Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre Venezuela, Lula e TCU

O senador Aécio Neves comentou, em entrevista coletiva, nesta segunda-feira (22/06), sobre a ida de uma nova comissão de parlamentares à Venezuela, sobre as declarações do ex-presidente Lula com críticas à presidente Dilma e TCU.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Sobre ida de uma nova comissão de parlamentares à Venezuela.

Acho que eles têm todo direito de ir aonde quiserem e, espero que sejam melhor recebidos do que nós. Acho que a comitiva chapa branca é uma reação ao incômodo que a nossa visita causou e não deveria ter causado.

Acabo de ouvir aqui uma declaração patética de um dos líderes do PT que não dá uma palavra aos presos políticos naquele país, como se isso fosse natural e critica os senadores. Meu Deus! O que fizemos é aquilo que os perseguidos pela ditadura militar no Brasil e, em especial, os presos políticos clamaram durante todos aqueles 20 anos, que lideranças democráticas de várias partes do mundo se manifestassem, chamasse atenção para o que acontecia no Brasil. E não posso crer que essas mesmas figuras hoje condenem algo que foi feito de forma absolutamente correta, oficial, e que tinha como objetivo uma ação humanitária.

Queríamos sim prestar nossa solidariedade aos presos políticos porque é inadmissível que em pleno século XXI – e não venham me dizer os aliados da presidente da República que isso é normal – existam presos políticos, pessoas que são presas por manifestarem a sua oposição ao governo que lá está. E queríamos também a definição da data das eleições parlamentares, que acabou agora sendo confirmada. Teríamos encontro com várias correntes das oposições. Não teríamos com o governo porque não interessou a eles estar conosco. E também pouco interessava a nós naquele instante.

Eu, ontem mesmo, conversei longamente com o governador Caprilles por telefone, o chamei, inclusive, para estar no Brasil conosco provavelmente no início de agosto e ele dizia do seu constrangimento, da vergonha pela forma como fomos recebidos na Venezuela. O que esperávamos era uma solidariedade dos parlamentares, dos senadores, independente de partidos políticos, a uma missão oficial desta Casa que agiu de forma absolutamente correta. Não há sentido neste questionamento. Infelizmente o que estamos vendo é o conforto que alguns senadores manifestam na companhia do senhor Maduro. Nós da oposição não nos sentimos confortável na companhia dele.

Desejo a eles boa viagem e que possam cumprir o seu papel. E se tiverem um tempo, sugiro que façam aquilo que nos foi impedido. Visitem os presos políticos e digam o que pensam em relação ao que vem ocorrendo da Venezuela.

 

Sobre o embaixador do Brasil na Venezuela.

O fato concreto, objetivo, vejo muitas versões, é que fomos recebidos em uma missão oficial em Caracas. Pessoalmente soube, quando desci em Caracas, que o embaixador não nos acompanharia, mas me disse o embaixador textualmente, e aos outros parlamentares que estavam na comitiva, que o conselheiro da embaixada estaria conosco durante todo o percurso. Isso foi o que disse o embaixador Ruy Pereira. Infelizmente isso não aconteceu.

A própria fragilidade da nossa escolta, isso sim, acho que era algo que deveria ter sido percebido por quem vive na Venezuela como o embaixador, ou por quem sabe o grau de tensão que existe na Venezuela. Agora vejo condenações até pelo simples fato das esposas dos presos estarem conosco. Que país é esse onde você não pode escolher as pessoas que entram em um veículo com  você, onde seu ir e vir não esteja garantido? Lamentavelmente, o que houve foi uma ação deliberada do governo Venezuelano para impedir a nossa estada ou impedir a nossa agenda e, obviamente, também agora fica claro com a conivência do governo brasileiro. Essa é uma página que não ilustra, que não enobrece a diplomacia brasileira, de tantas páginas no passado, mas que ao longo desses últimos anos vem escrevendo algumas das mais lamentáveis páginas na busca de um alinhamento que benefício algum traz ao Brasil ou interesse algum dos brasileiros atende.

