Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre o Bolsa Família e o governo federal

O senador Aécio Neves ressaltou, em entrevista coletiva, nesta quinta-feira (31/10), em Brasília, que o Bolsa Família foi criado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, além de outros programas de transferência de renda, como o Bolsa Alimentação ou Vale Gás. Aécio Neves falou, ainda, sobre a preocupação em relação à inflação no país, o marketing eleitoral da presidente da República e a autonomia do Banco Central.

Leia a transcrição da entrevista abaixo:

 

Sobre críticas do ex-presidente Lula ao governo do ex-presidente Fernando Henrique.

O ex-presidente Lula tem que parar de brigar com a história. Se não houvesse o governo do presidente Fernando Henrique, com a estabilidade econômica, com a modernização da economia, não teria sequer havido o governo do presidente Lula.

O presidente Lula teve duas grandes virtudes, duas importantes virtudes em seu governo: quando deu sequência e ampliou os programas sociais de transferência de renda do governo do presidente Fernando Henrique. Não vamos esquecer que o presidente Fernando Henrique deixou 6,9 milhões famílias cadastradas e recebendo algum benefício: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação ou Vale Gás. O segundo momento positivo do presidente Lula, contrariando todo o discurso da sua campanha, foi manter a política macroeconômica do governo anterior, aquilo que chamamos de tripé macroeconômico. Foram os dois grandes acertos do governo do presidente Lula.

Portanto, é uma bobagem ele esquecer o que veio antes dele. Acho que é uma demonstração de fragilidade e de grande incoerência querer criar adversários virtuais. Escutei o ex-presidente falando que os adversários consideram o Bolsa Família uma esmola. Não sei quem disse isso, não conheço nenhum adversário que disse isso. Mas me lembro que o presidente disse isso na sua campanha no 2º turno em 2002, quando se referia aos programas que foram os embriões do Bolsa Família como esmolas.

E estendo até à própria presidente, que precisa encontrar um discurso um pouco mais coerente. Ela, quando alertávamos o país para o recrudescimento da inflação, a inflação de alimentos na casa de dois dígitos, se referia a nós, inclusive em cadeia de rádio e televisão, como os pessimistas de plantão. Disse que não existia nenhum problema inflacionário.

Essa semana ela admite, em seu próprio discurso, diz que a inflação que gerou tanta preocupação e afligiu tanto aos brasileiros no início do ano, mas que agora está mais sob controle. Quero dizer que não, não está não. A inflação continua afligindo os brasileiros. Não dá para a mídia do governo se impor à realidade do país. Temos uma situação no país extremamente preocupante.

Nosso crescimento é pífio, vergonhoso em relação aos nossos vizinhos, a inflação no teto da meta é extremamente perigosa sobretudo para países em desenvolvimento, como o Brasil. O crescimento da nossa dívida pública é extremamente preocupante, o saldo da nossa balança comercial provavelmente vai inexistir esse ano, vai ser zero, e a perda da credibilidade do Brasil é o fato concreto que existe hoje.

 

Por que o presidente Lula está tão raivoso?

Essas últimas aparições e falas do presidente não é de quem está sereno. Não é de quem está confiante. Repito: não há como brigar com a realidade. O que a ministra Marina faz é registrar o que ocorreu efetivamente na história do Brasil. A estabilidade foi o pressuposto, é a pré-condição absolutamente fundamental para que o Brasil avançasse ao longo desses anos, mas a capacidade transformadora do governo do PT, se é que um dia existiu, exauriu-se.

Vejo o presidente da República e a própria presidente, que não tem uma agenda de presidente, tem uma agenda de candidata que os brasileiros pagam a conta porque é feita com dinheiro público. Um ato de campanha eleitoral, esta semana, na comemoração dos 10 anos do Bolsa Família. Nada havia ali de governo, mas às custas do governo. O governo do PT e a própria presidente da República, infelizmente, continuam tendo uma enorme dificuldade em separar o que público do que é privado e o que é público e partidário do que é privado. O governo tem essa dificuldade permanente.

 

Lula está assumindo posto de candidato no lugar da Dilma?

Mesmo sem querer, vai criando uma sombra sobre ela. O que vejo é o PT hoje muito ansioso, aflito. Duvidando das condições da presidente da República que eu acho que não são boas. Alguém para disputar a reeleição deveria estar numa condição muito melhor da que ela está. Hoje, mais de 60% dos eleitores brasileiros dizem não querer votar em uma candidatura do PT. Isso gera inseguranças internas. Agora, isso é uma questão que eles vão ter de resolver internamente. Se alguém tem hoje efetivamente um conflito interno, é o PT.

 

O ex-presidente Lula e a presidente Dilma mandaram os presidenciáveis estudar. E eles precisam estudar?

Todos nós devemos estudar. Todos nós devemos permanentemente estar nos preparando para os desafios da vida. O presidente Lula sabe disso. Acho que o governo foi um bom aprendizado para ele. O que tenho dito, e vou dizer hoje de forma muito clara, é que o aprendizado do PT no governo tem custado muito caro ao Brasil.

Por exemplo na relação com o setor privado. O PT demonizou essa relação, ao longo de anos fez disso quase que um instrumento de política eleitoral e, ao mesmo tempo, agora de forma, a meu ver, envergonhada, sucumbe, se curva à necessidade da parceria com o setor privado.

Na gestão do Estado brasileiro a ineficiência é a principal marca, acho que é essa que fica. Se nós formos buscar lá adiante, fora do ambiente eleitoral, marcas para o governo da presidente Dilma, eu diria que ele teria duas marcas muito claras: a ineficiência por um lado e os desvios éticos por outro.

 

Como o sr. está vendo a discussão do projeto do BC?

É uma discussão que vai ser aprofundada, não conversei com o (Francisco) Dornelles ainda, vamos conversar. Marcamos uma conversa para o início da semana que vem. Tenho conversado com economistas ligados a nós. Sempre disse que autonomia do Banco Central é necessária, mas talvez seja dispensável essa autonomia em lei. Acho, por exemplo, que o mandato de 6 anos é um mandato longo, excessivamente longo para um presidente do Banco Central. Até porque seria maior do que do próprio presidente da República.

