado sobre o que faltou naquela campanha para sair vitorioso: “Faltou voto, né?”. Em seguida, ele emendou: “Vou responder com franqueza. Foi uma luta absolutamente desigual. Não perdi para um partido político. Perdi para uma organização criminosa que se apoderou do Estado”, afirmou, no fim da manhã da quinta-feira passada, no gabinete do 11º andar do Senado.

Ao longo de quase uma hora de entrevista, Aécio falou sobre a derrota em Minas, a crise política e econômica do governo Dilma Rousseff, a Operação Lava-Jato e os reflexos da investigação no Executivo e, agora, cada vez mais fortes, no Legislativo. Mostrou certo desconforto ao ser questionado sobre o fato de petistas o chamarem de golpista e, por último, mirou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “(Sugerir que Dilma viaje) é uma grande maldade que Lula está fazendo. O Brasil tem uma presidente sitiada. E isso, na verdade, parece uma certa vingança dele. Ela vai para onde? Vai para ser vaiada?”.

A entrevista com o senador Aécio Neves ocorreu horas antes das denúncias do executivo Júlio Camargo, da Toyo Setal, de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu US$ 5 milhões em propinas relativas à compra de dois navios-sondas da Petrobras. O episódio motivou o anúncio de Cunha de que rompeu com o governo e, agora, é oposição. Ontem, o senador mineiro divulgou nota sobre o caso.

O recesso do Congresso a partir desta semana vai acalmar o clima político de Brasília?
Do ponto de vista de agenda parlamentar, sim. Mas a Lava-Jato não para, não é? A crise não para. Ela apenas se agrava, o Brasil parou. Esse talvez seja o componente não visível, a gente fica vendo denúncia disso, denúncia daquilo… Amanhã vai prender não sei quem. Mas tem uma questão que, a meu ver, fragiliza ainda mais a presidente, que é a economia. A expectativa de receita do governo está muito abaixo do que se previa. Tem uma crise que permeia todas as outras, estou falando do desemprego, da inflação, dos juros altos. É isso que vai emoldurar tudo aí, que é a crise de confiança hoje no Brasil. Ninguém está investindo. Esse programa de concessões que tem sido pouco explorado… Tudo parado, todo mundo com pé atrás. Essa é a crise potencializadora das outras. Sem confiança, você não retoma o crescimento, não administra a base no Congresso. Ninguém respeita mais o governo.

E qual é a solução?
Eu tenho de ter cautela, como presidente do PSDB. Nós não somos protagonistas do desfecho. O desfecho, qualquer que seja, será sempre de responsabilidade do atual governo. Seja para se manter — se reunir as condições de governabilidade, que não estão fáceis —, seja para um outro desfecho que, se tiver de ocorrer, será de responsabilidade do governo. Seja na questão das regras de responsabilidade fiscal, seja pela questão da propina de campanha, seja pela capacidade de se sustentar mesmo, de tocar o país. Eu tenho conversado com muita gente do setor privado. Até dois meses atrás, as conversas eram sobre quando o Brasil retomaria o crescimento. As pessoas falavam: “Será que isso melhora antes da eleição municipal, ou na eleição ainda estará muito grave?”. De dois meses para cá, a conversa não é mais essa. É até quando ela (Dilma) aguenta.

E qual é a expectativa do senhor?
Como presidente do PSDB, tenho de garantir que as instituições funcionem. Toda hora que eu perceber que há uma tentativa de pressão, de manipulação — como tentam fazer volta e meia setores do PT, seja na Polícia Federal, seja no Ministério Público, seja nos tribunais —, temos que denunciar e fazer a contrapressão. Eu vou dizer: vai ter impeachment? Hoje, eu não acho que tenha condições para isso. Não há ainda, o que não impede que venha a ocorrer. O Brasil tem uma legislação para ser cumprida. Eu vejo o advogado-geral da União confessando os crimes das chamadas pedaladas e já querendo estabelecer as penas: “O crime houve, mas sempre houve. Ninguém afastou presidente por causa disso”. Então, para ele (Luís Inácio Adams), houve o crime. Tem uma legislação que pune esse crime e o processo tem de correr, senão os tribunais não são mais necessários. Tem crime, tem de ser punido. Se não teve crime, tem de ser absolvido. E é isso que a presidente não entendeu. Cabe a ela, em vez de focar na oposição, gastar energia, se concentrar em responder e apresentar a versão aos tribunais.

O que acha da sugestão do ex-presidente Lula de pedir para Dilma viajar o país?
Isso é uma grande maldade que o presidente Lula está fazendo. O Brasil tem uma presidente sitiada. E isso, na verdade, parece uma certa vingança dele. Ela vai para onde? Vai para ser vaiada? Hoje, os custos das viagens presidenciais foram para a estratosfera. Antes, tinha o escalão precursor para definir local, palanque. Agora tem de ir um exército antes, para limpar a área. E mesmo assim não consegue. A presidente está sitiada. Além das questões econômicas, há as morais. Ela mentiu aos brasileiros, os brasileiros sabem disso. A cada dia que passa vai ficando mais claro. A mentira foi deliberada, tinha um objetivo, que era vencer as eleições. Não sou eu que estou dizendo, está na cabeça das pessoas. Olha, nós vamos ter, entre agosto e setembro, uma pororoca no Brasil, um encontro das águas turvas.

