Aécio se manifesta contrário a pouso de aeronaves de grande porte na Pampulha

O senador Aécio Neves protestou, em pronunciamento no Senado, nesta quarta-feira (25/10), contra a revogação pelo governo federal da portaria que limitava o uso do Aeroporto da Pampulha para operação de voos de longa distância. A nova resolução (Portaria 911) do Ministério dos Transportes autoriza a utilização da pista da Pampulha para voos nacionais, contrariando inclusive posicionamento feito pela própria Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

“Essa decisão apressada, sem lastro técnico, trará prejuízos de uma dimensão imensurável ao desenvolvimento do Estado, em especial do Vetor Norte da capital. Nos próximos dias vamos ao presidente da República para ponderar, a partir de dados técnicos do próprio governo, a impropriedade desta portaria que passa a ser um enorme retrocesso”, afirmou Aécio Neves.

Construído na década de 1930, o terminal da Pampulha tem diversas limitações de uso. A autorização para uso do terminal por aeronaves de grande porte foi debatida no início do ano em audiência pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e trouxe à tona diversos problemas, como riscos à segurança na operação de voos, prejuízos aos moradores da região Norte de Belo Horizonte e perda dos investimentos realizados na ampliação e modernização do Aeroporto Internacional de Confins.

Entre os fatores apontados por técnicos destacaram-se também impacto no preço das passagens com a redução de movimento no Aeroporto Internacional de Confins e dificuldades para conexões.

Confins recebeu investimentos que o tornaram âncora para o desenvolvimento do chamado Vetor Norte da Região Metropolitana. Cerca de R$ 900 milhões foram investidos na ampliação e modernização de infraestrutura do terminal, o único internacional de Minas Gerais, que atende em média 22 milhões de passageiros por ano e possui capacidade para aeronaves de grande porte, voos internacionais e de longa distância.

Pampulha, legado e responsabilidade

Aécio Neves – Jornal Estado de Minas – 23/07/2016

Foi um feito notável. Há uma semana, ao conquistar o título de Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, o conjunto moderno da Pampulha se inscreveu em uma seleta lista de monumentos que, em todo o Brasil, soma apenas 20 nomes. Minas é o estado que reúne o maior número de bens inscritos, o que é revelador da nossa capacidade de fazer história e de gerar uma produção cultural relevante.

A Pampulha merece todos os louros que lhe são conferidos. Com ela nasce a moderna produção arquitetônica e urbanística brasileira, um território vasto de experimentações estéticas e estruturais cheias de vigor, técnica, beleza e conhecimento. Não à toa, ela continua a nos encantar 75 anos depois de vir ao mundo. Ainda hoje, é impossível não se emocionar com aquele conjunto de edificações sinuosas, em diálogo com o espelho d’água: a Igrejinha da Pampulha, o Iate Tênis Clube, o Cassino transformado em Museu de Arte, a Casa do Baile.

Esta explosão de modernidade se deve ao encontro histórico de duas almas destinadas à eterna juventude de espírito: Juscelino Kubitschek, o então jovem prefeito da acanhada Belo Horizonte, e Oscar Niemeyer, o jovem arquiteto carioca que entendeu como nenhum outro o potencial daquela encomenda para a jovem capital mineira. Os dois enxergaram longe. Era preciso romper com o convencional e fazer o que nunca havia sido feito, sem esquecer os ensinamentos de rebeldia que Minas já dera ao país. Anos depois a dupla repetiria o feito em Brasília, plantando uma colossal obra futurista no coração do país.

A Pampulha foi uma aventura, me disse o saudoso Oscar Niemeyer em uma de suas visitas às obras da Cidade Administrativa, um de seus últimos projetos a se concretizar. Era impossível não se apaixonar pelo que ele dizia: “A arquitetura tem de ser bonita, tem de criar surpresa e emocionar”. O mestre se projetou em Minas, fincou aqui uma série de realizações. Entendo que o reconhecimento da Pampulha como patrimônio mundial é também um tributo à dimensão ética e humanista presente na vida e obra de Niemeyer.

Por tudo o que representa como bem arquitetônico e paisagístico, a Pampulha é um legado de inestimável valor para cidadãos de todo o mundo. Para nós, mineiros e belo-horizontinos, este reconhecimento nos enche de orgulho, ao mesmo tempo em que amplia, em muito, a responsabilidade que nos cabe como guardiões desse tesouro.

A conquista do honroso título de patrimônio da humanidade foi fruto de uma mobilização intensa do poder público, em seus vários níveis, e da sociedade civil, que abraçou a causa com fervor. A prefeitura de Belo Horizonte, o governo do estado em várias gestões, o Ministério da Cultura por meio do Iphan, todos deram enorme contribuição para que a Pampulha se qualificasse a um reconhecimento internacional.

Agora, é preciso mais. É preciso conservar, promover e valorizar a Pampulha. Para isso, precisamos falar de meio ambiente, saneamento, urbanismo, cultura e de muitas outras questões que impactam a vida nas grandes cidades. Ao falar da Pampulha, estamos falando de compromissos com o futuro. E a esse legado de responsabilidade não podemos – nenhum de nós –, faltar.