Aécio Neves – Entrevista sobre a nomeação do ex-presidente Lula

Brasília

Em primeiro lugar, uma palavra em relação à chegada do presidente Lula ao Ministério da presidente Dilma, se é que, daqui por diante, ela poderá ainda ser chamada de presidente. Quero aqui falar de três aspectos que considero dessa nomeação absolutamente equivocada. O primeiro, do ponto de vista da própria presidente, que, na verdade, abdica agora de forma definitiva dos poucos poderes e iniciativas que lhe restavam. Mesmo com as sucessivas denúncias de irregularidades na campanha, a presidente havia tido a maioria dos votos. Ela abdica, portanto, desse mandato em favor do presidente Lula. O segundo aspecto diz respeito à economia. Temo que isso possa ser a última sinalização, e mais perigosa, de um retorno ao populismo, de um retorno àquela velha matriz econômica que nos trouxe a esse calvário de hoje.

Portanto, o retorno ao populismo pode ser uma das marcas dessa nova fase do governo com o presidente Lula na Casa Civil. E nada pior do que isso para que possamos iniciar o processo de retomada do crescimento a partir de novos investimentos que serão afugentados a partir das primeiras iniciativas e discursos que estamos assistindo. E o outro equívoco é o da política, porque ficará absolutamente claro, de forma definitiva, que a razão da posse do presidente Lula no Ministério tem um sentido que supera todos os outros: é obstacular, é impedir o bom andamento das investigações, seja da Operação Lava Jato ou daquelas conduzidas pelo Ministério Público de São Paulo. Essa marca é indelével, é definitiva. Portanto, o que constato ao final é de que não temos mais um governo e nada, absolutamente nada freará o ímpeto da sociedade brasileira e a ação do PSDB, como de outros partidos políticos, para que o impeachment seja votado o mais rapidamente possível, porque, com a presidente Dilma, mesmo como uma figura folclórica ou figurativa no comando da Nação, não há possibilidade de readquirirmos aquilo que é essencial para o Brasil voltar a crescer e gerar empregos, que é confiança e credibilidade, e isso ela já não tem mais.

A oposição vai tentar tomar alguma medida para impedir a posse do presidente Lula?

Algumas ações já foram impetradas por vários partidos de oposição, mas eu quero dizer que, além dessas ações, o que nós temos que fazer é acelerar o rito do impeachment, acelerar os prazos dentro daquilo que o regimento nos permite. Temos que dar uma satisfação ao sentimento amplamente majoritária da sociedade brasileira, e há uma constatação que é generalizada, e não é porque a oposição quer isso, é porque a presidente da República perdeu, aos olhos dos cidadãos brasileiros, aos olhos do mercado, daqueles que investem, aos olhos, portanto, do conjunto da sociedade, nas suas mais variadas manifestações, a capacidade de nos guiar para fora dessa crise. É claro que você tem a questão do TSE que deve continuar a ser investigada, mas os nossos esforços políticos, nesse momento, estão concentrados na aceleração, no avanço, da discussão e da aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados.

A presidente deixou uma brecha de poder usar as reservas para a questão da dívida, não necessariamente para investimento. O senhor acha que seria uma irresponsabilidade de gestão?

Na verdade, é um gesto extremo, de consequências extremamente perigosas para o país. Hoje tive a oportunidade de conversar com alguns economistas, entre eles o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. As expectativas de mercado com esse anúncio, com essa possibilidade de utilização de parte das reservas é a pior possível. Portanto, é preciso que estejamos absolutamente atentos à tentação, que pode significar a chegada de Lula ao ministério, de voltarmos a atitudes do ponto de vista macroeconômico de condução da economia absolutamente irresponsáveis, como, a nosso ver, seria a utilização de parte das reservas, seja para pagamento da dívida ou mesmo para investimentos. O que vai permitir o retorno dos investimentos no Brasil é confiança, credibilidade, são regras estáveis, é um governo enxuto, organizado, que acredite naquilo que prega, que produza resultados, e não um governo que tem como único objetivo hoje a sua sustentação por mais algumas semanas, por mais alguns dias.

Em relação à revista Época, aos documentos hoje trazidos. O que o senhor tem a dizer?

