Entrevista após posse como presidente nacional do PSDB
Brasília – 27-11-25
Sobre quadro nacional
O PSDB se prepara para voltar a ser protagonista da política nacional. A ausência do PSDB no centro de debate político nos últimos anos fez muito mal ao Brasil. Vemos hoje que não há espaço para a agenda que interessa aos brasileiros. Vivemos uma agenda da polarização política que só interessa aos extremos. Chego à presidência do partido que já ocupei há alguns anos atrás, quando construímos uma candidatura à presidência da República que, infelizmente, não foi vitoriosa e, de lá para cá, acho que o Brasil cometeu equívocos sucessivos, mas nós voltamos com a mesma disposição de dizer ao Brasil que existe caminho inteligente ao centro, fora dos extremos. Nós temos que permitir que uma parcela da população que vem votando não, não a um extremo, aí vota no outro, e não a esse e vota naquele, acaba votando contra o Brasil. Não podemos mais continuar buscando o menos pior. O PSDB vem para apresentar um projeto para o Brasil, um projeto liberal na economia, inclusivo do ponto de vista social, pragmático nas relações externas, sem alinhamento ideológico, que preza a responsabilidade fiscal como instrumento adequado de gestão pública, que estimula portas de saída para emancipar os dependentes hoje dos programas sociais que, inclusive, foram criados inicialmente por nós. O Brasil está precisando de uma agenda real. O PSDB vem com essa ambição, com esse propósito de apresentar essa agenda ao Brasil. É ao centro, o centro que dialoga com os extremos, mas que não perde tempo nessa luta fratricida que só interessa eleitoralmente àqueles que dela fazem parte.
Candidatura do PSDB à Presidência
O PSDB tem o dever, nesse momento, de se reorganizar para retomar o seu espaço no Congresso Nacional, essa é a nossa primeira prioridade. Mas temos o dever, nossa responsabilidade, de trabalhar para construir uma candidatura viável de centro, que enfrente o atual governo e que permita que os problemas reais dos brasileiros voltem a ser debatidos, porque isso não está acontecendo. O que se debate hoje a favor da anistia é contra um, é contra outro. O Brasil é muito maior que Lula e Bolsonaro juntos. Então, o nosso primeiro esforço é na construção de uma candidatura ao centro que não precisa, necessariamente, ser do PSDB, mas, se não surgir, se as candidaturas colocadas representarem os extremos, o PSDB deve ter a responsabilidade de se preparar até mesmo para apresentar uma candidatura presidencial.
Esse centro pode ser Tarcísio?
Vai depender fundamentalmente dele, com quais propostas ele venha. Se ele vem apenas representante do bolsonarismo é muito difícil que seja uma alternativa para nós. Mas nós não colocamos um veto primário, um veto antecedente para quem quer que seja. Vamos conversar com todas aquelas candidaturas que se disponham a virar essa página que agora se encerra com o cumprimento de prisão daqueles que atentaram contra o Estado Democrático de Direito e não vamos permitir que nas eleições essa agenda seja levada para a campanha porque ela não interessa mais aos brasileiros. Eu sou filho, eu sou neto da democracia. Atentar contra o Estado Democrático de Direito é um dos maiores crimes que se possa cometer. Os processos avançarem não cabe a mim julgar se a pena foi excessiva ou não é. Cabe a mim dizer: a decisão da Justiça tem que ser cumprida. Vamos virar essa página. O PSDB está aqui para dizer: vamos debater a continuidade da reforma tributária, seu aperfeiçoamento. Vamos debater a questão da educação, da segurança pública, esse tema tão adiado pelo PT ao longo de décadas. É isso que espera o Brasil de nós. Nós viemos para nós para qualificar o debate político e não fechamos porta para nada, nem para uma candidatura presidencial ao centro.
O senhor é contra a anistia?
A anistia não existe. A anistia é inconstitucional. Esse é um assunto que interessa aos extremos. Trazer essa pauta. É uma pauta fora da realidade do Brasil. O Supremo Tribunal Federal já disse de forma absolutamente clara que crimes contra a democracia, golpe de estado, atentado contra o Estado Democrático de Direito não são passíveis de anistia, portanto, sequer discuto isso. Isso não vai acontecer. Vamos discutir o Brasil real. Esse é o papel, essa é a contribuição que nós do PSDB temos a dar.
O PSDB apoiaria o Tarcísio?
Vamos ver com quais propostas ele se apresenta. Ele é governador de São Paulo. Tem de ser respeitado como tal. Se ele incorporar uma pauta de centro, com muitas das ideias que nós defendemos…Não há no Brasil hoje nenhuma transformação estrutural que não tenha sido originada pelo PSDB e pergunto quais são as do atual governo do PT ? Eu não conheço quais são as do bolsonarismo, eu não conheço. Quais são as do PSDB. Estão aí o SUS, a telefonia celular, as privatizações, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a estabilidade da economia com o plano real. Essas são conquistas definitivas, então temos autoridade para dizer: nem um, nem outro. E acho que a maioria da população brasileira já compreende que não deve ou não se identifica já com um extremo nem com outro. Vamos ocupar o nosso espaço central na política brasileira.
Vários partidos prestigiaram a sua convenção. Isso significa uma aliança no futuro?
Política é feita de gestos, de sinais. Esta é uma lição que eu trago de casa, lá de Minas, de muito cedo. A presença de partidos da centro-direita, líderes de partidos da centro-esquerda, acho que é uma constatação de que estamos no lugar certo. Nós estamos no centro. Nós temos a capacidade de dialogar mesmo com os extremos, mas nós somos o único partido, o PSDB, que não se curvou a nenhum deles, que não participou de governo Bolsonaro e muito menos do governo Lula. Esse é um ativo político que temos que ressaltar e isso nos permite dialogar, mas dialogar sobre o que? Sobre a pauta dos extremos? Não. Me nego a fazer isso. Dialogar sobre o Brasil sobre os problemas reais do Brasil. Então, estamos aqui, como poderia dizer o meu antigo amigo colega governador da Califórnia “I’m back”, o PSDB está de volta.