O fenômeno da pororoca acabou, senador…
Então teremos a reinvenção da pororoca. Nós vamos ter, entre agosto e setembro, votações dessas questões gravíssimas nos dois tribunais (TCU e TSE). Não somos nós, da oposição, que estamos criando esses fatos. Houve crime de responsabilidade, segundo relatório do ministro do TCU e agora já admitido pelo advogado-geral da União, que é extremamente grave. A votação tem de ser técnica, deve ser pela condenação, mas isso, evidentemente, cabe ao tribunal. Temos uma questão no TSE que não somos nós que estamos dizendo. É um dos delatores. Agora, os delatores dizem que houve dinheiro da propina. Por que o Ricardo Pessoa disse que foi extorquido? Ele fala do responsável pela campanha da Presidência da República, o tesoureiro do PT. “Ah, mas o tesoureiro não atuava na campanha.” Engano, o tesoureiro arrecada sim, e o dinheiro que ele arrecadou foi para a campanha. Tem mais de R$ 30 milhões arrecadados no estilo Vaccari, que foram para a campanha, foram transferidos para o diretório e para a campanha. Não sou eu que estou dizendo, é a polícia. Nós vamos ter o início das denúncias em relação aos envolvidos na Lava-Jato. Isso se prevê para o começo de agosto, quando começarem as denúncias.

Inclusive contra os parlamentares…
Principalmente os parlamentares. Estou dizendo: é o quadro da nova pororoca. Isso vai criar uma instabilidade enorme. Há várias delações de que ainda não se tem conhecimento. E vai ter o início das denúncias do STF, que podem atingir muita gente. Além disso, novas operações Lava-Jato podem chegar ainda mais próximo do governo. E, com tudo isso, dois componentes que, a meu ver, são nitroglicerina pura: economia degringolando e desemprego aumentando de forma muito vigorosa. Eu conversei com o Robson (Andrade) da CNI na semana passada e ele disse que, pela primeira vez na história, todos os setores da indústria, sem exceção, estão demitindo.

Quanto tempo o país sobrevive nessa situação?
Eu não tenho bola de cristal. Se ela (Dilma) não reassumir o comando do país, eu acho que, naturalmente, as dificuldades dela serão muito maiores. As pessoas falam sobre o negócio do impeachment. Eu não estou esperando a queda da presidente, eu estou esperando que ela assuma o segundo mandato. Não assumiu até hoje, não tem governo. Agora, se ela não assumir, no vácuo o país não pode ficar. O país não pode navegar três anos no vácuo. Ou ela assume o governo e encontra forças, resgata um pouco a confiança, ou não vai a lugar nenhum. E o que falta? Falta humildade. A presidente precisa ter humildade não para dizer que as coisas estão difíceis, mas para reconhecer que as coisas estão muito difíceis por causa dela, por causa do governo dela, do despreparo da incompetência, da corrupção. Ela deveria ter tido essa coragem na campanha eleitoral, para dizer onde o país estava mergulhado. E não ter mentido, porque a mentira é a arma daqueles a quem falta coragem. Enquanto ela não reconhecer, ela não inspira confiança.

Existe uma ansiedade no Congresso com a Operação Lava-Jato.
Há uma aposta de setores do governo de que é possível se transferir essa crise para o Congresso. Mas isso, mais uma vez, é um autoengano. Acho que o Congresso terá problemas se as coisas avançarem. Obviamente que o Congresso vai ter de dar respostas para a sociedade, não apenas para a oposição. Mas é absolutamente impossível que essa crise se descole do seu fator motivador, que é o Poder Executivo. Dividir isso vai ser sempre uma tentativa. Mas eu reconheço que, aqui no Congresso, vamos ter problemas, e isso nem começou ainda.

A crise, de qualquer forma, envolve dois Poderes…
É muito preocupante, porque o Congresso deveria ser o poder do equilíbrio, moderador. Eu não sei a dimensão do que está por vir, mas teremos de conviver com isso. Nosso papel vai ser sempre lutar para preservar o Congresso. Os problemas devem ser individualizados, não podem ser institucionalizados. Se tiver problemas mais graves envolvendo parlamentares, temos de deixar claro que eles terão de se explicar. Agora, não permitiremos que essa tentativa de manobra do governo tenha resultado, de o governo se livrar da responsabilidade, porque as pessoas não acreditam. Isso foi uma tentativa envolvendo alguns setores para tentar criar um cenário em que as empresas se organizaram para lesar o Estado. Em conluio com alguns diretores da Petrobras, caracterizaram a empresa e o governo como grandes vítimas disso. Isso é um absurdo, caiu no primeiro momento que o dinheiro desse esquema montado irrigava as campanhas do PT e dos aliados. Com essas denúncias sucessivas, fica claro que se montou uma estrutura criminosa na Petrobras, e sabe-se lá onde mais.

