Pronunciamento em aparte ao pronunciamento do senador Romero Jucá

O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, fez aparte ao pronunciamento do senador Romero Jucá, novo presidente do PMDB, no plenário do Senado Federal, nesta terça-feira (05/04).

Confira o pronunciamento do senador:

Vossa Excelência lembrava, no início do seu pronunciamento, algumas decisões que o PMDB tomou, lá atrás, de absoluta e decisiva relevância para consolidação do nosso processo democrático, para os avanços contidos na constituição de 1988, dentre tantos outros. Mas Vossa Excelência voltou ao ano de 2014, e aqui fazia referências a uma decisão tomada em convenção pelo PMDB, que decidiu pelo apoio e pela composição da chapa com o PT. Obviamente, como candidato adversário do PT naquele instante, não comemorei essa decisão, até pelos laços históricos e antigos que sempre cultivei e cultivo com o PMDB. Mas não me lembro, naquele instante, de críticas tão ácidas como as que são feitas hoje a dirigentes do PMDB por aqueles que foram beneficiários daquela decisão. Uma decisão certamente legítima, uma decisão democrática que teve o nosso mais absoluto respeito. Mas não há nada, senador Jucá, não há nada mais grave para um partido político, principalmente um partido das dimensões e da expressão do PMDB, do que ficar alheio, do que virar de costas para o sentimento daqueles que o transformaram nesse grande partido.

Eu, como Vossa Excelência, aqui afirmo também não sei a posição que o PMDB irá tomar nesses fatos ou nesses episódios que nos aguardam. Espero que seja pela virada de página no país. Espero, e espero como brasileiro, que seja um gesto de absoluta coragem para dizer que o Brasil não merece viver mais dois anos e oito meses dessa absoluta paralisia que tomou conta de todos os setores da vida nacional. Não sei a posição formal oficial que o PMDB tomará em relação ao impeachment, mas sei qual a posição do PSDB, e aqui aproveito o pronunciamento de Vossa Excelência para externá-la mais uma vez.

O PSDB não é beneficiário direto do processo de impeachment da senhora presidente da República, mas o PSDB tem responsabilidade para com esse país. E, como jamais faltou ao longo da sua história, não faltará mais uma vez ao Brasil. Vi aqui as homenagens que faz o ilustre senador do PT ao meu conterrâneo, o grande e ilustre presidente Itamar Franco, que teve aqui a sua conduta, mais uma vez, reverenciada. Recolho, como mineiro, essas homenagens e as agradeço. Mas elas vêm tarde. Homenagem melhor teriam feito os petistas à honradez, à dignidade do presidente de uma transição, que era o presidente Itamar Franco, se não lhe tivessem negado apoio, se a ele não tivessem virado as costas porque mais uma vez privilegiavam o seu próprio interesse e o seu projeto de poder. Não faremos isso.

Internamente, o PSDB discute – e discute em profundidade, seja o resultado favorável ao impeachment ou não – qual papel devemos desempenhar. Ele será sempre o mesmo: na defesa de valores e de um projeto novo para o Brasil. Ontem, presidente Romero Jucá, eu ouvi, e não posso deixar, com alguma surpresa, a defesa que fez o advogado-geral da União, indicado pela presidente da República para representá-la na comissão do impeachment. Numa longa explanação, com a competência de sempre, o ministro José Eduardo, fez duas observações – e a elas ele deu enorme ênfase – me chamaram atenção. Ele falava que não há dolo. “Como pode haver dolo se a presidente da República fez aquilo que assessores, que auxiliares recomendavam?”. O que é o dolo senão simplesmente o cometimento ou o patrocínio de uma ação ilícita, premeditada, conhecendo, de forma clara, quais as suas consequências?

Foi isso que fez a presidente da República. Ou seria a presidente da República incapaz de perceber as consequências daquele seu ato? Não, por maiores que sejam minhas críticas à sua condução, à sua postura, ao seu desconhecimento da realidade nacional, não posso considerar uma presidente eleita e reeleita uma incapaz. Em última instância, foi isso que quis dizer o advogado-geral da União ao eximi-la de qualquer responsabilidade para com a publicação de decretos orçamentários sem a prévia autorização do Congresso Nacional.