É uma discussão que se coloca. Nós sempre defendemos a autonomia funcional do Banco Central. Isso é importante para a condução da política monetária. Transformar isso em lei, amarrando tempo de mandato, é uma discussão que precisamos aprofundar.

 

Hoje o sr. acha que existe essa autonomia funcional?

Em parte ela existe. Em determinados momentos de maior aflição do governo, percebemos que ali há alguma ingerência.

 

O Lula quer dar credibilidade para presidente Dilma?

Não sei o que o Lula está querendo. O que vejo é um ex-presidente aflito. E digo isso como alguém que tem e sempre teve uma boa relação com ex-presidente Lula. É alguém que não está seguro das condições e das possibilidades da sua candidata.

Aécio Neves – Entrevista coletiva sobre o Bolsa Família

O senador Aécio Neves, em entrevista coletiva, hoje (30/10), em Brasília, defendeu a inclusão do Bolsa Família à Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Aécio Neves afirmou que, se aprovado o projeto de lei, o benefício poderá vir a ser um instrumento de travessia para a inserção no mercado de trabalho e para a melhoria de vida da população brasileira.

Leia a transcrição da entrevista abaixo:

 

Quero apenas dizer nessa introdução que faltou um convidado especial hoje nesses festejos (dos 10 anos do Bolsa Família). O convidado de honra deveria ter sido o presidente Fernando Henrique, que iniciou os programas de transferência de renda, deixou o governo com mais de 6 milhões de famílias recebendo de programas distintos, como o Bolsa Escola, o Bolsa Alimentação e o Vale-Gás, e deixou inclusive o Cadastro Único iniciado, e deu, obviamente, os caminhos para que eles fossem unificados e depois ampliados. E reconhecemos essa ampliação.

Mas estamos aqui hoje, eu, como presidente nacional do PSDB, estou apresentando projeto de lei que incorpora o Bolsa Família à LOAS, à Lei Orgânica da Assistência Social. A partir da aprovação desse projeto, o Bolsa Família deixa de ser o projeto de um governo, ou, para alguns, de um partido político, e passa a ser uma política de Estado e assim deve ser tratada.

O maior benefício ou homenagem que podemos fazer às famílias que recebem o Bolsa Família, que só existe pela visão que sempre tivemos das desigualdades graves por que vive o Brasil e a necessidade dessas políticas de complementação de renda, o maior benefício que se pode fazer às famílias que recebem o Bolsa Família é tirar-lhes o tormento, a angústia de a toda véspera de eleição serem atemorizadas pela irresponsabilidade e leviandade de alguns, que acham que seus adversários irão em determinado momento interromper o programa. Ao transformá-lo em política de Estado, com as mesmas características, com o mesmo financiamento, em torno de 0,5% do PIB, com as mesmas condicionantes, estamos dando uma graduação maior a esse programa.

E vamos apresentar uma proposta em breve que garanta que os pais de família que conseguirem emprego de carteira assinada possam receber ainda por seis meses os benefícios do Bolsa Família. Porque o grande temor das famílias que recebem o Bolsa Família para se reintroduzirem no mercado de trabalho é que, depois, eventualmente perdendo o emprego, tenham dificuldade para serem recadastradas.

Vamos apresentar propostas que garantam efetivamente aquilo que não vem acontecendo hoje: o acompanhamento das famílias e das suas condicionantes. Hoje existem, segundo o próprio governo federal, 2 milhões de crianças que não são acompanhadas pelo Bolsa Família, pertencentes às famílias que o recebem. Mais de 1,5 milhão de crianças que estão com a presença escolar abaixo da média.

Queremos deixar para trás o tempo de comemoração de novas famílias, de ampliação do programa, para efetivamente cuidarmos e cuidarmos de verdade das famílias que compõem o programa Bolsa Família.

Portanto, ao deixar de ser um programa de governo e passar um programa de Estado há, em um primeiro momento, tranquilidade às famílias que recebem esse benefício transitório e uma atenção maior do governo, a partir das propostas que encaminharemos brevemente, que permita o acompanhamento, como está a vida dessas pessoas, como melhorou a qualidade da educação dessas pessoas, como está o acompanhamento das crianças, seja na vacinação, seja no acompanhamento da maternidade, das mães.

Há hoje uma pouco transparente fiscalização e acompanhamento do governo. Portanto, nós que lá atrás, no governo do presidente Fernando Henrique, iniciamos os programas de transferência de renda, estamos hoje homenageando as famílias, tirando delas a pressão política. Vi hoje, e confesso que me surpreendi, durante as comemorações, a declaração do ex-presidente Lula, acusando, porque sempre acusa os seus adversários, como acusaram no recente programa eleitoral do PT, de quererem diminuir o Bolsa Família ou acabar com o Bolsa Família. Na verdade, trazendo de novo este fantasma, que não existe, às famílias que recebem o Bolsa Família. E dizia o presidente hoje que alguns adversários chegaram a chamá-lo de bolsa esmola. Eu me lembro apenas de um personagem que caracterizou os programas de transferência de renda em esmola, exatamente o candidato Lula, no debate de 2002, quando candidato à Presidência da República no segundo turno, contra José Serra. Ali ele caracterizava os programas de transferência de renda que foram embrião do Bolsa Família, de esmola.

Apenas volto a este passado, acho que é uma grande contradição, para dizer que sempre acreditamos que pelas gravíssimas distorções sociais, pelas diferenças que existem no Brasil hoje, era importante sim que houvesse programas compensatórios. Da mesma forma que acreditamos que novos e vigorosos passos possam ser dados. Enfim, o que estamos hoje é tirando o Bolsa Família da agenda eleitoral e resgatando, de alguma forma, a tranquilidade e a serenidade das famílias que o recebem.

 

É preciso ampliar o programa?

Acho que é preciso mais do que isso. É preciso que as condicionantes que originaram o programa sejam acompanhadas mais de perto. Há uma preocupação central do governo, hoje, muito mais em ampliar e anunciar novos beneficiários do que saber como está a vida dessas pessoas. É um absurdo. É quase um crime que 2 milhões de crianças não estejam sendo acompanhadas. Onde estão estas crianças? 1 milhão e meio de crianças estão com a sua presença escolar abaixo da meta. O que o governo está fazendo em relação a isso? Enquanto este programa é conduzido por uma secretaria, de um governo, de um ministério, a transparência fica comprometida. O que queremos é que, ao transformar o Bolsa Família em política de estado, acabar de uma vez por todas com a utilização eleitoreira e criminosa em determinados momentos do programa, e compreendendo de forma muito clara que eles são necessários, mas que eles são transitórios. E outras etapas terão de vir.