Numa perspectiva histórica, se for considerada a queda de Dilma, teremos dois dos quatro presidentes eleitos pelo voto da população fora do poder. O país não se iguala a republiquetas?
Pelo contrário. Eu acho que é bom para o país que presidentes que cometeram crimes sejam punidos, não por um movimento político, mas porque cometeram crimes. Se a gente for dimensionar o crime do (Fernando) Collor, algumas pessoas dizem que talvez ele fosse julgado no tribunal de pequenas causas. O que foi importante naquele processo do Collor? As instituições se mostraram muito fortes. O Brasil passou por um governo de transição, que foi o governo Itamar (Franco). Acabou sendo o governo da estabilidade da moeda, talvez um dos maiores avanços estruturais. Mas muita gente tinha preocupação, nós tínhamos uma democracia de seis, sete anos. O que transformará o país numa republiqueta é se as nossas instituições se curvarem ao peso do governo, à pressão do governo.

O PSDB estaria preparado para um eventual governo de coalizão com o PMDB?
Essa nunca foi uma questão discutida internamente. Acho que o país, para iniciar um processo de retomada do crescimento com as medidas necessárias, precisará ter um presidente legitimado.

O PSDB não teme que um governo Michel Temer, se vier, construa uma alternativa por dentro que possa tirar a posição do PSDB hoje?
Não posso especular. Se houver um governo Temer, vamos ter que nos reunir e discutir. O PSDB tem uma responsabilidade. Nós, desde o fim da eleição, nos reconectamos com setores da sociedade dos quais estávamos divorciados, que há décadas não davam bola para o PSDB, nem o PSDB se preocupava com eles. A forma como essa eleição se polarizou no final despertou um pedaço do Brasil, que de alguma forma se identificou com o PSDB. E o nosso papel é manter isso vivo. Digo permanentemente: nosso foco não pode ser apenas a disputa congressual. Aqui, somos minoria. Nosso discurso é para fora. O PSDB é hoje o partido sintonizado com grande parte das pessoas que estão indignadas com tudo o que está aí. E o que nós temos que fazer? Temos que nos mostrar preparados para iniciar um novo ciclo no Brasil, seja agora, seja no fim deste mandato.

O que faltou em 2014 para o PSDB vencer a eleição?
Voto, né? (risos). Mas vou responder com muita franqueza: foi uma luta absolutamente desigual. Não tenho receio de repetir: não perdi para um partido político. Perdi para uma organização criminosa que se apoderou do Estado, que se financiou e financiou seus aliados, inclusive para ampliar a sua coligação, para garantir tempo de tevê. Utilizou empresas públicas, como Correios e outras de forma absolutamente condenável. Mentiu aos brasileiros. Nunca se manipulou tanto o Estado por um projeto de poder. E o terrorismo eleitoral? Houve cidades no interior do Maranhão em que tive, no segundo turno, 7%. Isso porque as pessoas não tiveram a opção de votar em outra candidatura. Era votar (no PT) ou perder o Bolsa Família. Carros de som andavam nas regiões remotas, era a mesma gravação, temos isso no processo, “Se votar no 45, seu título de eleitor está cadastrado e você automaticamente desligado do Bolsa Família, do Minha Casa Minha Vida”. Não foi uma eleição com um grupo político, onde a gente pudesse ter debatido ideias e projetos para o país. Tivemos uma presidente que mascarou a verdade, iludiu, adiou medidas, que é o mais grave. Além da mentira, medidas que poderiam ter sido tomadas um ano antes da eleição, ou no próprio ano da eleição, para minimizar o custo hoje para os brasileiros, não foram tomadas.

O senhor fala em reajuste de energia?
Sim, a desconcentração dos reajustes de energia, de combustíveis, a requalificação dos programas. O Pronatec saltou de R$ 5 bilhões para R$ 7 bilhões no ano da eleição. Agora, vai cair para menos de R$ 5 bilhões este ano. O Fies saltou de R$ 7 bilhões para R$ 13 bilhões, ou seja, quase dobrou em um ano. Que fiscalização que tinha? Nenhuma. Era dar, distribuir. Aquele seguro defeso, de 2013, era de R$ 500 milhões, passou para R$ 2 bilhões, agora vai cair para R$ 300 mihões. O que fizeram? Usaram o que não tinham, distribuíram como se fosse aquela velha e antiga compra de votos. Sabiam que era preciso contingenciar recursos. Transferiram a responsabilidade para a Caixa, o Banco do Brasil, o BNDES, para pagar contas do Tesouro, pegaram dinheiro do Tesouro para ampliar esses programas. Anunciaram isso como a oitava maravilha do mundo, sabendo que, no ano seguinte, não teriam condições de mantê-los. Eu perdi para essa estrutura. O que fizemos foi quase que milagroso. Por isso, a dimensão da indignação das pessoas hoje. Isso funciona quase como uma gangorra. Como nós polarizamos no final, essa derrocada do PT valoriza o PSDB.

Como assim?
Nós temos pesquisa, com algo que antes era inimaginável para nós. Na faixa de 16 a 24 anos, temos — o PSDB, não sou eu — muito mais aprovação do que o PT numa faixa que sempre foi deles e era dificílimo para nós do PSDB. Não duvido que numa próxima pesquisa venhamos na frente no geral.