Então se o Bolsonaro apoiar o Tarcísio, o senhor não apoia o Tarcísio? Eu não posso questionar os apoios que o Tarcísio eventualmente venha a ter. Eu quero saber o que significa a candidatura de Tarcísio. O que ela oferece para o Brasil. Não há um veto prévio. Se for simplesmente representar a pauta bolsonarista, ele deixa de ser uma candidatura de centro. Se ele quiser discutir conosco problemas reais do Brasil eu sou o primeiro a estar disposto a sentar na mesa para discutir isso.
Sobre a cláusula de barreira, o PSDB vai insistir na fusão com o Podemos?
O PSDB vai disputar as eleições como está e vamos ultrapassar com muita folga a cláusula de barreira. Essa já não é mais uma preocupação nossa. Vamos receber muitas filiações de parlamentares agora na janela partidária, vindas de vários campos, possivelmente mais senadores, muitos deputados federais e estaduais. O PSDB vai vir forte nessa eleição e vai ocupar, pelo bem do Brasil, o seu papel de protagonista da política brasileira.
Discurso de posse como presidente do PSDB
Brasília – 27-11-25
Inicio saudando o nosso líder maior, querido amigo Fernando Henrique Cardoso, nosso Presidente de Honra e referência permanente dos valores e princípios norteadores da grande transformação do Brasil contemporâneo. Caríssimo presidente Marconi Perillo, parceiro de todas as horas, a quem homenageio com um justo reconhecimento coletivo, pela jornada complexa e exaustiva desses anos. Trabalho que preservou a representação da social-democracia brasileira no quadro partidário nacional. Caros membros do Diretório Nacional, companheiros de jornada nesses tempos tão difíceis. Senhores parlamentares e dirigentes partidários, que nos honram com suas presenças nesse evento carregado de simbolismo. Aproveito a oportunidade para também cumprimentar e agradecer à valorosa equipe do ITV, instituição que tive a honra de presidir nos últimos anos, e que se transformou em instrumento essencial de qualificação do posicionamento, das ideias e das propostas do PSDB. Caros tucanos que nos acompanham pelas redes, espalhados por todo este imenso país. Meus amigos, Minhas primeiras palavras são de sincera gratidão à renovada demonstração de confiança e apreço que recebo neste momento, de cada um de vocês. Mais uma vez, honrado, aceitei esta impositiva convocação, por entender o papel relevante do PSDB, nesse trecho tão estranho e obscuro da história nacional. Sabemos todos que, com as circunstâncias atípicas deste momento político, poderíamos ter caminhado na direção de escolhas mais fáceis e confortáveis. Resistimos a todas elas não por qualquer demérito das proposituras ou dos proponentes, mas porque soou mais forte, dentro de cada um de nós, o chamado da responsabilidade: o dever de não fraquejar e de jamais desistir. Isso, apesar das perdas substantivas de quadros eleitos no último pleito nacional pela bandeira do PSDB, seduzidos pelas suas próprias circunstâncias. Mas isso não nos abalou. Nascemos na adversidade. Nos anos de 1988/89, saímos quase todos de partidos que governavam nossos Estados e o país para acreditar no sonho de construir no Brasil um partido político que defendia o parlamentarismo. Que acreditava na responsabilidade fiscal e na gestão eficiente como instrumentos essenciais à diminuição das desigualdades que ainda hoje nos assombram. Não, não nos acovardamos diante do chamamento de Franco Montoro, que nos convidava, naquela época, a nos colocarmos “longe das benesses do poder e próximo ao pulsar das ruas”. Atendemos todos a essa convocação. Ver companheiros valorosos fazendo hoje o caminho inverso nos entristece, mas não nos esmorece. Não nos esmorece porque permanecem vivos, dentro de muitos de nós, os mesmos valores e princípios daquela época, e aquela velha chama da esperança que fizeram, há quase quarenta anos, nascer o PSDB, em pleno processo Constituinte. Caras amigas e amigos Nós, tucanos, compartilhamos um sentimento hoje cada vez mais raro na política: a crença em um ideário poderoso que nos foi legado pela dignidade de homens públicos da estatura de Mário Covas, de Franco Montoro, de José Serra, de José Richa, Euclides Scalco e Pimenta da Veiga, dentre tantos outros que nos ajudaram a escrever esta longa e inconfundível trajetória. É um gigantesco legado consumado definitivamente sob a reformadora presidência de Fernando Henrique Cardoso. Nos orgulhamos em constatar que governos do PSDB se tornaram ao longo do tempo paradigmas de boa e ousada governança, reconhecidos até mesmo pelos nossos mais ferrenhos adversários. De tão marcantes, de tão emblemáticos e de tão transformadores, foram capazes de alterar o curso da história e mudar o destino do Brasil moderno. Por tudo isso, o PSDB não é apenas este que aqui hoje está, em pleno processo de retomada e reconstrução. Para onde quer que se olhe nesse imenso Brasil do nosso tempo, lá estará o PSDB. Está nas boas práticas de governo, nas políticas públicas mais avançadas. Basta lembrarmos aqui da estabilidade da nossa economia com o fim da inflação, o SUS, as privatizações que conectaram o Brasil ao mundo, a responsabilidade com o dinheiro público e com as causas sociais. Desse ponto de vista, permito-me homenagear uma vez mais o presidente Fernando Henrique Cardoso. Não apenas como inspiração permanente que nos guia, mas especialmente como uma vibrante luz lançada sobre o obscurantismo que se abateu, irremediavelmente, sobre a política nacional nestes tempos tão difíceis. Toda essa obra grandiosa se espalha por inúmeros outros estados e municípios brasileiros. Poderia falar de São Paulo, Minas, Ceará, Paraná, dentre tantos outros. Mas eu quero destacar nesse instante o vizinho estado de Goiás, Marconi, e as políticas inovadoras implementadas no seu governo quer inspiraram todo o Brasil. A verdade, meus amigos e minhas amigas, é que fomos todos atropelados pela tragédia da polarização ideológica que se abateu sobre o Brasil e eu tenho o dever de fazer aqui uma reflexão sobre essa questão. Essa polarização, nos últimos anos, sequestrou, de forma impiedosa, a racionalidade e o equilíbrio nas discussões sobre o Brasil. Não cabe aqui uma análise mais aprofundada das circunstâncias políticas que nos imobilizaram e que criaram as condições para que o povo brasileiro se tornasse refém dessa polarização estéril. Mas é impossível não mencionar o efeito danoso da irresponsável criminalização generalizada da atividade política ocorrida no país há alguns anos. Manifesto aqui a minha solidariedade aos companheiros tucanos e de outros partidos que, assim como eu, foram covarde e injustamente acusados por atos jamais praticados. Companheiros que, assim como eu, foram absolvidos de todas as irresponsáveis acusações de que foram vítimas.
