Aécio Neves – Estratégia de Lula para tentar incriminar opositores

“Não é demonizando adversários e protegendo aliados que vamos dar ao Brasil e aos brasileiros, tão desgastados com a política ou tão distanciadas da representação política, um pouco mais de esperança. Em uma dessas degravações algo surpreendente aconteceu porque explicita, de forma clara, qual é uma de tantas estratégias daqueles que buscam se sustentar no cargo. O que ficou muito claro nessa degravação em que se solicita ao deputado que intervenha, que crie junto à imprensa constrangimentos ao procurador, é que se estabeleceu, de um lado, uma indústria das citações”, afirmou o senador Aécio Neves sobre revelações feitas pelo ex-presidente Lula em conversa interceptada com o ex-deputado Sigmaringa Seixas na tentativa de incriminar opositores na rede de escândalos protagonizada pelo PT.

Aécio Neves – Manifestações contra a posse de Lula na Casa Civil

Em pronunciamento, no Senado, nesta quinta-feira (17/03), ao ocupar a tribuna com outros líderes da oposição para avaliar os desdobramentos da posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa-Civil, ocorrida esta manhã no Palácio do Planalto, o senador Aécio Neves destacou a gravidade do conteúdo das gravações, feitas com autorização da Justiça, das ligações telefônicas mantidas entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.

Senado tem o dever de dar uma satisfação para o sentimento das ruas, afirma Aécio Neves

“As ruas do País inteiro, de forma espontânea, vêm se manifestando. Esta Casa tem o dever de ser a ressonância dos sentimentos múltiplos, vários, estratificados por todas as regiões do País, que nós temos colhido durante esses dias”, afirmou o senador Aécio Neves em pronunciamento no Senado nesta quinta-feira (17/03) ao ocupar a tribuna com outros líderes da oposição para avaliar os desdobramentos da posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa-Civil, ocorrida esta manhã no Palácio do Planalto.

O senador também comentou a gravidade do conteúdo das gravações, feitas com autorização da Justiça, de ligações telefônicas mantidas entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.

Leia, a seguir, trechos do pronunciamento do senador Aécio Neves:

“Hoje não é um dia comum, e não podemos perder a percepção disso. As ruas do País inteiro, de forma espontânea, vêm se manifestando. Esta Casa tem o dever de ser a ressonância dos sentimentos múltiplos, vários, estratificados por todas as regiões do País, que nós temos colhido durante esses dias. Portanto, eu quero sugerir que hoje seria o dia para o Senado Federal, durante todas as horas que se sucederão, e se for o caso, durante o dia de amanhã, debatermos em profundidade, mas com responsabilidade, a gravidade desta crise e os caminhos que esta Casa tem a sugerir, as contribuições que os senadores, experientes que são, muitos governadores de Estado, outros tantos com larga experiência nas mais variadas atividades, não apenas na política. Mas quem sabe, em alto nível, como convém aos belos momentos desta Casa, que tem como patrono Rui Barbosa, quem sabe nós possamos transformar o dia de hoje num dia de um grande debate, duro, como é natural em tempos duros como os que estamos vivendo, mas respeitoso, como é dever desta Casa.

A questão central hoje, e que colho como presidente do PSDB, é que os brasileiros se sentem ultrajados com uma decisão tomada com um sentido que não seria o mais nobre deles, com um sentido explicitado pelas últimas gravações tornadas públicas, que significava a possibilidade de impedir que o ex-Presidente da República – e nada de pessoal contra o ex-Presidente da República – pudesse ter a sua prerrogativa (Fora do microfone.) de foro alterada. Eu não vou adentrar ainda esse tema. Vamos estar aqui, nós da oposição, durante todo o dia. Acho que é importante que a base também esteja – nos reunimos até agora há pouco – para demonstrar ao País a necessidade de, por meio da política, da boa política, das boas formulações da política, apresentarmos para o País um desfecho para esta Crise, que não pode ainda continuar a ser alimentada.