A pesquisa da CNI mostrou que o senhor está à frente de Lula e que Geraldo Alckmin também está no páreo. Como está isso dentro do PSDB? O senhor tem a primazia por ter resgatado a história do partido na sua campanha. Isso é suficiente?
Eu me orgulho muito de ter ajudado a resgatar o legado do PSDB. O PSDB, até a nossa candidatura, estava no divã, vivia uma crise de consciência, não sabia se defendia ou não defendia (as privatizações), atemorizado com as críticas. (A campanha do resgate) foi algo que não foi improvisado. Desde o início falei que nosso caminho era resgatar. Se nós, que falamos em nome do partido, não temos firmeza para mostrar que confiamos no que fizemos, imagine os eleitores que são mais distantes da gente? Então, esse foi um ponto de inflexão do PSDB. Nós nos reconciliamos com a nossa história e começamos a brigar por ela. Esse é um grande ativo que reconstruímos. Mas não podemos cair na armadilha de antecipar o cenário eleitoral. É muito positivo o PSDB ter um nome como o do Geraldo, o Serra é sempre um nome que estará se movimentando. O que temos que ter é responsabilidade para, no momento da decisão, o candidato ser aquele que tem melhores chances de vencer, e aí é pelo Brasil e não é nem por nós. Se amanhã tiver um candidato em melhores condições do que eu, isso vai ficar claro. Se não, ficará claro para os outros também. O meu papel agora, reeleito presidente do PSDB pelos próximos dois anos — e aí a campanha me ensinou muito — é ir a lugares onde a gente inexiste. Um partido como o PSDB, opção real de poder, tem nove estados sem um deputado. Um! Tem sete, oito, em que temos um.

Então, a missão é crescer…
A missão é reorganizar o partido. Estou lançando uma grande campanha de filiação, com foco nas universidades. Vamos para a periferia, enfrentá-los nesse discurso também, resgatar o nosso papel — o que ainda não consegui fazer como gostaria, de início, dos programas de transferência de renda. Isso começou com o PSDB. E o governo do PT está tirando isso agora. O PT ampliou, mas está tirando com a inflação. Começo em Alagoas, em 14 de agosto, uma ampla campanha conectado em videoconferência com o Brasil inteiro. Estamos preparando nossa militância jovem, que já está ganhando DCEs e DAs, o que não acontecia.

Na última convenção se viu um PSDB mais jovem e diverso. É isso?
Estamos apostando nisso. Meu papel é esse. O PSDB está sem medo. Perdeu o medo de ir para os debates. Nossa garotada, minha filha estuda na PUC, é tímida, não entra, mas outro dia me dizia: há dois anos, era PT com PCdoB, aí vinha o cara do PSol, do PSTU, e se restringia a essas disputas. Agora, não. Tem uma chamada onda azul nas universidades baseada no PSDB, num pensamento mais liberal, em que estão indo e estão ganhando. Então, houve esse despertar. Isso é a coisa mais bacana que está acontecendo.

Minas está resolvido, em relação à derrota?
Não escondo que foi uma frustração. Tenho que ter humildade para reconhecer os nossos erros ali, talvez um distanciamento maior meu. Nossa campanha, não obstante a qualidade do candidato (Pimenta da Veiga), não engrenou. Mas hoje as pesquisas mostram que eu teria mais de 70% de intenções de voto.

O senhor ficou muito confiante e acabou deixando de lado?
Houve uma certa delegação para a estrutura que tínhamos lá. Talvez eu não tenha percebido que havia certa fadiga também, que não existia no fim do meu mandato. Tem gente que acha que fui governador de Minas até a eleição (presidencial). As pessoas não lembram direito que eu não era governador e estava aqui há quatro anos. Talvez eu não tenha calibrado bem isso, mas é do jogo político. A política tem isso mesmo, fadiga de material.

Essa caravana a partir de Alagoas tem como ideia dar uma dimensão nacional do PSDB?
Temos uma programação intensa. A cada 15 dias estaremos visitando dois estados. Estamos batizando de caravana da gratidão. Vamos fazer algo sem preocupação eleitoral, reunindo esses setores do partido: juventude, mulheres, negros, a área sindical. É um grande momento para o PSDB. Vamos para Alagoas, para o Rio Grande do Sul; estive em Manaus e foi extraordinário.

Nesses locais onde vocês não são conhecidos, o trabalho será mais forte?
Temos que ter algumas prioridades. Encontrar o discurso para o Nordeste é um grande desafio, sempre foi para nós. Mas isso nunca esteve tão fértil quanto agora. Como agora não é processo eleitoral, as coisas podem ser feitas mais devagar. A nossa ideia é mostrar que quem tirou as conquistas que o Nordeste teve foi este governo.

Como o senhor vê os movimentos do Lula em relação a Dilma? O Lula sempre teve uma boa relação com o senhor, não teve?
Eu sempre tive com o Lula uma relação republicana. Eu o conheci aqui em Brasília (na época da Constituinte). Eu não sei se ele tem rancor comigo, porque ele me deixava no banco no time do Congresso. Mas no fim da campanha ele começou a, não sei se pelo receio do que podia vir, se apequenar no discurso, com ataques absolutamente sem sentido para um ex-presidente da República. Acho que o Lula hoje é um líder cercado por todos os lados e quase à beira de um ataque de pânico. Ele vê que o grande legado dele está indo embora. Mas a responsabilidade que ele quer transferir para a presidente, ele não pode fazer, porque é dele. Ele é responsável por este governo.

