O governador Zema colocou Minas Gerais à venda. É o que de imediato vem à mente de quem lê a enorme lista de bens públicos do Estado, enviada à Assembleia Legislativa como passíveis de serem entregues ao governo federal em troca de abatimento da dívida mineira. Sem competência para fazer ajuste nas contas públicas estaduais, o governo Zema dilapida o patrimônio dos mineiros. E em todos os setores.
Constam da relação apresentada pelo governo do Estado patrimônios de enorme valor simbólico, funcional e institucional para Minas Gerais e os mineiros – como o Hospital Risoleta Neves, entre vários outros hospitais regionais; o Colégio Estadual Central de BH e a UEMG; dentre dezenas de outros centros universitários e de pesquisa; e até a Cidade Administrativa.
Trata-se de uma decisão grave, que escancara a incompetência da gestão estadual, que se especializou em transferir responsabilidades sem assumir as suas.
O que falta, a meu ver, é coragem e um pouco mais de compreensão da importância de Minas Gerais para se negociar com o Governo Federal. As propostas que estão sendo colocadas atendem ao Governo Federal. Não atendem a Minas Gerais. Essa lista de pré-venda é temerária, precipitada e profundamente lesiva aos interesses do povo mineiro.
O que exige uma ação imediata da sociedade civil, da Assembleia Legislativa e do Ministério Público.
Minas não está à venda.
Aécio Neves
Deputado Federal, Presidente Nacional do ITV e ex-governador de Minas Gerais
Aécio participa em SJDR de homenagem pelos 40 anos de morte de Tancredo
Ao lado do presidente da Câmara, Hugo Motta, e do presidente da ALMG, Tadeu Leite, Aécio participa de homenagem pelos 40 anos de morte do presidente Tancredo Neves em São João del-Rei
O deputado federal Aécio Neves participou, neste 21 de abril, em São João del-Rei, das homenagens pelos 40 anos de morte do presidente Tancredo Neves. Ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Tadeu Leite, Aécio afirmou que ao homenagear Tancredo, o patrono da redemocratização do Brasil, a nova geração de políticos brasileiros está homenageando todos aqueles que permitiram que o país deixasse para trás 21 anos de ditadura para viver hoje uma democracia sólida.
“Ao homenagear Tancredo, estamos homenageando todos aqueles que, apesar de todos os desencontros, apesar de todo o radicalismo, apesar das tentativas de ruptura democrática, permitiram que o Brasil continue sólido, sob instituições fortalecidas. O Brasil vive hoje o mais longo ciclo democrático de toda a sua história republicana. Revisitar esse momento de 40 anos atrás é uma sinalização de que damos, principalmente para as novas gerações, a importância de vivermos hoje em uma democracia, em liberdade, onde nós próprios podemos definir o nosso destino”, afirmou Aécio.
Familiares depositam uma bandeira do Brasil sobre os túmulos de Tancredo e Risoleta
Aécio afirmou que a presença de Hugo Motta, e de outras jovens lideranças políticas mineiras na solenidade, representa o reconhecimento da nova geração de políticos ao papel que desempenhou Tancredo e outros nomes da política brasileira para a redemocratização do país.
“A presença aqui hoje do presidente da Câmara, deputado Hugo Mota, é uma honra muito grande para todos nós, porque ele preside uma casa que é o retrato mais bem acabado da democracia. Ali está o Brasil, com suas virtudes, com as suas mazelas, com as suas diferenças, mas sempre forte na defesa da democracia”, disse o deputado.
Ao lado do prefeito de São João del-Rei, Aurélio Suenes, Aécio afirmou que as novas gerações terão a oportunidade de conhecer o valor da boa política, vivenciando a trajetória de Tancredo Neves contada no memorial instalado em antigo casarão do XVIII. Objetos pessoais, cartas, fotos, vídeos e reportagens compõem o rico acervo da história do presidente e de fatos marcantes da política brasileira, do Estado Novo ao período da redemocratização.
“Não estamos apenas abrindo essas belas portas de madeira, estamos permitindo que as novas gerações que passem por aqui possam conhecer um pouco da sua história, para que tenham capacidade de construir o seu futuro. Tenho um orgulho enorme dessa nova geração de homens públicos que está surgindo aqui em Minas Gerais, que acompanho muito de perto. Não tenho dúvida de que Tancredo gostaria de ver essa nova geração reverenciando o passado e valorizando o que ocorreu no Brasil há 40 anos. Nós não vivemos sempre em democracia, em liberdade. Isso custou uma geração de homens públicos, e Tancredo foi um desses”, afirmou Aécio.