O Brasil merece o início de um novo tempo, de uma nova quadra, para que nós possamos, oposicionistas, governistas, não importa, mas cidadãos brasileiros como um todo, iniciar uma nova história no Brasil, com respeito às instituições, com respeito à Lei e à Constituição, da qual somos todos escravos, mas com a coragem necessária para rompermos com o que está aí e, dentro daquilo que prevê a Constituição, iniciarmos uma nova página, como disse, na história do País. Fica, portanto, esse convite, e nós da oposição estaremos aqui prontos para um debate contundente, mas obviamente no nível que os membros do Senado Federal certamente saberão manter.

Não vou tomar muito tempo deste plenário, neste instante, pretendo voltar ainda à tribuna, e talvez com o senador Paulo Rocha um pouco mais sereno, um pouco mais tranquilo, mas para dizer algo aqui que me parece muito distante das preocupações do senador. Ele nos acusa de ter acirrado os ânimos do país. Teremos nós esta força? Nós da oposição acirramos os ânimos do país? Ou são essas denúncias sucessivas que não cessão, ou são as medidas absolutamente equivocadas, irresponsáveis e atrapalhadas na economia que nos levam a pior recessão da nossa história, um desemprego sem precedentes no Brasil que estão levando as pessoas às ruas. Me acusa o senador Paulo Rocha de, como presidente do PSDB, ter impetrado uma ação na Justiça Eleitoral a partir de inúmeras denúncias que nos chegavam.

O PT fez isso corriqueiramente em inúmeros estados. Se não tivesse cumprido a minha obrigação, e não é o PSDB que produz essas provas, de solicitar ao Tribunal Eleitoral de investigar as denúncias que nos chegavam, eu certamente estaria prevaricando. Mais, se não entro eu com esta ação como presidente do PSDB o Brasil não estaria tendo conhecimento das gravíssimas denúncias que vinculam sim recursos da Petrobras ou do propinoduto ao financiamento da campanha eleitoral. É essencial que o direito à livre e ampla defesa seja garantido. A presidente terá lá todas as condições de demonstrar que essas acusações ou que essas delações são falsas.

Agora o que eu percebo de forma muito clara e essas gravações de ontem trazem tudo isso à luz. Há sim uma tentativa de nivelar aquilo que não é nivelável. Percebi claramente em algumas dessas gravações que vale a pena sim, vamos citar uma, duas, dez, quinze vezes alguma figura independentemente do que isso represente para que quem sabe com isso haja uma pressão explícita como uma dessas gravações coloca em torno do procurador geral da República ou do Supremo Tribunal Federal. Não, temos instituições que funcionam. Que funcionam com independência, que funcionam com altivez. Se eventuais excessos forem cometidos por alguma delas caberá à sociedade reagir a esses excessos. Mas em relação a aquilo que é dito sobre o PSDB, a nossa postura é muito diferente da postura do PT. Não atacamos as nossas instituições, não demonizamos a imprensa. Ao contrário, não consideramos como considera o PT um ataque à democracia.

Queremos que tudo seja investigado em profundidade, não há, para os homens de bem, nada, absolutamente nada mais relevante do que a verdade e é isso que estamos buscando. Não acredito que serão apenas essas as citações a nomes da oposição e ao meu próprio, muitas outras virão e todas serão respondidas de forma cabal, clara, com serenidade, mas com absoluta firmeza. Mas é preciso, que coloquemos nossos olhos no futuro, vamos olhar o que está acontecendo com o Brasil, vamos encontrar caminhos para que o Brasil rompa definitivamente com o que está aí ancorado na Constituição, para construirmos um tempo novo, de convergência e não de divisões.

Quisera ter o poder de mobilizar as massas que ocuparam ontem e no último domingo as ruas do Brasil inteiro. Não tenho! E, se V. Exªs não compreenderam de forma clara o que está acontecendo no sentimento e na alma dos brasileiros, certamente não estarão em condições de contribuir para uma saída que seja de interesse dos brasileiros e dos trabalhadores. Por último, jamais senador Paulo Rocha, quando V. Exª teve seu nome citado no mensalão e depois absolvido, V. Exª jamais teve, desse parlamentar, uma citação que não fosse digna e de respeito. É isso que o PSDB e os tucanos esperam também de V. Exª.”

