Popularidade x credibilidade

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 18/05/2015

Presenciei mais um amplo e justo reconhecimento internacional a Fernando Henrique Cardoso, o presidente que mais fez pelo desenvolvimento do Brasil e pelo fortalecimento de suas instituições, na nossa história contemporânea, e que recebeu semana passada, da Câmara de Comércio Brasil-EUA, o título “Pessoa do Ano”.

Ao lado do ex-presidente americano Bill Clinton e diante de um auditório repleto de políticos e empresários, FHC fez um discurso que já nasceu célebre, coroado por uma frase precisa: “Pode-se governar sem popularidade, mas não se pode governar sem credibilidade”. Nada mais atual.

Lembro que, em seus oito anos no Palácio do Planalto, FHC perdeu popularidade, mas jamais a credibilidade. Teve sempre como bússola a responsabilidade fiscal ao tomar medidas que, se não fossem as de aplauso fácil, eram absolutamente necessárias para colocar o país no mesmo passo do mundo em desenvolvimento ou impedir qualquer recuo ou risco às preciosas conquistas da estabilidade.

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Pagando a Conta

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 23/03/2015

O Brasil corre o risco de ter um longo ciclo de três anos (2014-2015-2016) de crescimento médio muito próximo de zero ou até mesmo negativo. Esse desempenho medíocre do país só ocorreu em três momentos da nossa história recente: na Grande Depressão (1929-1931), na crise da dívida (1981-1983) e no Plano Collor (1990-1992).

Fato é que, desde o início de dezembro de 2014, as projeções de crescimento da economia brasileira passaram a cair todas as semanas. Com a piora do cenário, já se trabalha com um resultado para este ano de uma queda do PIB próxima a 1%. Mas muitos já apostam em uma redução do PIB entre 1,5% e 2%.

Depois de negar peremptoriamente a necessidade de ajuste durante a campanha eleitoral, o governo manda ao Congresso um conjunto de medidas muito mais duras do que seria necessário se tivesse agido no tempo correto e, por exemplo, controlado o crescimento desenfreado do gasto público.

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A hora das Instituições

Artigo do senador Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 09/03/2015

A crise é inegável e ganha proporções, até pouco tempo atrás, inimagináveis.

A crise é econômica porque a economia patina, adernada em erros cometidos e não reconhecidos e na perda de credibilidade; é de gestão porque os problemas se perpetuam, intocados; a crise é política porque não há um projeto de país capaz de gerar confiança e solidariedade, e sim um projeto de poder regido pelos interesses e conveniências de plantão.

E é, especialmente, uma crise de valores, descortinada por escândalos em série, que alimentam o descrédito da classe política junto à população.

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ENTREVISTA – “O país foi enganado”

A revista Veja desta semana traz uma entrevista com o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves.  O senador falou à revista sobre as contradições entre o que foi prometido pela candidata Dilma Rousseff na eleição e as medidas anunciadas pela presidente reeleita em seus primeiros dias de segundo mandato, como o aumento da conta de luz, a elevação de impostos e o corte de direitos trabalhistas.

 

Leia a entrevista:

 

A presidente Dilma Rousseff tem adotado (ou sinalizado) medidas econômicas que ela atacou na campanha, como corte de gastos do governo, aumento de impostos e de juros. As circunstâncias mudaram? 

As contradições são enormes. As circunstâncias não mudaram. Há muito tempo o PSDB vem alertando sobre as medidas equivocadas do governo Dilma na área econômica, que se traduziram em  baixo crescimento, desequilíbrio fiscal, perda de competividade da indústria e desequilíbrio externo. Na campanha, falei diversas vezes da necessidade de ajustes para que a economia voltasse a crescer e pudéssemos continuar com a melhoria da renda e redução das desigualdades e da pobreza que, agora, estão em risco. A candidata Dilma, mesmo conhecendo a gravidade do quadro econômico, não apenas negava a necessidade de ajuste como atacava aqueles  faziam o alerta. Assistimos agora um estelionato eleitoral sem precedentes, pois o governo terá que fazer um ajuste fiscal muito mais duro que o que seria necessário no caso do PSDB, porque o mercado sabe que foi a própria presidente Dilma que, deliberadamente, entregou para o seu segundo governo uma herança maldita.  Apesar dos alertas, a  presidente deixou de tomar uma série  de medidas e não hesitou em permitir que os problemas do país se agravassem pensando apenas em  vencer as eleições.

Quais as consequências de a presidente ter prometido uma política econômica e agora adotar outra?