 

Sobre declarações do ex-presidente Lula com críticas à presidente Dilma.

Vejo o PT passando por um momento extremamente grave, mas a obra não é de autoria da presidente Dilma exclusivamente. Essa é uma obra de autoria conjunta do presidente Lula, da presidente Dilma e não há como descolar uma coisa da outra. O governo é o PT, o governo é Dilma, o governo é Lula.

Foi assim nos momentos positivos e será assim nesse momento de grande dificuldade porque a responsabilidade pelo Brasil estar vivendo hoje uma das maiores crises econômicas da sua história, com a previsão de crescimento negativo em torno de 2% do PIB, um desemprego que pode ao final do ano alcançar os 10%, juros na estratosfera e uma inflação rapidamente se aproximando de 9%. Isso – como disse inclusive hoje o presidente da Mercedes Benz – não é obra de uma crise internacional. Essa crise internacional não existe. Não existe na China, não existe na Alemanha, não existe nos Estados Unidos. Isso é uma obra caseira.

Essa crise é como a jabuticaba, é uma fabricação aqui do Brasil feita pelo governo do PT. Acho que o presidente Lula, mais do que ataques à atual presidente – sua criatura -, tem que assumir sua parcela de responsabilidade pelo que vem acontecendo no Brasil. Temos hoje três crises gravíssimas: a econômica, com as consequências que sabemos, a moral, – já que acho que grande parte da desaprovação da presidente da República, recorde do nosso período democrático se dá em razão dessa crise moral sem precedentes que tomou conta do Brasil – mas há uma terceira, que é a crise de confiança, de credibilidade, e é essa que impede a recuperação da economia brasileira no prazo que seria mais adequado. Lamentavelmente, essa obra é uma obra conjunta do ex-presidente Lula, da presidente Dilma, obviamente do PT.

 

O que o sr. achou da informação de que o governo mantém as pedaladas ainda este ano?

Isso é extremamente grave. É o desrespeito absoluto à lei. É um governo que age como se estivesse acima da lei e não está. Durante a campanha eleitoral, em um debate se não me engano na rede Record, eu denunciei essas pedaladas, dizendo que a Caixa Econômica Federal pagava o Bolsa Família ou parcela dele, o governo não repunha por parte do Tesouro esses recursos. No caso do Banco do Brasil, o crédito rural. A presidente ignorou esse assunto. Agora, tentam transferir para um membro da equipe econômica essa responsabilidade. A responsabilidade é da presidente da República.

Continuar a fazer isso é um acinte, um desrespeito absoluto àquilo de mais valioso que conseguimos construir do ponto de vista da administração no Brasil, que foi a Lei de Responsabilidade Fiscal. Um dos pilares fundamentais da Lei de Responsabilidade Fiscal era impedir que os bancos públicos financiassem seus controladores. Vários bancos estaduais foram liquidados porque faziam isso. Ficaram insolventes. Outros foram vendidos. E o governo federal, de forma continuada, fez isso. E fez isso com um único objetivo: vencer as eleições. Venceu as eleições e hoje é um governo sitiado, um governo que não pode andar nas ruas. É um governo que está nas barras dos tribunais. E se o Tribunal de Contas, como todos esperamos, vier a agir de forma técnica, como vem agindo, não há como aprovar as contas da presidente da República.

 

Em cima da posição do TCU, há elementos para pedido de impeachment?

Essa não é uma questão que está sendo discutida agora. O que existe é uma definição da votação do relatório do ministro Nardes, que é pela reprovação das contas da presidente da República. Isso deve ocorrer dentro de menos de 30 dias. Vamos aguardar a decisão do Tribunal de Contas da União e aí vamos definir o que pode ser feito. Mas, certamente, essa reiterada prática delituosa pode levar até o Ministério Público ou a Procuradoria-Geral da República, onde existe uma ação do PSDB, a se manifestar e, quem sabe, abrir uma investigação contra a presidente da República.

