Sobre defesa da presidente Dilma no processo de impeachment

A presidente da República, ao abrir esse balcão de negócios, está se preparando para deixar o governo pela porta dos fundos”, afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, em entrevista coletiva nesta terça-feira (05/04), ao condenar a distribuição de cargos nos ministérios em troca de votos contra o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Aécio considerou que a defesa da presidente feita ontem, pelo Advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, não respondeu sobre o crime de responsabilidade cometido no pagamento de despesas do governo com recursos dos bancos públicos, e lembrou que ele próprio, na campanha eleitoral, cobrou respostas da presidente sobre o uso indevido dos bancos.

“Ontem, na Comissão do Impeachment, o chefe da AGU, ministro José Eduardo Cardoso, disse que não houve dolo, não houve intenção da presidente da República. O que quis dizer o ministro José Eduardo Cardoso? Que a presidente da República é incapaz de saber de saber a extensão dos seus atos. Eu, próprio, em um dos debates eleitorais, disse à presidente da República das pedaladas. Que ela estava utilizando os bancos públicos para pagamento de obrigações do Tesouro. Ela virou de costas. Ela sabia o que estava acontecendo”, afirmou Aécio.

Governo Dilma tenta intimidar TCU porque não tem como justificar as pedaladas fiscais, afirma Aécio

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, classificou nesta terça-feira (6/10) de vil e grosseira a tentativa do governo federal de intimidar o Tribunal de Contas da União (TCU), na véspera do julgamento das chamadas “pedaladas fiscais”, manobra usada pela presidente Dilma Rousseff para esconder o rombo nas contas públicas em 2014.

Aécio e os principais líderes da oposição no Congresso se reuniram com o presidente do TCU, ministro Aroldo Cedraz, para manifestar solidariedade e rechaçar a pressão política contra o tribunal, comandada pelos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do Planejamento, Nelson Barbosa, e pelo Advogado-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams.

“Hoje os presidentes e líderes dos principais partidos de oposição fazem uma visita em defesa do Tribunal de Contas da União, que vem sendo atacado de forma vil e até mesmo grosseira pelo poder Executivo. O que estamos assistindo é uma tentativa de intimidação de uma Corte que tem uma função constitucional e, entre elas, a de julgar as contas da presidente da República. Na ausência de argumentos técnicos aceitáveis, o governo parte para a intimidação”, afirmou o senador Aécio Neves, em entrevista à imprensa após a reunião.

Aécio foi ao TCU acompanhado dos líderes do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima, e na Câmara, Carlos Sampaio; e dos presidentes do PPS, Roberto Freire; do DEM, Agripino Maia; do Solidariedade, Paulinho da Força; dos líderes do DEM no Senado, Ronaldo Caiado, e na Câmara, Mendonça Filho; do líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno; do senador tucano Álvaro Dias; e do deputado federal Arthur Maia, do Solidariedade.


Maquiagem fiscal

A investida contra o TCU começou no domingo, quando os ministros e o advogado-geral da União, ligado à presidente da República, pediram o afastamento do ministro Augusto Nardes, relator das contas do governo no tribunal. Apesar da manobra, o presidente do TCU manteve o julgamento marcado para esta quarta-feira (07/10).

“Esse governo do PT não satisfeito em destruir a economia do país, não satisfeito em mergulhar-nos em uma das mais graves crises sociais da nossa história contemporânea, agora pretende solapar as nossas instituições com as ameaças que faz ao Tribunal de Contas. Não permitiremos que isso ocorra”, defendeu Aécio.

O presidente nacional do PSDB afirmou ainda que o advogado-geral da União lidera a operação de intimidação contra o TCU e tem se notabilizado pela defesa de ilegalidades cometidas pelo governo federal, agindo como um advogado da presidente Dilma Rousseff. Aécio criticou o governo petista por politizar um julgamento de natureza técnica.

“A politização veio exatamente do governo federal, da AGU. O advogado-geral há muito deixou de ser advogado-geral para ser um assessor político da presidente da República, inclusive atacando a oposição. Estamos assistindo talvez à mais triste página na história da Advocacia-Geral da União. O advogado-geral deve tradicionalmente aconselhar o presidente da República para que os seus atos tenham a garantia da legalidade. O que estamos assistindo é o advogado-geral defender, de forma permanente e reiterada, ilegalidades”, afirmou o senador.