Em seu discurso durante a solenidade de reabertura do Memorial Tancredo Neves, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, destacou o legado de Tancredo Neves para a democracia brasileira e para as futuras gerações.
“É muito importante estar aqui em São João del-Rei, não só fazendo essa homenagem à história de Tancredo, a tudo o que ele representou para o povo de Minas Gerais, ao Brasil, mas para reverenciar o legado para as gerações futuras. Tanto eu como o Tadeu, somos presidentes de poderes legislativos que nascemos após o processo de redemocratização. Estar aqui representa para nós, para as próximas gerações, para as crianças, os mais jovens, o momento de poder reverenciar e reviver o que representou Tancredo para a democracia do nosso país. Estarmos aqui é dizer que queremos seguir no regime democrático, seguir tendo as instituições cada vez mais fortalecidas, seguir respeitando a vontade popular, seguir procurando construir um país mais justo, um país mais próspero, mas obedecendo regras, tendo a nossa população como a grande responsável pelas escolhas e sendo a grande força geradora de esperança e de oportunidades para o nosso país”, afirmou Motta.
No Memorial, ainda foi exibido vídeo enviado pelo ex-presidente José Sarney que, por motivos de saúde, não compareceu à solenidade.
“Este homem extraordinário fez falta ao Brasil e faz até o momento. Graças às suas virtudes, ao seu talento, ao seu espírito público, ao homem que tinha um grande conhecimento dos homens e ao mesmo tempo ao homem que conhecia a política como ninguém e inspirava obediência, confiança a todos. Tancredo Neves assim está na memória do Brasil”, afirmou o ex-presidente.
Emoção marca homenagens
No início da manhã, Aécio participou de missa solene celebrada pelo monsenhor Geraldo Magela da Silva em homenagem a Tancredo Neves na Igreja de São Francisco de Assis. Em seguida, o ex-governador acompanhado dos seus familiares e convidados visitaram os túmulos do presidente Tancredo Neves e de sua esposa Risoleta Neves, onde depositaram uma bandeira do Brasil ao som do Hino Nacional, interpretado de forma emocionante pela Orquestra Ribeiro Bastos.
Após a homenagem no cemitério São Francisco de Assis, Aécio Neves e Hugo Motta caminharam até o Memorial Tancredo Neves, onde descerraram placa marcando a reabertura do espaço cultural. Aécio entregou ao presidente da Fundação Municipal Tancredo Neves, André Dângelo, placa enviada pelo Senado Federal em homenagem ao ex-presidente.
“Tancredo Neves personificou a esperança do povo brasileiro na retomada da democracia. Eleito presidente em 1985, sua vitória simbolizou o fim do regime militar e a transição para o poder civil. Seu legado de diálogo e compromisso com a liberdade permanece vivo inspirando gerações a defenderem a democracia,” diz a placa assinada por Davi Alcolumbre, presidente do Senado.
Entre os presentes estavam os deputados federais Luiz Fernando Faria (PSD), Gilberto Abramo (Republicanos), os deputados estaduais Dorgal Andrada e Betinho Pinto Coelho, o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB), o ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB), o ex-deputado Narcio Rodrigues, o ex-secretário de Estado, Danilo de Castro, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, o ex-procurador de Justiça de MG, Jarbas Soares Júnior, o ex-procurador geral da República, Aristides Junqueira, o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Afrânio Vilela, o desembargador Bruno Terra, entre outros.
Aécio faz leitura em missa solene celebrada na Igreja de São Francisco de Assis
Fotos: Leo Lara
Ao lado de Hugo Motta e Tadeu Leite, duas jovens lideranças da política brasileira, Aécio participa de reabertura do Memorial Tancredo NevesAécio Neves visita o Memorial Tancredo Neves ao lado dos filhos Júlia e BernardoAécio e Hugo Motta na igreja de São Francisco de Assis em São João del-Rei
Foto do alto: Jackson Romanelli
Aécio lamenta falecimento de Fuad Noman, prefeito de Belo Horizonte
“Mais do que meu sentimento de pesar, faço também minha manifestação de extrema saudade desse querido companheiro, com quem tive o privilégio de conviver nos últimos 20 anos”, diz ex-governador
O deputado federal Aécio Neves prestou hoje (26/03), no plenário da Câmara dos Deputados, uma homenagem ao prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, falecido nessa manhã.
Aécio destacou a competência e o compromisso de Fuad durante os governos do PSDB em Minas Gerais, quando foi secretário de Estado da Fazenda e de Obras, e sua determinação ao assumir a Prefeitura da capital mineira.