Por outro lado, diz o advogado-geral que o crime de responsabilidade se justificaria apenas quando houvesse um atentado à Constituição, à estabilidade do país, à vida sequer dos brasileiros. Passa o advogado-geral querer, agora, graduar quais os crimes de responsabilidade que deverão ser passíveis do afastamento da presidente da República. Faltou dizer que a aquisição de um Fiat Elba talvez seja esse fator de desequilíbrio, de desestabilização da vida nacional, que levou o Partido dos Trabalhadores, assim como nós próprios, a votar pelo afastamento do ex-presidente da República. A questão central, e termino com ela, é que teremos dias difíceis pela frente.

Qualquer que seja o resultado dessa votação na Câmara dos Deputados e da sua aceitação pelo Senado Federal, devemos manter a serenidade, os nossos compromissos claros com a superação dessa crise. E de todas, absolutamente todas as alternativas que nos são colocadas hoje, apenas uma é insustentável, e essa é a permanência da presidente da República imobilizando o país. Estive há pouquíssimos dias participando de um seminário em Portugal na companhia do ilustre senador Jorge Vianna, e essa narrativa, a meu ver irresponsável, de lideranças do governo, que começa aqui e ultrapassam as nossas fronteiras, de que o Brasil está prestes a sofrer um golpe, talvez seja o maior e último dos danos que esse governo traz à imagem já combalida e desmoralizada do nosso país. Não existe golpe em curso nesse país. Existe aqui o absoluto respeito à Constituição. O rito que aqui está sendo respeitado é proposto e aprovado pelo Supremo Tribunal Federal. A comissão que lá se reúne foi constituída com votos de todos os partidos, em particular o Partido dos Trabalhadores, com assento na Câmara dos Deputados. É preciso que tenhamos serenidade, responsabilidade para saber que, além de projetos individuais e mesmo partidários, existe um Brasil a ser reconstruído.

Encerro dizendo: O PSDB não é o beneficiário direto da interrupção do mandato da presidente da República. Mas não faltará ao Brasil se, eventualmente, a presidente vier a ser substituída. Obviamente vamos tratar de projetos, vamos tratar de um programa emergencial para o Brasil, mas pode ter certeza que com o PSDB e com as inúmeras lideranças aqui presentes da mais alta respeitabilidade, Vossas Excelências encontrarão sempre, como dizia o velho Milton Campos das minhas Minas Gerais, encontrarão sempre um palmo de chão limpo onde as ideias possam prosperar. E onde um projeto de um novo Brasil possa surgir. Se a presidente perder o seu mandato, perderá pelas suas próprias responsabilidades ou irresponsabilidades, mas sempre respeitada aquilo que previa a Constituição, que aprovamos e assinamos, e que lamentavelmente o PT não jurou.

Aécio Neves – Trechos da palestra no Conexão Empresarial, em Belo Horizonte

O senador Aécio Neves realizou, nesta sexta-feira (14/02), em Belo Horizonte, palestra durante o Conexão Empresarial, fórum de debates sobre o cenário político e econômico de Minas e do Brasil. Na palestra, Aécio Neves falou sobre desafios e conquistas em sua gestão como governador, fez críticas à política econômica do governo e lamentou que as promessas feitas aos mineiros pelo governo federal para Minas não tenham saído do papel durante onze anos.

 

Abaixo, seguem principais trechos da palestra: 

Governo Federal

Conquistas dos brasileiros ameaçadas

“Vejo com enorme preocupação o que nos espera. O Brasil é o patinho feio hoje para quem nos vê de fora. A equação perversa que esse governo nos deixará é de crescimento pífio – apenas maior que a Venezuela no ano passado e do que o Paraguai em 2012 na América do Sul – com inflação no teto da meta. Se não fossem os preços congelados de combustíveis, energia e transportes, já teríamos a ultrapassado. A inflação de alimentos já passou dos dois dígitos. As principais conquistas do governo do PSDB, que nos trouxeram até aqui, com o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a modernização e respeitabilidade da nossa economia, todas estão em risco”.