Dentro desse discurso, tem a afirmação do golpismo. Como o senhor lida com isso?
Isso é uma tática do PT absolutamente conhecida e absolutamente clara. Se você fala que o Tribunal de Contas vai investigar, o PT diz que é golpe. Se disser que o TSE tem averiguar sobre irregularidades nas contas, é golpe. Se o povo vai para a rua, é o golpe da direita. Se vocês publicam que o Vaccari (João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT) foi preso e que o delator disse que foi dinheiro para a campanha, é imprensa golpista. Nessa estamos todos juntos, somos todos golpistas, menos o PT.

O PSDB perdeu o medo do Lula?
Perdeu. Hoje, é o Lula quem tem medo do PSDB.

Até as 19h de 26 de outubro, a eleição estava na sua mão. Mas tudo mudou. Como estaria a vida de Aécio Neves em caso de vitória?
A minha vida pessoal talvez não estivesse tão tranquila como está hoje. Agora consigo estar com meus filhos de manhã cedo, na hora do almoço, consigo chegar para estar com eles antes de dormir. Para o Brasil, se nós tivéssemos ganhado as eleições, a perspectiva seria outra. Não pelo meu mérito pessoal. Talvez meu mérito seria montar uma equipe extremamente qualificada e não ia passar pelo drama da presidente da queda da confiança. Porque eu iria fazer coisas nas quais eu acredito. A presidente está fazendo coisas nas quais ela não acredita. Ela terceirizou a economia para alguém que defende as teses que ela combateu a vida inteira, a política para quem ela desprezou durante os quatro primeiros anos de seu mandato.

O senhor teria convidado o Levy?
Para ser ministro? Não, não teria convidado o Levy.

Qual seria o ajuste econômico do PSDB?
O ajuste que o PT faz é absolutamente rudimentar. Ele tem dois pilares e não conseguiu sair deles: aumento de carga tributária e supressão de direitos. O ajuste que nós faríamos geraria expectativas de longo prazo, o que o PT não consegue. Teria o fortalecimento das agências reguladoras e mais previsibilidade. Sabia que íamos passar por tempos difíceis e não escondi isso durante a campanha. Quem escondeu foi a presidente. Ela ficava nos acusando de que faríamos ajuste e não me permitiu sequer esse debate, que seria saudável para o Brasil. Que tipo de ajuste, onde poderiam ser feitos cortes? Ela não admitia. Como fazer o processo de enfrentamento da inflação galopante? “Não tinha inflação”. Como trazer de volta os investimentos? “Investimentos estão vindo para o Brasil, o Brasil vai voltar a crescer”. Em um dos debates, eu disse que o Brasil iria crescer 0,3%. “O Brasil vai crescer mais de 3%, que números são esses, vocês são uns pessimistas”. Cresceu 0,1%. Não é possível que ela não soubesse disso.

A contração econômica seria inevitável, independentemente de quem ganhasse as eleições?
Haveria contração, mas ela se agrava porque o governo não inspira confiança. Como você supera retração? Com investimentos públicos e privados. Os privados não vieram e os públicos foram reduzidos 35% neste primeiro semestre. Essa equação para a qual estamos indo é altamente recessiva. Com juros na estratosfera para enfrentar uma inflação que não é de demanda, é de preços controlados. Não temos um projeto de retomada de indústria, de modernização, de competitividade, investimento em produtividade. Os investimentos em infraestrutura ficaram no meio do caminho. Qual é a realidade perversa do Brasil hoje? Nós voltamos a ser o que éramos há 60 anos, exportadores de commodities.

Como o senhor está encarando a questão do governador Fernando Pimentel?
É preciso que se investigue. Não tenho informações que permitam antecipar qualquer cenário. Mas todos nós, homens públicos, temos que responder a quaisquer questões que surgem. Tenho e sempre tive uma relação muito positiva com o Pimentel. Agora, as denúncias que estão vindo pela Polícia Federal têm de ter uma explicação. Eu não torço para que Minas se desorganize, para que o governador de Minas seja expulso. O que falta em Minas hoje é respeito às conquistas que são dos mineiros. É preciso que ele pare de governar olhando para o retrovisor, talvez para mascarar a baixa qualidade do seu governo e a impossibilidade de ele cumprir as promessas que fez para a população. Está na hora de ele também assumir o governo.

Quando o senhor fala em olhar para trás, fala de Eduardo Azeredo, que, para vocês, também é uma coisa cara?
Azeredo está respondendo a processo. Tem que ter o direito de se defender e, assim como qualquer outro, se for responsabilizado, não será, como outros, tratado como herói nacional. Eu me refiro a uma tentativa de desconstrução de avanços que fizeram de Minas referência nacional e internacional.

Como o senhor, que está morando agora em Brasília, avalia o governo de Rollemberg?
Tenho uma ótima relação com o Rodrigo. Ele pegou uma herança complicada e está tentando enfrentar as dificuldades. Não dá para fazer uma avaliação de resultados, mas o vejo muito empenhado. Governante tem que saber que governar é enfrentar dificuldades e é preciso que se enfrente com coragem e falando a verdade. E não mascarando a realidade e tentando responsabilizar os outros por falhas e incapacidades que são as suas próprias.