“Faço uma manifestação de pesar pela partida do prefeito de BH, meu amigo Fuad Noman. Um registro do homem público completo, do cidadão exemplar, do amigo querido de tantos que com ele tiveram a oportunidade de conviver. E a certeza de que seus exemplos de dignidade e de preparo para a vida pública possam inspirar as novas gerações”.
“Em meu nome, e em nome do PSDB, partido ao qual Fuad foi filiado por muitos anos, mais do que meu sentimento de pesar, faço também minha manifestação de extrema saudade desse querido companheiro, com quem tive o privilégio de conviver nos últimos 20 anos”, disse Aécio, ex-governador de Minas.
Aécio Neves durante encontro com o prefeito Fuad Noman em novembro de 2024
A homenagem de Aécio a Tancredo Neves
Na celebração dos 40 anos da redemocratização, Aécio sobe à tribuna do Senado para lembrar ao país o papel decisivo do ex-presidente na história do Brasil
“Dizem que os verdadeiros líderes são raros. Tancredo foi um líder na acepção maior que esta palavra pode trazer. Fez as escolhas que fez e as escolhas que fez fizeram dele um líder ainda maior”.
Assim, o deputado federal e ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves abriu sua homenagem ao ex-presidente Tancredo Neves, seu avô, na Sessão Especial realizada nesta terça-feira (18/03), no Senado Federal, para celebrar os 40 anos da retomada da democracia do país, encerrando 21 anos de ditadura militar.
Na presença do ex-presidente José Sarney, que tomou posse em 15 de março de 1985, do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, de parlamentares, ministros de Estado e do STF, de autoridades e convidados, Aécio destacou toda a trajetória política de Tancredo desde o governo de Getúlio Vargas até sua eleição para presidente da República, após liderar todo o processo de retomada democrática no país.
Tancredo foi ministro da Justiça de Getúlio Vargas, defendeu as garantias democráticas e a posse de João Goulart em 1961, foi amigo leal e velou o ex-presidente Juscelino Kubitschek, exilado pelo regime militar, e durante 30 anos foi deputado federal e senador até se tornar um dos principais nomes da política nacional nos atos históricos que levaram ao final da ditadura.
Eleito governador de Minas Gerais em 1983, Tancredo tornou-se o principal líder da campanha pelas eleições diretas, que levou às ruas milhões de brasileiros, e, em janeiro de 1985, venceu a disputa pela Presidência da República no Colégio Eleitoral na última eleição indireta do país.
“Em um ato extremo de amor ao Brasil e à democracia, Tancredo retardou o quanto pode a cirurgia a que deveria se submeter, com receio de que sua eventual ausência viesse a estimular forças reacionárias, ainda inconformadas com o iminente fim do regime a algum ato extremo de retrocesso. O restante da história, todos conhecemos”, disse Aécio, sob aplausos, na tribuna, nesta terça-feira (18/03).
Aécio Neves recebe do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, placa em homenagem ao presidente Tancredo Neves pela atuação no processo de redemocratização do Brasil e pelo legado de luta e valores de liberdade e cidadania
Nos reunimos todos aqui hoje para celebrar os 40 anos da redemocratização do Brasil. Triste o povo que não conhece e valoriza a sua história, pois ele terá muito maior dificuldade para construir o seu futuro.
Muitos brasileiros merecem hoje ser aqui homenageados. Mulheres, homens e jovens de todas as partes do país que com seu apoio e mobilização tornaram possível que a transição ocorresse. Homens públicos como Ulysses, Teotônio, Montoro e tantos outros devem sempre ser lembrados e homenageados, pois foram fundamentais para que chegássemos até aqui.
Mas peço licença aos senhores nesse meu despretensioso pronunciamento para me ater ao Presidente Tancredo Neves e ao seu decisivo papel em todo esse processo que nos trouxe ao mais longo período democrático da nossa história.
Antes disso, devo deixar, por dever de justiça, uma palavra de reconhecimento afetivo, mas também político, ao papel essencial e decisivo desempenhado pelo Presidente José Sarney, que todos nós hoje homenageamos, na consolidação do processo de redemocratização do Brasil.
Sua absoluta fidelidade aos compromissos democráticos de Tancredo e sua liderança na garantia de elaboração de uma Constituição democrática e justa, nos permitiram chegar até os dias de hoje, mesmo que atravessando turbulências e enfrentando, ele próprio, inúmeras incompreensões.
A vossa excelência, Presidente José Sarney, em nome da família do Presidente Tancredo Neves, mas também como homem público e como cidadão brasileiro, o meu mais profundo reconhecimento.
