Desafio

Aécio Neves – Correio de Uberlândia – 17/02/2016

Não há assunto que deva ocupar mais as autoridades públicas neste momento do que a epidemia de casos relacionados ao vírus zika. O Brasil tornou-se epicentro de uma preocupação de proporções mundiais. Todos os esforços precisam ser dedicados a combater a doença e proteger a população. Estados e Municípios estão abandonados pelo Governo Federal, como ocorre no conjunto dos serviços da saúde, em um lamentável “salve-se quem puder”.

Parece incrível que o Brasil diante de todos os gravíssimos problemas que enfrenta tenha em um mosquito seu principal inimigo da hora. Mas é a mais pura verdade. A epidemia de doenças que têm no Aedes aegypti o seu vetor – a dengue, a chikungunya e a microcefalia – é o retrato da falência de um governo incapaz de cuidar dos serviços básicos à população.

A presidente Dilma Rousseff age atrasada e age muito mal ao transformar o combate ao mosquito em uma cruzada cujo primeiro objetivo é tornar-se escudo para proteger o governo do desgaste que vive em função do fracasso econômico. A guerra contra a Aedes deveria ter sido deflagrada pelo governo do PT muito antes.

O resultado do descaso pode ser medido agora pelo tamanho do desafio que todo o País vive. Em apenas quatro meses, o número de casos de microcefalia relacionados ao zika multiplicou-se por 12. Não foi por falta de aviso. Há anos, o Brasil convive com explosões de dengue. Antes de bater recorde em 2015 e matar como nunca (quase 900 vítimas fatais), a doença vivera seu pico histórico em 2013. Não se viu ação à altura por parte deste governo que há 13 anos comanda a nação. Ilustra esta omissão o absoluto desleixo em relação a nossos centros de pesquisa.

O Instituto Butantã, por exemplo, passou meses à espera de aval da Anvisa para iniciar a fase de testes da vacina contra a dengue e, agora, clama pela liberação de verba federal para buscar um antídoto contra o vírus zika. É um tempo precioso que se desperdiça e vidas que se perdem. Nunca antes neste país, a ciência foi tratada com tanto descaso.

Transformada em uma das moedas do troca-troca político-partidário que enovela o governo petista, o Ministério de Ciência e Tecnologia perdeu mais de um quarto de sua verba ano passado, concentrado em quitar dívidas pretéritas e não em produzir mais saber. A Fiocruz viu 22% do seu orçamento serem reduzidos, desde 2014. Sem ciência, sem estrutura adequada de saneamento, o país vale-se de técnicas rudimentares de combate às doenças, apela ao voluntarismo, depende da iniciativa da população e do altruísmo de alguns cientistas. Torce pelo triunfo da sorte.

O Brasil, infelizmente, vive problemas de toda natureza, e são graves. Mas, entre todos eles, a prioridade deve ser sempre salvar vidas, dar conforto a mães e qualidade de vida a filhos que viverão com limitações pelo resto de suas vidas. É na face pungente de cada bebê vitimado que a presidente da República e o governo federal deveriam se inspirar antes de ir para a guerra contra o Aedes aegypti, e não em suas estratégias de marketing.

A Campanha da Fraternidade, lançada semana passada, elegeu como tema, para este ano, o direito essencial de todos ao saneamento público. A iniciativa é mais que oportuna. É hora de cobrar do poder público menos retórica e mais responsabilidade.

Leia mais aqui.

Realidade e Marketing

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 15/02/2016

O final de semana foi pródigo em imagens planejadas com afinco para ganhar o noticiário e a simpatia popular: ministros estrategicamente espalhados pelos Estados e até a presidente da República, no Rio, na tentativa de passar a ideia de uma aliança entre governo e população, combatendo um inimigo comum.

Nada contra o esforço de mobilização nacional de combate ao mosquito Aedes aegypti. O lamentável é quando a máquina de propaganda se sobrepõe às iniciativas efetivas do poder público. Não é de hoje que a saúde pública no Brasil vai de mal a pior.

Metade das residências brasileiras não tem acesso a esgotos coletados e tratados. Ao contrário do que diz a presidente, o seu governo não prioriza o saneamento no país. Este ano, os recursos reservados no Orçamento para o setor tiveram forte queda na comparação com 2015. Sobre esse tema, é oportuno lembrar a proposta do PSDB de isentar de impostos empresas de saneamento como forma de aumentar os investimentos no setor. Assumida pela candidata Dilma como compromisso, na campanha eleitoral de 2010, foi abandonada em seguida.

O mosquito sem controle reflete omissões e erros imperdoáveis. Por exemplo: em meio a uma emergência mundial decretada pela OMS, o Ministério da Saúde atrasou em meses a entrega aos Estados de kits para exames de detecção de dengue. A vida real não comporta tal lentidão. Só nas três primeiras semanas deste ano, o número de casos de dengue cresceu 48% em relação ao mesmo período de 2015.