Papel das oposições

Aécio ressaltou que o papel das oposições neste momento é garantir a independência do TCU e de outras instituições que investigam casos de corrupção no governo federal e na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. O TSE decide hoje a abertura de investigações sobre os recursos usados na campanha eleitoral da presidente Dilma. O pedido de investigação foi feito pelo PSDB à Justiça eleitoral.

“O nosso papel é blindar as nossas instituições. Seja o Tribunal de Contas, seja o Tribunal Superior Eleitoral que, hoje à noite, deve retomar o julgamento de uma ação investigativa em relação às contas da presidente da República. Nós, da oposição, não vamos definir qual será o desfecho dessa crise, mas o nosso papel é garantir que as nossas instituições funcionem na sua plenitude, que ajam com independência, que ajam com a coragem que têm agido até agora”, ressaltou.

Aécio Neves – Entrevista sobre a Petrobras e o governo federal

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta sexta-feira (20/02), em Brasília. Aécio criticou as declarações da presidente da República, Dilma Rousseff, sobre o esquema de corrupção na Petrobras. O senador também falou sobre a instauração de uma nova CPI da Petrobras e corrupção no governo do PT.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Depois de um conveniente silêncio que durou cerca de dois meses, certamente para se distanciar das medidas econômicas tomadas pelo seu governo, e que na verdade eram uma negação de tudo aquilo que a presidente dizia durante a campanha eleitoral, a presidente reaparece, parecendo querer zombar da inteligência dos brasileiros ao atribuir o maior escândalo de corrupção da nossa história, patrocinada pelo governo do PT, a um governo de 15 anos atrás. Na verdade, parece que a presidente volta a viver no país da fantasia que conduziu a sua campanha e que tanta decepção trouxe inclusive aos seus eleitores.

O PSDB não tem qualquer receio de que se investigue o que quer que seja, mas bastaria uma leitura no depoimento do sr. Pedro Barusco, ao qual ela se refere, que veremos lá que ele afirma que sim, que teve um entendimento com um dirigente de uma empresa holandesa e se beneficiou, se beneficiou individualmente desse entendimento, recebendo durante algum período uma propina, que transferiu depois para uma conta em seu nome pessoal na Suíça.

Pois bem, se a presidente da República, e essa é a questão central que quero trazer aqui hoje, dá crédito às declarações do sr. Pedro Barusco, e nós damos créditos sim a todas as declarações dele, é preciso que ela dê crédito e venha a público dizer o que acha do centro do seu depoimento, onde ele afirma que US$ 200 milhões foram transferidos para do PT durante esses últimos 12 anos. Boa parte disso entregue diretamente ao tesoureiro do seu partido, aliás o que eu já denunciava durante a campanha eleitoral. Na verdade, esse assunto é de extrema gravidade e não é possível que a presidente da República o trate de forma tão simplista e, a meu ver, tão incorreta.

A grande verdade é que existem dois sentimentos hoje no Brasil. Um, da metade dos brasileiros que votaram na presidente da República, de frustração, de vergonha por verem que foram enganados pelo discurso da então candidata. E outro, de indignação crescente, daqueles que já compreendiam que o governo do PT faz muito mal ao Brasil.

 

Sobre a CPI da Petrobras, o ministro Cardozo disse que está só esperando um convite. O PSDB vai se posicionar em relação a isso?

Provavelmente este convite chegará logo. O líder Carlão [Carlos Sampaio], que aqui está, pode falar sobre isso. Ontem conversamos um pouco sobre a estratégia das oposições na CPI. Outras convocações serão feitas. E queremos sim que essa CPI cumpra com o seu dever, o que não aconteceu com a última CPMI.  Acho que os fatos novos que já vieram à tona, e outros que estão por vir dão a essa CPI o combustível necessário para aprofundamento das investigações. E certamente, já que há essa disposição pessoal do ministro, ele terá oportunidade de prestar esclarecimentos no Plenário da CPI.

 

O que o sr. acha da interferência do ex-presidente Lula, das empreiteiras indo buscá-lo para tentar resolver o problema delas.

