A presidente Dilma transformou o Palácio da Alvorada em um balcão de negócios, afirma Aécio

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, reafirmou, nesta quinta-feira (24/9), em Cascavel (PR), que a oposição tem cumprido seu papel com responsabilidade na crise de governabilidade enfrentada pelo governo Dilma Rousseff.

Em entrevista coletiva, Aécio Neves afirmou que o governo federal tem aberto mão de governar em momentos importantes para o país e que a presidente da República transformou acordos com a base aliada do governo no Congresso Nacional em um verdadeiro “balcão de negócios”.

“Ao invés de aproveitar as oportunidades para requalificar a máquina pública, colocar pessoas qualificadas em cada uma das áreas, sobretudo aquelas que dizem respeito à vida cotidiana das pessoas, como a Saúde, a presidente Dilma transforma o Palácio da Alvorada em um balcão de negócios. Está trocando pastas importantes, como a Saúde e a Infraestrutura, por 20, 30 votos na Câmara dos Deputados. Esse, a meu ver, é o fim de um governo que não tem mais um projeto para o país, a não ser a sua própria sobrevivência”, afirmou Aécio.

Ao lado do governador Beto Richa, o presidente nacional do PSDB participou do ato de filiação de 35 prefeitos, 10 vice-prefeitos e diversas outras lideranças tucanas. Antes, em Goiânia, o PSDB recebeu mais de 500 novos filiados. Os dois encontros do partido fazem parte da campanha de filiações realizada desde agosto pelo PSDB em todo país.

Aécio destacou que o PSDB é hoje o maior partido de oposição e, para a maioria dos brasileiros, a principal alternativa para encerrar o ciclo de mais de dez anos de governo do PT.

“Quando se tem uma eleição, alguns vencem e outros perdem. Os que vencem têm a responsabilidade de governar, o que esse governo vem fazendo muito mal, inclusive em alguns momentos se abstendo de fazer, transferindo para o Congresso a responsabilidade de fazer cortes ou gerar receitas que ele não teve a coragem de fazer. Cabe à oposição fiscalizar as ações do governo, denunciar as irregularidades do governo e discutir, no âmbito do Congresso Nacional, as medidas que sejam importantes para o país. É o que nós estamos fazendo, com absoluta responsabilidade”, afirmou o senador.


Privatização da Petrobras

O presidente nacional do PSDB criticou ainda a condução que o governo da presidente Dilma tem feito na Petrobras, que levou a empresa a ser uma das mais endividadas no mundo. Aécio destacou que a privatização da empresa que agora o governo petista propõe tem como objetivo a sobrevivência da estatal, com um endividamento de cerca de US$ 60 bilhões.

“A Petrobras é hoje a mais endividada das empresas no mundo, fora o sistema financeiro. E o que vem ocorrendo é que ela perdeu a capacidade de diminuir esse endividamento. A privatização que está em curso na Petrobras, anunciada por esse governo, é maior do que a privatização de todo setor de telecomunicações conduzido no governo do presidente Fernando Henrique. Curioso que justamente por aqueles que antes nos acusavam de privatistas”, afirmou Aécio.

Aécio Neves – Entrevista em Cascavel (PR)

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta quinta-feira (24/09), em Cascavel (PR). Aécio falou sobre as filiações no Paraná, Petrobras, negociação de cargos federais e oposições.

Leia a transcrição da entrevista do senador:
Quero dizer da importância deste ato para o PSDB que mais do que um partido político é cada vez mais, para a maioria dos brasileiros, a principal alternativa para que possamos encerrar este ciclo perverso do governo do PT, que desmoralizou o Brasil pelo seu descompromisso com a ética, por valores e princípios que nos levou a ter retrocessos na economia e em avanços sociais que não tínhamos visto ainda na nossa história. Portanto, a filiação hoje deste extraordinário número de prefeitos, também de outros vice-prefeitos, vereadores, lideranças da sociedade, da academia, é a demonstração do vigor porque passa o PSDB em todo o país.

Devo sempre uma palavra de agradecimento ao governador Beto Richa pela sua permanente solidariedade ao PSDB, aos seus companheiros e à boa política. Dizia agora há pouco, para nós isso já é visível, mas dentro de pouco tempo, principalmente no ano que vem, o Brasil perceberá que o esforço do governador Beto Richa para reorganizar o Estado, reorganizar o funcionamento da máquina pública, e resgatar as condições de investimento do Estado, fará com que no ano que vem, anotem o que estou dizendo, o Paraná seja o estado brasileiro que proporcionalmente a sua receita maior volume de investimento vai fazer.