Será mantida a aliança com o PSB nas eleições municipais?
Podemos até manter a aliança. Essas eleições municipais vão pegar o PSDB em um ótimo momento e o PT nas cordas. Se hoje a máscara já caiu para alguns, no ano que vem vai cair para todos. No ano que vem vamos ver, infelizmente, o agravamento da situação econômica, fruto da obra do governo do PT. Estamos fazendo um levantamento no partido das 300 maiores cidades do Brasil, sempre abertos para alianças. Já há um deslocamento de aliados tradicionais do PT que não querem disputar eleições próximos ao PT.

A qualidade de vida em Brasília é tudo
Estou adorando ficar mais tempo aqui em Brasília. Minha vida ficou mais racional. Passo um fim de semana aqui, outro em Minas. Agora consigo estar com meus filhos de manhã cedo, na hora do almoço, consigo chegar para estar com eles antes de dormir. Estou com filho pequeno, né? (o casal de gêmeos). Brasília permite uma qualidade de vida que não há em outra cidade grande.
O lugar que mais me atrai aqui é o Jardim Botânico. Estou correndo lá direto porque fica perto de casa. É lindo. Tem uma pistinha que dá quase cinco quilômetros. Já levei as crianças lá. É o lugar a que tenho ido. Para mim, foi a novidade, porque o resto eu já conhecia.

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PSDB protesta contra manutenção do sigilo de empréstimos do BNDES

A presidente Dilma Rousseff deu mais um golpe na credibilidade e na transparência do seu governo. Vetou o fim do sigilo em todas as operações financeiras realizadas pelo BNDES. A quebra do sigilo foi proposta pela oposição no Congresso por meio de emenda à Lei 13.126, e aprovada na Câmara e no Senado.

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, considerou inaceitável o veto da presidente ao artigo da lei, pois garantiria transparência aos empréstimos realizados integralmente com recursos públicos. Ele afirmou que o PSDB buscará no Congresso novas medidas para que os brasileiros possam acompanhar todas as movimentações da instituição financeira, entre elas os empréstimos mantidos em segredo concedidos a Angola, Cuba e Venezuela.

“São inaceitáveis o veto e as explicações dadas pela presidente Dilma ao recusar, mais uma vez, dar transparência às operações do BNDES feitas integralmente com recursos públicos. O PSDB buscará todos os caminhos, incluindo a CPI, para que os brasileiros conheçam o destino e as condições em que seu dinheiro vem sendo utilizado através de financiamentos internos e, em especial, aqueles feitos a países considerados pelo governo do PT como “nações amigas”, a exemplo dos contratos feitos com Cuba e Venezuela, mantidos sob o crivo de secretos. Tratam-se de negociações que não podem ocorrer sob sigilo. O segredo alimenta a suspeição. O país já assiste ao assombroso escândalo do Petrolão. Não podemos aceitar que amanhã o país esteja frente a um novo escândalo de enorme proporção”, disse Aécio Neves.

O presidente do PSDB de Belo Horizonte, deputado estadual João Leite, afirmou que o governador Fernando Pimentel deveria esclarecer porque, em 2012, quando era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, tornou secretos os empréstimos do BNDES feitos a Cuba e Angola. Os dois países socialistas são os únicos que têm os documentos dos financiamentos mantidos sob sigilo por decisão do ex-ministro Pimentel.

“Esta é uma oportunidade para o governador Fernando Pimentel explicar ao Brasil porque tornou secretos os documentos relacionados aos financiamentos para os governos socialistas de Cuba e Angola. De todas as operações com países, somente aquelas com Cuba e Angola receberam o carimbo de ‘secreto’ do ministério de Pimentel. É uma medida que envergonha o país e expõe a falta de transparência do governo do PT”, afirmou João Leite.

Aécio Neves: a presidente Dilma não governa mais o Brasil

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, afirmou em coletiva à imprensa, nesta quarta-feira (08/04), que a presidente Dilma Rousseff introduziu algo novo na vida política do Brasil: a renúncia branca.

 

Ouça a entrevista do senador:

Aécio Neves – Entrevista sobre a reunião da Executiva do PSDB

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta quarta-feira (08/04), em Brasília (DF), onde participou da reunião da Executiva Nacional do partido. Aécio falou sobre a reunião, campanha de filiação do PSDB, IPCA, manifestações do dia 12, abertura do capital da CEF e concessões na Petrobras.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Sobre reunião da Executiva do PSDB.

Fizemos uma reunião da Executiva com uma pauta pré-definida e tomamos aqui algumas decisões. No dia 5 de maio o PSDB estará lançando nas redes, também de forma presencial, em cada um dos estados uma ampla campanha de filiação, para que em um sentimento crescente que percebemos hoje e a aproximação de setores importantes da sociedade com o PSDB possa ter como consequência a militância dessas pessoas no PSDB. Compreendemos que esse é um momento importante para o partido de reafirmação das suas propostas, de contraponto ao governo que aí está, cada vez mais fragilizado.