Eu vou até, inclusive, falar no plenário sobre isso. É incrível que um assunto que já era de conhecimento público, que habitava os blogs sujos do petismo, financiados sempre com dinheiro público, ao longo de mais de um ano, seja tratado agora com ares de escândalo. O que é grave nesse momento é que assuntos privados que nenhuma relação tem com a minha atividade política sejam trazidos de forma irresponsável à baila. Eu quero aqui mostrar a minha absoluta indignação.

O que foi feito pela minha mãe, e é triste eu ter que defendê-la, trazê-la neste momento, mas eu faço isso por dever de responsabilidade para com tantos brasileiros que confiam em nós, foi algo que ela fez ao lado do seu marido, um banqueiro e empresário muito conhecido no Brasil, quando ela iniciou a constituição de uma fundação, fundação legalmente constituída. A partir da doença do marido e da sua morte, em 2008, este processo foi extinto. Essa fundação, para vocês terem ideia, movimentou em seis anos uma média de recursos de US$ 5 mil apenas para sua manutenção, não houve nenhum depósito além disso. E ela foi interrompida com a morte do marido dela. Ela a partir deste momento ela declara em seu Imposto de Renda esses recursos que ali foram investidos em razão de uma investigação que houve não a ela obviamente, mas a quem orientou a formação dessa fundação, que quando fez isso sobre a ele não recaía nenhuma denúncia.

A partir do momento em que há essa investigação ela é chamada a se manifestar. Se manifestou à época, se não me engano no ano de 2009, ou até mesmo antes disso, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro pediu o arquivamento desta ação porque não houve dolo, não houve nenhum ato ilícito e a Justiça Federal do Rio de Janeiro arquivou a pedido do Ministério Público esta ação. Depois disso, como jogo político bruto, um deputado do PT entrou com uma ação na PGR pedindo o desarquivamento desta ação. O que fez depois de analisar esta questão a PGR? Arquivou novamente. Isso não tem a menor vinculação com a minha atividade política. É preciso que as pessoas respeitem os atos e a privacidade daqueles que mesmo parentes nossos não têm conexão com a nossa atividade. Não há ilicitude. Não há ilegalidade. Não há irregularidade.

E quero aqui responder a isso com indignação de um homem de bem que tem 30 anos de vida pública irretocável e que vem sendo alvo ao longo de toda essa operação Lava Jato até antes disso, durante a campanha eleitoral. Os ataques mais torpes, os ataques mais vis, seja a mim, seja a minha família. Responderei a todos com indignação, mas com a serenidade daqueles que não têm o que temer.

Portanto, esta questão ela é pública há muito e muito tempo, portanto não há nenhuma ilegalidade – quem diz isso é a procuradoria-geral, quem diz isso é a Justiça Federal, quem diz isso é o Ministério Púbico Federal – e eu estarei respondendo, uma a uma, todas as acusações que já me fizeram, como fiz no passado, e que fazem agora. Não tenho o que temer. Isso não vai diminuir a minha determinação, em momento algum, de continuar combatendo esse governo que se apropriou do nosso Estado Nacional, que acabou com as nossas empresas públicas, que destruiu a nossa economia e que agora quer destruir reputações. Comigo não. Não me meçam pela régua desse governo e de muitos dos seus membros.

Aécio Neves – Entrevista coletiva

Brasília

Sobre delação de Delcídio Amaral.

Tomei conhecimento hoje da íntegra da delação do senador Delcídio do Amaral. E além de absurdas e requentadas as citações ao meu nome, ou apesar disso, quero dizer de antemão que é preciso que se aprofunde na apuração de todas as citações ali contidas. Este aprofundamento vai separar o verdadeiro do falso.

No que diz respeito ao meu nome quero dizer que sou o maior interessado que isso seja apurado, em profundidade, são três questões que não se conectam e que, na verdade, são questões conhecidas e requentadas. Quero aqui fazer referência a elas.

A primeira diz respeito a uma fundação que cuja constituição foi iniciada pela minha mãe, no início do ano 2000, quando ela ainda era casada e o seu marido era do sistema financeiro. Com a doença dele e depois a morte, essa fundação não foi concluída. Jamais houve qualquer transferência de recursos para ela. E esse assunto já foi objeto de uma investigação pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro que pediu há vários anos o arquivamento que foi feito pela Justiça Federal no Rio de Janeiro.