Peço, nesse instante, às senhoras e aos senhores parlamentares aqui presentes, licença para trazer aqui um depoimento muito pessoal que já tive oportunidade de fazer em alguns momentos nesses 40 anos que nos separam daquele histórico 15 de março de 1985.
Gostaria de falar hoje sobre Tancredo o homem, sobre Tancredo, o líder, que em silêncio nos relembrou uma antiga, verdadeira e valiosa lição: a de que existem causas que valem mais do que nós mesmos.
Não vou me ater à biografia formal do Presidente.
Em homenagem a ele, e aos desafios que, como parlamentares, enfrentamos todos os dias no Congresso Nacional, vou falar de escolhas.
Porque foram as escolhas que Tancredo fez ao longo da sua vida que o transformaram no homem que ele foi: um homem capaz de liderar multidões e de enternecer indivíduos.
Dizem que os verdadeiros líderes são raros. Porque são poucos os homens capazes de se fundir e se confundir, em determinado momento da história, com o seu próprio povo.
Líderes são fundamentais. Não apenas pelas decisões que são capazes de tomar, mas também por aquilo que são capazes de representar.
Tancredo foi um líder na acepção maior que esta palavra possa trazer.
Por ser um líder, fez as escolhas que fez. E as escolhas que fez fizeram dele um líder ainda maior.
À primeira vista, parece existir dois Tancredos.
Um, extremamente ameno no trato e nas palavras. Outro, corajosamente radical nas ações e nos gestos.
A fusão dos dois fez um homem por inteiro. Comprometido, sempre, com a ordem democrática.
Absolutamente leal aos compromissos assumidos, honrando sempre a palavra empenhada, transformou-se num interlocutor necessário na cena política brasileira durante décadas.
E nunca buscava os holofotes.
Ele costumava dizer: “Na política, só se lembram de mim na hora da tempestade”.
Tancredo assumiu lugar de importância nacional em 1953. Com apenas 43 anos de idade, foi escolhido pelo presidente Getúlio Vargas como seu ministro da Justiça. Havia sido opositor do Estado Novo, advogara para trabalhadores e chegou a ser preso duas vezes naquele período. Mas considerava que Getúlio, ao ser eleito, ganhara legitimidade popular.
Foi fiel ao Presidente Vargas até o fim.
Em 1954, na última reunião do ministério, quando ministros militares já se afastavam de Getúlio e do cumprimento da Constituição, defendendo o afastamento do Presidente, Tancredo pediu autorização a Getúlio para ir pessoalmente dar voz de prisão aos militares rebelados.
“Mas você pode ser morto”, disse um dos ministros presentes. “A vida nos reserva poucas oportunidades de morrer por uma boa causa e essa é uma delas”.
Tancredo costumava se lembrar da última noite de Getúlio com emoção.
Sempre dizia que não conhecera ninguém em quem o senso de dever e o amor ao país fossem tão fortes.
Em reuniões de família, nos lembrava da noite em que já se preparava para sair do Palácio do Catete quando o Presidente Vargas o chamou e lhe entregou a sua caneta pessoal que guardamos com muito carinho até hoje:
“Uma lembrança desses dias conturbados”, disse ele.
Tancredo guardou a caneta que, viria a saber mais tarde, o presidente havia acabado de utilizar para assinar a carta testamento.
Minutos depois, quando já saía do prédio, escutou o tiro com que Getúlio se suicidara. Correu aos seus aposentos e ajudou a filha dele, Alzira, a socorrer o pai.
Dizia que os olhos do presidente circularam pelo quarto, passaram pelos dele até se fixarem nos da filha. Ele morreu olhando para ela.
Extremamente abalado, Tancredo chegou para o enterro do presidente Vargas em São Borja, no Rio Grande do Sul. Fazia muito frio. Oswaldo Aranha lhe emprestou um cachecol que ele guardou, dobrado, na sua gaveta de memórias por toda a vida. Está lá até hoje.
De São Borja, enviou um telegrama ao então governador de Minas, Juscelino Kubitschek, denunciando a ação das forças golpistas. Há quem pense que o suicídio de Getúlio tenha atrasado em dez anos o golpe militar. O ano de 1964 poderia ter chegado em 1954.
Em 1961, a renúncia do presidente Jânio Quadros surpreendeu todo o país. O vice-presidente, João Goulart, se encontrava na China e começaram as articulações para impedir a sua posse. Tancredo divulgou um manifesto à Nação pedindo respeito à ordem democrática e que fosse garantida a posse do vice-presidente. O ambiente político se agravava. Prioritário naquele momento era garantir que Jango chegasse ao país e tomasse posse. Diante da radicalização de setores militares, surgiu a solução parlamentarista. Tancredo vai de avião ao encontro de Jango no Uruguai.