Já começamos a assistir estados com a situação fiscal deplorável, atrasando inclusive a folha salarial, outros avançam nesta mesma direção. O esforço que fez Beto Richa, e eu reconheço até incompreendido em determinados instantes, se mostrará a salvação.


Sobre a Petrobras.

A Petrobras é hoje a mais endividada das empresas no mundo inteiro, fora o sistema financeiro. E o que vem ocorrendo é que ela perdeu a capacidade de diminuir esse endividamento. Coloca hoje no seu projeto de privatização, vejam bem que curioso, aqueles que nos acusavam de privatistas, somados todos os ativos da Petrobras que o PT – não por uma visão estratégica da necessidade de parceiro privados, mas para sobrevivência, para diminuir seu endividamento – cerca de US$ 60 bilhões. A privatização que está em curso na Petrobras, anunciada por esse governo, é maior do que a privatização de todo setor de telecomunicações, conduzido no governo do presidente Fernando Henrique.

Sobre negociação de ministérios pelo governo e o PT.

Os jornais de todo país estampam as negociações conduzidas pela presidente da República para diminuir o tamanho da máquina pública, aquilo que ela desdenhava durante a campanha eleitora e agora faz pelas pressões enormes que vem recebendo. Mas, ao invés de aproveitar as oportunidades para requalificar a máquina pública, colocar pessoas qualificadas em cada uma das áreas, sobretudo aquelas que dizem respeito à vida cotidiana das pessoas, como a Saúde por exemplo, ela transforma o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em um balcão de negócios. Ela está trocando pastas importantes como a Saúde e Infraestrutura por 20, 30 votos na Câmara dos Deputados. Esse, a meu ver, é o início do fim de um governo que não tem mais um projeto para o país, a não ser a sua sobrevivência.


Sobre papel da oposição.

Quando se tem uma eleição, alguns vencem e outros perdem. Os que vencem têm a responsabilidade de governar, o que esse governo vem fazendo muito mal, inclusive em alguns momentos se abstendo de fazer, transferindo para o Congresso a responsabilidade de fazer cortes ou gerar receitas que ele não teve a coragem de fazer. Cabe à oposição fiscalizar as ações do governo, denunciar as irregularidades do governo e discutir, no âmbito do Congresso Nacional, as medidas que sejam importantes para o país. É o que nós estamos fazendo, com absoluta responsabilidade. O PT tem uma vantagem em relação ao PSDB e essa é insuperável. É que o PT tem a nós, do PSDB, na oposição, e não ao PT na oposição. O PT que acreditava no quanto pior, melhor, que considerava vício de origem tudo o que vinha do governo, que votou contra o Plano Real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nós estamos discutindo cada matéria, e vamos votá-la com enorme responsabilidade, mas quem foi eleito para governar, para dar solução a essa crise é o governo do PT.

Brasil precisa crescer e controlar a inflação, diz Aécio em sabatina

O candidato à Presidência pela Coligação Muda Brasil, senador Aécio Neves, participou na manhã desta quarta-feira (16) de sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, SBT, portal UOL e rádio Jovem Pan e defendeu a urgente necessidade de retomada do crescimento da economia brasileira, com foco em regras claras e transparentes para não afugentar investidores. Aécio também se comprometeu a retomar o controle da inflação e a adotar uma política fiscal transparente e austera. Confira a seguir os principais assuntos abordados pelo senador na entrevista.

 

Crescimento

Aécio diz que tomará as medidas necessárias para recolocar o Brasil no rumo do crescimento. Em suas palavras, “um crescimento sustentável, com controle da inflação e melhoria dos índices sociais”. Para o senador, hoje estamos imersos num cenário de crescimento pífio, com a inflação ultrapassando o teto da meta, sem que o governo acene de forma clara com medidas que tomaria para reverter esse quadro, que Aécio classificou como “perverso”. Disse o senador: “Nós vamos resgatar a credibilidade dos investidores, com política fiscal transparente e austera. Esse é o caminho de um novo ciclo para o Brasil”. A palavra-chave para isso, segundo Aécio, é previsibilidade. Os investidores querem regras absolutamente claras para trabalhar. “Hoje, a desconfiança do setor produtivo aumenta a cada mês”, afirmou o senador.