Esse assunto já habitou o submundo dos sites petistas nos últimos anos. Durante a campanha eleitoral tentou-se levantar alguma irregularidade e não foi encontrada. Tanto que este assunto que circulou por várias redações jamais foi tratado com seriedade porque não tem absolutamente nada a ver com a política.

Lista de Furnas

A segunda questão diz respeito à conhecida lista de Furnas, talvez a maior fraude da política brasileira nos últimos anos. A lista de Furnas já teve o seu autor condenado por mais de sete anos. Cumpriu pena em Minas Gerais. É ainda investigado e processado por inúmeros outros crimes e essa lista não é uma, são inúmeras listas de Furnas para todos os gostos. Constituída para chantagear determinados agentes políticos, inclusive do PT. O senador Delcídio na sua delação comete pelo menos uma contradição que considero grave. Ele diz que a lista de Furnas não é verdadeira, mas, mesmo assim, políticos teriam recebido dinheiro dela. Isso é falso. É mais uma vez a repetição daquilo que já foi de forma cansativa repetido ao longo dos últimos meses e dos últimos anos, inclusive objeto de arquivamento por parte da PGR.

CPI dos Correios

Ao final, o senador Delcídio surge com uma história de que, durante a CPI dos Correios, houve uma interferência minha, através de outros agentes políticos, para que o Banco Rural de Minas Gerais pudesse maquiar dados. Vejam bem: muitos daqui participaram e acompanharam aquela CPI. Em nenhum momento, meu nome sequer foi citado para colaborar em qualquer uma das investigações que ali existiam. Jamais tive conta, jamais fiz um empréstimo, jamais tive qualquer relação com o Banco Rural e é incompreensível que esses interesses do Banco Rural, que ele relata, pudessem de alguma forma me atingir. Ao contrário, repito mais uma vez, o que queremos é que seja apurado em detalhes, e que seja apurado em profundidade. Soube agora há pouco, inclusive, que o relator da CPI na época, deputado Osmar Serraglio, publicou uma nota desdizendo o que disse o senador Delcídio, que em nenhum momento houve qualquer ação ou qualquer pedido meu e de quem quer que fosse no sentido de atender a interesses do Banco Rural, assim como já foi negado pelos outros agentes citados.

É, portanto, em uma hora como esta que devemos ser firmes na busca da apuração. Quero que isso vá a fundo. Sou o maior interessado em que tudo isso seja esclarecido, pois isso será um atestado de idoneidade que receberei, ou mais um.

Não é a primeira que vez que tentam colocar não apenas o meu nome, mas de outros agentes da oposição, nesse mar de lama que a Lava Jato vem mostrando a todo o país. Portanto, minha resposta a isso é de forma serena, pedir que se aprofundem nas apurações para que possamos ter isso clareado. E todas as três citações tratam-se de matérias absolutamente requentadas, sem qualquer – a meu ver – comprometimento meu ou dos outros agentes políticos citados.

Por que o senador Delcídio tem interesse em envolver o nome do sr. nessa delação?

Não consigo compreender essa razão. Mas repito: todas as questões citadas são questões velhas, requentadas, que já foram noticiadas em jornais ou em blogs que ele traz na sua delação. Não há absolutamente nada de novo e nada consistente e que, do meu ponto de vista, mereça qualquer tipo de preocupação.

A oposição pretende aditar essa delação ao processo de impeachment contra a presidente Dilma?

Os advogados do PSDB estão reunidos junto com advogados de outros partidos da oposição exatamente nesse instante, ou se reunirão daqui a pouco, exatamente para ver as ações que serão tomadas. Defendo que tudo seja apurado, investigado em profundidade. É isso que vai separar o que eventualmente é verdadeiro daquilo que é falso, daquilo que é uma tentativa de nivelar a todos. Não seremos nivelados. Não seremos nivelados àqueles que ocuparam, que se apropriaram do Estado Nacional em benefício de um projeto de poder e em benefício próprio.

Já alertava lá atrás desde o início para essa tentativa sucessiva de vincular nomes da oposição nesse processo. Acho que tudo que vier tem que ser investigado a fundo. Obviamente, vocês encontrarão aí argumentos para dizer que isso é verdadeiro e que isso é falso, como já aconteceu no passado. Estou absolutamente preparado não apenas para mais essa tentativa, mas para outras futuras que virão.

