Entrevista – Executiva do PSDB – 29 de abril

Brasília – 29-04-25

Assuntos: Reunião da Executiva do PSDB – Fusão PSDB/Podemos

Ouça o áudio da entrevista

A ausência do PSDB nos grandes debates nacionais levou a essa polarização extremamente rasa, inculta, violenta que assistimos hoje. A executiva do PSDB, sob o comando do presidente Marconi Perillo, por unanimidade, decidiu hoje, pelo aprofundamento das negociações com o Podemos e, dentro de 35 dias, estaremos anunciando ao Brasil, espero eu, esperamos todos nós, a constituição de uma nova força política no centro democrático. É isso que o Brasil precisa.

Os brasileiros estão cansados de votar não. Não a esse, então eu voto naquele. Não a aquele, eu voto nesse. Vamos dar oportunidade aos brasileiros voltarem a votar sim a favor de projeto desenvolvimentista, inclusivo do ponto de vista social, audacioso e ousado, como foi o projeto lá atrás que nos levou ao Plano Real, à Lei de Responsabilidade Fiscal. Estamos todos aqui hoje muito felizes com esse novo vigor do PSDB. Eu brincava com o presidente Marconi, com a nossa presidente Cíntia, de que aqueles que mandaram coroas de flores para as nossas exéquias vão ter que pedir reembolso, porque o PSDB volta mais forte do que nunca.

E vocês estão discutindo com alguns tucanos que sinalizaram que iam sair do partido?


Acho que essa decisão, e repito mais uma vez sobre a liderança do presidente Marconi, ela dará tranquilidade a todos aqueles que acreditam na necessidade do fortalecimento de partido ao centro. Se um ou outro, por questões locais, circunstanciais, optarem por uma outra direção, serão respeitados por nós. Mas o que o partido e seus dirigentes precisavam fazer, nós fizemos. Demos uma alternativa que vai muito além da sobrevivência do partido. Estamos revivendo um sonho de 37, 38 anos atrás, construindo um partido longe do poder. O PSDB foi o único partido expressivo no Brasil que se negou a participar do governo Bolsonaro e não participa do governo Lula, porque acreditamos num país diferente. Tenho hoje o mesmo sentimento que eu tinha quanto da fundação do PSDB. Esse partido veio para ficar e acredito, já a partir do próximo ano, para liderar as grandes discussões nacionais.

Foto: Kiko Scartezini

Entrevista em São João del-Rei – 21 de Abril

Fotos: Leo Lara

Sobre a importância de Tancredo para o processo de redemocratização do país?

O Brasil vive hoje o mais longo ciclo democrático de toda a sua história republicana. E revisitar esse momento, de 40 anos atrás, eu acho que é uma sinalização que nós damos, principalmente para as novas gerações, da importância de vivermos hoje em uma democracia, em liberdade, onde nós próprios podemos definir o nosso destino. Muita gente pode achar que sempre vivemos assim. Não foi assim. Foi uma arquitetura extremamente bem construída, não só por Tancredo. Tancredo talvez tenha tido a virtude de liderá-la no final como candidato à Presidência, mas foram muitos brasileiros daquela geração que nos permitiram deixar 21 anos de arbítrio para trás e construirmos um caminho novo para o Brasil.

Portanto, ao homenagear Tancredo, estamos homenageando todos aqueles que permitiram que o Brasil, apesar de todos os desencontros, apesar de todo o radicalismo, apesar das tentativas de ruptura democrática, o Brasil continua sólido, sobre instituições fortalecidas. A presença aqui hoje do presidente da Câmara, deputado Hugo Mota, é uma honra muito grande para todos nós, porque ele preside uma casa, que eu já tive a honra de presidir, que é o retrato mais bem acabado da democracia. Ali está o Brasil, com suas virtudes, com as suas mazelas, com as suas diferenças, mas sempre forte na defesa da democracia. Por isso, eu estou muito honrado com a presença de tantos e de tantas amigas aqui hoje.

O senhor falou da tentativa de ruptura da democracia, como o senhor está vendo essa questão da anistia que está em discussão atualmente?

Olha, o presidente Hugo tem sabido conduzir isso com extrema serenidade. O esforço que todos nós fazemos, e aí talvez inspirado por Tancredo, é o da conciliação, é o da busca da convergência. O Brasil é muito mais do que essa polarização rasa, inculta, radicalizada que nós vivemos hoje. Então, tenho certeza de que ele, com a serenidade, com a autoridade que tem, com o apoio de todos nós, vai encontrar um caminho que permita o Brasil olhar pra frente, porque a obra a ser construída é ainda enorme, os desafios são ainda muito grandes e nós temos plena confiança na condução que está dando ao processo o presidente Hugo Mota.

Sobre o PSDB

O PSDB também foi um partido essencial à democracia. Essencial às principais reformas econômicas que vivemos, que deixaram para trás o passado negro da inflação. E ao contrário do que presumiam alguns, eu costumava brincar que aqueles que mandavam coroas de flores para o velório do PSDB vão ter que pedir reembolso, porque o PSDB vai ressurgir mais forte do que nunca, aliado ao Podemos. Vamos anunciar nos próximos dias a incorporação dos dois partidos e vamos apresentar ao Brasil um caminho ao centro, que dialogue com os extremos, mas que permita ao Brasil agir como agiu Tancredo e tantos outros atrás, de forma generosa, de forma desprendida. Repito, o Brasil não se resume a essa polarização que está aí hoje. E o PSDB, assim como outros partidos, o próprio partido do presidente Hugo, o Republicanos, com quem nós temos conversado muito, buscam construir lá na frente um grande entendimento em favor do Brasil que olhe para o futuro e não apenas para o passado.

O sr. será candidato em 2026 a governador ou a presidente da República?