 

Retomada da confiança

Para o senador, analistas de dentro e de fora do Brasil afirmam que uma vitória do PSDB será capaz de gerar exatamente o efeito inverso do clima de incerteza que vivemos hoje. “Isso será possível graças à clareza de nossas convicções e à história de quem está do nosso lado”, afirmou. Outra consequência muito importante disso, segundo o senador, será a geração de um ambiente propício para o país registrar um superávit primário verdadeiro, muito diferente daquele que vem sendo obtido nos últimos anos pelo governo do PT por meio de criatividade e manobras fiscais. “Queremos regras claras, para as pessoas percebam exatamente qual é o ambiente que estamos construindo”, salientou Aécio.

 

Aprimorar os programas sociais

O senador garantiu que irá manter e aprimorar os programas sociais que estão dando certo. Na opinião de Aécio, quem não sabe ver virtude nos outros é o PT, que não reconhece, por exemplo, que o Bolsa Família é originário do Bolsa Alimentação, criado no governo FHC. O Bolsa Família, disse o senador, não só será mantido como também será transformado num programa de Estado, para finalmente deixar de ser algo vinculado à agenda eleitoral, como o PT vem fazendo. Segundo Aécio, o programa Mais Médicos também será mantido e aprimorado, porém sem ser tratado como solução para todos os problemas de saúde do país. O senador apresentou dados que mostram a falta de planejamento do governo do PT para a área. Em 2003, a participação do governo federal nos gastos da saúde era de 54%. Hoje essa participação caiu para 45%. Foram fechados 13 mil leitos hospitalares. Portanto, sem trata-lo como salvação da saúde no país, o programa será mantido e os médicos estrangeiros serão bem-vindos. Aécio se comprometeu a dar a eles cursos de qualificação e estabelecer regras novas. No caso específico dos médicos cubanos, compromete-se a pagar diretamente o salário aos médicos, e não ao governo de Cuba.  “Nós não vamos ter que concordar com o governo cubano, eles que deverão concordar conosco.”

 

Inflação alta e crescimento baixo

Na opinião de Aécio, as medidas mais impopulares são as que o atual governo está tomando. “As pessoas mais prejudicadas por essas medidas são justamente aquelas que o governo diz proteger”, afirmou. O senador pontuou que, com a inflação do jeito que está, o aumento real do salário mínimo será de somente 1%. E frisou ainda que a inflação dos alimentos hoje já está na casa dos dois dígitos. Aécio deixou claro que não aceita a tese de que uma das formas de combater a inflação é com o desemprego. Para o senador, isso é uma grande bobagem. “Se fosse assim, na época da hiperinflação teríamos emprego recorde.”

 

Diretrizes de governo

O senador deixou claro que as diretrizes do seu plano de governo são resultado de um trabalho muito amplo, que está sendo feito com a consulta dos mais diversos setores da sociedade, o que propiciou um aprofundamento que é totalmente inédito na história eleitoral brasileira. Para Aécio, nenhuma outra campanha permite antever com tanta clareza o caminho que o candidato irá percorrer depois de eleito.

 

Reformas necessárias

Aécio declarou na sabatina que as últimas reformas importantes no Brasil ocorreram todas no governo FHC. Para o senador, de lá para cá o PT optou pelo adiamento e pelo arquivamento de tudo o que fosse contencioso ou o que contrariasse os interesses de seus simpatizantes. Aécio se comprometeu a discutir as reformas necessárias, a previdenciária, a tributária e a política, com o conjunto da sociedade brasileira. E concluiu dizendo que essa incapacidade do governo de assumir o protagonismo nessas questões precisa acabar.

 

FHC

Na opinião de Aécio, o sucesso do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso possibilitou que o governo Lula existisse e tivesse os indicadores que teve. “O ex-presidente FHC não só vai participar da minha campanha como já está participando. Cito um antigo pensado espanhol, Baltasar Gracián, que dizia que, “se você não pode ter sob seu domínio todo o conhecimento, cerque-se dele”. “Eu tenho me cercado das melhores pessoas”, afirmou o senador.

 

Futebol e Copa do Mundo

Aécio criticou a maneira como a presidente Dilma Rousseff tentou se apropriar politicamente da Copa do Mundo e destacou que ele preferiu assistir ao evento como torcedor. “O que eu vi foi uma tentativa desesperada do governo de tentar de apropriar a qualquer custo do êxito da Seleção”, disse. O senador defendeu a proposta de Lei de Responsabilidade do Esporte e criticou uma vez mais a tentativa de intervencionismo do governo no futebol. Para o senador, se a presidente Dilma criasse a Futebras, essa seria a 14ª empresa criada pelo governo do PT.