Eu custo crer que isso possa ser verdade. Porque é algo tão acintoso à própria democracia. Um país onde as instituições são sólidas e funcionam de forma absolutamente autônoma e independente. Recorrer a um ex-presidente como se o Brasil fosse uma republiqueta, onde a interferência política pudesse mudar o rumo de investigações, é desconhecer a realidade de um país que, se não avançou nos seus procedimentos éticos em razão do que aconteceu nos últimos 12 anos, felizmente, isso é algo que devemos saudar, avançou do ponto de vista das solidez das suas instituições. Temos um Ministério Público que atua de forma autônoma. Temos uma Polícia Federal que investiga, ao contrário do que gosta de dizer a presidente, não por sua determinação, mas para cumprir a sua responsabilidade constitucional. E cabe a nós, políticos, estarmos vigilantes para impedir que haja qualquer manipulação ou qualquer tentativa de politizar algo que deve continuar caminhando estritamente na esfera judicial e, obviamente, policial.

 

O sr. defenderia a ida eventual do ex-presidente Lula à CPI, como outros líderes da oposição defenderam hoje de manhã?

Não vou tomar iniciativa individual nessa direção, mas a CPMI tem que estar aberta a todas as possibilidades. Vamos atuar em conjunto com os partidos de oposição. Há um entendimento nosso, coordenado pelo líder na Câmara, deputado Carlos Sampaio, que pode falar um pouco mais sobre isso, no sentido de termos uma atuação ordenada, conjunta e com uma estratégia muito bem traçada porque, como você sabe, somos minoria na Comissão, não temos os postos de comando na Comissão. Mas certamente podemos, amparados na realidade dos fatos, nas informações e, sobretudo, com o apoio da opinião pública, fazermos com que essa CPI efetivamente funcione.

 

Voltando às declarações da presidente Dilma, o sr. vê nelas uma tentativa de retirar a responsabilidade desse governo em relação à corrupção?

Provavelmente, essa declaração é fruto das últimas conversas que ela teve com seu marqueteiro. A presidente, mais uma vez, tenta levar os brasileiros à ilusão de que vivemos em um país que não é real. Porque, no país da presidente, funcionários da Petrobras, em entendimento com dirigentes de empresas privadas, fizeram uma grande articulação para lesar o Estado contra os interesses dos governantes, contra o interesse daqueles que indicavam os diretores da Petrobras. Nada mais falso. Tudo isso aconteceu de forma institucionalizada. Olha, quem diz não sou eu. Quem diz são os depoimentos, são os delatores porque isso beneficiava um projeto de poder. Era a hora sim – e falo isso de forma muito franca – da presidente da República fazer a sua mea culpa, olhar nos olhos dos brasileiros e dizer que o seu governo errou, e errou muito. Errou na condução da economia, errou durante a campanha eleitoral ao pregar a mentira, o terrorismo como arma de campanha, e errou principalmente no seu comportamento ético. Enquanto não houver a mea culpa do governo, os brasileiros continuarão a se sentir iludidos e lesados pela presidente da República e pelo seu governo.

 
O sr. acha que há um desespero da presidente Dilma e do PT diante dessas denúncias de US$ 200 milhões?

Nada muda a realidade dos fatos. Confesso que me surpreendi muito com a superficialidade do diagnóstico da presidente da República, sem em nenhum momento fazer referência à parte mais contundente do depoimento do sr. Pedro Barusco. Eu, como presidente do PSDB, acredito sim que ele fala a verdade, até porque em uma delação você tem que falar a verdade e comprovar. Acredito que ele, no governo do PSDB, por iniciativa própria – e é ele quem diz – fez sim o entendimento com o dirigente de uma empresa à qual havia beneficiado e recebeu uma propina individualmente, transferida para uma conta em seu nome. Isso é triste, é lamentável, e ele será punido também por isso. Mas o que é grave, o que estamos assistindo no Brasil é o que jamais havia acontecido na nossa história. É a institucionalização da corrupção em benefício de um projeto de poder. E se o senhor Pedro Barusco tem credibilidade, segundo a presidente da República, para dizer o que fez em 1997 e 1998, é preciso que a presidente da República e o governo deem credibilidade ao que ele disse que fez ao longo dos últimos 12 anos.

Sobre ordem do ministro da Justiça para investigar delegados

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, criticou, nesta sexta-feira (14/11), em São Paulo, a decisão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de investigar os delegados da Polícia Federal que se manifestam contrariamente ao atual governo e em favor da oposição. Para ele, há cerceamento à liberdade de expressão. Aécio recomendou que Cardozo se preocupe em apurar as irregularidades de dirigentes dos Correios e da Petrobras.