Meus amigos, presidente Hugo, esse capítulo da nossa história ainda há de ser devidamente contado. Muito ainda há de ser dito e os interesses ocultos naqueles tempos sombrios, definitivamente revelados. Amigos, amigas, a história do PSDB, acima de tudo, é uma história de coerência. De coerência e respeito enorme pelo Brasil. De coerência de quem jamais se negou, por exemplo, a apoiar políticas públicas que fossem benéficas ao país, vindas elas de onde viessem, de governos de esquerda ou de direita. Mas a verdade é que assistimos, nos últimos anos, a política brasileira perder uma de suas mais valiosas qualidades: a capacidade de dialogar, d construir, de buscar consensos em torno do que interessa, em torno das das grandes causas nacionais. Mas devemos reconhecer, e faço isso aqui de público, que o PSDB cometeu erros. Mas, dentre eles, o maior deles foi não ter defendido com o vigor e a coragem necessários, os avanços promovidos quando governamos o país. E hoje aqui estamos. E estamos onde sempre estivemos. E somos o que sempre fomos – a voz responsável do centro democrático, vocacionada a superar conflitos sob a inspiração do interesse nacional. E, assim, estamos prontos para voltar a construir pontes, onde só há tensão, onde so há enfrentamento. É hora, amigos e amigas, de radicalizarmos ao centro. Vamos dizer aos brasileiros, de cada parte desse imenso Brasil, que há vida inteligente, comprometida com o país, fora dos extremos. E que o Brasil não merece continuar a pagar a conta desta guerra interminável que nos amesquinhou e tenta reduzir a quase nada a imensa dimensão do povo brasileiro. Não merecemos ser o país onde adversários viram inimigos irreconciliáveis. Onde famílias se fragmentam. Até mesmo porque sabemos que essa luta fratricida tem sido alimentada por uma perversa lógica eleitoral. Nas próximas eleições, não podemos nos conformar em escolher o caminho menos pior. Hoje, já é possível constatar que grande parte dos brasileiros não se sente representada pelos extremos que têm polarizado a política brasileira nos últimos anos. A maioria está cansada dessa confrontação inútil e interminável e busca alternativas para a solução dos graves problemas estruturais que se eternizam no país. Aí está, meus amigos, aberta a avenida da pacificação nacional que devemos percorrer com confiança, coragem e determinação. É com esses brasileiros que precisamos voltar a conversar. Voltar a dialogar. Temos a obrigação de agir para desobstruir o diálogo nacional, hoje anêmico e fragilizado. E nesse momento, faço aqui uma homenagem ao presidente Hugo Motta. Já me sentei, presidente, naquela cadeira. Sei da sua relevância. Sei dos conflitos permanentes que Vossa Excelência tem que arbitrar, mas quando o vejo sentado na Presidência da Câmara dos Deputados, vejo um homem público completo, maduro, preparado e equilibrado para nos guiar para superarmos as dificuldades enormes que ainda temos. Quero aproveitar e saudar a presença do companheiro amigo Pedro Campos, líder do PSB. Muito obrigado pela sua presença. Leve ao prefeito João Campos as minhas homenagens e sempre a minha homenagem do meu querido amigo e companheiro de trincheiras distintas, mas do mesmo sonho, Eduardo Campos, com quem tive a oportunidade de conviver junto na minha atividade política. Mas para o PSDB, o compromisso com a democracia está na raiz da nossa própria existência. Sobre a sua antítese – a ditadura – é preciso repetirmos, todos os dias, com todas as letras, em alto e bom som, aquelas definitivas palavras de doutor Ulysses na histórica promulgação da Carta Cidadã brasileira: “Sobre a ditadura, temos ódio. Ódio e nojo!” Esse é o PSDB. Portanto, promover a reconciliação nacional, tendo como base a preservação do estado democrático de direito, é tarefa urgente a um país dividido e convulsionado. Senhoras e senhores, infelizmente, temos hoje um governo que atua apenas na direção dos seus próprios interesses. E peço licença a alguns líderes aqui para expor, de forma muito clara, o sentimento do PSDB. S eo governo vem nos expondo ao risco futuro das mesmas turbulências a que já nos expôs no passado, quando nossa economia enfrentou a pior recessão da história, causada por um governo que transformou as contas públicas em ferramenta para vencer as eleições. Me refiro ao ano de 2014. É absolutamente crucial retomar, dentre outras, a discussão sobre a qualidade do gasto público. Mas não apenas isso. Há muitos outros grandes desafios a serem enfrentados. Vivemos em um país em que os índices de miséria e pobreza continuam a agredir nossas consciências diariamente. É assim, porque não há, na minha visão, eu já discuti lá atrás, esforço contínuo e estrutural para alargar as portas de saída dos atuais programas sociais, com uma perspectiva de efetiva e transformadora mobilidade social. Isso ocorre porque temos um governo que prioriza a administração diária da pobreza quando devem estar buscando a sua definitiva superação. Mais recentemente a discussão sobre segurança pública sempre adiada pelos sucessivos governos do PT, reduziu-se a uma guerra de narrativas onde sobrou muito pouco espaço para uma discussão aprofundada sobre os efeitos das medidas propostas na vida real das pessoas, principalmente aquelas que vivem sitiadas e sequestradas pelo crime organizado. E, no Congresso, o PT, ao final, incompreensivelmente, votou contra o projeto em grande parte construído pelo próprio governo. Mas, como a avaliação era de que a proposta já não trazia dividendos eleitorais ao partido, o melhor a fazer era derrotá-la. É o velho PT. O mesmo que se negou a apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral para colocar fim a 21 anos de ditadura no país. O mesmo PT que votou contra a Constituição de 1988, que votou contra o Plano Real ou que votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. O mesmo PT, que sempre que teve que escolher entre o Brasil e o PT, escolheu o PT. E, no recente debate de segurança pública não foi diferente. Velhas práticas, senhoras e senhores, não constroem um novo país. É nosso dever, no próximo pleito geral, denunciar o imobilismo