O presidente nacional do PSDB e candidato do partido à Presidência da República, senador Aécio Neves, lembrou, nesta terça-feira (01/07), no plenário do Senado, os 20 anos do Plano Real e a implantação da moda em 1º de julho de 1994, quando as cédulas começaram a circular no país.
Leia o pronunciamento do senador:
Numa manhã, exatamente, no dia 1º de julho de 1994, portanto, há exatos 20 anos, começava, a circular, no Brasil, a primeira cédula de Real, uma transformação absolutamente estruturante na vida de todos os brasileiros. O maior, sem dúvida alguma, o maior programa de distribuição de renda da nossa contemporaneidade, porque ela privou do perverso imposto inflacionário dezenas de milhões de brasileiros que conviviam aquele tempo – e fico apenas no período, pré-posse do Presidente Fernando Henrique – de 916% ao ano. Esse era o índice do IPCA quando o Presidente Fernando Henrique assumiu a Presidência da República.
Oito anos se passaram, a inflação veio ano a ano sendo reduzida, a credibilidade do País sendo recuperada e outras reformas estruturantes sendo efetivadas: as privatizações de setores como o de telecomunicações, como a da Embraer, como a da siderurgia, essenciais à busca da modernidade ou da inclusão do Brasil nas cadeias globais mundo afora, e depois a Lei de Responsabilidade Fiscal, outro marco absolutamente fundamental à administração pública brasileira.
Todas essas medidas, feitas com o esforço do Governo do PSDB, com o extraordinário apoio da sociedade brasileira, não foram conquistas fáceis, porque nós encontramos ali, em todas elas, a oposição ferrenha do Partido dos Trabalhadores, seja em relação ao Plano Real, seja em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal, recorrendo, inclusive – vejam vocês – ao Supremo Tribunal Federal, para buscar inviabilizá-la.
A história está escrita. Ninguém vai reescrevê-la. Nós podemos consultá-la e interpretá-la. Mas o fato concreto é que a mais importante reforma estruturante ocorrida no Brasil nos anos recentes foi exatamente o Plano Real, o reencontro do Brasil com a estabilidade.
Isso foi possível porque nós vivíamos em um regime democrático e faço aqui um registro, até por oportuno, sobre a responsabilidade que teve, em um instante ainda de incertezas da vida nacional, o presidente que assume a Presidência da República na ausência do Presidente Tancredo Neves. V. Exa, Presidente Sarney – fica aqui este registro – foi o condutor do Brasil rumo à consolidação das suas instituições democráticas e à convivência com as liberdades, sobretudo a liberdade de imprensa, hoje – ainda que veladamente – ameaçada.
Venho a esta tribuna para fazer este registro, porque foi com a coragem e competência daqueles que governavam o Brasil naquele instante que o Brasil criou as condições para implementar outras importantes reformas.
O tempo passou, a vida caminhou, outras conquistas nós obtivemos, e não tenho o mau costume de alguns dos nossos adversários de considerar aqueles que estão no outro campo político como inimigos a serem batidos a qualquer custo. O Brasil de hoje é certamente um Brasil muito melhor do que o Brasil de décadas atrás, foi uma construção de vários governos sob a responsabilidade de diferentes partidos políticos.
A grande realidade de hoje, e é a razão que me traz a esta tribuna, é que, infelizmente, uma agenda que julgávamos ultrapassada e superada, a agenda da estabilidade da moeda e da credibilidade do País, fundamentais à retomada do crescimento em bases mais sólidas, volta a ser a agenda do nosso cotidiano.
Novamente, a inflação volta a atormentar a vida dos brasileiros, sempre rondando o teto da meta, mesmo com preços controlados nas áreas de energia, de combustíveis e de transportes públicos.
O que faltou ao Brasil nesses últimos anos foi coragem política para implementar as reformas necessárias para que o país não sofresse hoje o constrangimento e nós, brasileiros, as consequências, de sermos o País que menos cresce na nossa região. Na verdade, o quadro é de estagflação – estagnação do crescimento da economia, 0,2% de crescimento no primeiro trimestre deste ano, com inflação recorrente.
Mais do que nunca os brasileiros terão oportunidade, dentro de exatos três meses, de escolher que caminho querem seguir. Ou a recuperação da capacidade de implementar reformas esquecidas e abandonadas ao longo desta última década, para que o Brasil possa efetivamente reencontrar o caminho do crescimento e, a partir da daí, da melhoria de seus indicadores sociais, ou simplesmente a manutenção dessa perversa maquiagem fiscal e, a partir dela, a desorganização do Estado brasileiro como jamais visto no aparelhamento da máquina pública em toda nossa história.
Fica, portanto, aqui um registro de cumprimento àqueles que tiveram a coragem política lá atrás de acreditar naquele plano econômico. E aqui a minha homenagem àquele que exatamente desta tribuna que falo hoje nos fez companhia por muitos anos num período mais remoto, mas por seis meses em um período mais recente, o então Presidente Itamar Franco.
Ocupava ele exatamente este microfone, por isso fiz questão de, deste microfone, fazer a homenagem a todos os brasileiros que nos ajudaram a construir essa extraordinária transição do país da hiperinflação, do país sem credibilidade, do país atormentado por inseguranças no seu cotidiano, para um país estável, que passou a poder programar o seu futuro.
Hoje, infelizmente, os desafios voltam a ser aqueles, em parte, que nós vivemos há cerca de 20 anos. O que posso assegurar aos brasileiros que aqui estão é que, no nosso campo político, assim como não faltou lá atrás, não faltará agora coragem e competência para recolocar o Brasil no rumo que querem os brasileiros.
Eu quero e tenho esse sonho, como cada um de nós tem os seus, de ver, dentro de muito pouco tempo, no Brasil, reconciliada a ética e a eficiência, pressupostos fundamentais para que o Brasil possa se reencontrar definitivamente com cada brasileiro.
Fica, portanto, o registro de cumprimentos ao Presidente Itamar Franco, de reconhecimento ao papel histórico do Presidente José Sarney e também o meu cumprimento, porque não poderia deixar de ser, ao grande homem público e grande Presidente Fernando Henrique Cardoso, timoneiro dessa transição.
Muito obrigado.
Brasília, 1 de julho de 14.