Continuo onde sempre estive: combatendo o PT, combatendo o partido do senador Delcídio, – o que fiz a vida inteira – combatendo o governo da presidente Dilma, que vem infelicitando o país. E, agora, o que temos que buscar rapidamente é uma saída para o Brasil, e a saída que queremos para o Brasil não cabe a presidente da República, que perdeu as condições mínimas de governabilidade. O nosso esforço é, em entendimentos, em conversas com as outras forças políticas do Congresso Nacional, e o PMDB em especial pelo papel estratégico que ele aqui exerce – buscarmos um entendimento que apresse a substituição desse governo, seja pelo impeachment, seja por uma outra saída.

Ele está mentindo em relação a presidente Dilma?

Eu não sei, eu não tenho informações. O que posso garantir é que todas essas questões nas quais eu fui referido são velhas, requentadas e absolutamente frágeis, falsas e não se sustentam.

Ele cita uma conversa com o sr.

Sobre CPMI é uma mentira, porque essa conversa – basta ver as datas – ela ocorre mais de dois meses depois da CPMI já ter sido extinta, já ter sido encerrada. O senador Delcídio me pediu, à época, uma audiência, falou da sua candidatura ou pretensa candidatura ao governo do Mato Grosso do Sul, buscando ali algum entendimento com o PSDB, falamos de assuntos do Brasil e absolutamente nada, até porque, repito, ao contrário do que ele faz crer em delação, a CPMI já havia sido concluída com o seu relatório votado e aprovado mais de dois meses antes.

Então não há, a meu ver, o que temer. Ao contrário. Eu quero que isso seja apurado em profundidade, porque eu quero entender as razões que fazem o senador Delcídio, que não é meu aliado, jamais foi meu parceiro em absolutamente nenhuma ação política, possa querer envolver um nome da oposição.

Sobre pedido de impeachment da presidente Dilma.

Só fortalece para mim. A minha determinação hoje é muito maior de ir em frente. O Brasil não aguenta mais esse governo como está. Então essas citações absurdas e laterais, do meu ponto de vista, só aumentam a minha determinação de ir em frente e colocar fim a esse governo.

Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre as eleições em BH

Trechos da entrevista
Como será a sucessão em Belo Horizonte?

Vim ouvir os companheiros. Companheiros não de hoje, mas companheiros de um projeto que transformou Minas Gerais e governou o Estado por 12 anos. É muito bom ver que, mesmo na oposição circunstancial que estamos no Estado, as nossas bases, aqueles companheiros que foram fundamentais, protagonistas das transformações que foram feitas em Minas Gerais estão juntos. O que ouvi foi um sentimento de que devemos estar juntos na eleição municipal. Nosso sentimento é este. Acho que as coisas naturais na política são aquelas que acabam dando bom resultado. Nossa intenção é que nesta aliança possa estar o prefeito Marcio Lacerda, que também é parte deste grupo político. Porque a eleição de Belo Horizonte, além de permitir a continuidade dos avanços que a cidade vem tendo, ela sinalizará de forma muito clara para que possamos derrotar em 2018 o PT e tudo aquilo que ele representa em Minas e no Brasil.

Saio daqui extremamente honrado com as manifestações de apreço e de apoio, mas, sobretudo, de solidariedade política. Esse grupo que aqui está, estará junto agora em 2016 e estará junto também em 2018.

O grupo sairá com um candidato de consenso ou poderá ter mais de um candidato?

As duas alternativas foram colocadas à mesa. Se pudermos construir uma aliança onde todos esses partidos, todas essas importantes lideranças políticas possam estar juntas, tanto melhor. Aqui estão inclusive nomes altamente qualificados para nos representar como candidato a prefeito, como candidato a vice-prefeito. Todos os depoimentos mostram o desprendimento dessas lideranças e a compreensão que elas têm de que o que está em jogo em primeiro lugar é Belo Horizonte, o interesse da população de Belo Horizonte. Ninguém desconhece que Belo Horizonte será observada também pelo Brasil. E esse resultado sinalizará uma reorganização política em Minas Gerais para colocar fim a essa trágica e vergonhosa página da nossa história protagonizada pelo PT.

Qual a dificuldade para encontrar o nome de consenso?