Pronunciamento sobre a Venezuela

“A exposição da delegação brasileira (na Venezuela) é sim, também, de responsabilidade do governo brasileiro”, diz o senador Aécio Neves em pronunciamento hoje, no Senado Federal, após missão de parlamentares ter sofrido constrangimentos, ontem, ao tentar visitar líderes políticos mantidos presos pelo regime de Nicolás Maduro. 

Aécio Neves cobrou explicações claras do governo Dilma Rousseff sobre a parceria com Maduro e disse que a truculência é a demonstração da fragilidade do regime venezuelano, que teme a força das ideias.

 

Leia os principais trechos do pronunciamento do senador: 

Esse 18 de junho vai ficar na história marcado, talvez, como aquele em que foram escritas algumas das mais tristes páginas na diplomacia latino-americana. Uma missão oficial de senadores brasileiros, suprapartidária, com membros, sim, de partidos da oposição, mas com membros, também, de partidos da base governista, foi à Venezuela cumprir seu papel. Porque somos nós, o Congresso Nacional, os responsáveis pela ratificação dos acordos entre países – sejam eles bilaterais, sejam eles entre conjunto de nações, como o caso do Mercosul.

E, portanto, a partir do momento em que somos signatários desses acordos, somos responsáveis por sua fiscalização. E é o que estávamos fazendo lá, além da manifestação humanitária que levávamos pela libertação dos presos políticos,   pelo encerramento da greve de fome do líder Leopoldo López – que já se estende por 25 dias – e pela fixação, também, da data das eleições parlamentares naquele País. Eu costumo dizer, e repito mais uma vez, que quando se fala de democracia, de liberdade, de respeito aos direitos humanos não há fronteiras. O senador Aloysio (Nunes) sentiu isso na pele. E sabe o quanto foram importantes para o Brasil manifestações de democracias e de democratas no momento em que nós vivíamos as trevas do regime autoritário.

Mas o que ocorreu ontem? De forma deliberada – e essa é a questão central – uma missão oficial do Parlamento Brasileiro foi exposta, em primeiro lugar, pelo governo venezuelano, que não cumpriu com as suas responsabilidades de dar as garantias que as nações democráticas – pelo menos as nações democráticas – devem dar àqueles que as visitam, independentemente de gostarem ou não daquilo que pensam, ou daquilo que lá irão fazer. É o que faz o Brasil. O Brasil, há poucos dias, recebeu também lideranças venezuelanas e as tratou de forma adequada. Mas algo salta aos olhos, nessas últimas horas.

Aquilo que imaginávamos fosse uma ação deliberada do governo venezuelano, que expôs, pessoal e fisicamente, os senadores, e aquelas senhoras que nos acompanhavam, pelas informações que recolhemos, nas últimas horas, algumas delas já expostas,  como o depoimento dos comandantes da aeronave que nos levava, a responsabilidade pela exposição da delegação brasileira é sim, também, de responsabilidade do governo brasileiro.

A afirmação do Ministro Mauro Vieira aos parlamentares que o visitaram, ontem à noite, é estarrecedora. Diz ele que foi por determinação do   governo brasileiro que o embaixador Pereira e os demais diplomatas deixaram de acompanhar a nossa delegação. Não sabíamos disso quando chegamos à Venezuela.

O que fica agora, para compreensão, não apenas dos senadores e outros parlamentares, mas da sociedade brasileira. Qual o papel efetivo que o governo brasileiro quer desempenhar nessa quadra de desenvolvimento econômico, social e político, na nossa região? A submissão do Brasil a ditaduras ou a regimes autoritários, única e exclusivamente por encontrar com eles alguma convergência ideológica, desprezando aquilo que é mais sagrado, na vida de qualquer nação, que é a liberdade, que é a democracia?

É absolutamente fundamental que haja uma resposta clara do governo federal. A proposta já caminhada pelo senador Ricardo Ferraço será encampada por todos nós.