De 2013 a 2015, o programa de pesquisas e estudos sobre a dengue perdeu fôlego –ano passado, o pagamento efetivado pelo governo foi menos da metade do previsto. No verão de 2015 a dengue explodiu no Nordeste. Agora, temos um surto de microcefalia associada ao vírus da zika.

A realidade não comunga dos roteiros do marketing.

Apesar da grave crise enfrentada pelo país, o governo federal e as empresas públicas mantêm um bilionário orçamento de publicidade. Juntos, Petrobras, Caixa, Banco do Brasil e Correios possuem verba anual de mais de R$ 1 bilhão! No caso da Petrobras e dos Correios não há sequer o pretexto da disputa de mercado. O governo federal tem orçamento semelhante.

Pois bem, em vez de distribuir panfletos em esquinas de grandes e poucas cidades, por que não encontrar uma forma de, ao menos esse ano, destinar grande parte desses valores ao patrocínio de grandes e estratégicas ações de comunicação, informação e mobilização da sociedade? Se o dinheiro público pode patrocinar a divulgação da Olimpíada, por que não pode patrocinar também a defesa da população?

O desafio é novo, urgente e imenso. Não será vencido com mais do mesmo.

Leia também aqui.

Presidente Dilma repete velhas promessas não cumpridas em mensagem ao Congresso, critica Aécio

O senador Aécio Neves afirmou, nesta terça-feira (2), que a presidente Dilma Rousseff repetiu velhas promessas não cumpridas no discurso feito esta tarde, na reabertura do ano legislativo no Congresso. Para o senador, a presidente não apresentou propostas consistentes para ajudar o Brasil a superar a grave recessão econômica causada pelos erros cometidos pelo governo e pelo PT nos últimos anos.

“Ela repete as mesmas propostas constantes das outras mensagens enviadas ao Congresso Nacional e que jamais foram cumpridas. Um ano atrás a presidente dizia da necessidade que o governo teria de controlar a inflação ou controlar as contas públicas. O Brasil foi rebaixado por duas agências internacionais e a inflação continua sem controle. Lamentavelmente, o que nós assistimos aqui foi mais do mesmo, repetição de promessas vazias de uma presidente da República que já não demonstra qualquer condição de tirar o Brasil do gravíssimo atoleiro no qual ela própria nos mergulhou”, afirmou Aécio, presidente nacional do PSDB.


Não à CPMF

Aécio Neves também criticou a presidente Dilma Rousseff por propor na mensagem ao Congresso a volta da cobrança da CPMF. Na avaliação do senador, a presidente quer que a sociedade brasileira pague o rombo nas contas públicas provocado pela irresponsabilidade fiscal do governo. Ele ressaltou que o PSDB lutará para que a população não seja penalizada com a recriação do imposto.

“O que ela buscou hoje foi o apoio do Congresso Nacional para o aumento da carga tributária, e não vejo nela condições de pedir qualquer outro sacrifício à sociedade brasileira. A presidente foi incapaz de fazer mínima mea culpa que fosse, mostrando ao país de forma de clara que reconhece os erros que cometeu ao longo do seu primeiro mandato. A oposição, e o PSDB em especial, estará vigilante para impedir que o aumento de carga tributária aprofunde ainda mais a recessão na qual o governo da presidente Dilma e do PT mergulhou o país”, ressaltou Aécio.


Vaias no plenário

O senador avaliou que a ausência de propostas concretas e a repetição de promessas foram os motivos das vaias contra a presidente na reabertura do Congresso.

“Parecia que a presidente estava assumindo hoje, e não que o seu partido estivesse há 13 anos no poder sem encaminhar nenhuma das reformas que hoje ela se propõe a fazer. A presidente veio em busca de uma cena, de uma foto no Congresso Nacional. E ela, aqui, pode perceber o sentimento de boa parte do Congresso Nacional de repulsa à mentira, às promessas vazias e ao aumento da carga tributária”, criticou.

O senador disse ainda que a falta de credibilidade da presidente Dilma fará com que 2016 seja mais um ano difícil para os brasileiros.

“Confiança e credibilidade, quando se perde, é muito difícil de se reconquistar. E a presidente da República, a presidente Dilma Rousseff, infelizmente, jogou fora todo crédito que tinha para poder liderar o processo de recuperação do país”, afirmou.


Zika vírus

Durante a entrevista, o senador Aécio Neves voltou a criticar o uso de cargos no Ministério da Saúde feito pela presidente Dilma para atender a partidos políticos. Ele disse que ao fazer uso político de uma área de fundamental importância para a população, a presidente perdeu a autoridade até mesmo para liderar uma campanha de combate ao mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do zika vírus.

Aécio destacou que ceder cargos importantes em troca de apoio no Congresso, a presidente mostrou sua falta de compromissos com saúde dos brasileiros.

“Que autoridade tem a presidente da República para liderar esse processo de combate ao zika vírus, tendo ela distribuído os principais cargos e próprio Ministério da Saúde a aliados seus? Única e exclusivamente para ter alguns votos, para se manter no poder”, lamentou Aécio Neves.