Haviam sido, amos, ministros de Getúlio. A confiança entre os dois fora selada na antecâmara de uma tragédia, em um momento de crise, em que o caráter e a fibra de um homem não podem se ocultar atrás de discursos ou palavras.
Por isso tinha que ser Tancredo – e não outro – a entrar naquele avião.
Importante naquele momento era garantir que o presidente tomasse posse. Era evitar que 1964 chegasse em 1961.
Jango tomou posse. Tancredo foi indicado primeiro-ministro. Deixou o posto de chefe de governo em 1962 para disputar as eleições para a Câmara dos Deputados. Eleito, transformou-se em líder do governo João Goulart.
Chegou 1964.
O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declara vaga a Presidência da República, apesar de o presidente João Goulart se encontrar em solo brasileiro. Diante de uma Casa silenciosamente acovardada, escutam-se algumas vozes e gritos inconformados no plenário. Quem ouvir com atenção o áudio dessa sessão vai escutar, nesses gritos, as vozes da consciência nacional. Eu já ouvi algumas vezes. Uma voz se destaca: “Canalhas, canalhas, canalhas!” Era Tancredo.
Naquela época, também deputado, Almino Afonso conta: “Até hoje me recordo com espanto do deputado Tancredo Neves, em protestos de uma violência verbal inacreditável para quantos, acostumados à sua elegância no trato, o vissem encarnando a revolta que sacudia a consciência democrática do país. Não deixava de ser chocante ver a altivez da indignação de Tancredo e o silêncio conivente de muitas lideranças do PSD”, encerra Almino.
O jornalista José Augusto Ribeiro diz que, ao sair dessa sessão, o indignado Tancredo deu uma entrevista premonitória: “Acabam de entregar o Brasil a 20 anos de ditadura militar!”
Foram 21!
Tancredo enfrentou os soldados para se despedir pessoalmente de Jango.
E o 1964, adiado tantas vezes, finalmente chegara.
O primeiro momento, fortemente simbólico, foi a eleição do marechal Castelo Branco. Tancredo foi o único deputado do PSD a negar seu voto ao Marechal.
Vieram as cassações. Os inquéritos policiais militares. Nem ex-presidentes da República foram poupados. Juscelino foi convocado a depor. Não foi sozinho. Tancredo o acompanhou aos depoimentos. Solidário e solitário.
Exilado, o talvez mais festejado presidente que o país já tivera, se dirigiu ao aeroporto para deixar o Brasil. Era o ex-presidente bossa nova. Era o ex-presidente da República que seguia rumo ao exílio.
Apenas três pessoas acompanharam JK até o avião. Duas eram da família. A outra era Tancredo.
E uma das primeiras cartas escritas de próprio punho pelo ex-presidente logo após desembarcar no exílio foi dirigida exatamente a Tancredo. Escreveu Juscelino:
“Lembro-me bem que a sua, Tancredo, foi a última mão que apertei antes de me dirigir ao avião… Creio que a democracia terá forças para se levantar, sobretudo, porque sobraram homens como você que a poderão irrigar, mantendo-lhe o vigor para novas arrancadas”.
Estava certo. Seguem-se anos de um paciente ostracismo para Tancredo.
Morre o presidente João Goulart no Uruguai. O governo militar a princípio se recusa a permitir que ele seja enterrado no Brasil. Começam diversas articulações. Tancredo recusa conselhos e vai ao general Golbery do Couto e Silva:
“Ninguém pode negar a um Presidente o direito de descansar entre o seu povo!”, disse ele.
E, quando a conveniência indicava o contrário, lá estava Tancredo, de novo, em São Borja.
Mais uma vez, contamos com a memória de Almino Afonso que relembrava: “Tancredo era a única liderança de porte nacional presente no cemitério”.
Era o ano duro de 1976.
Juscelino morre.
De pé, durante toda a noite e madrugada, como numa reverência cívica, Tancredo velou o presidente. E é de Tancredo o mais forte e emocionado discurso em homenagem ao ex-presidente.
Trinta anos depois, é a vez de 1984. A campanha das Diretas Já ocupou as ruas e o coração do país. Tancredo participou, articulou, discursou. Mas conhecia, como ninguém, a história, a política e o Brasil.
Ali estavam maduras as condições para deixar 64 para trás. Ideal que fosse pelo voto direto, claro. Se não pudesse ser, que fosse por outro caminho. Importante era abrir a porta de saída. Apenas protestar não fazia mais sentido naquele momento.