 

O Bolsa Família é a principal bandeira eleitoral da presidente Dilma. O senhor não teme ser acusado pelo governo de estar se apropriando de algo que a Dilma tem tanto bradado?

Ao contrário. Nós lá atrás, quando iniciamos os programas de transferência de renda, jamais nos apropriamos politicamente deles. O início desses programas foi no governo do presidente Fernando Henrique, e a nossa preocupação não era transformá-los em um programa do partido. Quando terminou o governo do PSDB, 6 milhões e 900 mil famílias recebiam algum dos benefícios. O cadastro único foi iniciado e houve ali a virtude do presidente Lula, eu sempre a reconheci, de unificar os programas e ampliá-los. O que ocorreu é que, de lá para cá, transformaram o Bolsa Família quase que em um troféu eleitoral. E agindo de forma perversa para com os cidadãos que recebem e necessitam do Bolsa Família, Assustando-os. Como aconteceu recentemente por um desatino e um gesto de absoluta incompetência da Caixa Econômica Federal.

Toda véspera de eleição há sempre a tentativa de colocar o Bolsa Família como patrimônio de um partido ou de um governo. Não é. O Bolsa Família é, a partir da aprovação desse projeto, que espero ocorra com apoio do PT, porque se não ocorrer esse apoio é porque querem eternizar a utilização política do programa, queremos transformá-lo em uma política de Estado. E vamos debater o futuro, vamos debater novas políticas de integração das pessoas, novas políticas de inclusão, novas etapas. Precisamos ter um país que qualifique a sua juventude, que permita alçarem ou ambicionarem empregos de melhor qualidade.

O Brasil não quer ser, eternamente, o país do pleno emprego de 2 salários mínimos. Nós queremos muito mais, mas hoje, depois de uma decisão do partido, estamos transformando, com esse projeto, quando aprovado, o Bolsa Família em uma política de Estado. Não há mais espaço para manipulação eleitoral de um programa importante para um conjunto grande da população brasileira, já incorporado à paisagem econômica e social do Brasil.

Vamos discutir novas etapas, vamos discutir novos passos. Até porque, para nós do PSDB, o Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Vale Gás, embriões que foram do Bolsa Família, eram apenas o ponto de partida. Para o PT me parece que o Bolsa Família é o ponto de chegada. É aí que está a nossa divergência.

 

Essa comemoração dos 10 anos do Bolsa Família, o senhor considera que seja um ato de campanha?

Todos os atos do governo recentemente são atos de campanha. Temos uma candidata a presidente da República full time, não temos hoje uma presidente da República full time. Até sugeri, em uma das últimas visitas que a presidente fez a Minas, que a candidata desse uma carona à presidente para que desse respostas às questões reais do meu estado, e isso serve para todos os outros estados.

O que estamos fazendo hoje é dizendo de forma definitiva: não utilizem de forma eleitoreira, gerando angústia, apreensão e incerteza nessas mais de 13 milhões de pessoas que recebem o programa. Ele foi concebido lá atrás, foi ampliado legitimamente no governo do PT e novas etapas serão vividas. Este terrorismo que assistimos inclusive na última propaganda eleitoral do PT, quando o ex-presidente disse que tem gente aí que quer acabar ou tem gente que quer diminuir o Bolsa Família. Não é verdade. Queremos muito mais do que isso, porque diferente do PT, que se contenta com a administração diária da pobreza, queremos medidas que permitam a sua superação.

 

Aécio Neves – Entrevista sobre os 25 anos da Constituição

O senador Aécio Neves afirmou, em entrevista coletiva, hoje (29/10), em Brasília, que a Constituição de 1988 institucionalizou a democracia no Brasil e trouxe muitos avanços para o país, no que se refere aos direitos individuais e às garantias sociais. Aécio Neves comentou que o primeiro projeto que assinou, como constituinte, foi o que estabelecia o voto facultativo a partir dos 16 anos.

Leia a transcrição da entrevista abaixo:

 

Sobre Constituição de 1988

Na verdade, a Constituinte de 1988 foi o reencontro da sociedade brasileira com as liberdades, com a democracia, com os direitos individuais e com avanços sociais. Tive o privilégio de fazer parte daquele conjunto de brasileiros que teve uma oportunidade histórica, de permitir que o Brasil desse, a partir da Constituinte de 88, os mais vigorosos passos para consolidarmos a democracia que retornava ao Brasil. A constituinte ocorre logo após o encerramento de um ciclo de 21 anos de autoritarismo. E ela surge diferente da sua proposta inicial. Ainda quando havia perspectiva da posse do presidente Tancredo havia um esboço de um projeto inicial que orientaria as discussões da Assembleia Constituinte. O presidente Sarney preferiu não vir por esse caminho e permitiu, portanto, que a própria Assembleia Constituinte, ouvindo a sociedade brasileira, construísse a nova Constituição.

Ela pode pecar por ser extremamente detalhista em alguns aspectos. Mas ela tem a grande virtude de ter incorporados os direitos individuais, direitos sociais, que hoje são inalienáveis, hoje são patrimônio definitivo da cidadania e da sociedade brasileira.

 

Sobre uso da máquina pela presidente Dilma

Não temos hoje mais uma presidente full time, temos uma candidata full time. E as ações do governo, todas elas, são da direção da campanha eleitoral. Lamentavelmente, não há regras que inibam isso, mas o que assistimos hoje é quase que um monólogo por parte da presidente da República. Vamos aguardar que, no tempo certo, no momento da discussão, no momento do contraditório, possamos mostrar que, para o Brasil, é muito bom que esse ciclo que encerre e inicie outro com eficiência na gestão pública, com uma visão mais pragmática e moderna das nossas relações externas, com clareza e transparência nos atos dos governantes. Tenho muita confiança que vamos ter, dentro de um futuro próximo, um novo governo no Brasil.