A qualidade dos nomes porque são muitos e de várias forças políticas que aqui se fizeram presentes. A política é isso. O problema que temos é o oposto dos nossos adversários. Nós temos excesso de nomes qualificados. Mas vamos encontrar, a partir de conversas, sem imposição de nenhuma parte. Não há imposição de parte alguma, não há da minha parte, não haverá certamente do prefeito Marcio Lacerda, que é um ator importante nesse jogo. Eu saio daqui convencido de que essa aliança construída não agora, construída a partir de 2002, está mais forte do que nunca. É bom para Belo Horizonte a vitória de alguém que possa dar continuidade aos avanços conquistados por essa administração. Mas, da mesma forma, é muito bom para o Brasil perceber que Minas Gerais está forte e unida para ajudar a derrotar o governo do PT nacionalmente e também aqui, no Estado.

O Lula disse que é candidato e que vai fazer caravana de novo. Como é que o senhor avalia?

Eu não vou entrar nessa provocação. Esse é um momento de muita serenidade. Já disse no último final de semana e repito hoje: é preciso que as lideranças políticas desse país tenham compreensão do momento por qual passamos e não invistam no acirramento dos ânimos. Isso não faz bem ao Brasil, isso não faz bem aos brasileiros. Estamos vivendo a mais profunda crise econômica da nossa história contemporânea, obra do governo do PT. Já com um quadro social dramático para milhões e milhões de brasileiros. Isso somado à crise moral por que passa o país deveria recomendar às lideranças lúcidas que apoiam o governo maior serenidade do que estão tendo nesse instante. A questão do PT hoje, a meu ver, não é a polarização com a oposição. A questão do PT hoje diz respeito à Justiça, cabe ao PT responder às acusações sucessivas que recaem sobre as suas principais lideranças.

Portanto, estamos convidando os brasileiros para o próximo domingo, próximo dia 13, estarem nas ruas mostrando a sua indignação com tudo isso que vem acontecendo com o Brasil, a sua constatação de que a presidente Dilma perdeu as mínimas condições de governar o Brasil, de nos tirar da crise na qual estamos mergulhados. E a saída, para nós, se dará sempre dentro daquilo que prevê a Constituição. Essa manifestação do dia 13 pode ser um indutor muito importante para buscarmos, em benefício dos brasileiros, uma saída para esse impasse no qual o PT nos mergulhou

Sobre ataques feitos por petistas e declarações de Gilberto Carvalho.

O PT, acuado como está, e esse cidadão, mesmo alvo de tantas e graves denúncias, passam a atacar os adversários. Estou pronto para o ataque e não é de hoje. Enfrento o PT, e vocês aqui de Minas são testemunhas disso, há pelo menos duas décadas e sei como eles agem. Sei os métodos que eles usam. Vimos isso na última eleição.

Na verdade o PT tenta voltar seus holofotes, voltar os seus ataques para a oposição. Deveria o PT cuidar de defender-se na Justiça, seja esse cidadão e vários outros que estão sendo acusados dos mais graves crimes. Estaremos, inclusive falarei amanhã, no plenário do Senado Federal, alertando os brasileiros para a tentativa torpe e vergonhosa de ataque às nossas instituições, de ataques à liberdade de imprensa. O que vai nos permitir sair dessa crise são as nossas instituições sólidas, preservadas. Não é o PSDB que vai decidir se a presidente vai sair pelo impeachment, pela cassação do Tribunal Eleitoral, ou se ela vai renunciar.

As instituições, e obviamente em último caso ela própria, é que definirão esse desfecho. Cabe a nós, da oposição, protegermos as instituições e garantir que elas não sofram qualquer tipo de constrangimento, como passou o PT a fazer nesses últimos dias atacando a Lava Jato, atacando o juiz Moro, atacando a Polícia Federal ou atacando o Ministério Público, quando deveria estar dando a resposta que os brasileiros estão aguardando.

Atacando a impressa livre que está ansiosa por ouvir as defesas e as respostas das lideranças do PT. Faremos política. O PT nesse momento deve respostas à Justiça.

Sobre enfrentamento nas ruas dia 13. O PSDB vai reagir?

Eu tenho dito para os nossos companheiros: não vamos aceitar provocações. Acho que é natural que o PT se manifeste, acho natural que eles possam ir para as ruas defenderem as suas bandeiras, mas que façam isso em paz. Essa democracia para a qual eles próprios contribuíram na sua defesa, para a sua retomada, exige de nós nesse momento responsabilidade. Que nós enxerguemos além das nossas circunstâncias, por mais dramáticas que elas sejam hoje para o PT.