Aécio condena ordem de Cardozo para investigar delegados que criticaram o governo

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, criticou, nesta sexta-feira (14/11), em São Paulo, a decisão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de investigar os delegados da Polícia Federal que se manifestam contrariamente ao atual governo e em favor da oposição. Para ele, há cerceamento à liberdade de expressão. Aécio recomendou que Cardozo se preocupe em apurar as irregularidades de dirigentes dos Correios e da Petrobras.

Quero aqui também manifestar a minha absoluta incompreensão em razão de uma atitude tomada pelo ministro da Justiça que abre o inquérito para investigar a posição individual e política de delegados da Polícia Federal. Isso é inaceitável. É retirar de uma categoria de servidores públicos, o direito constitucional à livre manifestação”, afirmou Aécio.

Para Aécio Neves, a decisão de Cardozo é a demonstração que o governo do PT quer impedir a liberdade de expressão dos funcionários públicos. “Como se quisesse dizer que funcionários públicos só podem se manifestar a favor do governo.  Isso é absolutamente inaceitável”, afirmou.

Aécio Neves prestou apoio e solidariedade aos delegados federais, que agora serão investigados, por suas manifestações críticas. “Quero aqui também manifestar a minha absoluta solidariedade a esses delegados da Polícia Federal”, afirmou. “É absolutamente incompreensível esta ação [do ministro da Justiça] porque eles [os delegados] se manifestaram, segundo tive notícias pelos jornais, em favor da nossa candidatura, em suas redes pessoais e privadas.”

 

Corrupção

O senador lembrou que estão em curso várias investigações sobre o envolvimento de dirigentes dos Correios em ações políticas, contrariando a ética pública. “Deveria o ministro da Justiça estar atento ao que fizeram, por exemplo os dirigentes da companhia da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos”, afirmou.

Para Aécio Neves, Cardozo deveria se preocupar também com as denúncias cada vez mais intensas relacionadas aos desvios envolvendo a Petrobras. “Deveria o ministro da Justiça se preocupar com servidores da Petrobras ou dirigentes da empresa envolvidos no maior escândalo de corrupção da nossa história”, disse.

 

Ordem

De acordo com a imprensa, o ministro da Justiça afirmou que a corregedoria da Polícia Federal investigará delegados que atuaram na operação Lava-Jato e criticaram nas redes sociais o PT a presidente da República e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, a intenção é verificar se houve alguma ilegalidade nos atos dos servidores.

ENTREVISTA – “Para o PT, o Bolsa Família é o ponto de chegada. Para nós, é o ponto de partida”

O senador do PSDB Aécio Neves pediu mil desculpas pelos poucos minutos de atraso para a entrevista ao EL PAÍS, na sede do partido em Brasília. De sorriso generoso, o neto de Tancredo Neves, personagem símbolo da redemocratização brasileira, respira política desde que nasceu. Talvez por isso fale com naturalidade quando questionado sobre seus índices ainda baixos nas pesquisas eleitorais para a presidência da República. Pelo mais recente levantamento do instituto de pesquisa Datafolha, ele tem 19% das intenções de voto, enquanto a presidenta Dilma Rousseff, 47%.

Eduardo Campos, do PSB, que tem a ambientalista Marina Silva como vice, teria 11% das preferências. “Mais de 60% da população quer mudar tudo. Quando um de nós, e espero que seja o candidato do PSDB, mostrar como combateremos a inflação, como vamos cuidar da educação etc., haverá o casamento entre a expectativa de mudança com o candidato”, avalia o senador. A calma, entretanto, só fica suspensa quando o assunto é o pingue-pongue que se estabeleceu com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre as investigações do esquema de subornos nas licitações do metro em São Paulo, administrado pelo tucano Geraldo Alckmin. O PSDB entrou com uma representação na Comissão de Ética contra Cardozo. “Esse processo foi mal conduzido. O que fizemos foi dizer: “Alto lá”.

Pergunta: Os eleitores de menor poder aquisitivo só enxergam que a renda melhorou. Como o PSDB vai convencer esse grupo de que é preciso mudar e votar no seu partido?