Então, vamos fazer uma campanha com uma linguagem visual única focada principalmente em dois segmentos da sociedade: os jovens, e as últimas pesquisas nacionais já mostram que o PSDB é o partido preferido pelos jovens entre 16 e 24 anos, algo que não acontecia anteriormente, e nas mulheres. Há também uma movimentação grande do segmento feminino do PSDB e uma presença, quase que uma demanda muito grande de mulheres de todas as regiões do Brasil para participarem da vida partidária. O que temos é que mostrar que essa insatisfação, essa indignação precisa ser canalizada para uma agenda positiva para o país. E isso se faz, em parte, através da atuação dos partidos políticos.

Portanto, vamos fazer uma ampla campanha que permita que novos filiados tenham uma relação ativa com o partido, trazendo informações, demandas, sugestões e obviamente recebendo do partido também sobre os nossos vários posicionamentos. Estou muito otimista de que com isso vamos fazer uma grande renovada no partido, vamos ter um foco especial já nas universidades, já há uma presença crescente de lideranças com afinidade com o PSDB, disputando diretórios acadêmicos, diretórios estudantis de inúmeras faculdades públicas e privadas do país e queremos canalizar esse sentimento, esse despertar de uma parcela grande da sociedade brasileira para a militância partidária.

Tomamos uma decisão por unanimidade da Executiva Nacional do partido que vai possibilitar uma renovação também das nossas bases. Todos os diretórios ou comissões provisórias que nas últimas eleições parlamentares não obtiveram ou para deputado federal ou para deputado estadual a marca de 6% dos votos, que é a metade da média do desempenho do partido em todo o Brasil, não estarão autorizados a fazer as convenções municipais. E os estados em que não se alcançou o número mínimo de municípios com diretórios que estatutariamente define aqueles que estarão aptos a fazer essas convenções também não farão as convenções estaduais.

 

O sr. tem um mapa disso?

Vamos divulgar esse mapa hoje ainda. Queremos com isso estimular que haja um vínculo cada vez maior das bases partidárias com as lideranças do partido. O que percebemos é que em determinados diretórios não houve qualquer empenho, qualquer vínculo maior com as candidaturas colocadas pelo partido.

Não fiz esse casamento com as eleições majoritárias porque elas têm uma dinâmica própria, mas eu acho que é fundamental que os diretórios municipais do partido, se nós queremos ter um partido cada vez mais nacional, cada vez mais fortalecido, é preciso que haja um compromisso das bases do partido, das lideranças municipais, com as candidaturas do partido.

É algo absolutamente novo, mas eu ressalto que foi aprovado por unanimidade. Isso significa que cerca de 30% dos diretórios e comissões provisórias do PSDB não realizarão as convenções marcadas para maio. Poderemos ter uma segunda chamada, vamos chamar assim, em setembro, prazo final para a filiação daqueles que vão disputar as eleições municipais, onde esses municípios eventualmente estarão realizando as suas convenções, ou com o mesmo grupo, ou com outras filiações que poderão vir.

Por isso nosso empenho em antecipar esse processo de filiação porque muitos desses municípios e em outros onde o PSDB sequer estava organizado nós achamos que poderemos reorganizá-lo com novas lideranças. O partido vai se oxigenar, vai rejuvenescer, tanto na sua militância, quanto nos seus dirigentes municipais.

 

Nesses locais, como vai funcionar?

Simplesmente a comissão provisória. O diretório vai ser extinto a partir do cumprimento do prazo de validade daquela direção, que é agora o mês de maio porque foram prorrogados até maio. Em junho, assumirão novas direções estaduais, e caberá a essas novas direções estaduais reativar que essa comissão provisória onde ela se justifique, haja expectativa de que ela possa crescer, ou no lugar daquela que foi extinta atrair outros grupos políticos. O que nós queremos é acabar com os cartórios que existem hoje no PSDB. Diretórios que não demonstraram ao longo do tempo qualquer compromisso com o partido. Então, nesses municípios, haverá uma estratégia nova de atração de novas lideranças. E, a partir das eleições municipais, ou das eleições desses diretórios, serão estabelecidos também critérios de desempenho para as eleições municipais, que vão ser ainda estabelecidos e para as próximas eleições parlamentares. O que nós queremos é conectar as nossas bases com os nossos representantes, seja na Câmara de Vereadores, no caso das municipais, seja no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas.

 

O que o sr. diz sobre auditoria do governo Pimentel em Minas?

Acho que é um atestado de fracasso de um governo que não começou. Eu costumo dizer que quem dirige olhando pelo retrovisor, corre o risco de bater, bater forte. E no caso do PT de ter perda total. Então acho que é uma grande encenação.

 

O sr. contesta os números?

Isso será contestado em Minas Gerais por quem está avaliando. Uma encenação de um governo que ainda não começou. Desejo que o governador eleito de Minas Gerais esteja à altura do cargo de governador e possa atender a todas as promessas e compromissos que assumiu com a população.