 

Caixa-preta

“O Brasil tem dois orçamentos. Um aprovado pelo Congresso nacional, e executado com muita pouca eficiência pelo governo, e outro, executado pelo BNDES, com contratos e financiamentos sem nenhum controle da sociedade, porque receberam o esdrúxulo carimbo de secretos”.

 

Indústria

“Voltamos a viver quase o que vivíamos na época de Juscelino, exportadores de commodities, 13,5% apenas daquilo que constituiu nosso PIB vêm da indústria. O que o Brasil quer ser? Um eterno país de pleno emprego de dois salários mínimos?”

 

Petrobras

“Não é justo o que aconteceu com a Petrobras, que perdeu quase 50% do seu valor de mercado. Segundo o Merrill Lynch, é a empresa não financeira mais endividada do mundo. Teve sua nota de rating rebaixada. O governo erra e erra muito. A mudança do modelo de concessões para o modelo de partilha tirou o Brasil durante cinco ou seis anos de um conjunto de investimentos do setor de petróleo de mais de US$ 300 bilhões que ocorreu nesse período do mundo. Hoje, o petróleo já não é um ativo tão valioso como naquele tempo. Nós, homens públicos, erramos muitas vezes. Temos que pedir desculpas e reconhecermos os erros. O governo federal não tem essa capacidade”.

 

Energia

Quem não quer a diminuição da tarifa de energia? Nós queremos e praticamos. Minas Gerais é o estado que dá maior isenção nas contas de energia – metade das famílias não paga ICMS em Minas. Esse era o caminho para o governo federal, retirar o PIS/Cofins, se conseguiria esse mesmo desconto que se conseguiu de forma atabalhoada, com uma intervenção absurda no setor de energia. Algumas das empresas perderam quase 1/3 do valor de mercado, ou seja, perderam a capacidade de investimento. Quem está pagando a conta? Não está na propaganda oficial, mas somos nós, a sociedade brasileira. Ano passado foram R$ 9 bilhões, esse ano serão R$ 15 bilhões do Tesouro para sustentar as empresas do setor. A Eletrobras, que era uma empresa estável, está fazendo hoje programa de demissão voluntária para cortar 20% dos seus funcionários para pedir capital de giro.

 

Ministérios

“Para governar o Brasil, basta metade desses ministérios que estão aí, com gente qualificada, que tenha coragem para tomar decisões, que não se atemorizem a cada despacho com a presidente da República ou com quem seja. Precisamos resgatar o que o Brasil construiu ao longo de décadas”.

 

Futuro

“Ou percebemos o que está acontecendo, nos levantamos e nos organizamos para encerrar esse ciclo, ou os danos, que hoje já são extremamente graves, pelos próximos quatro anos serão quase que irrecuperáveis”.

“Fui deputado, presidente da Câmara em um momento de austeridade daquela Casa, de reconciliação com a sociedade, com um conjunto de medidas no campo ético, disputei o Governo de Minas, me tornei senador e presidente do maior partido de oposição. Estou pronto! Estou pronto para cumprir meu papel”.

 

Promessas do governo federal não cumpridas com os mineiros

Metrô, 381 e Anel

“Se um extraterrestre pousar seu disco voador aqui em Minas e fique por aqui alguns meses vai achar que o governo federal é um governo que acabou de assumir, está em seu primeiro ano, porque repete as mesmas promessas que fazia há dez anos. Desde que eu era governador, ouvia: o metrô de Belo Horizonte é uma prioridade absoluta para o governo federal – e sabemos que o metrô é uma responsabilidade do governo federal. As promessas se sucedem”. “A BR 381 continua como está. Aí é feita uma concessão, que se demonizava. O projeto, que representa 25% daquilo que se planejava inicialmente, sabe-se lá quando vai ser realizado. Assim como o Anel Rodoviário”.

 

Polo Acrílico e Fiat

“O polo acrílico, negociado com a presença do então vice-presidente José Alencar, com minha presença, junto com o então presidente da Petrobras, acertado que viria para Minas Gerais. Em um passe de mágica, cruzou nossas fronteiras e está sendo construído em outra parte do Brasil. A fábrica da Fiat, estive na Itália assinando o pré-contrato para ampliação, construção da segunda planta da Fiat. No último dia do governo, um decreto presidencial a leva para outra parte do Brasil. Não sou contra a descentralização do parque automotivo, mas deveria ser feito com outro projeto, não com aquele que já estava estabelecido e que por justiça deveria estar em Minas Gerais.