Queremos ver o ministro Mauro Vieira na Comissão de Relações Exteriores, para que nos explique, de forma clara, qual o sentido de impedir que um grupo de senadores brasileiros, desarmados, com a arma da palavra, da sua consciência, da sua responsabilidade, possam visitar presos políticos, possam se reunir com opositores, sim, e possam clamar pela definição de data das eleições parlamentares, naquele país? Nada, absolutamente nada, além disso, que estávamos fazendo na Venezuela.

Não nos intimidaram, senador Ricardo Ferraço. Ao contrário, peço emprestada, mais uma   vez, uma expressão do senador Aloysio: “a nossa missão não terminou”. A nossa missão continua aqui, porque é absolutamente fundamental que nós iniciemos a discussão se a Venezuela tem as condições adequadas para continuar fazendo parte do Mercosul, ou se não, o Acordo do Ushuaia de nada valeu, é uma letra morta, numa folha de papel.

Se o governo brasileiro vem se omitindo nessa questão venezuelana há longos anos, permitindo, com essa omissão, o crescimento da escalada autoritária e da violência naquele país, é absolutamente fundamental que o Congresso Nacional cumpra um papel, repito, que deveria estar sendo cumprido pelo governo brasileiro.

Recebi, desde o início desta manhã, manifestações e contatos de inúmeros países, através de jornalistas, e mesmo de lideranças políticas, como um ex-presidente da República, porque a repercussão do que ocorreu ontem na Venezuela não se limita às fronteiras daquele país e muito menos a esta Casa do Congresso Nacional. Vários outros países foram alertados para a gravidade daquilo que lá está ocorrendo.

E o que me fica ao final, além da truculência, além da violência a que fomos submetidos, é um sentimento, não sei se compartilhado por todos aqueles que nos acompanharam naquela viagem, da absoluta fragilidade daquele regime. Ao impedir que cumpríssemos uma agenda absolutamente pacífica e humanitária, eles demonstram o temor que têm, não das armas, mas da força das ideias e das convicções.

Fico a imaginar os companheiros de luta da presidente (Dilma). Não me refiro mais ela, mas àqueles que viveram com ela as durezas do cárcere, da tortura, da privação da liberdade, do temor de todos os dias sobre o que viria a acontecer. O que pensam eles neste instante em relação à posição da Presidência da República, de irritação porque nós estávamos fazendo aquilo que, tenho certeza, ela clamava nos seus tempos de cárcere para que outras lideranças do mundo fizessem?

Não fomos à Venezuela derrubar o regime, fomos à Venezuela defender aqueles que, como ocorreu com ela, no passado, por expressarem suas posições estavam com sua liberdade cerceada.

 

Ouça o pronunciamento:

 

Aécio Neves e Aloysio Nunes – Entrevistas sobre a missão à Venezuela

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista, nesta sexta-feira (19/06), em Brasília, ao lado do senador Aloysio Nunes. Os senadores falaram sobre a missão à Venezuela, Operação Lava-Jato, contas do governo federal e TCU.

 

Leia a transcrição da entrevista:

Quais providências devem ser tomadas?

Aloysio Nunes – As coisas vão se tornando cada vez mais claras. Fomos envolvidos em uma arapuca pelo governo venezuelano com a total omissão e cumplicidade do governo brasileiro. Quando deixamos o aeroporto, depois de uma dificuldade enorme para estacionar o avião, depois de nos terem negado em um primeiro momento o encontro com as esposas dos políticos venezuelanos presos, nós nos dirigimos para o presídio. Os pilotos da aeronave contataram a segurança do aeroporto dizendo ao pessoal que iam fechar o avião para poder almoçar. Sabe qual foi a resposta? Não precisa, eles vão voltar logo. Foi a resposta que receberam

Fomos levados por uma van sem a presença do embaixador brasileiro e nem do conselheiro que acompanha o embaixador até o aeroporto para nos recepcionar. Soubemos depois – foi informado pelo ministro das Relações Exteriores à comissão de deputados que esteve lá ontem – que eles receberam instrução do governo brasileiro para não nos acompanhar, apesar do embaixador ter nos dito – ele disse a um assessor da comissão de Relações Exteriores – que o conselheiro da embaixada que o acompanhou estaria conosco o tempo todo.