Os anos de 1954 e 1961 ainda estavam muito vivos em sua memória.
Mas a travessia não foi feita sem riscos e sobressaltos. A arquitetura daquele processo, como eu acompanhei de tão perto, precisava de estratégia, coragem e, principalmente, do apoio da sociedade e de todas as forças democráticas do país, independentemente de suas diferenças ou convicções ideológicas.
O que estava em jogo, a ruptura definitiva com os 21 anos de autoritarismo, justificava toda essa união.
Logo após a homologação de seu nome como o candidato das oposições no colégio eleitoral, sob o olhar incrédulo de alguns assessores e de várias lideranças políticas que acreditavam que Tancredo naquele momento deveria concentrar seus esforços nos votos do colégio eleitoral, Tancredo marca, e tive a honra de redigir as suas escolhas pessoas, uma intensa agenda de comícios e atos públicos por todo o Brasil.
“Precisamos que as pessoas continuem mobilizadas nas ruas”, dizia ele, serenamente alerta.
A transição ainda não se concluíra.
Mesmo após sua vitória no colégio eleitoral, ele manteve a vigilância. Ter sido testemunha de outros episódios marcantes da história lhe obrigava a isso.
E, rapidamente, sem alarde, organizou uma viagem ao exterior com um grupo pequeno de assessores, éramos oito pessoas apenas, para se encontrar com as principais lideranças democráticas da Europa e das Américas, buscando ali o testemunho e o apoio desses líderes à transição que se iniciara no Brasil, mas que, para ele, só estaria concluída com sua posse no histórico 15 de março que celebramos hoje.
E em um ato extremo de amor ao Brasil e à democracia, retardou o quanto pode a cirurgia a que deveria se submeter, com receio de que sua eventual ausência viesse a estimular forças reacionárias, ainda inconformadas com o iminente fim do regime a algum ato extremo de retrocesso.
O restante da história, todos nós conhecemos.
Mas me permitam aqui um registro pessoal, acreditando que os erros nos devem servir de lição exatamente para não voltarmos a cometê-los.
Me lembro que até na véspera da eleição que ocorreria no dia seguinte, em 14 de janeiro de 1985, decolamos aqui de Brasília para uma reunião em Minas com o Senador Itamar Franco. Era o último ato político antes da eleição que ocorreria na manhã seguinte. Fomos e voltamos naquela mesma noite. Ao entrarmos no avião para decolarmos de volta, ele perguntou a mim e a outras duas pessoas que o acompanhavam: “Notícias do PT”?
Não, nós não tínhamos.
Até o último instante Tancredo aguardou que o Partido dos Trabalhadores, cuja criação ele saudara 5 anos antes e considerava extremamente importante para o país e para a democracia, se unisse aos demais democratas para todos juntos derrotarmos definitivamente o regime autoritário no Brasil.
Não era uma questão votos, mas o simbolismo que a união de todas as forças democráticas traria naquele momento ainda carregado de incertezas.
Mas, não.
O PT negou a Tancredo e ao Brasil seu apoio e, mais do que isso, expulsou seus 3 deputados, José Eudes, Ayrton Soares e Beth Mendes, que homenageio neste ato e que ousaram ouvir naquele instante a consciência nacional e as suas próprias consciências, para que o presidente Tancredo pudesse, no primeiro instante, logo após declarada a sua vitória, subir na tribuna do Congresso para anunciar:
“Esta foi a última eleição indireta da história deste país”.
A esses parlamentares e a todos os brasileiros, anônimos ou não que participaram daquele extraordinário movimento cívico que os permitiram estar aqui hoje, o meu reconhecimento.
Mas a história, Senhoras e Senhores, seguiu o seu curso e, de novo, era ele, Tancredo, que precisava tomar e conduzir aquele avião. Um novo voo para um novo resgate da ordem democrática.
E ele nos lembrava sempre: “A pátria não é a aposentadoria dos heróis, mas permanente tarefa a cumprir”.
Getúlio, Juscelino e Jango sabiam muito bem do que ele estava falando. Sabiam o que havia custado chegar até ali.
O avião em busca da rota democrática decolou novamente. Dessa vez, o piloto não desembarcou, mas conduziu o voo a um pouso seguro. E foi seguro porque estava lá vossa excelência para aguardá-lo.
Afonso Arinos certa vez disse que “alguns homens dão a vida pelo país. Tancredo deu mais, deu a morte”.
Lembro-me, Senhoras e Senhores, Presidente José Sarney, caminhando para encerrar, dos olhos marejados de Tancredo recordando com respeito e reconhecimento o extremado senso de compromisso de Getúlio com o país.