e a leniência do estado nacional e o flagrante esgotamento da agenda governista. Vamos defender ou voltar a defender as causas nacionais que sucumbiram, anêmicas, à sanha das agendas extremistas e aquelas meramente eleitorais. É também a hora de alertar o país para o aqui, para o agora. Os desafios do clima, da insegurança alimentar no mundo e da transição energética global estão colocados à nossa frente de forma irreversível. Precisamos enfrentar esses temas para, mais uma vez não titubearmos diante da possibilidade de o Brasil finalmente dar o esperado salto para o futuro. Não aquele futuro tantas vezes prometido e frustrado pela inépcia e miopia dos que nos conduziram, não me refiro ao governo apenas, a bordo dos seus interesses. Mas falo um novo, de um possível futuro que juntos podemos construir. Esse futuro esmurra insistentemente a nossa porta, à espera de gestos de verdadeiro patriotismo. Está à nossa frente. O Brasil que queremos, podemos e merecemos ser. Termino essa minha manifestação, meus amigos e minhas amigas, renovando minha determinação pessoal que, tenho certeza, é a mesma de inúmeros companheiros de todo país que aqui hoje estão, e de lideranças de outros partidos que aqui estão, das dificuldades para recolocar o PSDB no centro das grandes discussões nacionais estão sendo superadas. Devemos muito aos presidentes que me antecederam. Vamos voltar, líder Pedro, a dialogar com todos aqueles que, como você, querem tirar o Brasil do imobilismo e da letargia e que querem construir um tempo em que os interesses dos brasileiros se coloquem à frente dos interesses eleitorais seja de quem for. Esse a meu ver deve ser o nosso mais urgente e mais decisivo passo. Já fizemos antes, é hora de trocar aquilo que nos distancia por aquilo que nos aproxima e une, tendo como condicionantes inescapáveis, as causas reais do povo brasileiro. Precisamos nos despir das vaidades e da arrogância pretensiosa dos falsos heróis, para fazer o que o Brasil espera de nós. E, por fim, me permitam terminar lembrando algumas as sábias palavras do meu avô Tancredo que, estou certo, ainda ecoam na alma de muitos brasileiros. Dizia ele àquela época, senhor presidente, por favor, que “Pátria é tarefa coletiva e diária. Ninguém fará por nós o que é nosso dever fazer.” Conte conosco, vamos juntos. O Brasil é um só e é de todos nós. Que Deus nos ilumine!
Entrevista – Executiva do PSDB – 29 de abril
Brasília – 29-04-25
Assuntos: Reunião da Executiva do PSDB – Fusão PSDB/Podemos
A ausência do PSDB nos grandes debates nacionais levou a essa polarização extremamente rasa, inculta, violenta que assistimos hoje. A executiva do PSDB, sob o comando do presidente Marconi Perillo, por unanimidade, decidiu hoje, pelo aprofundamento das negociações com o Podemos e, dentro de 35 dias, estaremos anunciando ao Brasil, espero eu, esperamos todos nós, a constituição de uma nova força política no centro democrático. É isso que o Brasil precisa.
Os brasileiros estão cansados de votar não. Não a esse, então eu voto naquele. Não a aquele, eu voto nesse. Vamos dar oportunidade aos brasileiros voltarem a votar sim a favor de projeto desenvolvimentista, inclusivo do ponto de vista social, audacioso e ousado, como foi o projeto lá atrás que nos levou ao Plano Real, à Lei de Responsabilidade Fiscal. Estamos todos aqui hoje muito felizes com esse novo vigor do PSDB. Eu brincava com o presidente Marconi, com a nossa presidente Cíntia, de que aqueles que mandaram coroas de flores para as nossas exéquias vão ter que pedir reembolso, porque o PSDB volta mais forte do que nunca.
E vocês estão discutindo com alguns tucanos que sinalizaram que iam sair do partido?
Acho que essa decisão, e repito mais uma vez sobre a liderança do presidente Marconi, ela dará tranquilidade a todos aqueles que acreditam na necessidade do fortalecimento de partido ao centro. Se um ou outro, por questões locais, circunstanciais, optarem por uma outra direção, serão respeitados por nós. Mas o que o partido e seus dirigentes precisavam fazer, nós fizemos. Demos uma alternativa que vai muito além da sobrevivência do partido. Estamos revivendo um sonho de 37, 38 anos atrás, construindo um partido longe do poder. O PSDB foi o único partido expressivo no Brasil que se negou a participar do governo Bolsonaro e não participa do governo Lula, porque acreditamos num país diferente. Tenho hoje o mesmo sentimento que eu tinha quanto da fundação do PSDB. Esse partido veio para ficar e acredito, já a partir do próximo ano, para liderar as grandes discussões nacionais.
Foto: Kiko Scartezini
Entrevista em São João del-Rei – 21 de Abril
Fotos: Leo Lara
Sobre a importância de Tancredo para o processo de redemocratização do país?
O Brasil vive hoje o mais longo ciclo democrático de toda a sua história republicana. E revisitar esse momento, de 40 anos atrás, eu acho que é uma sinalização que nós damos, principalmente para as novas gerações, da importância de vivermos hoje em uma democracia, em liberdade, onde nós próprios podemos definir o nosso destino. Muita gente pode achar que sempre vivemos assim. Não foi assim. Foi uma arquitetura extremamente bem construída, não só por Tancredo. Tancredo talvez tenha tido a virtude de liderá-la no final como candidato à Presidência, mas foram muitos brasileiros daquela geração que nos permitiram deixar 21 anos de arbítrio para trás e construirmos um caminho novo para o Brasil.
Portanto, ao homenagear Tancredo, estamos homenageando todos aqueles que permitiram que o Brasil, apesar de todos os desencontros, apesar de todo o radicalismo, apesar das tentativas de ruptura democrática, o Brasil continua sólido, sobre instituições fortalecidas. A presença aqui hoje do presidente da Câmara, deputado Hugo Mota, é uma honra muito grande para todos nós, porque ele preside uma casa, que eu já tive a honra de presidir, que é o retrato mais bem acabado da democracia. Ali está o Brasil, com suas virtudes, com as suas mazelas, com as suas diferenças, mas sempre forte na defesa da democracia. Por isso, eu estou muito honrado com a presença de tantos e de tantas amigas aqui hoje.