Não estava porque recebeu instruções do governo para não nos acompanhar. Quando chegamos ao ponto onde havia o congestionamento, havia ao lado esquerdo da nossa van o caminho totalmente obstruído. A van foi ao encontro do congestionamento, exatamente onde estava um grupo de energúmenos e manifestantes arregimentados pelo governo venezuelano que nos hostilizaram. Primeiro com gritos, xingamentos, depois com pancadas, pontapés no nosso carro, atiraram objetos no nosso carro, quando havia uma via desobstruída para que a van pudesse escapar com a condução da polícia venezuelana, que nos acompanhava.

O congestionamento que foi provocado pelo governo venezuelano teve uma explicação bisonha. Disseram o seguinte: tiveram que fechar a via de acesso ao aeroporto porque tinham que conduzir um preso comum que tinha sido extraditado para a Venezuela. Ora, para extraditar um preso comum você leva um camburão e, no máximo, uma proteção adiante e outra atrás, não precisa parar o trânsito de uma cidade inteira. Aquilo foi feito para obstaculizar a nossa missão, mas essa missão vai prosseguir aqui no Brasil, vai prosseguir na nossa luta para que, em primeiro lugar, o governo brasileiro seja chamado à sua responsabilidade. E vamos nos valer de todos os meios políticos e jurídicos ao nosso alcance para que o governo assuma a sua responsabilidade.

Em segundo lugar, a pressão para que o governo brasileiro faça valer os compromissos que assumiu, avalizado pelo Congresso, ao assinar os acordos do Mercosul, que preveem que todos os países devem respeitar as cláusulas democráticas. A Venezuela não respeita as cláusulas democráticas. Em uma democracia com opositores presos, imprensa cerceada, o judiciário submisso, com violência nas ruas contra manifestantes que pensam o contrário do governo. Então, vamos também elevar o nosso protesto para que o governo atue junto aos órgãos do Mercosul e da OEA para a exclusão da Venezuela do Mercosul por desrespeito afrontoso aos compromissos da cláusula democrática.

 

O embaixador brasileiro estava onde no momento dessa confusão toda?

O embaixador brasileiro foi ao aeroporto nos receber, acompanhado de um ministro conselheiro, que, segundo o embaixador,  havia garantido que estaria conosco durante todo o tempo da nossa estada na Venezuela. Tiveram os dois para nos receber no aeroporto. Para nossa surpresa, o conselheiro não nos acompanhou. Estávamos sós. O embaixador não nos acompanhou, tampouco o ministro conselheiro. Viemos saber depois que isso resultou de instruções do governo brasileiro. Não é por causa deles não, receberam ordens do governo brasileiro para não nos acompanhar. Então, nosso objetivo não é o embaixador, nem o ministro conselheiro, é o governo brasileiro. É quem mandou.

 

O chanceler foi quem fez esse pedido?

Foi o chanceler quem fez esse pedido, conforme o chanceler confirmou ontem a uma delegação de deputados que estiveram lá para pedir providências.

               

E quando o conselheiro se afastou da delegação, o que ele disse? O que ele alegou?

Ele não alegou nada, ele simplesmente – constrangido – emprestou o celular dele – uma vez que não tínhamos sequer um celular em condições de falar na Venezuela – ao diplomata que hoje assessora a Comissão de Relações Exteriores, Eduardo Saboia, constrangidamente para não nos deixar inteiramente sem qualquer comunicação.

 

Vocês pretendem chamá-lo ao Senado?

Vamos tomar todas as providências políticas, jurídicas e regimentais nesse caso.

 

Aécio Neves – A questão mais grave que se impõe nesse momento é que o conjunto de informações que nos chegam, a partir inclusive da reunião que parlamentares liderados pelo deputado Raul Jungmann tiveram com o ministro das Relações Exteriores, é que houve uma ação deliberada do governo venezuelano, – como lá percebíamos – mas agora também do governo brasileiro para expor uma delegação oficial de senadores que nada mais fazia do que prestar sua solidariedade aos presos políticos e defender a democracia na Venezuela. É absolutamente fundamental que as respostas venham, que haja uma manifestação clara do governo brasileiro porque vamos, a partir de agora, discutir em que condições e de que forma podemos rever inclusive a participação da Venezuela no Mercosul pela simples questão: a Venezuela não cumpre o acordo de Ushuaia, a cláusula democrática que ambos os países assinaram.