Resposta: Nos últimos seis meses, fui a mais de seis Estados e conversei com as pessoas. Há uma percepção crescente, de que as expectativas que temos do futuro não são as mesmas lá de trás. Nas últimas eleições municipais, no ano passado, isso ficou claro. Nas principais capitais mais pobres do Norte e do Nordeste, nós ganhamos do governo: Salvador, Aracaju, Teresina, Maceió, Belém e Manaus. Onde há, inclusive, o Bolsa Família, que foi o grande instrumento eleitoral do governo, iniciado por nós. Há a percepção de que a população espera mais do governo, coisas que ele não entrega. Do ponto de vista educacional, temos média de escolaridade pior que o Paraguai. Não avançamos nas questões essenciais. Resumindo: não é algo fácil. Mas quando tivermos a oportunidade de falar, num debate, mostrar que as principais conquistas dos últimos dez anos, como o controle de inflação, a credibilidade do Brasil, tudo isso começa a se perder, a percepção vai chegar às pessoas.

P. As pesquisas captam esse desejo de mudança. Mas, não parece que a oposição capitalize esse sentimento. O senhor teve dois mandatos em Minas Gerais reconhecidos. Mas, como senador, não se projeta em nível nacional.

R. Concordo que o sentimento é real, e não há, ainda, a apropriação desse sentimento por nenhum candidato de oposição. Em Minas Gerais temos uma margem de aprovação muito grande, em comparação à presidenta da República, onde conhecem nosso trabalho. Em 2009, véspera do ano eleitoral de 2010, o sentimento do Brasil era de continuidade. Economia crescendo, emprego crescendo, etc. José Serra tinha 38%, Dilma tinha 17%, e Marina, 6%. A então candidata Dilma só foi encostar e ultrapassar Serra no final de julho do ano de eleição, porque aí ela teve visibilidade, encarnou o sentimento da continuidade. Eu não tenho a menor expectativa que haja espaço para crescimento (da intenção das pesquisas), antes de haver o espaço para debater. O que é sólido, hoje: mais de 60% da população quer mudar tudo. Quando um de nós, e espero que seja o candidato do PSDB, mostrar como combateremos a inflação, como vamos cuidar da educação, como faremos os serviços públicos funcionarem, como vamos tratar o setor privado – como parceiro e não como adversário – haverá, com alguma naturalidade, o casamento entre a expectativa de mudança com o candidato. Mas isso vai acontecer a partir da metade do ano que vem.

P. O senhor não acha que a mesma pessoa que deseja mudança tem a sensação que a única coisa que une a oposição hoje no Brasil é a rejeição a Lula? Que a oposição não tem um programa, e faz uma oposição elitista?

R. Esse estereótipo existe em relação ao PSDB. Mas, temos uma história extraordinária. Talvez, tenhamos errado muito na nossa comunicação nas últimas eleições. Um dos meus maiores esforços, desde que assumi a presidência do partido, foi resgatar o nosso legado, pois boa parte do que tivemos em termos de avanço no país foi em função do que ocorreu durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Estabilidade da moeda, privatizações, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o início de programas de transferência de renda. Mas, nós não nos apropriamos eleitoralmente disso. Talvez por equívoco, ou por opção, não importa. FHC deixou entre Bolsa Alimentação, Bolsa Escola, Vale Gás, e outros, 6,9 milhões de beneficiados. Hoje temos cerca de 13,5 milhões de beneficiados do Bolsa Família. O presidente Lula foi beneficiado pela herança bendita do FHC, mas ela se exauriu. Lula teve duas virtudes. Uma foi manter, por um bom período, os pilares macroeconômicos fundamentais, flexibilizados no final de seu governo, e também durante o governo Dilma. O outro, foi a unificação e aprofundamento de programas de renda. A face negra disso é o uso eleitoral, de forma leviana. Chegam perto das regiões mais pobres e dizem que o PSDB vai acabar com o Bolsa Família (BF). Até o ex presidente Lula disse recentemente: os adversários do BF estão de volta.