Conseguimos com todo esforço no Congresso Nacional aprovar que aqueles benefícios pudessem ser estendidos para a região Norte de Minas e para os vales do Jequitinhonha e do Mucuri, a região abrangida pela Sudene. Era ao menos uma compensação, e aprovamos, com muita comemoração. A matéria foi à sanção presidencial e a presidente da República vetou esses incentivos para a região mais pobre de Minas”.

 

Confins

“Como proposta que apresentamos para Confins, não apenas para a ampliação da pista e do pátio, mas para a construção de uma nova pista. Quando decidi tirar os vôos de outros estados da Pampulha e levar para Confins, tinha em minha mente que aquilo era essencial para que Minas se transformasse em um hub, e pudemos, a partir daí, ter vôos internacionais saindo de belo Horizonte.  Até então não se tinha sequer um vôo internacional saindo de Belo Horizonte. Tínhamos uma proposta de ampliação do aeroporto. Agora está lá, e as obras não ficarão prontas para a Copa do Mundo. A segunda pista ficará para a concessionária, que não tem qualquer compromisso formal em fazê-la”.

 

Royalties do Minério

“Desde 2008 começamos a construir um projeto, contribuições foram dadas e a matéria não andou. E quem vai garantir um novo marco regulatório para o setor mineral, garantindo uma receita mais justa e adequada para os estados mineradores será o próximo presidente da República. Não a atual”.

 

Omissão

“Todas essas ações, essas promessas não cumpridas pelo governo federal, do PT, foram feitas ao longo desses onze anos sob obsequioso silêncio das principais lideranças do PT em nosso estado. Em nenhum momento, seja no Congresso, seja aqui mesmo, em cargos executivos, vimos uma voz mais clara em firme em defesa dos interesses de Minas. A  subserviência ao comando central do partido é o que norteou, orientou a caminhada desses companheiros”.

 

Governo de Minas

Minas e a educação

“Os estudiosos em educação consideravam quase impossível colocar as crianças aos seis anos nas escolas, universalizar esse acesso no Brasil, ainda mais em um estado com 853 municípios e as diferenças que ainda assistimos em Minas Gerais, embora menores que naquele tempo. Minas foi o primeiro estado a universalizar o acesso das crianças aos seis anos e estender o ensino de fundamental para nove anos”.

“Esse foi o primeiro passo que nos permitiu que naquele momento, na primeira avaliação feita, tivéssemos 45% das crianças mineiras lendo e escrevendo adequadamente. Hoje, são 88% das crianças. E hoje temos, segundo o Ministério da Educação, a melhor educação básica do Brasil. Com metas e coragem, com capacidade de estabelecer prioridades que são realmente as prioridades da população, os resultados vêm”.

 

Investimentos

“Onze anos se passaram. Os investimentos em Minas aumentaram 310% nesse período, de dez para onze anos. na saúde, ultrapassaram 300% de aumento, na segurança 260%, o que vem fazendo de Minas Gerais o estado brasileiro que mais investe em segurança pública proporcionalmente à sua receita. Aumentamos em cerca de 300% também a cobertura de saneamento básico, de esgoto tratado em todas as regiões, mas com ênfase especial nas regiões mais pobres, o Jequitinhonha, o Mucuri e o Norte de Minas”.

“R$ 172 bilhões vieram em investimentos para Minas desde que tivemos a determinação de estabelecer uma reação mais proativa na busca desses parceiros, criando facilidades e dando segurança para os que viessem investir”.

 

Estado eficiente

“Me incomoda a afirmação de que o Estado é ineficiente por natureza, por ser Estado. Sempre me bati contra isso e mostramos em Minas Gerais que, desde que você tenha as pessoas qualificadas nos lugares certos e dê autonomia para que elas cumprirem os desafios que foram a elas estabelecido, com a confiança da população, os resultados aparecem”.