Publicado em 28 de novembro de 2025

Discurso de posse como presidente do PSDB


Brasília – 27-11-25

Inicio saudando o nosso líder maior, querido amigo Fernando Henrique Cardoso, nosso Presidente de Honra e referência permanente dos valores e princípios norteadores da grande transformação do Brasil contemporâneo.
Caríssimo presidente Marconi Perillo, parceiro de todas as horas, a quem homenageio com um justo reconhecimento coletivo, pela jornada complexa e exaustiva desses anos. Trabalho que preservou a representação da social-democracia brasileira no quadro partidário nacional.
Caros membros do Diretório Nacional, companheiros de jornada nesses tempos tão difíceis.
Senhores parlamentares e dirigentes partidários, que nos honram com suas presenças nesse evento carregado de simbolismo.
Aproveito a oportunidade para também cumprimentar e agradecer à valorosa equipe do ITV, instituição que tive a honra de presidir nos últimos anos, e que se transformou em instrumento essencial de qualificação do posicionamento, das ideias e das propostas do PSDB.
Caros tucanos que nos acompanham pelas redes, espalhados por todo este imenso país.
Meus amigos,
Minhas primeiras palavras são de sincera gratidão à renovada demonstração de confiança e apreço que recebo neste momento, de cada um de vocês.
Mais uma vez, honrado, aceitei esta impositiva convocação, por entender o papel relevante do PSDB, nesse trecho tão estranho e obscuro da história nacional.
Sabemos todos que, com as circunstâncias atípicas deste momento político, poderíamos ter caminhado na direção de escolhas mais fáceis e confortáveis.
Resistimos a todas elas não por qualquer demérito das proposituras ou dos proponentes, mas porque soou mais forte, dentro de cada um de nós, o chamado da responsabilidade: o dever de não fraquejar e de jamais desistir.
Isso, apesar das perdas substantivas de quadros eleitos no último pleito nacional pela bandeira do PSDB, seduzidos pelas suas próprias circunstâncias.
Mas isso não nos abalou. Nascemos na adversidade.
Nos anos de 1988/89, saímos quase todos de partidos que governavam nossos Estados e o país para acreditar no sonho de construir no Brasil um partido político que defendia o parlamentarismo. Que acreditava na responsabilidade fiscal e na gestão eficiente como instrumentos essenciais à diminuição das desigualdades que ainda hoje nos assombram.
Não, não nos acovardamos diante do chamamento de Franco Montoro, que nos convidava, naquela época, a nos colocarmos “longe das benesses do poder e próximo ao pulsar das ruas”. Atendemos todos a essa convocação.
Ver companheiros valorosos fazendo hoje o caminho inverso nos entristece, mas não nos esmorece.
Não nos esmorece porque permanecem vivos, dentro de muitos de nós, os mesmos valores e princípios daquela época, e aquela velha chama da esperança que fizeram, há quase quarenta anos, nascer o PSDB, em pleno processo Constituinte.
Caras amigas e amigos
Nós, tucanos, compartilhamos um sentimento hoje cada vez mais raro na política: a crença em um ideário poderoso que nos foi legado pela dignidade de homens públicos da estatura de Mário Covas, de Franco Montoro, de José Serra, de José Richa, Euclides Scalco e Pimenta da Veiga, dentre tantos outros que nos ajudaram a escrever esta longa e inconfundível trajetória.
É um gigantesco legado consumado definitivamente sob a reformadora presidência de Fernando Henrique Cardoso.
Nos orgulhamos em constatar que governos do PSDB se tornaram ao longo do tempo paradigmas de boa e ousada governança, reconhecidos até mesmo pelos nossos mais ferrenhos adversários.
De tão marcantes, de tão emblemáticos e de tão transformadores, foram capazes de alterar o curso da história e mudar o destino do Brasil moderno.
Por tudo isso, o PSDB não é apenas este que aqui hoje está, em pleno processo de retomada e reconstrução.
Para onde quer que se olhe nesse imenso Brasil do nosso tempo, lá estará o PSDB. Está nas boas práticas de governo, nas políticas públicas mais avançadas. Basta lembrarmos aqui da estabilidade da nossa economia com o fim da inflação, o SUS, as privatizações que conectaram o Brasil ao mundo, a responsabilidade com o dinheiro público e com as causas sociais.
Desse ponto de vista, permito-me homenagear uma vez mais o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Não apenas como inspiração permanente que nos guia, mas especialmente como uma vibrante luz lançada sobre o obscurantismo que se abateu, irremediavelmente, sobre a política nacional nestes tempos tão difíceis.
Toda essa obra grandiosa se espalha por inúmeros outros estados e municípios brasileiros. Poderia falar de São Paulo, Minas, Ceará, Paraná, dentre tantos outros. Mas eu quero destacar nesse instante o vizinho estado de Goiás, Marconi, e as políticas inovadoras implementadas no seu governo quer inspiraram todo o Brasil.
A verdade, meus amigos e minhas amigas, é que fomos todos atropelados pela tragédia da polarização ideológica que se abateu sobre o Brasil e eu tenho o dever de fazer aqui uma reflexão sobre essa questão.
Essa polarização, nos últimos anos, sequestrou, de forma impiedosa, a racionalidade e o equilíbrio nas discussões sobre o Brasil. Não cabe aqui uma análise mais aprofundada das circunstâncias políticas que nos imobilizaram e que criaram as condições para que o povo brasileiro se tornasse refém dessa polarização estéril.
Mas é impossível não mencionar o efeito danoso da irresponsável criminalização generalizada da atividade política ocorrida no país há alguns anos.
Manifesto aqui a minha solidariedade aos companheiros tucanos e de outros partidos que, assim como eu, foram covarde e injustamente acusados por atos jamais praticados. Companheiros que, assim como eu, foram absolvidos de todas as irresponsáveis acusações de que foram vítimas.