P. E o Bolsa Família torna-se política de Estado com o senhor?

R. O Bolsa Família está enraizado. Mas, há uma diferença entre o PT e a gente. Para eles, o BF é o ponto de chegada. Para nós, é o ponto de partida. O Brasil não pode viver exclusivamente desse benefício. Um pai de família não pode querer deixar de herança para o seu filho um cartão do BF. O PT se contenta com a administração diária da pobreza. E nós queremos a superação da pobreza. E aí é educação, educação, educação. Eu propus que todo trabalhador que assinar a carteira, receba o benefício por mais seis meses. A lógica do governo é inversa à racionalidade. Ele quer comemorar um milhão de famílias a mais no BF. Eu quero comemorar um milhão de famílias a menos porque se incorporaram ao mercado de trabalho.

P. Como o PSDB vai passar essa mensagem para a população, quando se mostra dividido, com José Serra, fazendo a guerra por sua conta, e a gestão de São Paulo, muito chamuscada por escândalos e possível corrupção?

R. A unidade do PSDB é o principal combustível que temos para mais adiante termos chances eleitorais. Vamos chegar lá. É legítimo que o companheiro Serra tenha suas pretensões, ele tem uma história política respeitável. Mas, as últimas conversas que temos tido apontam na direção da unidade, pois acima de qualquer diferença que tenhamos, há um projeto em comum, que é terminar com o ciclo do PT e iniciar outro, ético, eficiente, meritocrático. O PSDB também passa por uma mudança geracional. Temos 25 anos de partido, e é natural que haja uma mudança. O PSDB governa hoje 52% da população, e 54% do PIB brasileiro. Não esperem do PSDB nas próximas eleições a mesma postura defensiva que tivemos nas últimas três. Estamos resgatando nosso legado, até pra mostrar que parte dos avanços, sem negar o papel do presidente Lula, mas olhando par ao futuro.

P. Educação foi frustrante tanto com o PSDB, que adotou a política de aprovação automática dos alunos, quanto com o PT. Como fica o projeto que está no Congresso, de dobrar o investimento de 5% para 10% do PIB? E como melhorar a gestão do dinheiro?

R. Discordo da primeira parte. Num momento do Brasil saindo de uma inflação de quatro dígitos, o governo FHC teve o grande mérito da universalização do acesso. Quando ele saiu do governo, 97% das crianças estavam na escola. Com o PT, era hora de ganhar na qualificação. Nós queremos chegar, gradualmente, a 10% do PIB em educação. Mas, não adianta apenas investir, tem de qualificar. E Minas Gerais é referência para o Banco Mundial, inclusive com os contratos de metas de médias escolares para cada município mineiro. Daí se assinava um documento, com a superintendência de educação, e o governador também assinava. Pois se essa nota chegasse ao estipulado, os envolvidos ganhavam o décimo quarto salário. Todo mundo ficava envolvido naquilo. As professoras e pais de alunos, etc, se reuniam no final de semana, e davam reforço para os alunos. É o melhor? Não sei, mas é o caminho que achamos para otimizar o caminho.

P. O governo atrela aumento de gasto a royaltie de petróleo.

R. Votamos a favor dessa proposta, mas isso ainda é um terreno na Lua. É coisa do governo marketeiro. Eu, pessoalmente, preferia que se constituísse um fundo, e que o rendimento do fundo financiasse a educação. Até que esses recursos possam vir, é preciso, pois eles só farão diferença daqui a dez anos. E para fiscalizar o uso de recursos de educação, é preciso uma Lei de Responsabilidade Educacional, onde haja metas estabelecidas. Não vejo o Governo do PT encarar isso. Com crescimento de renda e pleno emprego, a sensação é positiva. Mas esse é o momento de enfrentar contenciosos. Eu não quero que o Brasil seja o país do pleno emprego de dois salários mínimos. Eu me pergunto: Para que o PT quer um novo mandato? De 2008 para cá deveríamos ter criado um ambiente estável, para tonar-nos mais competitivos. Nós assustamos os investidores. Os próximos quatro anos serão muito duros para o Brasil, e por isso mesmo precisamos de um governo rígido.

P. Quando o senhor diz que os próximos quatro anos serão muito duros, passa a sensação de que a recessão está logo ali, virando a esquina. Há quem diga que o Brasil está como a Espanha em 2008, com o governo negando a crise e a crise chegando? O senhor acredita nisso?