Não, eu estou já encerrando a minha caminhada. Quero estar ao lado dessas forças políticas ou desses setores da sociedade que não se contentam com essa polarização. E falo com muita, muita sinceridade. O Brasil não é só isso. Hoje temos setores do Brasil que votam no extremo porque não se identificam com o outro e votam no outro porque não se identificam com um. Vamos apresentar ao Brasil uma alternativa onde as pessoas votem num projeto liberal na economia, inclusivo do ponto de vista social, pragmático na nossa política externa, que defenda os interesses do Brasil e que não se alinhe apenas do ponto de vista ideológico. Eu estou muito animado com o que está surgindo aí e vamos dar tempo ao tempo. Eu digo sempre que a decisão correta no tempo errado muitas vezes dá errado.

Mas o sr. não vai ser candidato, é isso?

Não, eu não tenho ainda uma decisão tomada, mas não trabalho por isso. Eu trabalho para consolidar uma nova força de centro, de centro democrático no Brasil a partir da fusão do PSDB com o Podemos, da Aliança com Solidariedade e, também, de uma federação com outras forças políticas com as quais nós estamos conversando.

Pronunciamento em homenagem a Tancredo Neves no Senado Federal

Foto: Alexssandro Loyola


Senhoras e senhores,

Nos reunimos todos aqui hoje para celebrar os 40 anos da redemocratização do Brasil. Triste o povo que não conhece e valoriza a sua história, pois ele terá muito maior dificuldade para construir o seu futuro.

Muitos brasileiros merecem hoje ser aqui homenageados. Mulheres, homens e jovens de todas as partes do país que com seu apoio e mobilização tornaram possível que a transição ocorresse. Homens públicos como Ulysses, Teotônio, Montoro e tantos outros devem sempre ser lembrados e homenageados, pois foram fundamentais para que chegássemos até aqui.

Mas peço licença aos senhores nesse meu despretensioso pronunciamento para me ater ao Presidente Tancredo Neves e ao seu decisivo papel em todo esse processo que nos trouxe ao mais longo período democrático da nossa história.

Antes disso, devo deixar, por dever de justiça, uma palavra de reconhecimento afetivo, mas também político, ao papel essencial e decisivo desempenhado pelo Presidente José Sarney, que todos nós hoje homenageamos, na consolidação do processo de redemocratização do Brasil.

Sua absoluta fidelidade aos compromissos democráticos de Tancredo e sua liderança na garantia de elaboração de uma Constituição democrática e justa, nos permitiram chegar até os dias de hoje, mesmo que atravessando turbulências e enfrentando, ele próprio, inúmeras incompreensões.

A vossa excelência, Presidente José Sarney, em nome da família do Presidente Tancredo Neves, mas também como homem público e como cidadão brasileiro, o meu mais profundo reconhecimento.

Peço, nesse instante, às senhoras e aos senhores parlamentares aqui presentes, licença para trazer aqui um depoimento muito pessoal que já tive oportunidade de fazer em alguns momentos nesses 40 anos que nos separam daquele histórico 15 de março de 1985.

Gostaria de falar hoje sobre Tancredo o homem, sobre Tancredo, o líder, que em silêncio nos relembrou uma antiga, verdadeira e valiosa lição: a de que existem causas que valem mais do que nós mesmos.

Não vou me ater à biografia formal do Presidente.

Em homenagem a ele, e aos desafios que, como parlamentares, enfrentamos todos os dias no Congresso Nacional, vou falar de escolhas.

Porque foram as escolhas que Tancredo fez ao longo da sua vida que o transformaram no homem que ele foi: um homem capaz de liderar multidões e de enternecer indivíduos.

Dizem que os verdadeiros líderes são raros. Porque são poucos os homens capazes de se fundir e se confundir, em determinado momento da história, com o seu próprio povo.

Líderes são fundamentais. Não apenas pelas decisões que são capazes de tomar, mas também por aquilo que são capazes de representar.

Tancredo foi um líder na acepção maior que esta palavra possa trazer.

Por ser um líder, fez as escolhas que fez. E as escolhas que fez fizeram dele um líder ainda maior.

À primeira vista, parece existir dois Tancredos.

Um, extremamente ameno no trato e nas palavras. Outro, corajosamente radical nas ações e nos gestos.

A fusão dos dois fez um homem por inteiro. Comprometido, sempre, com a ordem democrática.

Absolutamente leal aos compromissos assumidos, honrando sempre a palavra empenhada, transformou-se num interlocutor necessário na cena política brasileira durante décadas.

E nunca buscava os holofotes.

Ele costumava dizer: “Na política, só se lembram de mim na hora da tempestade”.

Tancredo assumiu lugar de importância nacional em 1953. Com apenas 43 anos de idade, foi escolhido pelo presidente Getúlio Vargas como seu ministro da Justiça. Havia sido opositor do Estado Novo, advogara para trabalhadores e chegou a ser preso duas vezes naquele período. Mas considerava que Getúlio, ao ser eleito, ganhara legitimidade popular.

Foi fiel ao Presidente Vargas até o fim.

Em 1954, na última reunião do ministério, quando ministros militares já se afastavam de Getúlio e do cumprimento da Constituição, defendendo o afastamento do Presidente, Tancredo pediu autorização a Getúlio para ir pessoalmente dar voz de prisão aos militares rebelados.

“Mas você pode ser morto”, disse um dos ministros presentes. “A vida nos reserva poucas oportunidades de morrer por uma boa causa e essa é uma delas”.

Tancredo costumava se lembrar da última noite de Getúlio com emoção.

Sempre dizia que não conhecera ninguém em quem o senso de dever e o amor ao país fossem tão fortes.

Em reuniões de família, nos lembrava da noite em que já se preparava para sair do Palácio do Catete quando o Presidente Vargas o chamou e lhe entregou a sua caneta pessoal que guardamos com muito carinho até hoje:

“Uma lembrança desses dias conturbados”, disse ele.

