Pampulha, legado e responsabilidade

Aécio Neves – Jornal Estado de Minas – 23/07/2016

Foi um feito notável. Há uma semana, ao conquistar o título de Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, o conjunto moderno da Pampulha se inscreveu em uma seleta lista de monumentos que, em todo o Brasil, soma apenas 20 nomes. Minas é o estado que reúne o maior número de bens inscritos, o que é revelador da nossa capacidade de fazer história e de gerar uma produção cultural relevante.

A Pampulha merece todos os louros que lhe são conferidos. Com ela nasce a moderna produção arquitetônica e urbanística brasileira, um território vasto de experimentações estéticas e estruturais cheias de vigor, técnica, beleza e conhecimento. Não à toa, ela continua a nos encantar 75 anos depois de vir ao mundo. Ainda hoje, é impossível não se emocionar com aquele conjunto de edificações sinuosas, em diálogo com o espelho d’água: a Igrejinha da Pampulha, o Iate Tênis Clube, o Cassino transformado em Museu de Arte, a Casa do Baile.

Esta explosão de modernidade se deve ao encontro histórico de duas almas destinadas à eterna juventude de espírito: Juscelino Kubitschek, o então jovem prefeito da acanhada Belo Horizonte, e Oscar Niemeyer, o jovem arquiteto carioca que entendeu como nenhum outro o potencial daquela encomenda para a jovem capital mineira. Os dois enxergaram longe. Era preciso romper com o convencional e fazer o que nunca havia sido feito, sem esquecer os ensinamentos de rebeldia que Minas já dera ao país. Anos depois a dupla repetiria o feito em Brasília, plantando uma colossal obra futurista no coração do país.

A Pampulha foi uma aventura, me disse o saudoso Oscar Niemeyer em uma de suas visitas às obras da Cidade Administrativa, um de seus últimos projetos a se concretizar. Era impossível não se apaixonar pelo que ele dizia: “A arquitetura tem de ser bonita, tem de criar surpresa e emocionar”. O mestre se projetou em Minas, fincou aqui uma série de realizações. Entendo que o reconhecimento da Pampulha como patrimônio mundial é também um tributo à dimensão ética e humanista presente na vida e obra de Niemeyer.

Por tudo o que representa como bem arquitetônico e paisagístico, a Pampulha é um legado de inestimável valor para cidadãos de todo o mundo. Para nós, mineiros e belo-horizontinos, este reconhecimento nos enche de orgulho, ao mesmo tempo em que amplia, em muito, a responsabilidade que nos cabe como guardiões desse tesouro.

A conquista do honroso título de patrimônio da humanidade foi fruto de uma mobilização intensa do poder público, em seus vários níveis, e da sociedade civil, que abraçou a causa com fervor. A prefeitura de Belo Horizonte, o governo do estado em várias gestões, o Ministério da Cultura por meio do Iphan, todos deram enorme contribuição para que a Pampulha se qualificasse a um reconhecimento internacional.

Agora, é preciso mais. É preciso conservar, promover e valorizar a Pampulha. Para isso, precisamos falar de meio ambiente, saneamento, urbanismo, cultura e de muitas outras questões que impactam a vida nas grandes cidades. Ao falar da Pampulha, estamos falando de compromissos com o futuro. E a esse legado de responsabilidade não podemos – nenhum de nós –, faltar.

Cidade Administrativa Tancredo Neves

Aécio Neves desenvolveu, com recursos da Codemig e projeto de Oscar Niemeyer, um dos mais importantes centros administrativos da América Latina. Unificando a estrutura do Estado, foi possível integrar serviços, reduzir custos operacionais, aumentar a produtividade dos servidores e promover o desenvolvimento da região norte da capital. Em apenas 4 anos, economizou mais de 400 milhões de reais aos cofres públicos.

Aécio Neves lamenta a morte de Oscar Niemeyer

O senador Aécio Neves lamentou a morte do arquiteto Oscar Niemeyer, ocorrida nesta quarta-feira. Em entrevista, em Brasília, Aécio Neves falou sobre a importância da obra deixada por Niemeyer a quem chamou de “um grande brasileiro”

Fala do senador Aécio Neves

“Nos deixou Oscar Niemeyer. Sem dúvida alguma, um dos mais brasileiros, não do nosso tempo, mas de todos os tempos. Niemeyer nos seus 104, quase 105, anos de idade trouxe a marca da coerência e da ousadia. E junto a essas duas marcas a de uma enorme generosidade para com o país. Na sua profissão como arquiteto, inaugurou um tempo novo para o mundo. Existirá arquitetura antes e depois de Oscar Niemeyer. Mas ele sempre foi um homem ligado, sintonizado com as questões de seu tempo e da sua gente. Jamais abdicou das suas convicções e dos seus valores.

Eu me orgulho muito de ter podido, na última fase de sua vida, ter convivido um pouco com Oscar Niemeyer e, de alguma forma, ter contribuído para que exatamente em Minas Gerais – onde ele iniciou sua caminhada ao lado de Juscelino Kubitscheck, construindo o projeto arquitetônico da Pampulha – de alguma forma se encerrasse com a construção da Cidade Administrativa. Minas Gerais se orgulha de estar no início e no final da obra de Niemeyer, dando a ela uma extraordinária moldura.

Darcy Ribeiro costumava dizer que daqui a 200 anos o mundo se lembrará de apenas três brasileiros. Um deles seria Oscar Niemeyer. Os outros dois, dizia Darcy, ele não fazia a menor ideia de quem seriam. Fica a nossa homenagem, o nosso carinho, a nossa saudade a esse grande brasileiro e um pouco mineiro, Oscar Niemeyer.”

Aécio Neves fala sobre a morte de Oscar Niemeyer

O senador lamentou o falecimento do arquiteto. Ele destacou o fato de o início e o fim da de sua trajetória terem sido em Minas – do complexo da Pampulha à Cidade Administrativa.

Aécio Neves: declaração sobre a morte de Oscar Niemeyer

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) lamentou, na noite desta quarta-feira (5/12), a morte do arquiteto Oscar Niemeyer.

“Perdemos um dos mais importantes brasileiros de nossa história.

Não há outras palavras para defini-lo: Niemeyer era simplesmente genial, talento puro, ousadia e inquietude e também inspiração permanente.

No seu trabalho encontramos uma densa brasilidade, expressa pelo movimento, pelas curvas e a fortíssima presença do inédito, do inusitado em contraponto aos padrões e ao óbvio.

A sua obra tem o exato tamanho do autor, que teve uma trajetória exemplar, sempre coerente com suas idéias e convicções. Sempre ao lado do Brasil e dos brasileiros.”

Niemeyer

Tenho o privilégio de conhecer Oscar Niemeyer e tive a felicidade de, quando governador, levar de volta a Belo Horizonte seu legendário traço e seu extraordinário talento, eternizados na realidade que é hoje a Cidade Administrativa, sede do governo de Minas, onde trabalham 16 mil servidores do Estado.

O reencontro de Niemeyer com Belo Horizonte teve, para muitos de nós, o sentido de um reatamento amoroso. E daqueles que valem a pena. Foi na ainda acanhada capital mineira dos anos 40 que o jovem arquiteto começou a dar vazão ao seu potencial de artista muito à frente de seu tempo.

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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/15748-niemeyer.shtml