R. Acho que em parte, sim. Tenho receio que a marolinha de 2008 vire um tsunami lá na frente. Tenho conversado com muitos agentes econômicos. A situação será dura, não dá para enfrentá-la com paliativos, mas acredito que a chegada do PSDB ao governo permitirá uma reversão de expectativas. O PT veio flexibilizando os pilares da economia e usando instrumentos microeconômicos, como a desoneração tributária, para resolver questões macroeconômicas. Capitalização do BNDES, por exemplo, é via Tesouro. O governo FHC tirou esqueletos dos armários. O governo do PT os enche com novos esqueletos. Aportes no Tesouro passaram de 14 bilhões de reais, há seis anos, para 400 bilhões de reais. Hoje, 400 prefeitos em Minas quase não têm dinheiro para pagar salário. O Governo federal entrava com 56% dos conjunto de investimentos em saúde. Passados dez anos, só entra com 45%. Quem complementa essa conta? Os municípios. O mesmo em segurança pública. A situação é grave, mas o país felizmente tem instituições sólidas. Os últimos fatos (com a prisão dos réus do mensalão) trouxeram um sentimento de que a impunidade não vai prevalecer. Temos imprensa livre, que no que depender de nós, será permanentemente livre. Apesar dos ataques do governo atual, à liberdade de imprensa. Num viés que devemos acompanhar com atenção, pois aproxima setores do PT ao que já assistimos, infelizmente, na Venezuela, e na Argentina. Mas temos democracia sólida, que passou por percalços, afastou um presidente por corrupção, e que prende hoje pessoas que cometeram crimes.

P. A presidenta Dilma Rousseff deu uma entrevista ao El PAÍS que gerou bastante polêmica por ter antecipado a revisão do PIB de 2013.

R. A presidência atua para minar credibilidade de instituições de estado. Constrange o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – responsável pela divulgação do PIB – ao antecipar um resultado que não deveria sequer ter ainda. Nós todos comemoramos a revisão do PIB para cima, mas é uma demonstração que o Governo não tem limites de estruturas de estado. São informações de Estado, e não de Governo. Isso tem efeito na economia.

P. O PSDB capitaliza imagem de um partido mais austero, mas, vocês também têm esqueletos no armário da corrupção, com o mensalão mineiro e os escândalos de suborno no metrô em São Paulo. Como vão lidar com isso?

R. O PSDB não tem, em campo algum, medo do debate com o governo. Nem no econômico, nem no social, nem no ético. Por mim, o chamado mensalão mineiro deveria ter sido julgado há muito tempo. Até porque de mensalão não tem nada e o processo vai demonstrar isso. Ali houve financiamento de campanha. E se houve deslize ou crime, (as pessoas) têm de ser punidas exemplarmente e ponto final. Não faço julgamento prévio. Sobre o caso de São Paulo, eu tenho respeito enorme pela conduta ética dos ex-governadores Mário Covas, do José Serra e do (atual) Geraldo Alckmin. Há uma acusação, de um cartel, e se demonstrarem que algum agente político está envolvido, que seja punido. E se tem alguém ligado ao PSDB, que não apareceu até agora, que seja punido também. Diferentemente da reação do PT no caso mensalão, não vamos considerar um crime político quem usou dinheiro público indevidamente.

P. O PSDB em São Paulo vai processar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por ele ter encaminhado o relatório sobre o esquema da corrupção no metro à Polícia Federal. Mas não seria esse o papel dele?

R. A meu ver, não cabe encaminhar um documento adulterado para a Polícia Federal. Queremos que a investigação aconteça, mas algo com uma grosseira falsificação, ser vazado, por quem detinha o documento… Sem que houvesse qualquer operação da polícia. Delegados dizem que receberam informações do Conselho de Administração do Direito Econômico (Cade), e depois de um silêncio de dois dias, o ministro diz que foi ele quem mandou o documento, não acho que seja comportamento adequado. Faltou cautela.

P. Eu vi os documentos (publicados na imprensa). Onde entra a falsificação?

R. Então você deve saber melhor do que eu. Queremos só que a investigação ocorra com isenção. O papel do partido é cobrar que a investigação seja feita. Mas os instrumentos de Estado não podem ser utilizados em defesa de um projeto partidário. Esse processo foi mal conduzido. O que fizemos é dizer: “Alto lá”.

P. A Suíça, semanas atrás, arquivou uma investigação que corria sobre propinas pagas pela Alstom a funcionários de São Paulo, porque o procurador da República, que deveria ter encaminhado os documentos, não os enviou como deveria.

R. Não conheço esse processo.

 

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