O senhor falou da tentativa de ruptura da democracia, como o senhor está vendo essa questão da anistia que está em discussão atualmente?
Olha, o presidente Hugo tem sabido conduzir isso com extrema serenidade. O esforço que todos nós fazemos, e aí talvez inspirado por Tancredo, é o da conciliação, é o da busca da convergência. O Brasil é muito mais do que essa polarização rasa, inculta, radicalizada que nós vivemos hoje. Então, tenho certeza de que ele, com a serenidade, com a autoridade que tem, com o apoio de todos nós, vai encontrar um caminho que permita o Brasil olhar pra frente, porque a obra a ser construída é ainda enorme, os desafios são ainda muito grandes e nós temos plena confiança na condução que está dando ao processo o presidente Hugo Mota.
Sobre o PSDB
O PSDB também foi um partido essencial à democracia. Essencial às principais reformas econômicas que vivemos, que deixaram para trás o passado negro da inflação. E ao contrário do que presumiam alguns, eu costumava brincar que aqueles que mandavam coroas de flores para o velório do PSDB vão ter que pedir reembolso, porque o PSDB vai ressurgir mais forte do que nunca, aliado ao Podemos. Vamos anunciar nos próximos dias a incorporação dos dois partidos e vamos apresentar ao Brasil um caminho ao centro, que dialogue com os extremos, mas que permita ao Brasil agir como agiu Tancredo e tantos outros atrás, de forma generosa, de forma desprendida. Repito, o Brasil não se resume a essa polarização que está aí hoje. E o PSDB, assim como outros partidos, o próprio partido do presidente Hugo, o Republicanos, com quem nós temos conversado muito, buscam construir lá na frente um grande entendimento em favor do Brasil que olhe para o futuro e não apenas para o passado.
O sr. será candidato em 2026 a governador ou a presidente da República?
Não, eu estou já encerrando a minha caminhada. Quero estar ao lado dessas forças políticas ou desses setores da sociedade que não se contentam com essa polarização. E falo com muita, muita sinceridade. O Brasil não é só isso. Hoje temos setores do Brasil que votam no extremo porque não se identificam com o outro e votam no outro porque não se identificam com um. Vamos apresentar ao Brasil uma alternativa onde as pessoas votem num projeto liberal na economia, inclusivo do ponto de vista social, pragmático na nossa política externa, que defenda os interesses do Brasil e que não se alinhe apenas do ponto de vista ideológico. Eu estou muito animado com o que está surgindo aí e vamos dar tempo ao tempo. Eu digo sempre que a decisão correta no tempo errado muitas vezes dá errado.
Mas o sr. não vai ser candidato, é isso?
Não, eu não tenho ainda uma decisão tomada, mas não trabalho por isso. Eu trabalho para consolidar uma nova força de centro, de centro democrático no Brasil a partir da fusão do PSDB com o Podemos, da Aliança com Solidariedade e, também, de uma federação com outras forças políticas com as quais nós estamos conversando.
Pronunciamento em homenagem a Tancredo Neves no Senado Federal
Foto: Alexssandro Loyola
Senhoras e senhores,
Nos reunimos todos aqui hoje para celebrar os 40 anos da redemocratização do Brasil. Triste o povo que não conhece e valoriza a sua história, pois ele terá muito maior dificuldade para construir o seu futuro.
Muitos brasileiros merecem hoje ser aqui homenageados. Mulheres, homens e jovens de todas as partes do país que com seu apoio e mobilização tornaram possível que a transição ocorresse. Homens públicos como Ulysses, Teotônio, Montoro e tantos outros devem sempre ser lembrados e homenageados, pois foram fundamentais para que chegássemos até aqui.
Mas peço licença aos senhores nesse meu despretensioso pronunciamento para me ater ao Presidente Tancredo Neves e ao seu decisivo papel em todo esse processo que nos trouxe ao mais longo período democrático da nossa história.
Antes disso, devo deixar, por dever de justiça, uma palavra de reconhecimento afetivo, mas também político, ao papel essencial e decisivo desempenhado pelo Presidente José Sarney, que todos nós hoje homenageamos, na consolidação do processo de redemocratização do Brasil.
Sua absoluta fidelidade aos compromissos democráticos de Tancredo e sua liderança na garantia de elaboração de uma Constituição democrática e justa, nos permitiram chegar até os dias de hoje, mesmo que atravessando turbulências e enfrentando, ele próprio, inúmeras incompreensões.
A vossa excelência, Presidente José Sarney, em nome da família do Presidente Tancredo Neves, mas também como homem público e como cidadão brasileiro, o meu mais profundo reconhecimento.
Peço, nesse instante, às senhoras e aos senhores parlamentares aqui presentes, licença para trazer aqui um depoimento muito pessoal que já tive oportunidade de fazer em alguns momentos nesses 40 anos que nos separam daquele histórico 15 de março de 1985.
Gostaria de falar hoje sobre Tancredo o homem, sobre Tancredo, o líder, que em silêncio nos relembrou uma antiga, verdadeira e valiosa lição: a de que existem causas que valem mais do que nós mesmos.
Não vou me ater à biografia formal do Presidente.
Em homenagem a ele, e aos desafios que, como parlamentares, enfrentamos todos os dias no Congresso Nacional, vou falar de escolhas.
Porque foram as escolhas que Tancredo fez ao longo da sua vida que o transformaram no homem que ele foi: um homem capaz de liderar multidões e de enternecer indivíduos.
Dizem que os verdadeiros líderes são raros. Porque são poucos os homens capazes de se fundir e se confundir, em determinado momento da história, com o seu próprio povo.
Líderes são fundamentais. Não apenas pelas decisões que são capazes de tomar, mas também por aquilo que são capazes de representar.
Tancredo foi um líder na acepção maior que esta palavra possa trazer.
Por ser um líder, fez as escolhas que fez. E as escolhas que fez fizeram dele um líder ainda maior.
À primeira vista, parece existir dois Tancredos.
Um, extremamente ameno no trato e nas palavras. Outro, corajosamente radical nas ações e nos gestos.
A fusão dos dois fez um homem por inteiro. Comprometido, sempre, com a ordem democrática.
Absolutamente leal aos compromissos assumidos, honrando sempre a palavra empenhada, transformou-se num interlocutor necessário na cena política brasileira durante décadas.