 

Questão energética

O senador Aécio Neves criticou o intervencionismo da presidente Dilma Rousseff no setor energético. “Foi uma das coisas mais perversas o intervencionismo da presidente da República num setor que ela dizia conhecer com profundidade. Isso custa hoje ao Tesouro, aos contribuintes, portanto, algo em torno de 30 bilhões de reais. Esse é o custo da desastrada intervenção que tirou capacidade de investimento de um setor essencial para a retomada do crescimento da economia, e a incapacidade de gestão do governo se alinha a esse intervencionismo. O Brasil é hoje um cemitério de obras abandonadas”, afirmou. O senador defendeu a atração de capital para investimento em energia e a exploração de energias alternativas, como a eólica e a biomassa. “O Brasil jogou fora o programa do etanol”, afirmou.

 

Petrobras

Aécio afirmou ter havido muitos equívocos na administração da Petrobras, que levaram a estatal a participar mais das páginas policiais do que das páginas econômicas dos jornais, com escândalos envolvendo a compra da refinaria de Pasadena e o superfaturamento da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.

Ele aproveitou para defender uma administração mais previsível, incluindo na definição a política de preços da gasolina. “Vamos ter regras claras, as pessoas vão saber o que vai acontecer com os preços”, afirmou. O senador também defendeu uma discussão aprofundada com a sociedade brasileira e com especialistas sobre qual o melhor modelo de exploração de petróleo: se o de concessão ou de partilha.

 

Privatizações e meritocracia

Aécio Brasil defendeu que o que precisava ser privatizado já foi privatizado, como os setores de aviação, telecomunicações e siderurgia. E garantiu que ao vencer a eleição irá reestatizar empresas públicas que foram privatizadas por interesses escusos. “A Petrobras vai ser devolvida aos brasileiros”, disse. Ele defendeu a meritocracia no serviço público. “As pessoas não vão ocupar postos no governo em razão da simples indicações ou da baixa qualificação que é a marca desse governo”, disse. E citou o exemplo de Minas Gerais, Estado em que, sob seu governo, passou a ser praticada a análise de desempenho para todo o funcionalismo.

 

Exemplos de Minas

Aécio lembrou das experiências em Minas Gerais que fizeram a saúde e a educação do Estado melhorarem. Graças a elas, Minas tem hoje a melhor educação fundamental do Brasil e um dos melhores índices de saúde do país.

 

Segurança pública

O candidato da coligação Muda Brasil pregou a necessidade de reforma do Código Penal e do Código de Processo Penal.  “O governo federal deve assumir o controle e apresentar ao Brasil uma política de segurança pública. Ouvi uns anos atrás o ministro da Justiça dizer que as nossas cadeias mais parecem masmorras medievais. Passaram três anos do governo, e sabe quanto foi executado do que foi aprovado do Fundo Penitenciário? Sabe quanto foi usado pelo ministro para transformar as masmorras medievais em cadeias minimamente aceitáveis? 10%”, disse o senador.

 

Alianças

Aécio deixou claras as suas diferenças em relação à candidatura do PT dizendo que a aliança que se formou ao redor dele não é por cargos, mas por um futuro do Brasil. “Não tenho cargos a dar, tenho um projeto para o futuro do Brasil”, afirmou.

 

Conceitos políticos

O senador disse que está buscando fazer uma campanha competitiva sem viés ideológico. Para ele, os conceitos políticos de hoje (progressista, conservador, esquerda, direita) são abstratos demais. E provou com o seguinte raciocínio: se houvesse um governo sob o qual o mercado financeiro obteve lucros recordes, e outro que colocou 97% das crianças na escola, as pessoas diriam que o primeiro é de direita, e o segundo, de esquerda. Portanto, concluiu o senador, pelo o que aconteceu na história recente do Brasil, o governo Lula seria de direita, e o de FHC, de esquerda.

‘Nervosinhos’

Ao antecipar o anúncio do cumprimento do superavit primário, na sexta-feira, o ministro Guido Mantega agiu como aquele chefe que gosta de contar uma piada para desanuviar um ambiente carregado. Todo mundo dá uma gargalhada forçada, por obrigação, a reunião termina, as pessoas vão embora, mas os problemas continuam sobre a mesa sem qualquer solução à vista.