Tancredo guardou a caneta que, viria a saber mais tarde, o presidente havia acabado de utilizar para assinar a carta testamento.

Minutos depois, quando já saía do prédio, escutou o tiro com que Getúlio se suicidara. Correu aos seus aposentos e ajudou a filha dele, Alzira, a socorrer o pai.

Dizia que os olhos do presidente circularam pelo quarto, passaram pelos dele até se fixarem nos da filha. Ele morreu olhando para ela.

Extremamente abalado, Tancredo chegou para o enterro do presidente Vargas em São Borja, no Rio Grande do Sul. Fazia muito frio. Oswaldo Aranha lhe emprestou um cachecol que ele guardou, dobrado, na sua gaveta de memórias por toda a vida. Está lá até hoje.

De São Borja, enviou um telegrama ao então governador de Minas, Juscelino Kubitschek, denunciando a ação das forças golpistas. Há quem pense que o suicídio de Getúlio tenha atrasado em dez anos o golpe militar. O ano de 1964 poderia ter chegado em 1954.

Em 1961, a renúncia do presidente Jânio Quadros surpreendeu todo o país. O vice-presidente, João Goulart, se encontrava na China e começaram as articulações para impedir a sua posse. Tancredo divulgou um manifesto à Nação pedindo respeito à ordem democrática e que fosse garantida a posse do vice-presidente. O ambiente político se agravava. Prioritário naquele momento era garantir que Jango chegasse ao país e tomasse posse.

Diante da radicalização de setores militares, surgiu a solução parlamentarista. Tancredo vai de avião ao encontro de Jango no Uruguai.

Haviam sido, amos, ministros de Getúlio. A confiança entre os dois fora selada na antecâmara de uma tragédia, em um momento de crise, em que o caráter e a fibra de um homem não podem se ocultar atrás de discursos ou palavras.

Por isso tinha que ser Tancredo – e não outro – a entrar naquele avião.

Importante naquele momento era garantir que o presidente tomasse posse. Era evitar que 1964 chegasse em 1961.

Jango tomou posse. Tancredo foi indicado primeiro-ministro. Deixou o posto de chefe de governo em 1962 para disputar as eleições para a Câmara dos Deputados. Eleito, transformou-se em líder do governo João Goulart.

Chegou 1964.

O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declara vaga a Presidência da República, apesar de o presidente João Goulart se encontrar em solo brasileiro. Diante de uma Casa silenciosamente acovardada, escutam-se algumas vozes e gritos inconformados no plenário. Quem ouvir com atenção o áudio dessa sessão vai escutar, nesses gritos, as vozes da consciência nacional. Eu já ouvi algumas vezes. Uma voz se destaca: “Canalhas, canalhas, canalhas!” Era Tancredo.

Naquela época, também deputado, Almino Afonso conta: “Até hoje me recordo com espanto do deputado Tancredo Neves, em protestos de uma violência verbal inacreditável para quantos, acostumados à sua elegância no trato, o vissem encarnando a revolta que sacudia a consciência democrática do país. Não deixava de ser chocante ver a altivez da indignação de Tancredo e o silêncio conivente de muitas lideranças do PSD”, encerra Almino.

O jornalista José Augusto Ribeiro diz que, ao sair dessa sessão, o indignado Tancredo deu uma entrevista premonitória: “Acabam de entregar o Brasil a 20 anos de ditadura militar!”

Foram 21!

Tancredo enfrentou os soldados para se despedir pessoalmente de Jango.

E o 1964, adiado tantas vezes, finalmente chegara.

O primeiro momento, fortemente simbólico, foi a eleição do marechal Castelo Branco. Tancredo foi o único deputado do PSD a negar seu voto ao Marechal.

Vieram as cassações. Os inquéritos policiais militares. Nem ex-presidentes da República foram poupados. Juscelino foi convocado a depor. Não foi sozinho. Tancredo o acompanhou aos depoimentos. Solidário e solitário.

Exilado, o talvez mais festejado presidente que o país já tivera, se dirigiu ao aeroporto para deixar o Brasil. Era o ex-presidente bossa nova. Era o ex-presidente da República que seguia rumo ao exílio.

Apenas três pessoas acompanharam JK até o avião. Duas eram da família. A outra era Tancredo.

E uma das primeiras cartas escritas de próprio punho pelo ex-presidente logo após desembarcar no exílio foi dirigida exatamente a Tancredo. Escreveu Juscelino:

“Lembro-me bem que a sua, Tancredo, foi a última mão que apertei antes de me dirigir ao avião… Creio que a democracia terá forças para se levantar, sobretudo, porque sobraram homens como você que a poderão irrigar, mantendo-lhe o vigor para novas arrancadas”.

Estava certo. Seguem-se anos de um paciente ostracismo para Tancredo.

Morre o presidente João Goulart no Uruguai. O governo militar a princípio se recusa a permitir que ele seja enterrado no Brasil. Começam diversas articulações. Tancredo recusa conselhos e vai ao general Golbery do Couto e Silva:

“Ninguém pode negar a um Presidente o direito de descansar entre o seu povo!”, disse ele.

E, quando a conveniência indicava o contrário, lá estava Tancredo, de novo, em São Borja.

Mais uma vez, contamos com a memória de Almino Afonso que relembrava: “Tancredo era a única liderança de porte nacional presente no cemitério”.

Era o ano duro de 1976.

Juscelino morre.

De pé, durante toda a noite e madrugada, como numa reverência cívica, Tancredo velou o presidente. E é de Tancredo o mais forte e emocionado discurso em homenagem ao ex-presidente.

Trinta anos depois, é a vez de 1984. A campanha das Diretas Já ocupou as ruas e o coração do país. Tancredo participou, articulou, discursou. Mas conhecia, como ninguém, a história, a política e o Brasil.

Ali estavam maduras as condições para deixar 64 para trás. Ideal que fosse pelo voto direto, claro. Se não pudesse ser, que fosse por outro caminho. Importante era abrir a porta de saída. Apenas protestar não fazia mais sentido naquele momento.