Se existia alguma dúvida em relação àquilo que prevalece hoje na Venezuela, os oito senadores de diversos partidos que lá estiveram voltam para dizer que não há de se ter qualquer dúvida. A Venezuela não vive uma democracia. Os oposicionistas são aterrorizados, alguns deles presos, as pessoas que discordam do governo na rua são afrontadas e aqueles que querem se manifestar, como fizemos, são impedidos. É preciso que o Brasil, fazendo valer a sua tradição de um país democrata, não se submeta a acordos de viés ideológico, que, na verdade, prejuízo vem trazendo à Venezuela, mas pode, quem sabe, no futuro trazer também ao Brasil.

 

Hoje foi deflagrada mais uma fase da Operação Lava Jato. Como que o sr. vê essa situação atualmente?   

Aécio Neves – Estamos acompanhando desde o início essa Operação e é preciso que ela continue. Soube agora dessas novas prisões. O que esperamos é que tudo seja averiguado e investigado em profundidade.

 

O Secretário Arno Augustin admitiu que ele é o autor das pedaladas fiscais. Isso agrava a situação junto ao TCU?  

Aécio Neves – Exatamente. Até porque ele era a cara metade da presidente da República, como ambos gostavam muito de dizer, e era reconhecido. O que atestamos desde o início – e eu dizia isso, talvez tenha sido o primeiro, na campanha eleitoral, se vocês voltarem as imagens do debate TV Record, vocês verão eu explicitamente dizendo que a Caixa Econômica Federal está pagando R$ 8 bilhões do Bolsa Família indevidamente, o Banco do Brasil R$ 10 bilhões  – os números não são exatamente, são próximos a esse – do crédito rural, e para que o governo ampliasse indevidamente também outros programas com viés meramente eleitoral. A presidente não tem sequer o direito de dizer que não sabia, porque ela foi alertada em cadeia de rádio e televisão. E se Arno Augustin assume essa responsabilidade, a minha avaliação é como se a própria presidente da República assumisse também a sua responsabilidade.

 

Até porque eles trabalharam juntos no Rio Grande, né?

Aécio Neves – Não é só isso. É de conhecimento geral de que era quem despachava quase que diariamente com a presidente da República essa chamada nova matriz econômica, cantada em verso e prosa pelo governo e que tanta infelicidade traz hoje ao Brasil. É uma construção capitaneada e conduzida pelo Arno Augustin e com a participação permanente da presidente da República.

Acho que torna sim a coisa ainda mais grave. Vamos acompanhar nesses 29 dias que restam, a decisão do Tribunal de Contas da União, porque os documentos, as análises são tão claras, são tão cristalinas, que, se a votação for como deve ser, e acredito que será, baseada em preceitos técnicos, não há como aprovar as contas da presidente da República. Por mais que tenha se dado um prazo; Vamos estar contando esses dias e acompanhando o trabalho do TCU que tem oportunidade de fazer história, mostrar que não é um órgão submisso ao Poder Executivo.

 

O governo pode terceirizar para Arno Augustin essa responsabilidade. Ele pode virar um bode expiatório?  

Aécio Neves – Isso é impossível porque a responsabilidade final é da presidente da República. Os decretos de contingenciamento, por exemplo, chamados no relatório de Augusto Nardes de fraudulentos,  são assinados pela presidente da República. A terceirização de responsabilidades é uma marca do governo do PT, mas já deu. Não há mais espaço para isso. E todos que têm responsabilidade, têm obrigação de responder por elas.