 

Qual a idade o senhor tinha quando foi Constituinte?

Me elegi com 26 anos. A Constituinte foi dois anos depois, já tinha 28 anos. Existia realmente um grupo mais jovem. Éramos a deputada Rita Camata, mais ou menos também nesta idade, o atual senador e ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima e eu. Acho que éramos os mais novos. Portanto, para nós, imagina, é uma experiência extraordinária poder estar participando e ajudando a escrever a história do Brasil e me lembro que o primeiro projeto que assinei e vigora até hoje, ao lado outros colegas, foi o que estabelecia o voto facultativo a partir dos 16 anos de idade, como uma forma de você trazer para a militância, para a participação política, para que se interessassem pela política os jovens brasileiros. Portanto, foi uma experiência extraordinária e me lembro com muito orgulho daquela participação.

 

Balanço sobre avanços da Constituição

Sem dúvida alguma, extremamente mais positivo. Ela trouxe avanços nos direitos individuais, nas garantias sociais. Ela institucionalizou a democracia no Brasil. Ela talvez tenha pecado por um excesso de detalhamento. Na verdade, avança em questões que poderiam ser objeto de regulação, por Lei Complementar. Até mesmo, alguns, por lei ordinária. Mas o arcabouço da Constituição de 88 é extremamente positivo. Permitiu uma página de descentralização inclusive das receitas, de fortalecimento dos estados e municípios do seu escopo. Apenas, a meu ver, este pecado, mas não se pode ter apenas virtudes. Ela é extremamente detalhista, o que gera recorrentes dúvidas na sua interpretação.

 

Sobre projetos que restringem abuso de medidas provisórias (MP)

É verdade, porque o sistema atual faz com que o Parlamento seja uma instituição de segunda linha. Porque ficamos aqui, o tempo inteiro, apenas a discutir e votar medidas provisórias. Não há tempo para a agenda construída pelo Congresso. Apenas homologamos ou não, e na maioria das vezes homologamos, a agenda do Poder Executivo. Quando apresentei um projeto que obrigava que as medidas provisórias fossem à votação, pelo menos inibíamos em parte as suas edições, já que antes da minha presidência na Câmara elas eram reeditadas sucessiva e indefinidamente. Me lembro que, em 2001, tínhamos medidas provisórias sem que estivessem sido votadas, do Plano Real de 1994. Apenas para citar um exemplo.

Estabelecemos uma nova regra. Depois de determinado tempo elas iriam à votação, exatamente para que houvesse uma inibição do governo a suas edições. Mas aí vieram outros efeitos colaterais, como por exemplo, o excesso de trancamento da pauta, e apresentamos agora, já como senador, relatei um projeto de autoria do presidente Sarney, que estabelece outras regras. Infelizmente, apesar de ter sido aprovado por unanimidade no Senado Federal, ele aguarda ainda a deliberação da Câmara dos Deputados.

 

Sobre independência do Parlamento

Em 1988, vimos o reencontro da sociedade com o Parlamento. A Constituição de 1988 trouxe avanços extremamente importantes, seja na garantia de direitos individuais, de avanços sociais, e permitiu a consolidação efetiva da democracia no Brasil. Vínhamos de 21 anos de regime autoritário. Ela teve essa grande virtude. Talvez tenha pecado pelo excesso de detalhamento em várias das suas propostas. Ela desce a temas que poderiam ter sido discutidos através de projetos de lei ou de lei ordinária. Mas tem a virtude de ter interpretado o sentimento da sociedade brasileira.

O Parlamento vem se divorciando da sociedade, a verdade é essa. Hoje, somos um apêndice do Poder Executivo. O Congresso Nacional, a partir da maioria governista, hoje, nada fez mais que homologar as decisões do governo. Nada mais faz que votar a agenda do governo, grande parte dela através de medidas provisórias. Quando presidi a Câmara dos Deputados, consegui aprovar proposta que impedia a reedições indefinidas ou ilimitadas das medidas provisórias.

Exatamente para inibir sua edição. Foi um avanço importante naquele tempo, elas passaram a trancar a pauta. Mas tivemos um efeito colateral, que foi o trancamento excessivo da pauta. Apresentamos nova proposta no Senado, na verdade, relatei uma proposta do presidente José Sarney, que foi aprovada por unanimidade no Senado, mas, infelizmente, não teve até hoje deliberação da Câmara dos Deputados. Já faz quase dois anos. Era preciso que essa proposta fosse aprovada para que o Congresso pudesse, interpretando o sentimento das ruas, ele próprio apresentar sua agenda.

Hoje, o Congresso Nacional não tem autonomia para apresentar uma agenda de projetos. Essa autonomia, infelizmente, foi usurpada pelo Poder Executivo.

 

Sobre pesquisas eleitorais

Essas pesquisas, se você analisá-las com maior profundidade, todas elas mostram que mais de 60% da população não querem votar na atual presidente da República, mesmo tendo ela 100% de conhecimento, uma presença na mídia diária e avassaladora. Acho que quem for para o 2º turno com a atual presidente da República, se é que ela vai para o segundo turno, vence as eleições.

 

Sobre a independência do Banco Central

Acho que não precisa de um regramento legal. Ela pode ser exercida como em parte vem sendo feita hoje pelo governo. A autonomia do Banco Central tem que ser preservada e isso pode ser feito independente de mudanças na legislação.

Aécio Neves – Entrevista coletiva em 
Uberlândia

O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, hoje (28/10), em Uberlândia, onde esteve para participar do Conversa com os Mineiros, o primeiro de uma série de encontros regionais do partido em Minas Gerais. O senador falou à imprensa sobre os objetivos do encontro, a agenda nacional do PSDB para o ano que vem, as privatizações realizadas pelo PT, a implantação do gasoduto no Triângulo Mineiro, entre outros assuntos.

Leia a transcrição da entrevista abaixo:

 

Sobre o encontro em Uberlândia

Reunimos aqui as principais lideranças políticas do conjunto de partidos que,  desde de 2002, vêm dando sustentação a esse projeto transformador que hoje é conduzido em Minas, com extrema eficiência, pelo governador Anastasia. Está na hora, sim, de começarmos a definir nossas bandeiras, conversarmos com as várias regiões do Estado – vamos fazer outros encontros como esse –, mas não foi por acaso que começamos em Uberlândia.  A importância política, cultural, econômica de Uberlândia no cenário de Minas justifica que aqui tenha sido dada a largada, o pontapé inicial.

