Trechos da entrevista
Sobre sessão de julgamento de Eduardo Cunha
Eu respondo a tudo isso. Mas antes quero dar uma primeira palavra, como mineiro, da nossa alegria de ver uma mulher, uma jurista, uma cidadã brasileira – na dimensão maior que essa expressão possa conter – assumindo a Presidência do Supremo Tribunal Federal.
A presidência de um Poder no momento em que o Brasil precisa de harmonia. Como foi dito aqui, em um dos discursos: a independência tem que vir acompanhada da harmonia entre os Poderes. E depois do momento difícil por qual passou o Brasil há poucos dias, acho que a ministra Cármen Lúcia tem o perfil, a tradição, o espírito mineiro da grande conciliação e, ao mesmo tempo, a coragem para fazer as grandes transformações.
Portanto, é um momento de festa para Minas Gerais, é um momento de muita alegria para aqueles que acompanharam, como eu, a sua trajetória ao longo, pelo menos, dos últimos 30 anos. Acho que o Brasil que não conhece ainda Cármen Lúcia vai se orgulhar muito da mulher presidente do Supremo Tribunal Federal.
E em relação ao Cunha?
É uma decisão que a Câmara haverá de tomar, tomará dentro de poucas horas, e esse desfecho precisa ocorrer. Assim como o Brasil precisava ver virada a página do impeachment, precisará ver virada agora essa página. O que me preocupa, e falo como presidente nacional do PSDB, é a agenda que teremos pela frente. Uma agenda que não será de facilidades. Mas nós não iremos colocar o Brasil no rumo do crescimento, da recuperação, do emprego, sem dias difíceis pela frente.
Então, é hora de investirmos no convencimento do Congresso, dos vários partidos da base, para a absoluta necessidade e urgência desse conjunto de reformas que começa a ser discutido. Esse não pode ser um ano perdido, agora, no segundo semestre. Apesar das eleições, temos que avançar, seja na votação final, que eu acredito possível, da PEC do teto dos gastos públicos, mas também avançando na discussão da PEC da reforma previdenciária. A partir de ontem é hora de botar mãos na massa e entregarmos um Brasil diferente no final desse ano, enfrentando com coragem, com determinação, as dificuldades que se colocarão à nossa frente.
O ex-presidente Lula disse que é contra a reforma trabalhista, e disse que os protestos vão continuar por isso.
É preciso que fique bem claro que essas reformas – que já eram necessárias a um Estado moderno – hoje se tornaram inadiáveis, imprescindíveis e absolutamente urgentes pelo que os sucessivos governos do PT fizeram com o país. Se hoje o Brasil tem um quadro social calamitoso, com 12 milhões de desempregados, com 60 milhões de brasileiros endividados, com cerca de 10 milhões de famílias voltando às classes D e E é por conta da irresponsabilidade, da leniência e do projeto de poder que orientou as ações dos governos petistas sucessivos, inclusive do ex-presidente Lula. Basta hoje você ver o que está acontecendo com o Brasil e o que está acontecendo com outros países ao nosso redor, ou mesmo em outras regiões do mundo.
Achei muito curioso a ex-presidente Dilma dizer que soube da crise no final das eleições e que em 2015 fomos varridos ou fomos levados por uma crise internacional. O Brasil cresceu menos 4% em 2015. O mundo cresceu mais de 3%. Países dependentes de commodities, e ela acusa as commodities e a queda dos preços das commodities como a razão do aprofundamento da nossa crise. O Chile, que cresceu 3% naquele ano, vá ao Peru, que cresceu 2,5%. Nós crescemos menos 4%. Então, a crise pela qual passa o Brasil hoje é tupiniquim, é uma jabuticaba aqui inventada pelos governos do PT. Mas temos de ter a coragem necessária para tomar as medidas que o Brasil aguarda para tirar o país da crise e recuperar, principalmente, o emprego dos brasileiros
Em relação ao aumento dos salários do STF, se vota hoje?
Acho que não. Somos contra. Acho que não vota nada hoje. Acho que aquela pressão que havia está diminuindo.
Mas a tese do presidente Renan de desvincular o aumento dos ministros do efeito cascata?
Não foi discutida conosco. Somos contra desde o primeiro dia que tramita esta proposta, mas não é em relação ao Judiciário, ao Supremo Tribunal Federal. Somos contra aumento, sobretudo aqueles que levam os estados juntos. Que tenham este efeito cascata nos estados, numa hora em que precisamos é do inverso. Precisamos é de controle de gastos, de equilíbrio. Sem equilíbrio das contas públicas não há saída para o Brasil.
Por isso, é imprópria nesse momento, pelo menos, esta discussão. E acho que já há um convencimento mais amplo do que aquele que existia duas semanas atrás. Vejo setores do PMDB que estavam muito firmes, um pouco já considerando não urgente a votação seja vinculando ou desvinculando.