Geração de energia por hidrelétricas é a menor dos últimos nove anos

Com cerca de quarenta mil megawatts de energia injetados no sistema elétrico em agosto, a geração de energia por meio de hidrelétricas foi a pior dos últimos nove anos. De acordo com informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o resultado mais fraco do que esse só foi registrado em julho de 2005, quando pouco mais de trinta mil megawatts foram entregues. De acordo com o doutor em economia aplicada em energia da Universidade de Brasília (UnB), Juan José Verdésio, a ineficiência do governo em fazer planejamentos a longo prazo é responsável pelos problemas na geração de energia por hidrelétricas.

 

Sonora Juan José Verdésio, doutor em economia da UnB

Pela pressão dos ambientalistas e pela incapacidade do governo de negociar com ambientalistas, cada vez mais, tem sido construído usinas que não tem reservatórios, que ocupa menos e inunda menos, esse tipo de usina chama-se fio d’água. E o tempo meio de reserva atualmente está em três meses, quatro meses. Se faltar água nos próximos três meses não tem como gerar, porque não tem água estocada. Isso criou um problema sério de que, bom de algum lugar tem que criar energia elétrica e está sendo criada de usinas térmicas que são muito mais caras e muito mais poluentes.

 

Para o candidato à presidência da República, senador Aécio Neves, a geração hidrelétrica está no limite e o atual governo não se preparou para outros meios de geração de energia.

 

Sonora Aécio Neves

O Brasil tem hoje, na sua matriz energética, uma participação da matriz hídrica, das hidrelétricas, da energia vinda da água, em torno de 75 por cento do seu conjunto, isso é um privilégio do Brasil, muitos países do mundo gostariam de ter. Mas, nós sabemos que nós estamos no limite das nossas grandes usinas, das nossas grandes geradoras, e precisamos diversificar a nossa matriz. A nossa matriz eólica existe um potencial enorme de crescimento ainda grande no Brasil. Infelizmente, esse governo que pouco planejou ainda nos permite conviver com algo inusitado que são parques eólicos prontos, alguns até se deteriorando, sem que as vias de transmissão possam ligá-los a rede geral de transmissão. Isso é algo absolutamente impensável.

 

Boletim

Redução de energia

Artigo da jornalista Miriam Leitão – Jornal O Globo – 11/04/2014

 

O governo convocou ontem uma reunião de todas as autoridades do setor elétrico para discutir a crise. Eles avaliaram o cenário de ter que iniciar ao final de abril uma campanha de restrição voluntária de consumo de energia, com foco no setor industrial. O ONS orientou formalmente as empresas hidrelétricas para desligarem as turbinas à noite para poupar água nos reservatórios.

Apesar de o governo continuar negando que haja crise de abastecimento, ela tem se agravado. O ONS havia dito em fevereiro que o nível dos reservatórios do Sudeste tinha que estar, ao final de abril, em 43% para evitar o risco de racionamento. Agora, informou que chegará ao final do mês em 36,5%. Ou seja, ficará abaixo do que ele mesmo havia dito que era o limite de segurança. Foi por causa desse número que a reunião foi convocada e foram contatadas empresas eletrointensivas.

Algumas hidrelétricas do sistema Eletrobrás estão seguindo a determinação de desligar as turbinas à noite e liga-las de manhã. Ainda que este seja um procedimento que ocorre de vez em quando, não deve ser feito com essa periodicidade diária. Por isso, a Cemig negociou com o ONS para não ter que cumprir essa determinação. O risco de queima de turbina é muito grande. Outro problema que pode decorrer desse liga-desliga é ambiental: em época de muita produção de peixe, eles acabam se aproximando de área na qual não chegariam se a turbina estivesse ligada. Quando as máquinas são religadas aumenta muito a morte de peixes.

O nível de água na hidrelétrica de Três Marias ficará, segundo as projeções, bem abaixo do ponto a que chegou no pior momento do racionamento de 2001. A projeção é que em setembro pode chegar a 3,5% do volume útil, o que levaria a empresa a ter que desligar as máquinas. Em 2001, chegou a 8,5%.

Há quem diga no setor que Três Marias terá mesmo que parar, desmontar as máquinas, para aumentar a vazão do rio para alimentar o reservatório de Sobradinho.

O governo tem tentado evitar qualquer campanha de redução de consumo para não dar o braço a torcer neste momento pré-eleitoral. O problema é que o nível dos reservatórios torna a cada dia mais difícil adiar alguma racionalização do consumo. A tendência é tentar esse caminho: redução voluntária e com foco no setor industrial, e, principalmente, das que mais consomem energia. Isso pouparia o consumidor e derrubaria ainda mais a indústria.

Se evitar o racionamento este ano com medidas como essa, o país ainda assim chegará ao fim do ano com um nível tão baixo de água nos reservatórios que complicará o início do próximo governo. O grave problema financeiro das distribuidoras causado pelo custo da compra de energia no mercado livre e mais o custo das térmicas não se resolve com o empréstimo de R$ 11,2 bilhões que será tomado de um pool de bancos pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Para se ter um ideia, o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) somado de todas as distribuidoras é de R$ 10 bilhões. Toda a capacidade de geração de caixa das empresas não cobre sequer o preço da energia no mercado de curto prazo. E elas só estão comprando nesse mercado porque o governo geriu mal os leilões de venda e compra de energia, deixando parte das empresas “descontratadas”, como se diz no jargão do setor.

Um dia, todo esse custo será repassado para o consumidor, mas elas têm que carregar esse prejuízo até o repasse. Por isso o governo inventou essa fórmula tortuosa de repassar o dinheiro para elas via empréstimo tomado pela CCEE.

Tudo seria muito mais fácil se o governo tivesse admitido o problema em tempo, iniciado medidas de racionalização de consumo, campanhas de economia de energia. Em vez disso, o governo, para manter a quimera da energia barata como arma de campanha eleitoral, tem elevado os riscos de desabastecimento, e, principalmente, o custo da energia. O governo tenta esconder o fato de que é o consumidor quem vai pagar a conta quando passar o período eleitoral, mas esse já é um segredo de polichinelo.

A falta de chuva foi apenas um dos componentes dessa crise. Ela foi em grande parte causada por erros cometidos pelo governo no gerenciamento do setor elétrico.

 

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