Estou extremamente otimista de que vamos ter, em Minas Gerais,  mais quatro anos de governo sério, de governo honrado. É bom para Minas, mas também estou seguro que, no plano nacional o sentimento é de mudanças. E, obviamente, com Minas unida essa mudança fica muito mais fácil.

 

Sobre a chapa para o governo de Minas

O PSDB tem felizmente quadros extraordinários que estão aqui colocados, e essa decisão vai ocorrer com absoluta naturalidade. Já que, infelizmente, o governador Anastasia, pela legislação, não pode disputar mais um mandato – que seria o caminho natural –, mas infelizmente ele já foi reeleito, teremos um novo nome. E acho que as coisas caminham com naturalidade. As pessoas estão conversando entre si. Não há uma data marcada, determinada para esse lançamento, mas o que é mais importante hoje é estarmos unidos, e isso hoje foi uma demonstração de força, de unidade do nosso campo político que, ao longo desses últimos anos, só se fortaleceu e se ampliou. O normal é você perder forças, nós adquirimos força. E no momento que esta decisão estiver madura ela vai ser tomada pelo conjunto dos partidos e não apenas pelo governador e pelo senador.

 

Sobre a agenda do PSDB para o ano que vem

Estamos construindo essa agenda nesses vários encontros pelo Brasil. Já estivemos no Nordeste há menos de dois meses atrás. Fizemos um grande encontro da região Sul do país em Curitiba (PR), volto inclusive ao Rio Grande do Sul na semana que vem. Vou depois, ainda na semana que vem, a Manaus (AM), no encontro da região Norte. Volto a Belém (PA) para concretizar a agenda da região Norte, depois fazemos um grande encontro em Goiânia (GO) na região Centro-Oeste.

A partir daí estaremos prontos, acredito que na primeira quinzena de dezembro, para lançar não um programa de governo, há tempo ainda, mas as linhas gerais daquilo que vou chamar, agenda para o futuro. As principais ações, que na nossa visão, deveriam, rapidamente implementadas para que o Brasil volte a crescer de forma digna. Vamos crescer, já foi dito aqui hoje, apenas mais do que a Venezuela esse ano. Isso não se justifica. E o crescimento, no período da atual presidente da República, do Brasil comparado aos vizinhos da América do Sul é vergonhoso.

Cresceremos em torno de 1,8% enquanto a América do Sul – e olha que não estamos falando de países industrializados, países extremamente competitivos – vamos ter um crescimento de 5,1%, o Brasil vai crescer um terço.

 

Sobre privatizações do PT

Precisamos apresentar linhas gerais de condução da política macroeconômica, da política social e da agenda de investimentos em parceria com o setor privado. A grande verdade, é que esse longo aprendizado do PT, que tanto demonizou, por exemplo, as parcerias com o setor privado e agora as realiza de forma envergonhada, mas realiza, custou muito caro ao Brasil. O PT realizou, poucos dias atrás, a maior privatização da história do Brasil no pré-Sal. Mas tem dificuldades de sequer admitir isso.

Nós não podemos demonizar o capital privado. Temos de criar condições no Brasil de respeito a contratos, condições jurídicas que não se alterem a todo instante para que os investimentos tenham segurança de vir para o Brasil. O Brasil apostou, ao longo desses últimos anos, apenas no crescimento via consumo. Isso exauriu-se. Isso chegou no limite. Mais de 60% das famílias hoje estão endividadas. No momento em que deveríamos ter nos preparado para dar continuidade a este crescimento pela via do investimento, o que fizemos foi o contrário, afastamos o capital privado. Estive há poucos dias em Nova York, falando para um grupo enorme de investidores de todo o mundo, e a visão que se tem em relação ao Brasil é de enorme pessimismo. Exatamente pelo intervencionismo do governo, pela flexibilização na condução da política econômica. Por isso, acho que ano que vem é hora de encerrarmos esse ciclo e iniciarmos um outro.

 

Sobre definição da candidatura nacional do PSDB

Tenho dito há muito tempo e repito hoje aqui: a principal das artes das política é administrar o tempo. Não há necessidade de termos uma candidatura colocada agora. Tenho viajado o Brasil como presidente nacional do PSDB. Tenho buscado construir esta agenda nesta condição de dirigente partidário. Acho que no início do ano que vem teremos o clima adequado para a definição de quem irá empunhar essas bandeiras. Nada adianta você ter um candidato hoje que as pessoas não compreendam com clareza o que ele representa, que tipo de visão tem em relação à Federação como disse, em relação ao financiamento da saúde, da segurança, à política externa.

Vamos construir, as linhas gerais daquilo que será o embrião de um programa para o Brasil e, a partir daí, o partido estará pronto para, no início do ano que vem, ter o seu candidato com muita naturalidade e extremamente unido. A nossa unidade é o combustível mais valioso que temos para vencer as eleições.

 

Sobre implantação do gasoduto no Triângulo Mineiro e implantação da fábrica de amônia

Eu iniciei esta mobilização. Esta negociação para o gasoduto começou no meu governo, no ano de 2008 e 2009, na objeção forte da Petrobras. Eu faço aqui a homenagem e me lembro que em uma dessas reuniões me acompanhou o ex-presidente José Alencar, que foi importante para que esta decisão fosse tomada. Mas só foi tomada porque eu assumi o compromisso e o governador Anastasia está honrando, de a Cemig participar da construção do gasoduto. Se não, não teríamos sequer a possibilidade da fábrica de amônia vir para Uberaba.

Foi uma negociação ampla conduzida por nós. O governo federal demorou muito a dar esta autorização e espero que possamos, em um entendimento de alto nível, do governador Anastasia e do governador Geraldo Alckmin, ter rapidamente o anúncio do início da construção da fábrica em Uberaba.