Os anos de 1954 e 1961 ainda estavam muito vivos em sua memória.

Mas a travessia não foi feita sem riscos e sobressaltos. A arquitetura daquele processo, como eu acompanhei de tão perto, precisava de estratégia, coragem e, principalmente, do apoio da sociedade e de todas as forças democráticas do país, independentemente de suas diferenças ou convicções ideológicas.

O que estava em jogo, a ruptura definitiva com os 21 anos de autoritarismo, justificava toda essa união.

Logo após a homologação de seu nome como o candidato das oposições no colégio eleitoral, sob o olhar incrédulo de alguns assessores e de várias lideranças políticas que acreditavam que Tancredo naquele momento deveria concentrar seus esforços nos votos do colégio eleitoral, Tancredo marca, e tive a honra de redigir as suas escolhas pessoas, uma intensa agenda de comícios e atos públicos por todo o Brasil.

“Precisamos que as pessoas continuem mobilizadas nas ruas”, dizia ele, serenamente alerta.

A transição ainda não se concluíra.

Mesmo após sua vitória no colégio eleitoral, ele manteve a vigilância. Ter sido testemunha de outros episódios marcantes da história lhe obrigava a isso.

E, rapidamente, sem alarde, organizou uma viagem ao exterior com um grupo pequeno de assessores, éramos oito pessoas apenas, para se encontrar com as principais lideranças democráticas da Europa e das Américas, buscando ali o testemunho e o apoio desses líderes à transição que se iniciara no Brasil, mas que, para ele, só estaria concluída com sua posse no histórico 15 de março que celebramos hoje.

E em um ato extremo de amor ao Brasil e à democracia, retardou o quanto pode a cirurgia a que deveria se submeter, com receio de que sua eventual ausência viesse a estimular forças reacionárias, ainda inconformadas com o iminente fim do regime a algum ato extremo de retrocesso.

O restante da história, todos nós conhecemos.

Mas me permitam aqui um registro pessoal, acreditando que os erros nos devem servir de lição exatamente para não voltarmos a cometê-los.

Me lembro que até na véspera da eleição que ocorreria no dia seguinte, em 14 de janeiro de 1985, decolamos aqui de Brasília para uma reunião em Minas com o Senador Itamar Franco. Era o último ato político antes da eleição que ocorreria na manhã seguinte. Fomos e voltamos naquela mesma noite. Ao entrarmos no avião para decolarmos de volta, ele perguntou a mim e a outras duas pessoas que o acompanhavam: “Notícias do PT”?

Não, nós não tínhamos.

Até o último instante Tancredo aguardou que o Partido dos Trabalhadores, cuja criação ele saudara 5 anos antes e considerava extremamente importante para o país e para a democracia, se unisse aos demais democratas para todos juntos derrotarmos definitivamente o regime autoritário no Brasil.

Não era uma questão votos, mas o simbolismo que a união de todas as forças democráticas traria naquele momento ainda carregado de incertezas.

Mas, não.

O PT negou a Tancredo e ao Brasil seu apoio e, mais do que isso, expulsou seus 3 deputados, José Eudes, Ayrton Soares e Beth Mendes, que homenageio neste ato e que ousaram ouvir naquele instante a consciência nacional e as suas próprias consciências, para que o presidente Tancredo pudesse, no primeiro instante, logo após declarada a sua vitória, subir na tribuna do Congresso para anunciar:

 “Esta foi a última eleição indireta da história deste país”.

A esses parlamentares e a todos os brasileiros, anônimos ou não que participaram daquele extraordinário movimento cívico que os permitiram estar aqui hoje, o meu reconhecimento.

Mas a história, Senhoras e Senhores, seguiu o seu curso e, de novo, era ele, Tancredo, que precisava tomar e conduzir aquele avião. Um novo voo para um novo resgate da ordem democrática.

E ele nos lembrava sempre: “A pátria não é a aposentadoria dos heróis, mas permanente tarefa a cumprir”.

Getúlio, Juscelino e Jango sabiam muito bem do que ele estava falando. Sabiam o que havia custado chegar até ali.

O avião em busca da rota democrática decolou novamente. Dessa vez, o piloto não desembarcou, mas conduziu o voo a um pouso seguro. E foi seguro porque estava lá vossa excelência para aguardá-lo.

Afonso Arinos certa vez disse que “alguns homens dão a vida pelo país. Tancredo deu mais, deu a morte”.

Lembro-me, Senhoras e Senhores, Presidente José Sarney, caminhando para encerrar, dos olhos marejados de Tancredo recordando com respeito e reconhecimento o extremado senso de compromisso de Getúlio com o país.

“Ele sabia o que estava em risco”, costumava nos dizer nos almoços de família. “Vocês não imaginam o que foi a multidão que acompanhou o funeral do presidente Vargas. Foi ela, em torno do caixão do presidente, que selou o pacto que impediu, naquele momento, o retrocesso da ordem democrática”, insistia em nos explicar e ensinar.

Mal sabia Tancredo que 31 anos depois, em 1985, uma outra multidão velaria o corpo de um outro presidente da República.

E que ele também deixaria a vida para entrar na história.

Pronunciamento em reunião com prefeitos AMM – Brasília – 21-05-24


Costumo dizer que na quarta-feira e na terça não é diferente. Terça e quarta-feira nós temos que ter aqui em Brasília o dom da ubiquidade, que é de estar em mais de lugar ao mesmo tempo. Porque estamos com comissões funcionando, reuniões acontecendo, ainda tem algumas responsabilidades na direção do partido, o PSDB. Mas vim aqui, Marcos Vinícius (da Silva Bizarro, presidente da Associação Mineira de Municípios – AMM), em primeiro lugar para cumprimentá-lo.