Aécio Neves declara apoio ao diplomata Eduardo Saboia

O senador Aécio Neves elogiou, ontem (27/08), o diplomata brasileiro Eduardo Saboia por ter salvo o senador boliviano Roger Molina, detido por mais de um ano na embaixada brasileira em La Paz, e que estava em risco de vida. O diplomata, no entanto, foi punido pela presidente Dilma Rousseff.

Fala do senador Aécio Neves

“Uma decisão extremamente equivocada, mostra o governo, brasileiro que tinha uma tradição secular de respeito aos direitos humanos, aos tratados internacionais, se curvando a um alinhamento ideológico. É algo a ser lamentado, a posição do governo brasileiro, que não esforçou, ao longo de 450 dias, para que houvesse o salvo-conduto ao senador, gerando obviamente uma decisão extremada do diplomada, que recebe absoluta e total solidariedade da oposição brasileira, em especial do PSDB.

 

Boletim

 

Sonora

Aécio Neves: governo federal foi omisso em caso de senador boliviano

O senador Aécio Neves defendeu, nesta terça-feira (28/08), a atuação do diplomata brasileiro Eduardo Saboia, em razão da omissão do governo federal no episódio envolvendo o senador boliviano Roger Molina. O diplomata coordenou operação para retirar Molina da Bolívia e trazê-lo em segurança ao Brasil, após sua detenção durante 15 meses na Embaixada Brasileira em La Paz, em condições precárias.

“A questão central é o que o governo brasileiro nesses cerca de 450 dias não se empenhou para que houvesse por parte do governo boliviano aquilo que dele se esperava: o salvo-conduto. Em não havendo, o diplomata tomou a decisão correta, que foi de preservar a vida do senador, trazendo-o para o Brasil. E aqui ele deve receber o asilo formal e, obviamente, ter as garantias de vida dadas pelo governo do Brasil”, disse Aécio Neves em entrevista coletiva.

Na tarde desta terça-feira, o senador Aécio Neves divulgou nota oficial lamentando a punição determinada pela presidente Dilma Rousseff a Eduardo Saboia. No texto, Aécio manifestou o apoio do PSDB ao diplomata e lembrou a postura histórica do Itamaraty reconhecida pela defesa à liberdade e aos direitos humanos.

“Historicamente, a prática do Itamaraty sempre se pautou no respeito aos direitos humanos, na defesa intransigente da liberdade, na obediência estrita ao estado democrático de direito. O PSDB manifesta seu irrestrito apoio à defesa da dignidade humana, ao respeito a valores universais do estado democrático e ao direito irrevogável de ir e vir reservado aos cidadãos de bem”, observou Aécio Neves.

Na entrevista, Aécio Neves rebateu as críticas de que Saboia desobedeceu procedimentos do Ministério das Relações Exteriores ao realizar a viagem de carro por 1.600 quilômetros até a fronteira com o Brasil. O senador lembrou o episódio em que a senhora Aracy Guimarães Rosa e o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, na Alemanha nazista, descumpriram ordens superiores ao auxiliar judeus em risco de vida.

“O que foi feito pelo diplomata brasileiro sediado na Bolívia foi um gesto humanitário, que me faz lembrar gestos de outros diplomatas brasileiros que, no tempo de Hitler, contrariaram ordens superiores do próprio Itamaraty para que inúmeros refugiados do nazismo viessem para o Brasil. Hoje, são reconhecidos como heróis, até pelo governo do PT. Uma decisão extremamente equivocada mostra o governo brasileiro, que tinha uma tradição secular de respeito aos direitos humanos, se curvando a um alinhamento ideológico”, disse.

Aécio Neves – Entrevista sobre a crise no Itamaraty

O senador Aécio Neves conversou, hoje (27/08), com a imprensa, no Senado, em Brasília, sobre a crise no Itamaraty, o afastamento do diplomata Eduardo Saboia e a proposta de reforma política.