“Ele sabia o que estava em risco”, costumava nos dizer nos almoços de família. “Vocês não imaginam o que foi a multidão que acompanhou o funeral do presidente Vargas. Foi ela, em torno do caixão do presidente, que selou o pacto que impediu, naquele momento, o retrocesso da ordem democrática”, insistia em nos explicar e ensinar.
Mal sabia Tancredo que 31 anos depois, em 1985, uma outra multidão velaria o corpo de um outro presidente da República.
E que ele também deixaria a vida para entrar na história.
Aécio Neves destaca manutenção das garantias do BPC, programa criado no governo FHC
Projeto de lei do governo que restringia as regras do benefício foi aprovado com mudanças propostas pelo PSDB
O deputado federal Aécio Neves destacou a aprovação com as sugestões propostas pela bancada do PSDB do Projeto de Lei 4614/24 que muda as regras para a concessão do BPC (Benefício de Prestação Continuada). O projeto, de autoria da equipe econômica do governo, criou restrições para o acesso ao BPC com o objetivo de diminuir as despesas obrigatórias do governo. Se fosse aprovado da forma como foi apresentado, o projeto poderia excluir milhares de brasileiros com deficiência do benefício.
“O BPC leva proteção, auxílio financeiro, para idosos e pessoas com deficiência e desmontou a rede de asilos precários que existia no Brasil. Em 2003 era um programa absolutamente consolidado. É muito importante lembrar ao Brasil que quem tirou o BPC (Benefício de Prestação Continuada) do papel e implantou em todo o país foi o governo do Presidente Fernando Henrique, do PSDB”, afirmou Aécio Neves.
O PL 4614 foi aprovado com pouca margem de votos. Foram 264 a favor e 209 contra, sendo que o mínimo para aprovação é de 257 votos.
O projeto prevê regras mais rígidas para a concessão do BPC como a biometria obrigatória para novos benefícios e atualização cadastral a cada dois anos. Durante a votação, o substitutivo do projeto, relatado pelo deputado Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), incluiu três importantes sugestões apresentadas pelo PSDB que mantiveram as garantias do BPC, que dá direito à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais de receber um salário mínimo por mês se não tiver condição de se sustentar ou ser sustentado pela sua família. Os tucanos sugeriram a exclusão do trecho do projeto que restringia a definição de pessoa com deficiência àquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho. Outro ponto defendido pelo PSDB foi a retirada do texto que impedia que pessoas ou idosos com posses ou propriedades de bens, inclusive de terra nua, que superassem o limite de isenção referente ao seu patrimônio, não poderiam receber o BPC. Também foi retirado por recomendação dos tucanos ponto do projeto do governo que proibia mais de um membro da mesma família de receber o BPC.
Segundo o deputado Aécio Neves, as mudanças propostas pelo PSDB contribuíram para a manutenção de um dos maiores programas de proteção social implantados no país.
“O PT nunca deu atenção ao BPC porque não queria dar o crédito para quem teve coragem de implantar o maior e mais importante programa de proteção social da história do Brasil. E, agora, quis mexer sem levar em conta sua importância na vida das pessoas. O PT quis dar início ao fim do BPC, mas não conseguiu”, afirmou o deputado.
Aécio e Abi-Ackel se reúnem em BH com prefeito Fuad Noman
“A vitória do Fuad é a vitória do equilíbrio. Não tenho dúvida de que vamos ter uma nova configuração do quadro partidário brasileiro. Espero e torço e trabalho muito por isso. Vamos fortalecer o centro democrático”, diz Aécio em encontro com o prefeito reeleito Fuad Noman, nesta segunda-feira (04/11), em Belo Horizonte.
O ex-governador e deputado federal Aécio Neves e o presidente do PSDB em Minas Gerais, deputado Paulo Abi-Ackel, se reuniram com o prefeito, na Prefeitura de BH, para cumprimentá-lo pela reeleição. O PSDB integrou a coligação de partidos que apoiou a reeleição do prefeito.
Seguem principais trechos da entrevista do deputado Aécio Neves.
Foto Rodrigo Clemente – PBH
Sobre o apoio do PSDB à candidatura do prefeito Fuad:
Hoje viemos aqui, eu e o deputado Paulo Abi-Ackel, que é o presidente regional do PSDB e secretário-geral nacional do PSDB, trazer um abraço ao meu amigo Fuad. Tenho orgulho muito grande de ter, de alguma forma, repatriado o Fuad, que estava servindo em Brasília, servidor público extraordinário que ele é. Em 2002, logo depois da nossa vitória, eu convidei o Fuad a voltar para Minas Gerais. Foi extraordinário secretário de Fazenda do nosso governo, depois secretário de Obras. Então, temos uma relação antiga de respeito mútuo. Essa foi uma das razões, e de confiança, que fez com que o PSDB, logo no início da campanha, optasse por estar ao lado do prefeito.