E nunca buscava os holofotes.
Ele costumava dizer: “Na política, só se lembram de mim na hora da tempestade”.
Tancredo assumiu lugar de importância nacional em 1953. Com apenas 43 anos de idade, foi escolhido pelo presidente Getúlio Vargas como seu ministro da Justiça. Havia sido opositor do Estado Novo, advogara para trabalhadores e chegou a ser preso duas vezes naquele período. Mas considerava que Getúlio, ao ser eleito, ganhara legitimidade popular.
Foi fiel ao Presidente Vargas até o fim.
Em 1954, na última reunião do ministério, quando ministros militares já se afastavam de Getúlio e do cumprimento da Constituição, defendendo o afastamento do Presidente, Tancredo pediu autorização a Getúlio para ir pessoalmente dar voz de prisão aos militares rebelados.
“Mas você pode ser morto”, disse um dos ministros presentes. “A vida nos reserva poucas oportunidades de morrer por uma boa causa e essa é uma delas”.
Tancredo costumava se lembrar da última noite de Getúlio com emoção.
Sempre dizia que não conhecera ninguém em quem o senso de dever e o amor ao país fossem tão fortes.
Em reuniões de família, nos lembrava da noite em que já se preparava para sair do Palácio do Catete quando o Presidente Vargas o chamou e lhe entregou a sua caneta pessoal que guardamos com muito carinho até hoje:
“Uma lembrança desses dias conturbados”, disse ele.
Tancredo guardou a caneta que, viria a saber mais tarde, o presidente havia acabado de utilizar para assinar a carta testamento.
Minutos depois, quando já saía do prédio, escutou o tiro com que Getúlio se suicidara. Correu aos seus aposentos e ajudou a filha dele, Alzira, a socorrer o pai.
Dizia que os olhos do presidente circularam pelo quarto, passaram pelos dele até se fixarem nos da filha. Ele morreu olhando para ela.
Extremamente abalado, Tancredo chegou para o enterro do presidente Vargas em São Borja, no Rio Grande do Sul. Fazia muito frio. Oswaldo Aranha lhe emprestou um cachecol que ele guardou, dobrado, na sua gaveta de memórias por toda a vida. Está lá até hoje.
De São Borja, enviou um telegrama ao então governador de Minas, Juscelino Kubitschek, denunciando a ação das forças golpistas. Há quem pense que o suicídio de Getúlio tenha atrasado em dez anos o golpe militar. O ano de 1964 poderia ter chegado em 1954.
Em 1961, a renúncia do presidente Jânio Quadros surpreendeu todo o país. O vice-presidente, João Goulart, se encontrava na China e começaram as articulações para impedir a sua posse. Tancredo divulgou um manifesto à Nação pedindo respeito à ordem democrática e que fosse garantida a posse do vice-presidente. O ambiente político se agravava. Prioritário naquele momento era garantir que Jango chegasse ao país e tomasse posse.
Diante da radicalização de setores militares, surgiu a solução parlamentarista. Tancredo vai de avião ao encontro de Jango no Uruguai.
Haviam sido, amos, ministros de Getúlio. A confiança entre os dois fora selada na antecâmara de uma tragédia, em um momento de crise, em que o caráter e a fibra de um homem não podem se ocultar atrás de discursos ou palavras.
Por isso tinha que ser Tancredo – e não outro – a entrar naquele avião.
Importante naquele momento era garantir que o presidente tomasse posse. Era evitar que 1964 chegasse em 1961.
Jango tomou posse. Tancredo foi indicado primeiro-ministro. Deixou o posto de chefe de governo em 1962 para disputar as eleições para a Câmara dos Deputados. Eleito, transformou-se em líder do governo João Goulart.
Chegou 1964.
O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declara vaga a Presidência da República, apesar de o presidente João Goulart se encontrar em solo brasileiro. Diante de uma Casa silenciosamente acovardada, escutam-se algumas vozes e gritos inconformados no plenário. Quem ouvir com atenção o áudio dessa sessão vai escutar, nesses gritos, as vozes da consciência nacional. Eu já ouvi algumas vezes. Uma voz se destaca: “Canalhas, canalhas, canalhas!” Era Tancredo.
Naquela época, também deputado, Almino Afonso conta: “Até hoje me recordo com espanto do deputado Tancredo Neves, em protestos de uma violência verbal inacreditável para quantos, acostumados à sua elegância no trato, o vissem encarnando a revolta que sacudia a consciência democrática do país. Não deixava de ser chocante ver a altivez da indignação de Tancredo e o silêncio conivente de muitas lideranças do PSD”, encerra Almino.
O jornalista José Augusto Ribeiro diz que, ao sair dessa sessão, o indignado Tancredo deu uma entrevista premonitória: “Acabam de entregar o Brasil a 20 anos de ditadura militar!”
Foram 21!
Tancredo enfrentou os soldados para se despedir pessoalmente de Jango.
E o 1964, adiado tantas vezes, finalmente chegara.
O primeiro momento, fortemente simbólico, foi a eleição do marechal Castelo Branco. Tancredo foi o único deputado do PSD a negar seu voto ao Marechal.
Vieram as cassações. Os inquéritos policiais militares. Nem ex-presidentes da República foram poupados. Juscelino foi convocado a depor. Não foi sozinho. Tancredo o acompanhou aos depoimentos. Solidário e solitário.
Exilado, o talvez mais festejado presidente que o país já tivera, se dirigiu ao aeroporto para deixar o Brasil. Era o ex-presidente bossa nova. Era o ex-presidente da República que seguia rumo ao exílio.
Apenas três pessoas acompanharam JK até o avião. Duas eram da família. A outra era Tancredo.
E uma das primeiras cartas escritas de próprio punho pelo ex-presidente logo após desembarcar no exílio foi dirigida exatamente a Tancredo. Escreveu Juscelino:
“Lembro-me bem que a sua, Tancredo, foi a última mão que apertei antes de me dirigir ao avião… Creio que a democracia terá forças para se levantar, sobretudo, porque sobraram homens como você que a poderão irrigar, mantendo-lhe o vigor para novas arrancadas”.
Estava certo. Seguem-se anos de um paciente ostracismo para Tancredo.
