O recado que veio das urnas

Os brasileiros falaram alto nas eleições municipais do último domingo. Com clareza e coragem, os eleitores apontaram a direção para onde desejam ver caminhando o país. Até mesmo na elevada taxa de abstenção e de votos brancos e nulos é possível identificar as vozes que clamam por um país novo. Reconhecer este país que emerge das urnas de outubro é essencial para fundamentar as escolhas a serem feitas para o futuro.

O Brasil quer mudança. A mensagem ficou mais clara na derrota do PT em todas as regiões. Depois de governar por 13 anos, o partido perdeu quase dois terços das prefeituras que ganhou em 2012. Um desempenho tão frágil que o deixou atrás de outros nove partidos. Foi uma dieta de votos radical, com o seu eleitorado municipal caindo para menos da metade.

Ao mesmo tempo em que declarou a sua insatisfação com a forma como o país vinha sendo conduzido, o eleitor brasileiro canalizou para a representação política que mais personificou a oposição ao petismo um testemunho inequívoco de confiança. O PSDB conseguiu resultados extraordinários. Nada menos que 17,6 milhões de votos para seus prefeitos e nove milhões para os vereadores.

Com isso, o PSDB se transforma no partido político que maior volume de votos recebeu em todo o país. É também o partido que elegeu proporcionalmente o maior número de prefeitos em relação à eleição de 2012. A partir de janeiro próximo, pelo menos 793 municípios brasileiros terão prefeitos tucanos – número esse que poderá se ampliar com os resultados do segundo turno. Em Minas, o PSDB já elegeu 132 prefeitos, enquanto o PT apenas 41.

A forma como o PT se apropriou do Estado para sustentar um ciclo político de continuidade, a inépcia e leniência na gestão dos recursos públicos, o desvio das bandeiras éticas e a tragédia econômica provocada por crenças equivocadas, afundando o país em uma das maiores crises de sua história, tudo isso constitui um retrato definitivo do Brasil que não queremos mais.

Em contraponto, o PSDB se apresenta como um partido que manteve a sua coerência programática, com posições claras em defesa de uma gestão responsável do ponto de vista econômico e fiscal, com uma agenda pública comprometida com a retomada do crescimento, com a eficiência administrativa, com o aperfeiçoamento dos programas sociais, com a visão de um país moderno e globalmente integrado. Só assim conseguiremos avançar, de fato.

O que as urnas também ecoam, não esqueçamos disso, é que há uma distância ainda expressiva entre a sociedade e a representação política parlamentar. Aparentemente menos interessados em política, o número de jovens eleitores entre 16 e 17 anos caiu 20% no pleito recente. Não se pode desperdiçar o vigor, a criatividade e a capacidade de mobilização desta parcela de brasileiros. A presença da juventude na vida pública é essencial para a reconstrução do país que se projeta desde o colapso do governo Dilma e que precisa ser aprofundada com a implementação de reformas estruturais.

É a hora de dar uma resposta clara a todos que votaram pela mudança. É alinhado com este sentimento de transformação que caminha o PSDB. Em direção a um país muito melhor.

Recomeçar

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 21/03/2016

Os últimos dias viram nascer um novo Brasil. Indignado, desperto, protagonista de seu destino, esse Brasil que se mobiliza e se agiganta contra um modelo de governo que arruinou o país deve ser a maior inspiração para o futuro que começa a ser desenhado.

Não há mais espaço para o ideário rançoso, equivocado e nada republicano que, levado à exaustão nos últimos 14 anos, mergulhou o país em uma crise sem precedentes e na pior recessão das últimas décadas. O Brasil daqueles que se julgam acima das leis está a caminho do lixo da história. É hora de recomeçar.

O momento delicado da vida nacional exige sobriedade e coragem. Precisamos reagir com veemência às tentativas de obstrução da Justiça. As gravações liberadas pela Operação Lava-Jato são reveladoras do desapreço que as principais lideranças do partido governista nutrem pelas instituições públicas.

As conversas que vieram a público compõem uma peça vexatória de desprezo pelas instituições, pela democracia e por quem é visto como obstáculo ao projeto de poder do partido. E não me refiro apenas à irresponsável citação ao meu nome na assumida estratégia de “vamos ficar em cima do Aécio”.

Diante da gravidade dos acontecimentos em curso não há como recuar. A hora é de defesa intransigente do trabalho da Justiça Federal, do Ministério Público, do STF e demais instituições.

A tarefa a ser feita será enorme e deverá mobilizar toda a sociedade. Afinal, depois de herdar um país nos trilhos, com as contas em dia e políticas de governança em aprimoramento, o PT avançou sobre este patrimônio de conquistas com uma voracidade rara. O resultado é este legado de infortúnios: uma recessão profunda, com inflação crescente, milhões de desempregados, empresas e famílias endividadas, a dívida pública nas alturas e o descrédito interno e internacional.

Contra o atual estado de coisas, não há saída senão o recomeço. Os brasileiros não suportam mais este teatro de mentiras. Cabe ao Congresso ouvir a voz das ruas e dar ressonância ao que hoje é um clamor nacional. Se o impeachment é o cenário mais provável diante do agravamento da crise, já que a presidente perdeu por completo as condições de governabilidade, devemos pensar com serenidade e responsabilidade no que pode vir a seguir.

As forças de oposição têm o dever de se organizar para ajudar a construir uma agenda de transição e reconstrução. Há um conjunto de reformas estruturantes que precisa ser empreendido para que o país possa enfrentar os desafios do novo tempo. É preciso desobstruir os caminhos que nos impedem de voltar a crescer. O Brasil que sonhamos tem plenas condições de reassumir um papel proeminente no mundo. Não nos falta confiança para seguir adiante.

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Clamor

Minas se reúne hoje, nas celebrações da Inconfidência Mineira, para também homenagear a página mais importante da nossa história contemporânea: os 30 anos da Campanha das Diretas, que nos legou o resgate da democracia e o retorno ao regime pleno do Estado de Direito.

Nos últimos dez anos, a solenidade tem sido marcada pela defesa de um novo pacto federativo que signifique maior responsabilidade e solidariedade da União para com os Estados e municípios.

 

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