Com base apenas em fatos recentes, preparei aqui uma lista resumida de cinco motivos para que o ministro possa entender por que os brasileiros estão “nervosinhos” com a situação da economia.

 

Leia mais: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/aecioneves/2014/01/1393618-nervosinhos.shtml.

Alvo errado

 Artigo da jornalista Miriam Leitão – Jornal O Globo – 31/12/2013

O que arruinou as contas externas este ano foi a importação de gasolina. O Brasil escondeu um déficit comercial alto através de uma conta gráfica que registra exportações não feitas de plataformas de petróleo. Mas o governo decidiu punir quem gasta no exterior com cartão de débito, pré-pago ou cheque de viagem. Os viajantes pagarão um IOF de 6,38%, baixado no penúltimo dia útil do ano.

Quando os governos não sabem o que fazer para lidar com um rombo externo eles sempre atacam o turista, que é considerado culpado por viajar e ceder à tentação de comprar a preços bem menores lá fora. O que o governo fez agora lembra os anos 1980, quando, afundado em déficit, o Brasil limitava o volume de dólares a ser levado pelo viajante ao exterior.

Os brasileiros viajaram muito e gastaram bastante no exterior, é verdade. Foram US$ 23 bilhões gastos lá foram, até novembro, contra US$ 6,1 bi que entraram no país com turistas estrangeiros. Isso gerou um rombo de US$ 16,9 bilhões na conta turismo. Mas o buraco mais sério nas contas externas tem sido causado pela importação de gasolina. O governo incentivou o consumo ao zerar a Cide e segurar o preço. A balança registra até novembro US$ 39,3 bi de importação de petróleo e derivados. Parte disso é combustível do ano passado, que ele jogou na estatística deste ano. Como houve apenas US$ 19,8 bi de exportação, o rombo do setor de petróleo e derivados chegou a US$ 19,5 bilhões no ano.

A balança comercial mergulhou no negativo, do qual só saiu no fim do ano. Mesmo assim, foi daquele jeito: a Petrobras faz a plataforma aqui, exporta para uma de suas empresas no exterior e depois aluga de si mesma. Tudo isso se passa no mundo virtual; na realidade o produto não sai do Brasil, mas entra na estatística de exportação. O truque ajudou a empresa a não pagar alguns impostos, como PIS e Cofins, e evitou que o Brasil tivesse um déficit de quase US$ 7 bilhões na balança comercial, o primeiro da história em 20 anos.

O país gasta exorbitâncias com importação de um combustível fóssil, a Petrobras paga mais caro pelo produto do que pode cobrar das distribuidoras, isso prejudica a estatal e tinge de vermelho a balança comercial. Mas quem é perseguido é o turista, que foi viajar para o exterior com cartão de débito ou cheque de viagem.

O viajante vai pagar imposto mais alto nas compras no exterior, mas a gasolina continua pagando zero de Cide. Isso não faz sentido algum, até porque o produto continuará pesando na balança comercial de 2014.

O imposto vai pesar no bolso de quem viaja, mas o déficit de turismo vai continuar. Muita gente viaja ao exterior porque é mais barato do que viajar dentro do Brasil, pagar as diárias dos hotéis; muita gente compra lá fora porque os produtos brasileiros estão mais caros. Contra isso não há argumento nem imposto. O problema não é que muita gente viaja para o exterior, mas o fato de que o Brasil atrai poucos estrangeiros. Isso é que tem mantido negativa a conta turismo.

O ano foi todo de ajeitar os números para eles ficarem apresentáveis. Houve manipulação de preços públicos para que a inflação ficasse no intervalo de flutuação. Houve liquidação de concessões e privatização no fim do ano para melhorar as contas fiscais. O mês de novembro daria déficit primário se não fosse a venda do campo de Libra e as concessões. Houve queima de estoque de desapropriações para reforma agrária depois que o MST mostrou que o governo só havia feito oito no ano inteiro. Ao assinar 92 no seu último dia de trabalho, a presidente Dilma Rousseff disse: “atingimos a meta de fazer 100 desapropriações.”

Em um ano tão cheio de malabarismos, soa normal culpar o cartão pré-pago e o cheque de viagem pelo enorme rombo que se abriu nas contas externas. Mas não vamos perder a esperança de um ano que vem melhor. Feliz Ano Novo.

 

Leia também aqui.