Tenho acompanhado muito de perto o esforço que a AMM vem fazendo e a presença dela hoje na Confederação Nacional é estratégica, é talvez a mais relevante, pela pauta que vocês têm conseguido impor. E essa pauta está sendo discutida no local correto, está sendo discutida no Congresso Nacional. Então, vocês conseguiram, até com o poder de síntese muito grande, porque eu sei que as demandas são inúmeras, vocês conseguiram trazer aqui, pelo menos, dentre outros, três temas absolutamente urgentes e centrais.

A questão da desoneração, e nós estamos absolutamente convencidos de que a proposta apresentada pela Confederação Nacional dos Municípios com apoio da AMM é absolutamente razoável. A questão de 2024 já está resolvida, mas nós temos que mergulhar em 2025, 2026 e 2027. E essa proposta de 10%, 12%, 14% anualmente parece absolutamente razoável. Estamos falando aí de uma perda de arrecadação média do governo de R$ 6 bilhões. Pouco mais no ano, pouco menos no ano, mas em torno de R$ 6 bilhões.

Isso não é nada para o governo mais gastador da história do Brasil. Esse governo que não tem economia para criar 40 ministérios, não tem economia para aumentar a sua base de despesas sem qualquer esforço de gestão de contenção de despesas. Portanto, tenho muita convicção de que no plenário da Câmara e do Senado vamos ter a aprovação dessa proposta e esperamos que o ministro da Fazenda facilite esse entendimento porque ele é absolutamente razoável. Estamos falando de valor pouco representativo para o conjunto dos municípios brasileiros.

Temos também na pauta a questão do parcelamento das dívidas tanto com o regime geral quanto em relação aos regimes próprios da Previdência, inclusive mudando a data base. Temos que empurrá-la pouquinho para frente, também acho que é algo absolutamente razoável, até porque é necessário, senão significaria excluir inúmeros municípios desse benefício. Também não vejo dificuldade que essa pauta aqui possa avançar.

Em relação aos precatórios, o que se busca na verdade é não sufocar ainda mais os municípios estabelecendo ali percentual que é proposta em 2% da receita corrente líquida dos municípios para chegar a 2%. Começa com 1% e chegando até 2 no máximo, seria 2% de comprometimento. Então, é uma pauta enxuta, objetiva, e eu vim aqui apenas para dizer que contem conosco, contem com a nossa articulação. Temos coordenador da bancada extremamente atuante, que conversa com todos os setores políticos, não apenas de Minas Gerais, mas de fora de Minas Gerais. Tenho certeza de que ele vai ser grande articulador para esse projeto.

E eu termino para dizer que a pauta municipalista, se você perguntar para os 513 deputados e 81 senadores, todos vão ser a favor. Na retórica é muito fácil ser a favor. Temos que buscar, são ações concretas quando se tem oportunidade de fazê-las. Me orgulho muito, Marcos Vinicius, você que acompanhou tão de perto os nossos governos. Minha própria atuação política aqui no Congresso como presidente da Câmara, quando assumi na interinidade da Presidência da República, incluímos naquela época os municípios do Vale do Mucuri na Sudene. Os investimentos que fizemos, os meus dois mandatos em Minas Gerais, e tantos que estão aqui, foram parceiros desses investimentos em absolutamente todas as áreas, todos eles feitos em parceria com os municípios.

Conseguimos levar Minas Gerais a ter a melhor educação fundamental do Brasil nas nove séries, as nove séries do Ensino Fundamental, estado como Minas, complexo, amplo, com regiões ainda muito pobres, mas conseguimos com método, com gestão, mas com parceria com os municípios. As obras de infraestrutura que vocês conhecem, que permitiu que o asfalto chegasse a 220 cidades de Minas Gerais foram feitas em parceria com os municípios. Portanto, venho aqui apenas reiterar esse compromisso e sim a minha vontade de ver no futuro, me permite essa palavra política no final, Marcos Vinícius, um país com menos ódio, com menos rancor, com menos radicalização na política.

Mineiro, que eu sei, muito querido e respeitado por todos vocês, o presidente Tancredo Neves costumava dizer que as virtudes nunca estão nos extremos. Você vai encontrá-las com maior facilidade mais próximo do centro. Centro que dialogue com todos os segmentos do pensamento político brasileiro, mas que apresente ao país um projeto afirmativo de futuro, onde aqueles que não se identificam com esses dois polos possam voltar a votar no futuro, sim, sim a esse projeto, liberal na economia, inclusive do ponto de vista social. Porque no Brasil das últimas eleições, assistimos ainda muitos brasileiros votando não aquele, portanto, dava o seu voto àquele que achava menos pior e não ao outro significava o voto no outro extremo, mesmo sem se identificar com esses extremos.

Então, o nosso papel, o meu papel hoje ainda na política, depois de uma trajetória muito longa que já caminha para os seus estertores, às vezes eu olho no espelho e nem acredito, mas eu completo ao final desse mandato 40 anos consecutivos de mandatos eletivos com o apoio de você e por Minas Gerais. Não tem ninguém no Brasil que chegue perto desses 40 anos sem ficar um dia sem mandato, em razão do apoio e da confiança de vocês.

E que essa minha experiência, esse meu tempo de vida pública, possa ser útil para que nós possamos construir mais convergências e superar as enormes divergências que ainda separam os brasileiros. A AMM é orgulho de todos nós, mas a sua presidência a colocou num patamar ainda maior e eu espero poder, assim como os outros representantes de Minas, 52 representantes de Minas, além de mim, na Câmara dos Deputados, quero estar à disposição de vocês nessa e em outras pautas vindouras. Porque você sabe que sempre contou e continuará contando comigo, como vocês sempre contaram e continuarão contando comigo. Muito obrigado.