No dia 13 os brasileiros estarão pacificamente indo às ruas para dizer o que pensam em relação à atual crise econômica. Tenho certeza de que os movimentos que apoiam o PT, e é legítimo que o façam, poderão fazer a mesma coisa no tempo certo, em outro momento.

Mas eles querem dia 13 também.

Aí já não será uma manifestação. Será uma tentativa de confronto, e obviamente eu espero que as lideranças lúcidas, no campo governista, compreendam que aquilo que atinge hoje o PT não pode ser transferido para a população, para a sociedade brasileira. A sociedade brasileira merece respeito, e respeito significa estarmos nas ruas, defendendo as nossas bandeiras, sem qualquer tipo de provocação. Não aceitaremos provocação, mas não nos intimidaremos. Estaremos nas ruas, defendendo um novo Brasil, um novo governo.

O sr. vai às ruas no domingo?

Estou me programando para participar e vou anunciar até sexta-feira aonde vou. Há uma cobrança para que eu esteja em mais de um lugar neste domingo. Vou anunciar até quinta-feira. Obviamente, a minha responsabilidade e meu coração estimulam que eu venha a Belo Horizonte, mas vou decidir isso até quinta-feira.

Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre o depoimento do ex-presidente Lula à PF

Senado Federal, Brasília

Sobre o depoimento do ex-presidente na Polícia Federal.

O Brasil viveu um momento extremamente grave hoje. Mas não é o momento de comemoração, é o momento de reflexão. E a minha primeira palavra como presidente do PSDB é de absoluto apoio e solidariedade às nossas instituições. A nossa democracia hoje é sólida e capaz de superar as enormes dificuldades por que passa o país porque nós temos instituições sólidas. O Ministério Público trabalha como deve trabalhar, da mesma forma a Polícia Federal, o Poder Judiciário, e isso é essencial. Não para superarmos esse episódio circunstancial, mas para construirmos um futuro para o Brasil.

Essa questão que envolve o ex-presidente Lula deverá ser resolvida no fórum adequado, que são os tribunais, que é a Justiça. Essa não é uma questão eminentemente política, deve ser tratada como uma questão de polícia, inclusive com o amplo direito de defesa do ex-presidente da República. Eu considero um ato de pouca sensibilidade de dirigentes petistas em razão, inclusive, dos episódios que nós já assistimos hoje, de conflitos nas ruas, uma convocação sem uma palavra de serenidade. E a palavra que eu quero transmitir aos milhões e milhões de brasileiros que assistem a esses acontecimentos é de absoluta tranquilidade. De que não aceitem provocações.

Nós temos aqui, enquanto representantes não apenas da oposição, mas de uma parcela extremamente expressiva da sociedade brasileira, garantir que as nossas instituições continuem a fazer o seu trabalho sem qualquer tipo de constrangimento e isso é absolutamente essencial para a democracia. Do ponto de vista político, estamos fazendo o que devemos fazer.

Impeachment

As últimas delações, ou pelo menos indícios de delações que surgem, serão anexadas aos processos que já tramitam aqui na Câmara dos Deputados, no processo de impeachment da presidente da República. Também daremos ciência oficialmente ao Tribunal Superior Eleitoral daquelas denúncias que citam a presidente da República para que, dentro daquilo que prevê a Constituição, o Brasil encontre uma saída. A constatação maior e definitiva que fazemos é que esse governo perdeu a autoridade. Perdeu as condições mínimas de levar o Brasil ao novo patamar de desenvolvimento, portanto, para nós, a saída se dará sempre dentro da Constituição, com paz no Brasil, com respeito ao contraditório, mas, principalmente, blindando as nossas instituições de qualquer ataque que elas venham a sofrer.

Como o sr. avalia a declaração do ex-presidente Lula de que aconteceu hoje um espetáculo, um show pirotécnico?

Eu até compreendo o momento difícil por que passa o ex-presidente, as pessoas que a eles são próximas e seus familiares. Tenho muito cuidado ao fazer juízo de valor numa questão tão delicada como essa, mas o que nos parece a Polícia Federal, o Ministério Público e o Poder Judiciário vêm, até aqui, agindo de forma absolutamente correta, clara, por mais que isso desagrade A ou B.