Existe uma grande questão que, acredito, deve preocupar muitos dos aliados do governo: refiro-me à perda de credibilidade. E a credibilidade é um ativo essencial a qualquer  governo. Na campanha, a candidata tinha dois caminhos: respeitar o povo brasileiro, o que significa respeitar a verdade ou mentir sobre a realidade do país e sobre as suas reais intenções. A candidata escolheu o caminho da mentira. Mentiu aos brasileiros sobre o que disse que ia fazer. Vejo três grandes problemas. Primeiro, o estelionato eleitoral. O governo prometeu uma série de medidas que não vai cumprir e está, agora, elaborando, às pressas, um novo plano de governo que não discutiu com os eleitores. Segundo, como o governo não se preparou para uma agenda de reformas, as medidas anunciadas estão sendo tomadas por meio de Medidas Provisórias sem o debate com a sociedade e, principalmente, com os trabalhadores. O que se anunciou até agora são medidas isoladas que não fazem parte de uma agenda estrutural. Mudanças de tributos deveriam integrar uma reforma tributária, e não medidas isoladas com o único propósito de aumentar a arrecadação. Terceiro, as medidas de ajustes  estão sendo anunciadas pela equipe econômica e não pela presidente da República que deveria ter a responsabilidade de fazê-lo.  Tem-se a impressão  de que a presidente está  muito convicta das propostas e que, a qualquer momento, pode desautorizá-las.

Há quem argumente que campanha é uma situação e que o dia a dia do governo é outra.

Esse é o discurso de quem não respeita a população, de quem acredita que vale tudo, que se pode fazer o diabo para vencer uma eleição, até enganar o seu próprio povo. Compromissos de campanha devem ser os compromissos de governo. Se não for assim,  as campanhas eleitorais seriam transformadas em concursos para ver quem mente mais e melhor. É antiético prometer uma coisa e fazer depois de eleito algo totalmente diferente depois de eleito. A candidata prometeu que não iria mudar direitos sociais e, agora, propõe dificultar acesso ao seguro desemprego.  Falei na campanha da necessidade de reduzir os subsídios dos bancos públicos e de o governo cortar despesas, preservando investimentos sociais.  A candidata Dilma prometia aumentar subsídios e agora quer fazer um corte radical, prejudicando os trabalhadores. Assistimos a um governo fazendo o oposto do que prometeu. Isso explica o grande sentimento de frustração e perplexidade que se percebe hoje no país. Muita gente se sente enganada.

Dilma terá apoio político para levar adiante um programa econômico que ela e o seu partido tanto criticaram?

Há uma imensa confusão quando se fala que as medidas do governo são as mesmas que seriam adotadas pela oposição. Não são.  As medidas em um governo do PSDB seriam previamente discutidas com a sociedade, feitas de forma gradual e negociadas no Congresso Nacional. O governo terá problemas para aprovar algumas das  propostas. O PT escolheu fazer o ajuste fiscal pela via simplista de aumento de impostos e redução de direitos trabalhistas, por meio de medidas provisórias, sem qualquer discussão com a sociedade e sem  enfrentar as questões estruturais. Para usar uma expressão cara à presidente, trata-se de uma solução “rudimentar”. E injusta com os brasileiros.

Qual a avaliação do senhor em relação às medidas anunciadas?

Há um equívoco com relação ao instrumento utilizado.  As medidas deveriam passar por amplo debate na sociedade e no Congresso Nacional. E eu não dificultaria acesso ao seguro desemprego em um período de baixo crescimento em que o desemprego tende a aumentar. Isso é injusto com o trabalhador. No caso do abono salarial, por que retirar totalmente o direito a este benefício de quem trabalhou por menos de seis meses? O correto não é tirar o benefício, mas sim torná-lo proporcionalmente maior para quem trabalhou por mais tempo. O governo não quer o debate e repete, cada vez com menos constrangimento, a velha e carcomida fórmula de garantir apoio às suas propostas por meio da distribuição de cargos e espaços de poder aos  aliados. Infelizmente, quem vai pagar a conta serão, mais uma vez, os cidadãos brasileiros e, em especial, os trabalhadores.

Aécio promete luta incansável para evitar mudança na meta fiscal

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou que a oposição, apesar de ser minoria do Congresso, irá lutar com todas as forças para evitar a aprovação o projeto de lei (PLN 36), que livra a presidente Dilma Rousseff de cumprir a meta fiscal de 2014.

Na semana passada, após dura batalha no Congresso Nacional, a oposição conseguiu adiar para esta terça-feira (02/12) a votação do projeto. O texto, se aprovado, alterará a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), isentando, na prática, a presidente Dilma de cumprir o orçamento aprovado pelo Legislativo.

“Os líderes estão lá reunidos e já estamos fazendo isso não apenas amanhã, estamos fazendo isso desde a discussão na Comissão de Orçamento. Conseguimos na semana passada o adiamento desta votação, mas temos a noção clara de que não temos os votos suficientes. Então, queremos no discurso e no convencimento, inclusive a setores da base aliada, mostrar que o Congresso Nacional não pode ser um puxadinho do Poder Executivo. A minha responsabilidade, a de todos nós, amanhã, é exatamente mostrar que para o Brasil, é fundamental que as leis sejam cumpridas e não modificadas ao bel-prazer do governante de plantão”, avaliou o presidente nacional do PSDB após participar de reunião da Executiva Estadual do PSDB de Santa Catarina, em Florianópolis.