Pronunciamento sobre auxílio emergencial ao RS – CREDN – 08-05-24

Certamente a voz dos mineiros e de todos os brasileiros de consternação em relação à tragédia que se abateu sobre o Rio Grande, em especial sobre nossos irmãos gaúchos. Ao lado dessa tragédia de dimensões únicas, assistimos também uma mobilização, talvez também inédita, de brasileiros e brasileiras de todas as regiões do Brasil, em solidariedade ao povo gaúcho. Quero trazer não apenas aqui a nossa solidariedade que tem se manifestado desde o início desses acontecimentos.

Mais do que isso, peço que leve ao governador Eduardo Leite também esse nosso sentimento, ao mesmo tempo também o registro da correção com que ele tem agido nesses episódios, buscando parcerias, seja com o setor público, seja com setores privados do Rio Grande e de outras regiões do país. Mas em um momento como esse, vem à tona algumas questões estruturais que o Brasil precisará discutir com enorme urgência, entre elas o garrote da negociação das dívidas estaduais.

O Rio Grande vem perdendo ao longo dos últimos anos sua capacidade de investimento, como ocorre com Minas Gerais, como ocorre com Rio de Janeiro, e alguns outros estados brasileiros, como Goiás também, por exemplo. Talvez seja essa oportunidade de o governo refletir com maior profundidade sobre o melhor encaminhamento a essas negociações. O regime ao qual aderiu o Rio Grande impede que o Estado, não apenas agora, mas nos próximos 10 ou 15 anos, tenha uma capacidade mínima de investimentos, inclusive para mitigar, para minimizar o efeito das catástrofes ambientais.

Fica aqui esse primeiro registro. Esse é um ponto que deverá, e tenho certeza, está sendo, pelo que me disse o governador Eduardo Leite, está sendo também já discutido com o governo federal, uma solução, vamos dizer, mais emergencial para o Rio Grande. Mas além disso, a sua bancada, inclusive, com a sua importante participação, e eu divido isso aqui com os companheiros da CREDN, apresentou ontem uma proposta inspirada naquilo que construímos a época da pandemia, deputado Alindo Quinaglia, que é a criação de benefício semelhante àquele auxílio emergencial para garantir a subsistência das famílias afetadas, porque na verdade, além do processo de reconstrução, essas pessoas precisarão sobreviver ao longo desses próximos meses.

E não existe em alguma das regiões atingidas possibilidade de retomada das atividades econômicas de forma mínima a garantir a subsistência dessas famílias. Então, estamos propondo aqui a criação do Socorro Emergencial Gaúcho. Portanto, seria, na verdade, auxílio de R$ 600 ao mês a essas famílias das regiões atingidas pelo prazo de ano. Além disso, estamos propondo também a criação de programa de recuperação dos principais setores da economia do Estado.

Na verdade, esse programa, traria em seu bojo a redução de alíquotas de tributos incidentes sobre o resultado auferido pelas pessoas jurídicas de todos os setores produtivos que tenham sido atingidos pela catástrofe, abrangendo todas as atividades econômicas no Estado. Estamos falando aí de PIS PASEP, de Cofins, de contribuição sobre o Lucro Líquido, de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica.

São duas propostas que se casam. Uma vai diretamente às famílias atingidas para garantir minimamente a sua subsistência, que é esse auxílio temporário, e parece absolutamente justo. E o outro diz respeito às atividades econômicas, tirando delas durante determinado período também a tributação, seja ela municipal, estadual ou federal, para garantir que possam se reorganizar e reagir no espaço de tempo mais curto.

Fica aqui, portanto, de forma agora mais pública, a proposta da bancada do seu partido, do PSDB, que contou com a sua inspiração também, com a sua participação, para que todos possamos ver mitigados, possamos ver superados, no espaço de tempo mais curto possível, esse drama que assola o estado do Rio Grande do Sul.

Entrevista sobre o Farol da Oposição – Brasília – 17-04-24

Sobre o Farol da Oposição

O PSDB vai ocupar novamente espaço de protagonismo na política nacional. Não pelo PSDB, mas pelo Brasil. Não há outro partido político com essa disposição. Não há outro partido político atuando no Brasil hoje com a história do PSDB sem querer ter vínculos com o atual governo do PT, ao contrário, quer reafirmar sua oposição às práticas do governo do PT e sem identificação com várias das teses do bolsonarismo. Então, eu costumo dizer aos críticos que falam que o PSDB ia desaparecer, que o PSDB está passando por uma lipoaspiração para voltar mais forte, mais musculoso, para cumprir o seu papel.

Temos o dever de furar essa bolha, de dar aos brasileiros a oportunidade de votar a favor de um projeto e não contra o projeto A ou o projeto B, como vem fazendo boa parte da população brasileira hoje. Fechada a janela partidária, o PSDB tem uma contabilidade muito positiva. Vamos ter mais de 1.200 candidatos a prefeitos pelo Brasil. E o ITV, que eu presido hoje, vai alimentar esses candidatos, a nossa militância, os nossos mandatários com informações diárias sobre os malfeitos, os equívocos do governo e as consequências desses equívocos para a vida das pessoas.

E, ao mesmo tempo, vamos lembrar que não faz tanto tempo assim, o país teve no governo central, e vários estados tiveram, partido que entregava políticas públicas. Em Minas Gerais, levamos o estado com 853 municípios a ter a melhor educação fundamental do Brasil. Os programas de transferência de renda começaram em Goiás e governos do PSDB. Então, foram sempre governos transformadores, como foi o do presidente Fernando Henrique. O PSDB está renascendo com força e vai ocupar o seu papel.

Como vai funcionar?

Estamos com um grupo muito qualificado de técnicos, de colaboradores do PSDB, sob a coordenação do economista André Lacerda. Vamos produzir quase que diariamente, matérias curtas em relação aos equívocos do governo federal, sempre buscando apresentar uma alternativa a esses equívocos. Vamos estar constantemente e, concomitantemente, paralelamente, apresentando exemplos de boas gestões. Com qual objetivo? Reafirmar a nossa postura de oposição a esse governo, mas não apenas uma oposição raivosa para desconstruir, uma oposição que demonstre que nós somos alternativa.