Meus amigos, presidente Hugo, esse capítulo da nossa história ainda há de ser devidamente contado. Muito ainda há de ser dito e os interesses ocultos naqueles tempos sombrios, definitivamente revelados.
Amigos, amigas, a história do PSDB, acima de tudo, é uma história de coerência. De coerência e respeito enorme pelo Brasil. De coerência de quem jamais se negou, por exemplo, a apoiar políticas públicas que fossem benéficas ao país, vindas elas de onde viessem, de governos de esquerda ou de direita.
Mas a verdade é que assistimos, nos últimos anos, a política brasileira perder uma de suas mais valiosas qualidades: a capacidade de dialogar, d construir, de buscar consensos em torno do que interessa, em torno das das grandes causas nacionais.
Mas devemos reconhecer, e faço isso aqui de público, que o PSDB cometeu erros. Mas, dentre eles, o maior deles foi não ter defendido com o vigor e a coragem necessários, os avanços promovidos quando governamos o país. E hoje aqui estamos. E estamos onde sempre estivemos. E somos o que sempre fomos – a voz responsável do centro democrático, vocacionada a superar conflitos sob a inspiração do interesse nacional. E, assim, estamos prontos para voltar a construir pontes, onde só há tensão, onde so há enfrentamento.
É hora, amigos e amigas, de radicalizarmos ao centro. Vamos dizer aos brasileiros, de cada parte desse imenso Brasil, que há vida inteligente, comprometida com o país, fora dos extremos.
E que o Brasil não merece continuar a pagar a conta desta guerra interminável que nos amesquinhou e tenta reduzir a quase nada a imensa dimensão do povo brasileiro.
Não merecemos ser o país onde adversários viram inimigos irreconciliáveis. Onde famílias se fragmentam. Até mesmo porque sabemos que essa luta fratricida tem sido alimentada por uma perversa lógica eleitoral.
Nas próximas eleições, não podemos nos conformar em escolher o caminho menos pior. Hoje, já é possível constatar que grande parte dos brasileiros não se sente representada pelos extremos que têm polarizado a política brasileira nos últimos anos.
A maioria está cansada dessa confrontação inútil e interminável e busca alternativas para a solução dos graves problemas estruturais que se eternizam no país.
Aí está, meus amigos, aberta a avenida da pacificação nacional que devemos percorrer com confiança, coragem e determinação. É com esses brasileiros que precisamos voltar a conversar. Voltar a dialogar.
Temos a obrigação de agir para desobstruir o diálogo nacional, hoje anêmico e fragilizado.
E nesse momento, faço aqui uma homenagem ao presidente Hugo Motta. Já me sentei, presidente, naquela cadeira. Sei da sua relevância. Sei dos conflitos permanentes que Vossa Excelência tem que arbitrar, mas quando o vejo sentado na Presidência da Câmara dos Deputados, vejo um homem público completo, maduro, preparado e equilibrado para nos guiar para superarmos as dificuldades enormes que ainda temos.
Quero aproveitar e saudar a presença do companheiro amigo Pedro Campos, líder do PSB. Muito obrigado pela sua presença. Leve ao prefeito João Campos as minhas homenagens e sempre a minha homenagem do meu querido amigo e companheiro de trincheiras distintas, mas do mesmo sonho, Eduardo Campos, com quem tive a oportunidade de conviver junto na minha atividade política.
Mas para o PSDB, o compromisso com a democracia está na raiz da nossa própria existência. Sobre a sua antítese – a ditadura – é preciso repetirmos, todos os dias, com todas as letras, em alto e bom som, aquelas definitivas palavras de doutor Ulysses na histórica promulgação da Carta Cidadã brasileira: “Sobre a ditadura, temos ódio. Ódio e nojo!” Esse é o PSDB.
Portanto, promover a reconciliação nacional, tendo como base a preservação do estado democrático de direito, é tarefa urgente a um país dividido e convulsionado.
Senhoras e senhores, infelizmente, temos hoje um governo que atua apenas na direção dos seus próprios interesses. E peço licença a alguns líderes aqui para expor, de forma muito clara, o sentimento do PSDB. S eo governo vem nos expondo ao risco futuro das mesmas turbulências a que já nos expôs no passado, quando nossa economia enfrentou a pior recessão da história, causada por um governo que transformou as contas públicas em ferramenta para vencer as eleições. Me refiro ao ano de 2014.