Morre o presidente João Goulart no Uruguai. O governo militar a princípio se recusa a permitir que ele seja enterrado no Brasil. Começam diversas articulações. Tancredo recusa conselhos e vai ao general Golbery do Couto e Silva:
“Ninguém pode negar a um Presidente o direito de descansar entre o seu povo!”, disse ele.
E, quando a conveniência indicava o contrário, lá estava Tancredo, de novo, em São Borja.
Mais uma vez, contamos com a memória de Almino Afonso que relembrava: “Tancredo era a única liderança de porte nacional presente no cemitério”.
Era o ano duro de 1976.
Juscelino morre.
De pé, durante toda a noite e madrugada, como numa reverência cívica, Tancredo velou o presidente. E é de Tancredo o mais forte e emocionado discurso em homenagem ao ex-presidente.
Trinta anos depois, é a vez de 1984. A campanha das Diretas Já ocupou as ruas e o coração do país. Tancredo participou, articulou, discursou. Mas conhecia, como ninguém, a história, a política e o Brasil.
Ali estavam maduras as condições para deixar 64 para trás. Ideal que fosse pelo voto direto, claro. Se não pudesse ser, que fosse por outro caminho. Importante era abrir a porta de saída. Apenas protestar não fazia mais sentido naquele momento.
Os anos de 1954 e 1961 ainda estavam muito vivos em sua memória.
Mas a travessia não foi feita sem riscos e sobressaltos. A arquitetura daquele processo, como eu acompanhei de tão perto, precisava de estratégia, coragem e, principalmente, do apoio da sociedade e de todas as forças democráticas do país, independentemente de suas diferenças ou convicções ideológicas.
O que estava em jogo, a ruptura definitiva com os 21 anos de autoritarismo, justificava toda essa união.
Logo após a homologação de seu nome como o candidato das oposições no colégio eleitoral, sob o olhar incrédulo de alguns assessores e de várias lideranças políticas que acreditavam que Tancredo naquele momento deveria concentrar seus esforços nos votos do colégio eleitoral, Tancredo marca, e tive a honra de redigir as suas escolhas pessoas, uma intensa agenda de comícios e atos públicos por todo o Brasil.
“Precisamos que as pessoas continuem mobilizadas nas ruas”, dizia ele, serenamente alerta.
A transição ainda não se concluíra.
Mesmo após sua vitória no colégio eleitoral, ele manteve a vigilância. Ter sido testemunha de outros episódios marcantes da história lhe obrigava a isso.
E, rapidamente, sem alarde, organizou uma viagem ao exterior com um grupo pequeno de assessores, éramos oito pessoas apenas, para se encontrar com as principais lideranças democráticas da Europa e das Américas, buscando ali o testemunho e o apoio desses líderes à transição que se iniciara no Brasil, mas que, para ele, só estaria concluída com sua posse no histórico 15 de março que celebramos hoje.
E em um ato extremo de amor ao Brasil e à democracia, retardou o quanto pode a cirurgia a que deveria se submeter, com receio de que sua eventual ausência viesse a estimular forças reacionárias, ainda inconformadas com o iminente fim do regime a algum ato extremo de retrocesso.
O restante da história, todos nós conhecemos.
Mas me permitam aqui um registro pessoal, acreditando que os erros nos devem servir de lição exatamente para não voltarmos a cometê-los.
Me lembro que até na véspera da eleição que ocorreria no dia seguinte, em 14 de janeiro de 1985, decolamos aqui de Brasília para uma reunião em Minas com o Senador Itamar Franco. Era o último ato político antes da eleição que ocorreria na manhã seguinte. Fomos e voltamos naquela mesma noite. Ao entrarmos no avião para decolarmos de volta, ele perguntou a mim e a outras duas pessoas que o acompanhavam: “Notícias do PT”?
Não, nós não tínhamos.
Até o último instante Tancredo aguardou que o Partido dos Trabalhadores, cuja criação ele saudara 5 anos antes e considerava extremamente importante para o país e para a democracia, se unisse aos demais democratas para todos juntos derrotarmos definitivamente o regime autoritário no Brasil.
Não era uma questão votos, mas o simbolismo que a união de todas as forças democráticas traria naquele momento ainda carregado de incertezas.
Mas, não.
O PT negou a Tancredo e ao Brasil seu apoio e, mais do que isso, expulsou seus 3 deputados, José Eudes, Ayrton Soares e Beth Mendes, que homenageio neste ato e que ousaram ouvir naquele instante a consciência nacional e as suas próprias consciências, para que o presidente Tancredo pudesse, no primeiro instante, logo após declarada a sua vitória, subir na tribuna do Congresso para anunciar:
“Esta foi a última eleição indireta da história deste país”.
A esses parlamentares e a todos os brasileiros, anônimos ou não que participaram daquele extraordinário movimento cívico que os permitiram estar aqui hoje, o meu reconhecimento.
Mas a história, Senhoras e Senhores, seguiu o seu curso e, de novo, era ele, Tancredo, que precisava tomar e conduzir aquele avião. Um novo voo para um novo resgate da ordem democrática.
E ele nos lembrava sempre: “A pátria não é a aposentadoria dos heróis, mas permanente tarefa a cumprir”.
Getúlio, Juscelino e Jango sabiam muito bem do que ele estava falando. Sabiam o que havia custado chegar até ali.
O avião em busca da rota democrática decolou novamente. Dessa vez, o piloto não desembarcou, mas conduziu o voo a um pouso seguro. E foi seguro porque estava lá vossa excelência para aguardá-lo.
Afonso Arinos certa vez disse que “alguns homens dão a vida pelo país. Tancredo deu mais, deu a morte”.
Lembro-me, Senhoras e Senhores, Presidente José Sarney, caminhando para encerrar, dos olhos marejados de Tancredo recordando com respeito e reconhecimento o extremado senso de compromisso de Getúlio com o país.
“Ele sabia o que estava em risco”, costumava nos dizer nos almoços de família. “Vocês não imaginam o que foi a multidão que acompanhou o funeral do presidente Vargas. Foi ela, em torno do caixão do presidente, que selou o pacto que impediu, naquele momento, o retrocesso da ordem democrática”, insistia em nos explicar e ensinar.
Mal sabia Tancredo que 31 anos depois, em 1985, uma outra multidão velaria o corpo de um outro presidente da República.
E que ele também deixaria a vida para entrar na história.
