Em entrevista coletiva, o senador Aécio Neves fala sobre o falecimentos de Roberto Civita (presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril) e de Ruy Mesquita (diretor do jornal O Estado de S.Paulo)
Sobre o falecimento de Roberto Civita
Roberto Civita foi um dos mais extraordinários homens que conheci. O Brasil perde uma referência do bom jornalismo, corajoso, que não teme dizer a verdade. Perco um amigo muito querido. Tive a oportunidade de, nos últimos anos, conviver muito de perto com Roberto. E, para aqueles que não o conheceram tão bem, digo sem nenhum medo de errar, era um idealista.
Roberto tinha sonhos para o Brasil e acho que o maior deles é que pudéssemos ter um dia uma educação de qualidade, que permitisse ao Brasil mudar de patamar. O que nos aproximou, na verdade, foi nossa experiência de educação em Minas Gerais. Desde o início, ele acompanhou, estimulou e acho que o que poderíamos fazer para homenagear o Roberto, e tantos quanto ele que querem que esse Brasil avance não apenas na propaganda oficial, mas na vida real das pessoas, é cada vez mais qualificarmos os brasileiros para que a gente, de verdade, dê um grande salto de qualidade.
Estou aqui não apenas como ex-governador de Estado, como presidente do PSDB, mas como um amigo da família extremamente consternado com a morte do Roberto, extremamente prematura.
Para o sr., qual lição ele deixou?
Ele era um idealista. Você conversa com o Roberto, ele tinha sonhos para com o Brasil. Ele se emocionava ao falar sobre o que iria fazer daqui a 20, 30, 40 anos. Para ele não existia a linha do tempo. Roberto estava, poucas semanas antes de adoecer e ser internado, no Carnaval, com planos para frente, com planos de revigorar as revistas do grupo, com planos para o Brasil. Ele conseguia ser mais brasileiro que muitos que nasceram em solo brasileiro. Acho que a característica mais marcante dele era a capacidade de sonhar, de acreditar que esse Brasil, um dia, encontraria o caminho do pleno desenvolvimento, onde o Estado fosse indutor do crescimento, e não apenas por políticas de transferência de renda. Ele acreditava no Estado eficiente, no papel do setor privado, mas acreditava, sobretudo, na educação como instrumento de transformação. Isso, essa visão comum que temos, talvez é o que tenha mais nos unido.
O Roberto sempre foi um estimulador das boas caminhadas. Não a minha apenas. Acho que ele sentia que o Brasil precisava ter também na vida pública pessoas sintonizadas com o futuro, e não apenas com o atraso.
É um momento em que a imprensa passa por uma mudança grande. Jornais fechando, redações demitindo jornalistas. O sr. acha que a morte de Roberto Civita e Ruy Mesquita têm um simbolismo nesse momento?
São perdas muito grandes, pelo que ambos representaram para o jornalismo do seu tempo. Mas sou um otimista. Acho que as gerações que os sucederão sabem do papel que têm para o Brasil da importância de termos uma imprensa vigorosa, atualizada. E espero que os veículos possam estar se renovando, porque sem veículos independentes, não existe democracia em nenhuma parte do mundo.