 

Leia a entrevista completa:

 


Sobre a atuação do governo brasileira no caso do senador boliviano Roger Molina

Mais uma decisão extremamente equivocada da diplomacia brasileira, que se curva ao alinhamento ideológico. O que foi feito pelo diplomata brasileiro sediado na Bolívia foi um gesto humanitário, que me faz lembrar gestos de outros diplomatas brasileiros no tempo de Hitler. Era o tempo do nazismo. A senhora Aracy Guimarães Rosa e o embaixador [Luiz Martins de] Souza Dantas, que, contrariando ordens superiores do próprio Itamaraty à época, permitiram que inúmeros refugiados do nazismo viessem para o Brasil e, portanto, não morressem, e são reconhecidos hoje como heróis, até pelo governo do PT. Uma decisão extremamente equivocada mostra o governo brasileiro, que tinha uma tradição secular de respeito aos direitos humanos, aos tratados internacionais, se curvando a um alinhamento ideológico. É algo a ser lamentado: a posição do governo brasileiro, que não se esforçou, ao longo de 450 dias, para que houvesse o salvo-conduto ao senador, gerando obviamente uma decisão extremada do diplomata, que recebe absoluta e total solidariedade da oposição brasileira, em especial do PSDB.\

 

Esse caso terminou com a saída do chanceler brasileiro, do ministro das Relações Exteriores

Mais uma decisão também inexplicável. Mas tirar ou não embaixadores ou ministros é uma responsabilidade da presidente da República. Não entro nessa questão. O que vejo é que esse caso, na verdade, vem na sequência de outros, como o retorno, a entrega dos boxeadores cubanos, que buscavam asilo no Brasil. A situação do Zelaya, de aproximação do governo do PT com o regime iraniano. Uma série de alinhamentos ideológicos que não fazem jus à história da diplomacia brasileira. Repito, o que fez o diplomata deve ser respeitado por nós como uma decisão humanitária e, portanto, mais uma decisão equivocada do governo brasileiro que se curva ao alinhamento ideológico.

 

Sobre a situação, agora, do senador Molina

Ele tem que ser respeitado aqui no Brasil e recebido como asilado político e ter todas suas garantias de vida respeitadas. É o que se espera de um país democrático como o Brasil e, sobretudo, que tem tradição de respeito aos direitos humanos. A questão central é o que o governo brasileiro nesses cerca de 450 dias não se empenhou para que houvesse por parte do governo boliviano aquilo que dele se esperava: o salvo-conduto. Em não havendo, o diplomata tomou a decisão correta, que foi de preservar a vida do senador, trazendo-o para o Brasil. E aqui ele deve receber o asilo formal e, obviamente, ter as garantias de vida dadas pelo governo do Brasil.

 

Como o sr. vê o fato de a presidente Dilma não ter sabido de nada desse episódio?

Foi um caso extremado. O lamentável é que não tenha havido por parte do governo brasileiro, da presidente da República, do próprio chanceler Patriota, o empenho necessário para que o asilo temporário dado na embaixada, no escritório da embaixada em La Paz, viesse acompanhado do salvo-conduto. Existia ali uma posição extrema. E foi em uma outra situação extrema, como essa a que me referi durante o regime nazista, que vidas foram salvas. Acredito que o diplomata ajudou a salvar a vida do senador boliviano.

 

O presidente Renan anunciou que na quinta-feira será realizada a primeira seção temática do Senado, com a presença da presidente do TSE, sobre reforma política. Vai adiantar essa sessão temática?

Há um esforço quase que secular dessa Casa para avançar nas questões relativas à Reforma Política. Em reforma política não é possível você construir consenso onde tantos interesses contraditórios estão em jogo, mas é possível construir maiorias. O PSDB definiu, pelo menos, cinco temas que considera que venham aprimorar o processo político brasileiro. O fim das coligações proporcionais, o voto distrital misto, o tempo de televisão vir a ser calculado apenas pelo partido que compõem a chapa e não por um a um partidos cooptados, sobretudo por governos, e o fim da reeleição com mandato de 5 anos. Essas são as questões, para nós centrais e, a maioria que pudermos construir em torno delas, acredito são boas para o país. Agora, é preciso reconhecer, quem tem maioria é a base do governo, não somos nós.