Pernas pra que te quero

 Artigo da jornalista Miriam Leitão – Jornal O Globo – 13/12/2013

 

Não é por falta de financiamento ao consumo que a economia brasileira não está crescendo. A oferta de crédito reduziu um pouco o ritmo de crescimento, mas permanece se ampliando. Muitos outros fatos travam as pernas da economia: falta de investimento, baixa poupança, erros na política econômica que confundem e aumentam a incerteza no ambiente de negócios.

O clima tem piorado. O baixo crescimento do ano foi confirmado pelo encolhimento no terceiro trimestre; as contas públicas só melhoraram um pouco por receitas que não vão se repetir; a Petrobras continua sob desconfiança, pelo excesso de intervenção estatal na administração da empresa. Mas o ministro Guido Mantega disse que a perna manca da economia é a falta de crédito ao consumo.

As privatizações — ou concessões, se a palavra machuca certos ouvidos — ajudaram o superávit primário no último momento. Mas perdeu-se tempo pela hesitação do governo sobre fazer ou não o que havia prometido em propaganda eleitoral não fazer.

O superávit primário vem minguando, caiu a 1,44% em outubro, e só ganhará sobrevida com os R$ 15 bilhões do leilão de Libra e os R$ 20 bi recolhidos pelo Refis. Essa parte do dinheiro do pré-sal não foi para a educação, os recursos do Refis são dívidas renegociadas e que seriam receitas de futuros governos. Foram antecipadas com enorme desconto e condições mais favoráveis para as empresas. Nada disso resolve os pontos centrais que são o baixo desempenho fiscal e as mudanças casuísticas de critérios contábeis.

Os truques foram tantos ao longo dos anos que a dúvida se espalhou entre os analistas. Até as pessoas que têm que acompanhar esses indicadores hoje já não sabem muito bem o que quer dizer cada número, tantos são os descontos e acréscimos em cada índice. Até os técnicos do Tesouro começaram a demonstrar a irritação. O dano maior das artimanhas fiscais é na credibilidade do Tesouro e do país, então é natural que os funcionários de carreira se rebelem, porque o atual secretário está no cargo de passagem; eles ficarão. A criação do Tesouro foi uma das importantes etapas da estabilização brasileira, processo que exigiu um enorme esforço de aumento da transparência e da criação de regras na contabilidade pública. E é esse patrimônio que está em risco.

Na inflação, vamos chegando ao fim do ano com uma fratura exposta. O acumulado em 12 meses caiu um ponto percentual em poucos meses, como comemorou o presidente do Banco Central, no Senado. De fato, caiu, mas a inflação dos preços livres está em 7,3% e a dos administrados, 0,9%. O governo fala agora até em adiar normas de segurança de veículos — freio ABS e duplo airbag — aprovadas há quatro anos, porque isso elevaria o preço do carro. Essa é a forma mais temerária de controlar a inflação. O mérito do número baixo no índice de preços só vale se ele refletir a realidade.

A enorme distância entre preços livres e administrados fala muito do artificialismo dessa média de 5,77% que fica dentro do intervalo de flutuação mas ainda longe do centro de 4,5%. Uma coisa é certa sobre inflação: nenhum artificialismo é sustentável; a conta sempre chega.

E uma parte já chegou. A Petrobras enfrenta a queda das ações, a descapitalização, desconfiança dos investidores, dificuldade de sustentar o programa de investimentos. O sistema elétrico teve que receber do Tesouro, em 2013, R$ 7 bi para a conta que está compensado a diferença entre o custo e o preço da energia. A balança comercial só não vai fechar no vermelho porque entraram como exportação vendas de plataformas de petróleo da Petrobras para ela mesma, sem que os equipamentos saíssem do país. Será um saldo escritural.

A outra perna que o ministro chamou de “manca” é a crise internacional. O mundo está em crise desde 2008 e não se pode dizer que 2013 foi o pior ano. Pelo contrário, a Europa saiu da desconfiança que se encontrava e os Estados Unidos estão se recuperando. Segundo a OCDE, o Brasil foi o país que menos cresceu no G-20 no terceiro trimestre. Então não é o mundo que explica o que nos acontece.

O ano termina com um desempenho que não empolga ninguém e não é por falta de crédito ao consumo; nem mesmo por causa da crise externa. A economia não vai bem das pernas em parte por decisões erradas do governo. E uma coisa se diga: o governo é persistente. Nos erros.

Leia também aqui.