Pronunciamento em reunião com prefeitos AMM – Brasília – 21-05-24
Costumo dizer que na quarta-feira e na terça não é diferente. Terça e quarta-feira nós temos que ter aqui em Brasília o dom da ubiquidade, que é de estar em mais de lugar ao mesmo tempo. Porque estamos com comissões funcionando, reuniões acontecendo, ainda tem algumas responsabilidades na direção do partido, o PSDB. Mas vim aqui, Marcos Vinícius (da Silva Bizarro, presidente da Associação Mineira de Municípios – AMM), em primeiro lugar para cumprimentá-lo.
Tenho acompanhado muito de perto o esforço que a AMM vem fazendo e a presença dela hoje na Confederação Nacional é estratégica, é talvez a mais relevante, pela pauta que vocês têm conseguido impor. E essa pauta está sendo discutida no local correto, está sendo discutida no Congresso Nacional. Então, vocês conseguiram, até com o poder de síntese muito grande, porque eu sei que as demandas são inúmeras, vocês conseguiram trazer aqui, pelo menos, dentre outros, três temas absolutamente urgentes e centrais.
A questão da desoneração, e nós estamos absolutamente convencidos de que a proposta apresentada pela Confederação Nacional dos Municípios com apoio da AMM é absolutamente razoável. A questão de 2024 já está resolvida, mas nós temos que mergulhar em 2025, 2026 e 2027. E essa proposta de 10%, 12%, 14% anualmente parece absolutamente razoável. Estamos falando aí de uma perda de arrecadação média do governo de R$ 6 bilhões. Pouco mais no ano, pouco menos no ano, mas em torno de R$ 6 bilhões.
Isso não é nada para o governo mais gastador da história do Brasil. Esse governo que não tem economia para criar 40 ministérios, não tem economia para aumentar a sua base de despesas sem qualquer esforço de gestão de contenção de despesas. Portanto, tenho muita convicção de que no plenário da Câmara e do Senado vamos ter a aprovação dessa proposta e esperamos que o ministro da Fazenda facilite esse entendimento porque ele é absolutamente razoável. Estamos falando de valor pouco representativo para o conjunto dos municípios brasileiros.
Temos também na pauta a questão do parcelamento das dívidas tanto com o regime geral quanto em relação aos regimes próprios da Previdência, inclusive mudando a data base. Temos que empurrá-la pouquinho para frente, também acho que é algo absolutamente razoável, até porque é necessário, senão significaria excluir inúmeros municípios desse benefício. Também não vejo dificuldade que essa pauta aqui possa avançar.
Em relação aos precatórios, o que se busca na verdade é não sufocar ainda mais os municípios estabelecendo ali percentual que é proposta em 2% da receita corrente líquida dos municípios para chegar a 2%. Começa com 1% e chegando até 2 no máximo, seria 2% de comprometimento. Então, é uma pauta enxuta, objetiva, e eu vim aqui apenas para dizer que contem conosco, contem com a nossa articulação. Temos coordenador da bancada extremamente atuante, que conversa com todos os setores políticos, não apenas de Minas Gerais, mas de fora de Minas Gerais. Tenho certeza de que ele vai ser grande articulador para esse projeto.
E eu termino para dizer que a pauta municipalista, se você perguntar para os 513 deputados e 81 senadores, todos vão ser a favor. Na retórica é muito fácil ser a favor. Temos que buscar, são ações concretas quando se tem oportunidade de fazê-las. Me orgulho muito, Marcos Vinicius, você que acompanhou tão de perto os nossos governos. Minha própria atuação política aqui no Congresso como presidente da Câmara, quando assumi na interinidade da Presidência da República, incluímos naquela época os municípios do Vale do Mucuri na Sudene. Os investimentos que fizemos, os meus dois mandatos em Minas Gerais, e tantos que estão aqui, foram parceiros desses investimentos em absolutamente todas as áreas, todos eles feitos em parceria com os municípios.
Conseguimos levar Minas Gerais a ter a melhor educação fundamental do Brasil nas nove séries, as nove séries do Ensino Fundamental, estado como Minas, complexo, amplo, com regiões ainda muito pobres, mas conseguimos com método, com gestão, mas com parceria com os municípios. As obras de infraestrutura que vocês conhecem, que permitiu que o asfalto chegasse a 220 cidades de Minas Gerais foram feitas em parceria com os municípios. Portanto, venho aqui apenas reiterar esse compromisso e sim a minha vontade de ver no futuro, me permite essa palavra política no final, Marcos Vinícius, um país com menos ódio, com menos rancor, com menos radicalização na política.
Mineiro, que eu sei, muito querido e respeitado por todos vocês, o presidente Tancredo Neves costumava dizer que as virtudes nunca estão nos extremos. Você vai encontrá-las com maior facilidade mais próximo do centro. Centro que dialogue com todos os segmentos do pensamento político brasileiro, mas que apresente ao país um projeto afirmativo de futuro, onde aqueles que não se identificam com esses dois polos possam voltar a votar no futuro, sim, sim a esse projeto, liberal na economia, inclusive do ponto de vista social. Porque no Brasil das últimas eleições, assistimos ainda muitos brasileiros votando não aquele, portanto, dava o seu voto àquele que achava menos pior e não ao outro significava o voto no outro extremo, mesmo sem se identificar com esses extremos.
Então, o nosso papel, o meu papel hoje ainda na política, depois de uma trajetória muito longa que já caminha para os seus estertores, às vezes eu olho no espelho e nem acredito, mas eu completo ao final desse mandato 40 anos consecutivos de mandatos eletivos com o apoio de você e por Minas Gerais. Não tem ninguém no Brasil que chegue perto desses 40 anos sem ficar um dia sem mandato, em razão do apoio e da confiança de vocês.
E que essa minha experiência, esse meu tempo de vida pública, possa ser útil para que nós possamos construir mais convergências e superar as enormes divergências que ainda separam os brasileiros. A AMM é orgulho de todos nós, mas a sua presidência a colocou num patamar ainda maior e eu espero poder, assim como os outros representantes de Minas, 52 representantes de Minas, além de mim, na Câmara dos Deputados, quero estar à disposição de vocês nessa e em outras pautas vindouras. Porque você sabe que sempre contou e continuará contando comigo, como vocês sempre contaram e continuarão contando comigo. Muito obrigado.
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