Esse é o objetivo do PSDB, mostrar que somos alternativa de poder. Sabemos governar e o Brasil está carente de governos qualificados, com gente qualificada, com coragem para fazer as coisas acontecerem. Digo sempre que o PSDB não pode ser quantificado, não pode ser avaliado por número de vereadores, de deputados ou de governadores. Queremos ter cada vez mais, mas devemos ser avaliados e considerados pelo que já fizemos e pela coragem que vamos ter de voltar a fazer.

Então, vamos estar com as nossas bases, a nossa militância alimentada diariamente de informações, de denúncias em relação aos equívocos do governo, mas também de exemplo daquilo que fizemos quando governamos.

Como faz para romper essa polarização, que está bem consolidada?

Acho que o PSDB perdeu pouco de identidade ao longo desses últimos anos. E eu concordo, é desafio. Temos duas alternativas, ou vamos aceitar passivamente que os nossos filhos, os nossos netos viverão num país polarizado, uma polarização inculta, rasa, improdutiva, ou vamos lutar para furar essa polarização. Uma boa parcela dos votos que o Lula teve, que o Bolsonaro teve, não foram votos deles, não foram votos de simpatizantes deles. Claro que existem os fiéis de um lado e de outro, mas existe uma parcela que votou no Lula porque tinha horror ao Bolsonaro e que votou no Bolsonaro porque tinha o horror ao Lula.

A esses é que temos que voltar a falar. Esses que votaram, inclusive, comigo em 2014. Essa população está aguardando que alguém dê um grito e diga: Olha, existe novo projeto para o Brasil. Não precisamos ser reféns disso que está aí, da pobreza da política. Que se reflete no Congresso Nacional, nas relações no Congresso Nacional. Hoje só se fala de quê? De cargo e de emenda, de venda e verba, de dinheiro. Não é isso. O PSDB tem o dever. É fácil? Não é não. Acho que é difícil, mas é possível? Acho que é.

Furarmos essa bolha e apresentarmos um projeto para o país. E esse projeto vai resgatar a parcela dos eleitores de centro do Brasil, do centro democrático, que num determinado momento migraram para a extrema direita, e vai resgatar alguns que votaram no Lula ou no lulopetismo exatamente pela rejeição que tinha ao que o bolsonarismo representava. Repito mais uma vez: existe vida inteligente entre os extremos e o PSDB que vai liderar esse caminho.

Qual é a sua análise que o sr. diz é positiva no final da janela partidária? Há quatro anos o PSDB elegeu o prefeito da maior cidade do Brasil e a maior bancada da Câmara de Vereadores. Passada a janela partidária em São Paulo, não sobrou nenhum parlamentar.

Eu vou mais longe que você, você está sendo econômico. O PSDB passou por um tsunami em razão dos equívocos, inclusive de São Paulo, nas últimas eleições, ao nos impedir de ter uma candidatura à Presidência da República, para focar única e exclusivamente no projeto de São Paulo, projeto natimorto, que nunca existiu, com o ex-governador Doria, o PSDB sofreu as consequências no restante do Brasil, com uma bancada muito pequena.

Agora, é aquilo que eu disse, eu não acho que a questão do número de vereadores, ou número de deputados, seja fundamental para nós. O que o ITV está fazendo? Recuperando e resgatando, tentando pelo menos fazer isso, o nosso discurso. O que nós representamos no cenário político brasileiro? Olha, o Brasil tem hoje um número enorme de partidos políticos extremamente pragmáticos, que vivem na seguinte lógica: Olha, vou fazer deputado, que com deputado eu faço fundo eleitoral, com isso eu faço mais deputado e vou para o governo, qualquer que seja o governo.

Não preciso citar nomes porque vocês sabem, a maioria dos que estão aí. Então, o PSDB se diferencia nisso. Não estamos atrás de boquinha em governo, não estamos atrás de ministérios e, ao mesmo tempo, não somos irascíveis. Somos democratas, não nos alinhamos a uma agenda autoritária. Acho que chegou o momento de o PSDB voltar a falar alto para o Brasil. Olha, nós estamos vivos, temos projeto para o Brasil. O Brasil não merece ficar subordinado apenas a essa polarização, apenas a esses dois extremos.

E lá atrás, não conseguimos fazer isso. A verdade é essa. Desde 2018, onde fracassamos na eleição presidencial, e depois, em 2022, onde fomos impedidos de ter candidato, nos levou a hoje. A situação é muito difícil, mas eu estou aqui gritando porque eu acredito. Eu acredito que o PSDB vai voltar a ter protagonismo na política brasileira.

Em relação às votações no Congresso, esse projeto, essa tentativa de recuperar o protagonismo da oposição, vai de alguma forma tentar reorientar a postura que a bancada do PSDB tem tomado nas votações de interesse do governo no Congresso?

Até vi uma matéria sobre isso hoje e compreendo a sua pergunta. É preciso ver que votações que são essas. Porque, por exemplo, o PSDB votou a favor da reforma da Previdência no início do governo Bolsonaro. Fomos acusados de bolsonaristas. Será que a gente devia ter votado contra porque eu não era bolsonarista? E contra projeto que o PSDB defendia há 30 anos e que chegou maduro para ser votado, que foi o que aconteceu no início do governo Bolsonaro.

Agora vem a questão, por exemplo, do Bolsa Família, que o governo do presidente Lula botou para votar. Nós devíamos votar contra? Se ele é necessário para o Brasil. Eu teria outro modelo, mas ele é necessário ao Brasil?