Quero chamar a atenção para algo que é pouco dito aqui. A eleição de Fuad não é uma eleição apenas importante para Belo Horizonte. Na verdade, essa eleição derrotou os extremos no Brasil. O discurso de ódio, o discurso radical, não foi vitorioso praticamente em parte alguma. E a vitória do Fuad é a vitória do equilíbrio, do centro democrático, daquilo que percebemos que precisa se fortalecer no Brasil. Não tenho dúvida de que daqui a alguns poucos anos vamos ter uma nova configuração do quadro partidário brasileiro. Espero e torço e trabalho muito por isso. Vamos fortalecer o centro democrático.
Sobre o encontro desta segunda-feira:
Quando eu encontro com o Fuad, com o Paulo (Abi-Ackel), com outras lideranças nacionais – disse a ele que estava conversando com o ACM Neto (União Brasil) na Bahia, que teve uma grande vitória, que o partido trouxe logo no início também apoio ao Fuad, a gente vê a necessidade de construirmos, não só uma federação do ponto de vista estatutário, mas uma nova união das forças que querem que o Brasil ande para frente.
Foto Carol Nogueira
Sobre a polarização na política:
Esse radicalismo paralisou o Brasil e vem fazendo muito mal ao Brasil. Então, vim cumprimentar o Fuad porque ele conseguiu derrotar aqui os extremos. Como? Com agressividade? Não. Com serenidade, com o seu trabalho, com a sua história, mostrando entregas à população de Belo Horizonte. Então, chamo a atenção para o prefeito de Belo Horizonte que é, a meu ver, hoje, uma figura política de grande importância nacional. E fortalecê-lo na sua próxima administração é fortalecer o projeto de centro democrático no Brasil.
Sobre planos do PSDB para o futuro, 2026?
Costumo dizer que o tempo do político, como dizia o velho Tancredo, pertence muito mais ao destino do que à nossa própria vontade pessoal. O PSDB está se reorganizando. O PSDB passa por momento de dificuldade a partir de equívocos graves que cometeu no passado recente, ao não ter, por exemplo, candidato à presidência da República nas últimas eleições. Mas estamos nos reorganizando no Brasil inteiro e acredito que o PSDB estará, em 2026, pronto para liderar esse campo do centro democrático, com outras alianças, com outros aliados.
As conversas têm sido intensas no Brasil inteiro. Tenho me dedicado muito a isso. Ao lado do presidente Marconi Perillo, estamos em permanente contato com outras lideranças partidárias. E há essa compreensão: ou nós nos unimos no centro ou vamos novamente permitir que a polarização, que é o radicalismo, que o atraso tome conta da política brasileira. Acho que essa eleição do Fuad e de algumas outras pelo Brasil demonstraram que as pessoas estão cansadas desse confronto permanente que não nos leva a lugar nenhum.
Sobre o atual governo de Minas:
Nós fizemos governos em Minas que viraram referência não só no Brasil, mas no mundo. O Banco Mundial pegou o nosso modelo de gestão como referência para outros estados de outros países. Fizemos governo de excelência, de ousadia. Eu acho que Minas agradece muito aquilo que foi feito. Nós levamos Minas Gerais, os meus dois governos, a ter a melhor educação fundamental do Brasil nas nove séries do ensino fundamental, nas nove séries. Hoje, estamos lá a partir do vigésimo lugar. Isso por si só, não vou falar aqui de feitos do governo, isso por si só resume aquilo que nós fizemos.
Poderíamos falar das estradas que o prefeito Fuad, quando secretário de Estado de Obras, construiu ligando mais de 220 cidades. Esse foi o nosso governo, ninguém tira a nossa marca. Infelizmente, temos hoje um governador que eu considero homem bem-intencionado – eu digo sempre isso –, mas muito distante das necessidades de Minas. O governador de Minas, como governador de São Paulo, como prefeito de São Paulo, como prefeito de Belo Horizonte, são atores políticos nacionais e eu vejo Minas absolutamente ausente dos grandes debates nacionais. Se fala de reforma tributária, não vejo a presença de Minas Gerais. Nós deixamos de ser referência para a discussão de temas federativos, por exemplo, que era uma marca nossa. Temos hoje em Minas um governo que, a meu ver, não vai deixar legado e tampouco acredito que deixará saudades.
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