Aécio Neves – Reunião de Líderes

O senador Aécio Neves reúne líderes da oposição em seu gabinete e decidem ocupar a tribuna do Senado, nesta quinta-feira (17/03), em protestos contra nomeação do ex-presidente Lula na Casa Civil.

Foto: George Gianni

Foto: George Gianni

Aécio Neves – Entrevista sobre a nomeação do ex-presidente Lula

Brasília

Em primeiro lugar, uma palavra em relação à chegada do presidente Lula ao Ministério da presidente Dilma, se é que, daqui por diante, ela poderá ainda ser chamada de presidente. Quero aqui falar de três aspectos que considero dessa nomeação absolutamente equivocada. O primeiro, do ponto de vista da própria presidente, que, na verdade, abdica agora de forma definitiva dos poucos poderes e iniciativas que lhe restavam. Mesmo com as sucessivas denúncias de irregularidades na campanha, a presidente havia tido a maioria dos votos. Ela abdica, portanto, desse mandato em favor do presidente Lula. O segundo aspecto diz respeito à economia. Temo que isso possa ser a última sinalização, e mais perigosa, de um retorno ao populismo, de um retorno àquela velha matriz econômica que nos trouxe a esse calvário de hoje.

Portanto, o retorno ao populismo pode ser uma das marcas dessa nova fase do governo com o presidente Lula na Casa Civil. E nada pior do que isso para que possamos iniciar o processo de retomada do crescimento a partir de novos investimentos que serão afugentados a partir das primeiras iniciativas e discursos que estamos assistindo. E o outro equívoco é o da política, porque ficará absolutamente claro, de forma definitiva, que a razão da posse do presidente Lula no Ministério tem um sentido que supera todos os outros: é obstacular, é impedir o bom andamento das investigações, seja da Operação Lava Jato ou daquelas conduzidas pelo Ministério Público de São Paulo. Essa marca é indelével, é definitiva. Portanto, o que constato ao final é de que não temos mais um governo e nada, absolutamente nada freará o ímpeto da sociedade brasileira e a ação do PSDB, como de outros partidos políticos, para que o impeachment seja votado o mais rapidamente possível, porque, com a presidente Dilma, mesmo como uma figura folclórica ou figurativa no comando da Nação, não há possibilidade de readquirirmos aquilo que é essencial para o Brasil voltar a crescer e gerar empregos, que é confiança e credibilidade, e isso ela já não tem mais.

A oposição vai tentar tomar alguma medida para impedir a posse do presidente Lula?

Algumas ações já foram impetradas por vários partidos de oposição, mas eu quero dizer que, além dessas ações, o que nós temos que fazer é acelerar o rito do impeachment, acelerar os prazos dentro daquilo que o regimento nos permite. Temos que dar uma satisfação ao sentimento amplamente majoritária da sociedade brasileira, e há uma constatação que é generalizada, e não é porque a oposição quer isso, é porque a presidente da República perdeu, aos olhos dos cidadãos brasileiros, aos olhos do mercado, daqueles que investem, aos olhos, portanto, do conjunto da sociedade, nas suas mais variadas manifestações, a capacidade de nos guiar para fora dessa crise. É claro que você tem a questão do TSE que deve continuar a ser investigada, mas os nossos esforços políticos, nesse momento, estão concentrados na aceleração, no avanço, da discussão e da aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados.

A presidente deixou uma brecha de poder usar as reservas para a questão da dívida, não necessariamente para investimento. O senhor acha que seria uma irresponsabilidade de gestão?

Na verdade, é um gesto extremo, de consequências extremamente perigosas para o país. Hoje tive a oportunidade de conversar com alguns economistas, entre eles o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. As expectativas de mercado com esse anúncio, com essa possibilidade de utilização de parte das reservas é a pior possível. Portanto, é preciso que estejamos absolutamente atentos à tentação, que pode significar a chegada de Lula ao ministério, de voltarmos a atitudes do ponto de vista macroeconômico de condução da economia absolutamente irresponsáveis, como, a nosso ver, seria a utilização de parte das reservas, seja para pagamento da dívida ou mesmo para investimentos. O que vai permitir o retorno dos investimentos no Brasil é confiança, credibilidade, são regras estáveis, é um governo enxuto, organizado, que acredite naquilo que prega, que produza resultados, e não um governo que tem como único objetivo hoje a sua sustentação por mais algumas semanas, por mais alguns dias.