Olha, nós somos oposição porque esse é governo perdulário, esse é o governo que não tem gestão, é um acinte, é uma vergonha, é tapa na cara dos brasileiros naturalizar um governo com 40 ministérios. É um governo que se impõe sobre as empresas estatais, como já fez no passado, com consequências gravíssimas para a gestão dessas empresas. Até nas privadas quis entrar recentemente com a Vale. É governo do compadrio, não mudou nada, é governo atrasado. As relações externas desse governo chegam a ser piores do que a do governo anterior, mas as duas são muito ruins.

O Bolsonaro fez alinhamento ideológico à direita na política externa, que afastou o Brasil de todos os fóruns relevantes do mundo. O Lula faz esse alinhamento, eu acho até que nisso ele é melhor que o Bolsonaro, sobretudo na questão ambiental, e eu reconheço – eu não tenho dificuldade de reconhecer que é muito melhor a gestão ambiental do governo atual do que era a do bolsonarismo. Mas isso não me faz ser aliado do governo, E não me faz concordar com a política externa do Lula, que é essa de sempre de ter uma palavra de compreensão em relação às ditaduras amigas. Tem espaço enorme para alguém caminhar. E o PSDB vai caminhar. Eu pelo menos vou caminhar. Tomara que tenha mais gente caminhando comigo.

Com essa movimentação do partido, o sr. pretende disputar novamente as eleições do governo de Minas Gerais? E como é que está a questão do apoio do senhor ao pré-candidato, à prefeitura de Uberlândia, já que o PSDB tem candidato e o amigo do senhor, Odelmo Leão, apoia outro candidato?

É, mas é natural isso. Isso é da política. Começando pelo final, Odelmo é meu amigo querido, foi meu secretário de Estado, sou amigo de toda a família, mas o meu partido, o PSDB, tem candidato que apoiamos, que é o candidato Leonídio (Bouças). As pessoas na política têm que saber que o adversário não é inimigo. Até isso está mudando na política, com esse radicalismo que está aí, o sujeito, dentro da sua família, dentro do seu grupo de trabalho, se você tem uma posição, você é inimigo do outro. Eu não sou. Vou continuar sendo amigo de vários adversários políticos meus. Vai ter o tempo de tomar o chopinho, mas, na época da eleição, vou distribuir o santinho do meu aliado.

Você tem falado muito em falar alto, mas o que traz de novo?

Acho que é uma posição clara de oposição. A imprensa, a sociedade brasileira, e não culpo ninguém por isso têm muita dúvida sobre a posição do PSDB. Isso que nós falamos aqui agora, nas votações, aquilo que for importante para o Brasil, venha do governo, venha de quem vier, nós temos que votar a favor. Mas eu concordo que a gente tem que ter uma agenda de oposição mais clara. Essa talvez seja a grande novidade, seja novo momento. Estamos assumindo um papel claro de oposição. O nome desse projeto, Farol da Oposição, já ajuda a deixar claro que não somos independentes, não somos coniventes, somos oposição ao governo que está aí. É esse que é o diferencial. E acho que isso tem que ter, concordo, consequências na nossa ação no Congresso, na nossa ação dos nossos governadores, na nossa ação nas Assembleias.

Quero é municiar as bases do partido, a militância do partido, os vereadores do partido, todos aqueles que têm simpatia pelo partido com conteúdo. Enquanto a única alternativa ao lulopetismo for o bolsonarismo raiz e o que ele representa, acho que o Lula pode viajar pelo mundo aí com a sua esposa, que vai continuar ganhando eleições. Mas é muito pouco para o Brasil. Temos que dizer que existe uma outra oposição, dura, firme, mas qualificada, uma oposição em condições de governar. Nós nos colocamos como essa oposição, madura, experimentada, em condições não apenas de combater o governo, mas de governar no momento que derrotarmos o governo. É isso que eu estou querendo apresentar ao Brasil, uma nova e vigorosa oposição ao governo do PT, porque o Brasil merece muito mais do que estamos tendo hoje.

E nessa oposição, o PSDB e o senhor vão entrar nesse pacote proposto pelo Lira com CPIs, com várias ações contra o governo? Como é que estão vendo isso?

A CPI não pode ser uma coisa genérica? Se você me perguntar sobre determinada CPI, obviamente, se tiver fato objetivo que a justifique, vamos apoiar. Não vamos fazer uma agenda de prejudicar o governo. Basta denunciarmos os equívocos do governo. Porque eu acho que quem faz oposição ao PT é o próprio PT, que não avançou, não evoluiu. É aquela coisa do compadrio, é aquela coisa da distribuição dos cargos pelos amigos, nunca vi tanta gente empregada. Acho que não tem nenhuma família de petistas que tenha alguém fora do governo hoje, porque toda hora tem notícia de um cargo a mais, ou ministério a mais, ou uma estrutura de estatal a mais a serviço do PT.

Eu vou dizer, para encerrar, o seguinte, já dizia isso lá atrás: O PT tem uma prioridade, que não é o Brasil, infelizmente. É o PT. Sempre foi assim, historicamente. O PT votou contra Tancredo no colégio eleitoral porque achava que isso não interessava a eles, porque Tancredo não era do PT. O PT encaminhou, e o líder do PT chamava-se Luiz Inácio Lula da Silva, eu estava no plenário da Câmara, pode não parecer, mas eu era constituinte ainda, e o Lula encaminhou contra a Constituição. Celebraram ela e agora a Constituição da Democracia e votaram contra. Votaram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Se tivesse prevalecido as posições do PT, onde é que estaríamos? Talvez não tivéssemos nem recuperado a democracia no Brasil. Isso tem que ser denunciado. Eu não consigo aceitar passivamente o PT hoje posando de os grandes democratas, tendo votado contra a Constituição do Brasil em 1988.

Sobre eleições em Belo Horizonte.

Estou indo para Belo Horizonte amanhã, terei uma reunião com o deputado João Leite e eu defenderei com todas as forças que o João Leite seja o nosso candidato à Prefeitura do Belo Horizonte e se for, vai ganhar a eleição.