O importante é voltar ao passado e lembrar. Só está sendo viabilizada essa fábrica porque o governo de Minas assumiu o compromisso com a construção do gasoduto. Achava inclusive que poderia ser feito pela própria Petrobras, mas ela não quis fazê-lo. Assumi esse compromisso, o governador Anastasia está honrando, e por isso estou convencido que a fábrica de amônia vem para Uberaba.

 

Sobre o discurso do PSDB

Acho que o PSDB tem que fazer esse esforço, de falar para as pessoas. Mas falar a verdade, que deixamos de ter os indicadores sociais avançando no Brasil. Temos o retorno do crescimento do analfabetismo, uma agenda de trinta anos atrás. Estamos vendo investimentos que poderiam ser carreados para o Brasil, para gerar emprego e renda, indo para outras reuniões do mundo. O Brasil não pode crescer eternamente como o país do pleno emprego de dois salários mínimos. Queremos qualificar o emprego, fortalecer a nossa indústria, garantir competitividade às empresas nacionais. Tenho muito confiança que as pessoas entenderão que o governo do PSDB é a garantir de um governo sério, honrado e corajoso para fazer as mudanças que o PT não fez. O PT abriu mão de ter um projeto de país e se contenta hoje com um projeto de poder. E é isso que vamos combater com muita coragem, muita determinação.

 

Sobre encontros do PSDB nos estados

Estou chamando o Brasil para conversar. Tenho andado todos os estados, conversando não apenas com a classe políticas, mas com setores da sociedade. Hoje conversando conosco representantes do agronegócio, dos micro e pequenos empresários, catadores de papel. Estamos ampliando esse leque. E vamos mostrar muito o que fizemos em Minas Gerais. Acho que os exemplos de Minas, que tem a melhor educação fundamental do Brasil, o melhor atendimento de saúde do Sudeste, foram conquistas de governos sérios, que sabem trabalhar. E é disso que o país precisa. Estou muito animado, muito otimista.

 

Sobre os resultados das pesquisas

O que essas pesquisas mostram de consistente a um ano das eleições, me lembro da intenção de voto do governador Anastasia, que talvez não tivesse a um ano da eleição 3% de intenção de votos, e venceu em primeiro turno. O fato consistente nessa pesquisa é um só. Mais de 60% da população não quer dar um segundo mandato à presidente da República. Todas elas mostram a mesma coisa, mesmo tendo ela 100% de conhecimento, uma mídia avassaladora diária nos principais veículos de comunicação do país.

O sentimento que acho que vai reger essas eleições é o de mudança, e ninguém estará em melhores condições do que o PSDB, pela estrutura que tem, pelos governos exitosos que tem, a começar pelo de Minas Gerais, para fazer esse enfrentamento. Na hora certa vamos chegar muito competitivos para vencer as eleições.

 

Sobre motivo do adiamento da visita do ministro Fernando Pimentel a Uberlândia marcada para hoje

Tem que perguntar para ele. Nosso evento estava marcado e estamos com nossos companheiros mostrando a força da nossa aliança. Mas é legítimo que o ministro também venha aqui. Temos que mostrar, por exemplo, que Uberlândia no tempo de Odelmo avançava muito mais do que tem avançado no tempo do PT.

Aécio Neves – Entrevista coletiva em Presidente Prudente

O senador Aécio Neves, em entrevista coletiva concedida, hoje (26/10), em Presidente Prudente (SP), falou com os jornalistas sobre o trabalho do PSDB na construção de uma agenda para o Brasil, a sua presença no estado de São Paulo, as eleições de 2014 e o leilão de Libra.

Leia a transcrição da entrevista abaixo:

 

Sobre a visita a Presidente Prudente 


É com muita alegria que venho hoje a Presidente Prudente com o deputado Mauro Bragato, o presidente do PSDB em São Paulo, Duarte Nogueira, e o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes, e de várias ouras lideranças do PSDB. Como presidente nacional do partido, eu me propus a conversar com os brasileiros, andar pelo Brasil falando o que nós pensamos, mas também ouvindo muito para a construção de uma nova agenda para o Brasil.

A percepção clara que eu tenho, e as pesquisas todas em regra mostram isso, é que mais de 60% da população brasileira querem mudança, não querem a continuidade do governo do PT. E nós, do PSDB, o principal partido de oposição no Brasil, temos a responsabilidade de apresentar uma proposta alternativa a essa. Uma proposta que passe pelo fortalecimento dos municípios e dos estados, já que a federação foi destroçada ao longo dos últimos anos e garanta maior generosidade no financiamento da saúde pública, da segurança e da educação, onde as pessoas qualificadas ocupem os postos de governo, onde haja uma parceria transparente com o setor privado ao alavancar obras de infraestrutura, onde haja uma reinserção do Brasil nas cadeias globais de produção. O Brasil hoje foi alijado dessas cadeias de produção, nós perdemos espaço no comércio exterior (queremos também um projeto)  onde  tenhamos políticas que não apenas a administração da pobreza, como parece querer  o PT.   Nós queremos a superação efetiva da pobreza.

 

Nova agenda do PSDB para o Brasil

O PSDB está construindo uma nova agenda. Até o final do ano, pretendemos lançar aquilo que eu vou chamar de agenda para o futuro, com os novos desafios para o Brasil na nova década, até porque e eu acho bom registrar,  a agenda que está hoje em curso no Brasil foi a agenda proposta pelo PSDB lá atrás, a agenda da estabilidade monetária, da lei de responsabilidade fiscal, dos programas de transferência de renda, da modernização da nossa economia, com a privatização de determinados setores. O PT não inovou, não trouxe uma nova agenda. Na verdade, enquanto acompanhou a agenda do PSDB, veio bem. Depois que a abandonou, sobretudo do ponto de vista macroeconômico, as coisas começaram a piorar.

Nós pretendemos lançar essa agenda, não um programa de governo, porque esse programa será debatida durante a campanha eleitoral, mas as linhas gerais dessa agenda, pretendo fazê-lo ainda este ano, provavelmente na primeira quinzena de dezembro.  Vamos fazê-la a partir dessas conversas, a partir desses contatos, dessas contribuições que nós estamos recebendo, seja no setor agropecuário, seja daqueles ligados às questões da mobilidade. Seja das figuras ligadas às áreas sociais, que é uma preocupação permanente nossa. Tenho certeza que o PSDB, no momento da eleição, vai estar muito vigoroso. Vai estar fortalecido para terminar esse ciclo do PT e iniciar um outro ciclo para o Brasil, onde a eficiência e a ética possam caminhar juntas.