Em relação à revista Época, aos documentos hoje trazidos. O que o senhor tem a dizer?

Eu vou até, inclusive, falar no plenário sobre isso. É incrível que um assunto que já era de conhecimento público, que habitava os blogs sujos do petismo, financiados sempre com dinheiro público, ao longo de mais de um ano, seja tratado agora com ares de escândalo. O que é grave nesse momento é que assuntos privados que nenhuma relação tem com a minha atividade política sejam trazidos de forma irresponsável à baila. Eu quero aqui mostrar a minha absoluta indignação.

O que foi feito pela minha mãe, e é triste eu ter que defendê-la, trazê-la neste momento, mas eu faço isso por dever de responsabilidade para com tantos brasileiros que confiam em nós, foi algo que ela fez ao lado do seu marido, um banqueiro e empresário muito conhecido no Brasil, quando ela iniciou a constituição de uma fundação, fundação legalmente constituída. A partir da doença do marido e da sua morte, em 2008, este processo foi extinto. Essa fundação, para vocês terem ideia, movimentou em seis anos uma média de recursos de US$ 5 mil apenas para sua manutenção, não houve nenhum depósito além disso. E ela foi interrompida com a morte do marido dela. Ela a partir deste momento ela declara em seu Imposto de Renda esses recursos que ali foram investidos em razão de uma investigação que houve não a ela obviamente, mas a quem orientou a formação dessa fundação, que quando fez isso sobre a ele não recaía nenhuma denúncia.

A partir do momento em que há essa investigação ela é chamada a se manifestar. Se manifestou à época, se não me engano no ano de 2009, ou até mesmo antes disso, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro pediu o arquivamento desta ação porque não houve dolo, não houve nenhum ato ilícito e a Justiça Federal do Rio de Janeiro arquivou a pedido do Ministério Público esta ação. Depois disso, como jogo político bruto, um deputado do PT entrou com uma ação na PGR pedindo o desarquivamento desta ação. O que fez depois de analisar esta questão a PGR? Arquivou novamente. Isso não tem a menor vinculação com a minha atividade política. É preciso que as pessoas respeitem os atos e a privacidade daqueles que mesmo parentes nossos não têm conexão com a nossa atividade. Não há ilicitude. Não há ilegalidade. Não há irregularidade.

E quero aqui responder a isso com indignação de um homem de bem que tem 30 anos de vida pública irretocável e que vem sendo alvo ao longo de toda essa operação Lava Jato até antes disso, durante a campanha eleitoral. Os ataques mais torpes, os ataques mais vis, seja a mim, seja a minha família. Responderei a todos com indignação, mas com a serenidade daqueles que não têm o que temer.

Portanto, esta questão ela é pública há muito e muito tempo, portanto não há nenhuma ilegalidade – quem diz isso é a procuradoria-geral, quem diz isso é a Justiça Federal, quem diz isso é o Ministério Púbico Federal – e eu estarei respondendo, uma a uma, todas as acusações que já me fizeram, como fiz no passado, e que fazem agora. Não tenho o que temer. Isso não vai diminuir a minha determinação, em momento algum, de continuar combatendo esse governo que se apropriou do nosso Estado Nacional, que acabou com as nossas empresas públicas, que destruiu a nossa economia e que agora quer destruir reputações. Comigo não. Não me meçam pela régua desse governo e de muitos dos seus membros.

Aécio Neves – Nomeação do ex-presidente

“A própria presidente Dilma abdica agora de forma definitiva dos poucos poderes e iniciativas que lhe restavam. Mesmo com as sucessivas denúncias de irregularidades na campanha, ela abdica, portanto, desse mandato em favor do presidente Lula”, declarou o presidente do PSDB, senador Aécio Neves sobre a nomeação anunciada hoje do ex-presidente Lula para o Ministério da Casa Civil.

Foto: George Gianni

Foto: George Gianni