Para Aécio, a presidente, ao descumprir a meta fiscal, sinaliza falta de compromisso com o controle dos gastos públicos e abala a credibilidade do Brasil perante empresas e investidores, tanto aqui como no exterior.

“A consequência não é apenas econômica. A conseqüência é para os cidadãos, para a população que mais precisa de empregos. Porque em um momento em que há mais esta maquiagem fiscal, obviamente, há perda de credibilidade da condução da nossa economia. Isso afugenta investidores, coloca em risco a nota de crédito do país. Isso implica em quê? Na geração de empregos”, advertiu Aécio Neves.

Ao ser questionado sobre a nova equipe econômica do governo anunciada na semana passada, Aécio colocou em dúvida se os novos nomes terão autonomia para tomar as medidas necessárias para recolocar o Brasil no caminho do crescimento.

“Que tipo de autonomia eles terão? Qual a política econômica que vai ser executada? É a da presidente da República ou é a anunciada por esses nomes? O tempo é que vai dizer, mas a medida que o governo toma no Congresso Nacional é absolutamente contraditória com o discurso desses ministros. Porque eles falam em transparência fiscal, equilíbrio das contas. Mas o que o governo quer é mais uma maquiagem fiscal”, criticou Aécio Neves.

Trinta dias

Completamos um mês do fim das eleições presidenciais. Tudo o que se viu neste período comprova, na prática, o que a oposição denunciou no processo eleitoral: a grave situação em que o país se encontra.

Além dos prejuízos causados pela má gestão e pela corrupção endêmica, o PT prestou, recentemente, mais dois grandes desserviços ao Brasil. Um na campanha, outro nos dias que se seguiram.

O primeiro, na ânsia de vencer a qualquer custo, o de legitimar a mentira e a difamação como armas do embate político. O segundo, o de contribuir para a perda da credibilidade da atividade política ao fazer, sem qualquer constrangimento, nos dias seguintes à eleição, tudo o que afirmou que não faria.

Como a atividade política é instrumento fundamental da vida democrática, sua desmoralização só interessa aos autoritários, para quem o discurso político não é compromisso, mas encenação que desrespeita e agride a cidadania.

Finda a eleição, a candidata eleita, rapidamente, pôs de lado as determinações do marketing e colocou em prática tudo o que acusou a oposição de pretender fazer.

Fez isso sem dar satisfação à opinião pública. Sem dar explicação sequer a seus próprios eleitores. Os mesmos eleitores que observam, atônitos, a presidente implantar as “medidas impopulares”, que usou como matéria-prima do terrorismo eleitoral contra seus adversários.

Hoje a realidade demonstra que ela concordava com todos os alertas que fiz sobre os problemas enfrentados pelo país, mas entre o respeito à verdade e aos brasileiros, e a insinceridade ditada pela conveniência do marketing, a presidente escolheu o marketing, o que não contribui para engrandecer a sua vitória.

Na campanha, o PT dizia que aumentar os juros tiraria comida da mesa do trabalhador. Três dias depois da eleição, foi justamente isso o que o governo Dilma fez.

No discurso do PT, se eleita, a oposição iria reajustar a gasolina, governar com banqueiros e patrões. Vencida a eleição, o governo anunciou o aumento dos combustíveis e convidou um banqueiro para a Fazenda. Anunciou ainda dois novos ministros: para cuidar da agricultura e da indústria, a dirigente e o ex-dirigente das confederações patronais.

Mesmo conhecendo a realidade, a candidata teve coragem de dizer que a inflação e as contas públicas estavam sob controle. Agora, deparamos com mais um rombo espetacular e manobras inimagináveis para maquiar as obrigações da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Surpresos, os brasileiros assistem àquilo que muitos estão chamando de estelionato eleitoral. Tudo isso explica a indignação de milhares de pessoas que vão às ruas e se mantêm mobilizadas nas redes sociais.

São pessoas que se sentem lesadas, mas esse sentimento não tem relação com o resultado eleitoral em si. Processos eleitorais fortalecem a democracia, qualquer que seja o resultado da eleição. Vencer e perder são faces da mesma moeda. As pessoas estão se sentindo lesadas porque os valores que saíram vencedores na disputa envergonham o país.

Além do grave descalabro econômico e administrativo agora revelado, é assustador o que ocorre com a nossa maior empresa. Nos debates, ofereci várias oportunidades para a candidata oficial pedir desculpas aos brasileiros por ter tirado a Petrobras das páginas econômicas e a levado para o noticiário policial.

A situação, desde então, agravou-se de uma maneira jamais imaginada. A Petrobras hoje é um caso de polícia internacional. Não há mais como se desculpar.

Por outro lado, não deixa de ser simbólico o fato de a presidente ter se negado a participar do anúncio dos novos ministros da área econômica. É possível que ela tenha se sentido constrangida por correr o risco de se encontrar com a candidata Dilma Rousseff.

Os últimos 30 dias são uma amostra da situação real do Brasil e do que vem pela frente. E nos mostram por que não podemos nos dispersar.

 

Leia também aqui: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/11/1555159-aecio-neves-trinta-dias.shtml.