 

Candidatura do PSDB

O PSDB no momento certo vai apresentar essa proposta ao país e aí vai definir aquele que irá empunhar essa bandeira. Não adianta o PSDB ter uma candidatura, se não tiver propostas claras, se as pessoas olharem para o partido e não identificarem nele uma alternativa melhor do que esta que está aí. Posso dizer que eu me sinto extremamente animado por onde eu ando. Ontem em Rio Preto foi dessa forma, em Olímpia foi da mesma forma. O entusiasmo das pessoas, sobretudo das lideranças municipais, que estão vendo aí a fragilização de seus municípios. O governo trabalha para que o Brasil se transforme quase que em um estado unitário, nenhuma das grandes questões da agenda da federação foram enfrentadas pelo atual governo, seja o aumento do percentual do fundo de participação, seja o impedimento de desonerações que afetem as receitas dos estados e municípios ou o fim da tributação do Pasep, por exemplo.

 

Sobre agenda de viagens em São Paulo

Venho aqui na busca da construção dessa agenda, aonde é o berço do PSDB, aonde é o coração do PSDB e agradeço muita a receptividade que estou tendo hoje.

Eu sou hoje o presidente do partido de oposição ao governo federal e nós estamos construindo a agenda para o Brasil, estamos discutindo com as várias regiões do país quais são os principais investimentos necessários, de que forma nós vamos financiar melhor as ações sociais do governo, que novos saltos nós vamos dar para garantir a geração de empregos de melhor qualidade, portanto eu venho aqui para discutir isso com os nossos companheiros e com uma alegria muito grande, de estar na terra do meu companheiro Bragato, de estar no estado governado pelo meu companheiro Geraldo Alckmin. São Paulo é o berço do PSDB. Estando forte em São Paulo, nós estaremos fortes em todo o Brasil Por isso a minha agenda estará dedica em grande parte a São Paulo.

 

Pesquisas eleitorais

Não questiono pesquisas. Eu só faço as considerações que qualquer um que as leia pode fazer. Se você coloca pessoas que têm 100% de conhecimento com metade, obviamente o resultado traz algumas distorções. O que todas as pesquisas mostram nesse momento é mais de 60% da população não quer dar um segundo mandato para a presidente da Republica. Que ela sim, tem 100% de conhecimento, uma visibilidade diária na mídia, uma campanha institucional de governo bilionária com vocações sucessivas e abusivas de cadeia de rádio e televisão.

O momento do embate não chegou ainda. Hoje é quase um monólogo que nós estamos assistindo. A presidente e os ministros falam o que querem, sem qualquer tipo de contestação, sobretudo nos espaços maiores de comunicação. Nós estamos construindo nossa proposta e no momento oportuno nos vamos chegar bem. Eu acho muito bom, e para mim é muito confortador, ver a presidente a um ano das eleições liderando as pesquisas. Nós vamos ganhar a pesquisa que vale a pena, que é a da eleição no ano que vem.

 

Retomada do crescimento

O Brasil, na era petista, apostou no crescimento da economia via consumo. A partir da oferta de crédito farto, e isso foi importante em determinado momento, principalmente no momento da crise em 2008. Mas era previsível que o crescimento por esse caminho, exclusivamente, teria um limite. Hoje mais de 60% das famílias estão endividadas. Era preciso que o Brasil criasse um ambiente favorável a que os investimentos pudessem vir e alavancar o crescimento. O que aconteceu foi o inverso, com o excesso de intervencionismo do governo, casado com uma condução extremamente flexível da política macroeconômica, com meta de inflação, câmbio flutuante, superávit primário. Tudo isso foi flexibilizado no governo do PT. E o que ocorreu? Um ambiente de hostilidade do investimento privado.

Estive há poucas semanas em Nova Iorque, fazendo uma palestra para mais de 800 investidores de todo o mundo. A visão que se tem do Brasil é extremamente pessimista. Eles não têm confiança para fazer investimentos aqui porque as regras mudam. Porque a intervenção do governo é permanente, como aconteceu recentemente no setor elétrico. O que nós temos é que criar um ambiente favorável para que esses investimentos venham para o Brasil, até porque outras regiões do mundo competem conosco em termos de investimentos, para que não repitamos o que vai acontecer esse ano. O Brasil vai crescer apenas mais que a Venezuela na América do Sul. No ano passado nós crescemos apenas mais que o Paraguai. A média do crescimento do PIB da economia brasileira na era Dilma será algo em torno de 2,5%. A América do Sul crescerá nesse mesmo período 5.1%. Não é justo. Não é adequado. Não é razoável que o Brasil esteja no final da fila.

O Brasil precisa de um governo que tenha responsabilidade e competência na condução da política econômica, que trate e inflação com tolerância zero, já que a inflação que ronda hoje os 6% é extremamente alta para países do nosso padrão, países em desenvolvimento. E está nesse patamar porque existe uma parcela dela de preços controlados: energia, gasolina, tarifas de transporte são alguns dos itens controlados pelo governo a inflação está em torno de 1%. Nos preços livres já ultrapassou 9%. Quando a tampa dessa panela de pressão for aberta a inflação vai subir, e essa é exatamente aquela que penaliza os mais pobres. Está na hora, em benefício do Brasil, de nós encerrarmos esse ciclo de desgoverno do PT e iniciarmos um outro de eficiência e responsabilidade para com todas as conquistas que nós obtivemos até aqui. A grande verdade é que a herança bendita do governo do PSDB está se exaurindo. É preciso novamente um governo do PSDB.

 

Sobre eleições 2014

Eu sou de uma terra, Minas Gerais, onde se diz que não se deve colocar o carro na frente dos bois. Aprendi muito cedo, na minha casa, com o governador Tancredo Neves, que a maior das artes da política é administrar o tempo. Uma decisão correta, no tempo errado não traz o resultado adequado. Você não deve antecipar decisões sem necessidades, mas obviamente  não pode se permitir ser engolido pelo tempo. Sempre achei que o inicio do próximo ano, e eu dizia há alguns meses, o amanhecer de 2014 é o momento para que, com extrema naturalidade, o PSDB definir aquele que vai empunhar essas bandeiras. A preocupação que tenho agora, que é a minha responsabilidade.