É absolutamente crucial retomar, dentre outras, a discussão sobre a qualidade do gasto público. Mas não apenas isso. Há muitos outros grandes desafios a serem enfrentados. Vivemos em um país em que os índices de miséria e pobreza continuam a agredir nossas consciências diariamente.
É assim, porque não há, na minha visão, eu já discuti lá atrás, esforço contínuo e estrutural para alargar as portas de saída dos atuais programas sociais, com uma perspectiva de efetiva e transformadora mobilidade social.
Isso ocorre porque temos um governo que prioriza a administração diária da pobreza quando devem estar buscando a sua definitiva superação. Mais recentemente a discussão sobre segurança pública sempre adiada pelos sucessivos governos do PT, reduziu-se a uma guerra de narrativas onde sobrou muito pouco espaço para uma discussão aprofundada sobre os efeitos das medidas propostas na vida real das pessoas, principalmente aquelas que vivem sitiadas e sequestradas pelo crime organizado.
E, no Congresso, o PT, ao final, incompreensivelmente, votou contra o projeto em grande parte construído pelo próprio governo. Mas, como a avaliação era de que a proposta já não trazia dividendos eleitorais ao partido, o melhor a fazer era derrotá-la.
É o velho PT. O mesmo que se negou a apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral para colocar fim a 21 anos de ditadura no país. O mesmo PT que votou contra a Constituição de 1988, que votou contra o Plano Real ou que votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O mesmo PT, que sempre que teve que escolher entre o Brasil e o PT, escolheu o PT. E, no recente debate de segurança pública não foi diferente. Velhas práticas, senhoras e senhores, não constroem um novo país.
É nosso dever, no próximo pleito geral, denunciar o imobilismo e a leniência do estado nacional e o flagrante esgotamento da agenda governista. Vamos defender ou voltar a defender as causas nacionais que sucumbiram, anêmicas, à sanha das agendas extremistas e aquelas meramente eleitorais.
É também a hora de alertar o país para o aqui, para o agora. Os desafios do clima, da insegurança alimentar no mundo e da transição energética global estão colocados à nossa frente de forma irreversível. Precisamos enfrentar esses temas para, mais uma vez não titubearmos diante da possibilidade de o Brasil finalmente dar o esperado salto para o futuro.
Não aquele futuro tantas vezes prometido e frustrado pela inépcia e miopia dos que nos conduziram, não me refiro ao governo apenas, a bordo dos seus interesses. Mas falo um novo, de um possível futuro que juntos podemos construir. Esse futuro esmurra insistentemente a nossa porta, à espera de gestos de verdadeiro patriotismo. Está à nossa frente. O Brasil que queremos, podemos e merecemos ser.
Termino essa minha manifestação, meus amigos e minhas amigas, renovando minha determinação pessoal que, tenho certeza, é a mesma de inúmeros companheiros de todo país que aqui hoje estão, e de lideranças de outros partidos que aqui estão, das dificuldades para recolocar o PSDB no centro das grandes discussões nacionais estão sendo superadas. Devemos muito aos presidentes que me antecederam.
Vamos voltar, líder Pedro, a dialogar com todos aqueles que, como você, querem tirar o Brasil do imobilismo e da letargia e que querem construir um tempo em que os interesses dos brasileiros se coloquem à frente dos interesses eleitorais seja de quem for.
Esse a meu ver deve ser o nosso mais urgente e mais decisivo passo.
Já fizemos antes, é hora de trocar aquilo que nos distancia por aquilo que nos aproxima e une, tendo como condicionantes inescapáveis, as causas reais do povo brasileiro.
Precisamos nos despir das vaidades e da arrogância pretensiosa dos falsos heróis, para fazer o que o Brasil espera de nós. E, por fim, me permitam terminar lembrando algumas as sábias palavras do meu avô Tancredo que, estou certo, ainda ecoam na alma de muitos brasileiros. Dizia ele àquela época, senhor presidente, por favor, que “Pátria é tarefa coletiva e diária. Ninguém fará por nós o que é nosso dever fazer.” Conte conosco, vamos juntos. O Brasil é um só e é de todos nós. Que Deus nos ilumine!

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