O que nos parece é que qualquer tentativa ou qualquer palavra que vise se alguma forma inibir o trabalho dessas instituições é uma palavra contra a própria democracia. Portanto, o ex-presidente Lula terá a oportunidade daqui para frente de comprovadamente de apresentar sua defesa às acusações que lhes são feitas. Talvez isso é que tenha faltado hoje: uma palavra mais clara em relação às acusações que lhes são feitas. Eu, pessoalmente, não desejo mal pessoal a quem quer que seja, nem ao ex-presidente da República, mas o que fica claro, cada vez mais no Brasil — e isso é positivo — é de que ninguém está acima da lei.

O clima de provocações pode ser perigoso para as manifestações do dia 13?

Espero que não. Da nossa parte, as manifestações serão absolutamente pacíficas. Manifestações pacíficas são da essência da democracia, seja a favor seja contra quem quer que seja. Eu espero que nós possamos ter no dia 13 os brasileiros mostrando sua indignação com o que vem acontecendo com o Brasil, contra a corrupção, contra o desemprego, contra a ausência de governo. O que nós condenamos e condenamos de forma veemente é a tentativa de insuflar setores da sociedade brasileira ao confronto. Repito: a solução desse impasse será dada dentro das instituições, dentro das regras que a Constituição define. Qualquer caminho lateral terá a mais absoluta condenação, não apenas do PSDB, mas de todos os partidos da oposição.

Considera que os dirigentes do PT insuflaram as manifestações de hoje?

Me preocupou a convocação feita pelo presidente do PT, sem uma palavra sequer de apelo à serenidade, de apelo ao bom senso, à tranquilidade. Essa questão não será resolvida no braço, nas ruas, será resolvida nos tribunais. E o nosso papel exatamente é esse: garantir que as instituições funcionem como vem funcionando, com independência e com coragem. Essa é a página positiva que está sendo escrita na história do Brasil nesse momento. Todos nós passamos, mas as instituições são definitivas.

Eu me lembro muito bem, como ex-Constituinte, dos debates que nós tivemos aqui, profundos, debates extenuantes, para darmos, por exemplo, ao Ministério Público os poderes que ele tem hoje. Lamento, inclusive, que o PT tenha se negado a assinar essa Constituição que representou um grande avanço à cidadania de todos os brasileiros.

Sobre o impeachment, qual vai ser o papel do PSDB?

Recebi, agora há pouco, um telefonema do coordenador jurídico do PSDB, deputado Carlos Sampaio, que está em São Paulo. Está sendo preparado o aditamento das denúncias apresentadas ontem, atribuídas ao senador e ex-líder do governo Delcídio do Amaral, à peça do impeachment. Nós achamos que é necessário que a comissão do impeachment, que deverá ser instalada – e esperamos que o Supremo, o mais rápido possível, permita à Câmara dar andamento a esse processo, que é uma prerrogativa constitucional da Câmara dos Deputados.

Achamos que a comissão deva se debruçar também em relação a essas novas denúncias. Portanto, acreditamos que até terça-feira – porque há necessidade de um registro em cartório que preceda esse aditamento – na terça-feira isso deverá estar sendo feito. Esperamos que o Supremo Tribunal Federal, ao publicar os acórdãos da decisão tomada, possa rapidamente definir ou se manifestar em relação aos embargos propostos pela Câmara dos Deputados.

Qualquer que seja o desfecho, é preciso que a Câmara volte a trabalhar no que diz respeito à discussão do impeachment da presidente da República. E da mesma forma a que me refiro em relação ao Ministério Público, que precisa continuar a fazer o seu trabalho, à Polícia Federal, à Justiça.

Eu me refiro especificamente também à Justiça Eleitoral, que vem recebendo um volume crescente de informações que cada vez mais demonstram que houve utilização de recursos ilícitos, de recursos do Petrolão ou de outras origens ilícitas, para o financiamento da campanha da presidente da República não apenas em 2010, como me parece já constatado. Também no ano de 2014. E o Tribunal Superior Eleitoral também não pode ter qualquer receio de cumprir sua função constitucional, que é avaliar se houve abuso de poder econômico, abuso de poder político, que tenha de alguma forma interferido no resultado das eleições.

O nosso papel, repito, é blindar as instituições, é garantir que elas trabalhem sem qualquer tipo de ameaça e sem qualquer tipo de constrangimento.