Quero fazer apenas um comentário em relação a essas últimas movimentações do governo, e acho que a presidente Dilma Rousseff introduziu algo novo na vida política do Brasil: a renúncia branca. Há, hoje um interventor na economia, que pratica tudo aquilo que ela combateu ao longo de todo o seu primeiro mandato, e agora ela delega a coordenação política ao vice-presidente da República a quem ela desprezou durante todo o seu primeiro mandato. Já é hoje refém das presidências da Câmara e do Senado na condução da agenda legislativa. E a grande pergunta que resta é: que papel desempenha hoje a presidente da República? Acredito que praticamente nenhum mais.

 

O sr. vai às ruas dia 12?

Estou avaliando. Hoje houve aqui uma discussão muito amistosa em relação a isso e vou avaliar até o último momento, mas eu quero aqui dizer que esse movimento é absolutamente legítimo. Os nossos companheiros devem estar nas ruas e estarão nas ruas demonstrando mais uma vez a sua indignação.

Há hoje apostas de reação ao governo de que o movimento será menor. Não importa o tamanho do movimento, porque a indignação da população brasileira é cada vez maior. O PSDB, que não é dono desse movimento e nem deve ser, é absolutamente solidário a todas essas manifestações. E o que eu vejo é uma presença cada vez maior da nossa militância, dos nossos companheiros, dos nossos líderes, dos nossos dirigentes nesse movimento. Eu vou avaliar domingo se estarei presente.

 

E o que o sr. achou do IPCA divulgado hoje? Em 12 meses está acima de 8%, bem acima do teto da meta.

É o pior março de toda essa série, o que demonstra que aquilo que nós dizíamos durante a campanha eleitoral se confirma a cada dia. Inflação está sem controle, a inflação de alimentos já está acima de dois dígitos há muito tempo. Então, na verdade, os governos que têm esse viés populista, que se utilizam das massas ou da divisão de classes para se manter no poder acabam por prejudicar em primeiro lugar aqueles mesmos que eles dizem defender, porque os que sofrem de forma mais imediata os efeitos dessa crise que se agrava a cada dia são exatamente os que menos têm, que veem sua renda corroída pela inflação, que veem o desemprego aumentando no Brasil com perspectiva de crescimento negativo neste ano.

Aquilo que traz a meu ver maior indignação à sociedade brasileira, além da corrupção deslavada, casada com esta gravíssima crise econômica, é a sensação de engodo. Os brasileiros têm a sensação de que foram enganados pela presidente da República e esta é a razão maior da sua fragilização permanente. Repito, o que assistimos a partir desta decisão da presidente de ontem é uma renúncia branca. Hoje, quem governa o Brasil não é mais a presidente Dilma.

 

Dois dogmas do PT estão caindo num dia só: o sistema de partilha e a abertura do capital da caixa.

O PT se transforma na maior fraude da história política recente do Brasil. Nada que se disse durante a campanha eleitoral se sustenta agora. Em relação à questão das concessões ou o de partilha eu alertei durante a campanha por inúmeras vezes. As perdas que o Brasil vinha tendo. Ficamos cinco anos sem leiloar nenhuma área no Brasil no momento em que mais de US$ 300 bilhões da indústria petroleira foram investidos no mundo. Exatamente porque prevaleceu a visão ideológica. Hoje, a Petrobras, sucateada e assaltada, não tem condições de manter a sua participação de 30% em cada um dos blocos que deveria estar sendo explorado. Isso significa os prejuízos que a inoperância deste governo, a irresponsabilidade deste governo causou ao país, ela não se limita apenas aos prejuízos da Petrobras, de Pasadena, de outros maus negócios ou da corrupção, se estende por toda a cadeia econômica. Nós, infelizmente, tivemos uma extraordinária descoberta que foi o Pré-sal, mas o atual governo inviabilizou a Petrobras para ser a principal exploradora desse tesouro encontrado.

Acho que a discussão do retorno do modelo de concessões é uma discussão que já propúnhamos lá atrás. Mais uma vez o que se percebe que o governo do PT é um na campanha eleitoral e outro contra o governo. No meu governo, por exemplo, não haveria a privatização da Caixa Econômica Federal. Não haveria partidarização do Banco do Brasil e não haveria a ocupação criminosa da Petrobras. Esta é a grande diferença entre nós e o governo que está aí. Repito, temos hoje no Brasil um governo refém de setores da sua base, com uma agenda econômica que não é a sua. Realmente não sei até onde isso vai.

 

O pessoal do Movimento Brasil Livre está chamando a oposição de molenga que não está participando das manifestações.

Acho que a oposição está fazendo o seu papel com absoluta responsabilidade. É obviamente a opinião de alguém que não acompanha o embate diário no Parlamento.

 

Eles querem que o sr. vá à marcha.

É um convite? Estou avaliando a minha presença com muita serenidade. Tenho dito sempre que este movimento não é o movimento do PSDB. É um movimento dos brasileiros. E quanto mais da sociedade ele for, mas legítimo ele será. Isso não impede que eu resolva ir. Não vou fazer nenhum anúncio prévio, nem tomar nenhuma decisão agora, porque aí sim, daria margem a todo tipo de especulação, de um certo aproveitamento do movimento que, repito, quanto mais da sociedade for, quanto mais espontâneo for, como está sendo, mais legítimo e maiores consequências ele terá. Quem sabe como cidadão eu resolva aparecer?