Na política, você não pode botar prazo, porque as coisas não se movem dessa forma, mas eu acho que no início do ano, talvez até o mês de março, devemos ter uma decisão tomada com absoluta naturalidade. Não precisa ser antes.

Acho extremamente positivo, antes que me perguntem, e digo isso com absoluta sinceridade,  que o companheiro José Serra é um quadro extremamente qualificado do PSDB. É um privilégio para o PSDB tê-lo nos quadros. Por isso, fiz um esforço pessoal para que abandonasse, se é que ele teve, a ideia de deixar o partido. Onde ele estiver e quanto mais ele andar, mais estará contestando o governo, mais estará nos ajudando, ajudando o campo oposicionista.

É dessa forma que vejo também, neste momento, a presença do Eduardo (Campos) e da Marina (Silva) na disputa. Não vamos esquecer que nós falamos aí de dois ex-ministros do presidente Lula, que se estivessem do lá, estariam fortalecendo o campo governista. Mas estão no campo oposicionista. Então, tem que ser saudado também, tem que apresentar suas propostas.

Confio profundamente que é o PSDB, pela estrutura que tem, pela história que tem, pelos quadros que tem e pela ousadia que vai demonstrar ao lançar suas propostas, e ao discuti-las com os brasileiros, é quem tem as melhores condições de ir para o segundo turno e de vencer as eleições pelo bem do Brasil.

 

Leilão de Libra

O Brasil é o único país do mundo que consegue, com seu o ufanismo tradicional e a propaganda oficial, comemorar como um enorme sucesso um leilão onde se apresenta apenas um consórcio e onde o bem leiloado é adquirido sem qualquer ágio.

Aécio Neves – Segunda parte da Entrevista em São José do Rio Preto

O senador Aécio Neves concedeu entrevista, nesta sexta-feira (25/10), em São José do Rio Preto, onde participou de encontro com lideranças do PSDB. Ele falou sobre as condições da saúde no Brasil, sobre a necessidade de refundação da Federação e sobre os últimos dados das pesquisas eleitorais.

 

Leia, abaixo, mais alguns trechos da entrevista do senador Aécio Neves:
Sobre Mais Médicos

Não é um programa apenas que vai resolver o problema da saúde no Brasil. Pode até resolver o problema de marketing do governo. Até me assustei, ontem na propaganda eleitoral do PT, os médicos sendo usados para fazer campanha para o PT, recém-chegados aqui. Acho que inclusive é uma ilegalidade. Há no mínimo um abuso, uma falta de limites. O PT tem uma enorme dificuldade em separar aquilo que é público, daquilo que é privado, que é partidário.

A saúde pública no Brasil precisa de mais solidariedade do governo federal. Há 10 anos, o governo federal participava com 56% de todo financiamento de saúde no Brasil, do total do que se gastava com saúde pública no Brasil. Hoje gasta apenas 45%. Nós precisamos é de gerenciamento na saúde, de generosidade do governo para aprovar aquilo que ele não deixou sua base aprovar que era 10% das receitas brutas serem investidas na saúde. Foi a base do governo, orientada pela presidente da República, que impediu que nós tivéssemos mais recursos para a saúde pública. O Mais Médicos é um programa, mas tratar o Mais Médicos como uma solução para os problemas no país é desrespeitar os brasileiros. Estamos vendo as situações das Santas Casas, a precariedade dos municípios para ampliar o atendimento básico de saúde.

Sobre perda de autonomia dos municípios e da Federação

Federação é hoje é uma palavra solta em uma folha de papel. O governo do PT está transformando o Brasil num estado unitário, colocando estados e municípios cada vez mais dependentes, com pires na mão. Isso não é justo com o Brasil. Precisamos tomar medidas claras e termos uma agenda de medidas necessárias para restabelecer a capacidade de municípios e estados, eles próprios, enfrentarem suas dificuldades.

Minha história política é feita ao lado dos municípios. Governei por oito anos o estado que tem o maior número de municípios brasileiros. E os prefeitos de Minas querem sair pelo Brasil dizendo o que nós fizemos, as parcerias que construímos que nos permitiram ter hoje a melhor educação básica do Brasil, segundo o MEC, a melhor saúde pública do Sudeste, segundo o Ministério da Saúde.

O governo federal não atende, não acata nenhuma das propostas em discussão no Congresso Nacional que os fortaleça os municípios, seja a PEC da senadora Ana Amélia que aumenta em 2% os recursos do IPI e do IR que compõem o Fundo de Participação, seja uma PEC de minha autoria que impede a continuidade das desonerações nas parcelas de recursos dos estados e municípios. Nada disso anda no Congresso Nacional. Porque a presidente prefere ter ela o comando dos recursos e atender politicamente aqueles que obviamente estão ao seu lado. Isto não é correto com o Brasil.

Sobre pesquisa Ibope

Esses dados vistos agora são vistos de forma extemporânea até porque o nível de conhecimento dos candidatos é muito distante. Mas todas as pesquisas trazem algo incomum, que a meu ver é o mais relevante e que deve ser observado com muita atenção: 60% ou mais da população brasileira não querem votar na atual presidente da República, não querem dar à presidente Dilma mais um mandato. É isso que as pesquisas mostram. Tendo ela 100% de conhecimento, uma exposição midiática quase que diária, uma campanha bilionária dos órgãos do governo. Mesmo assim 60% da população ou mais não quer dar à ela o segundo mandato. Para estar segura e tranquila, ela precisaria estar tendo uma avaliação muito melhor que a avaliação que está tendo. Agora, campanha é no ano que vem.

Sobre candidatura do PSDB

No ano que vem, fevereiro ou março, é um bom momento para essa decisão ser tomada. Não tem uma data certa. E a partir da nossa unidade, apresentarmos ao Brasil a melhor alternativa.

O PSDB é a melhor alternativa para nós retomarmos o crescimento econômico com qualidade, de forma sustentável, avançando no fortalecimento da Federação, estados e municípios.