O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta segunda-feira (28/09), no Rio de Janeiro, onde participou de encontro com lideranças do partido. Aécio falou sobre novas filiações, programa do PSDB, reforma ministerial, impeachment da presidente, PMDB e eleições 2016.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre o encontro no Rio de Janeiro.
Estamos realizando hoje, no Rio de Janeiro, mais um evento de fortalecimento do PSDB, na esteira daquilo que estamos fazendo em várias outras regiões, vários outros estados do Brasil. O PSDB já é o partido político que mais cresce no Brasil em número de filiações, e esses são dados do TSE. Enquanto assistimos todos os dias o nosso principal adversário perder quadros, ou verem quadros envergonhados de demonstrarem a qual partido estão filiados, o PSDB vive um momento de enorme crescimento, com filiações extremamente emblemáticas como a do governador do Mato Grosso (Pedro Taques) mais recentemente, do ex-governador de Pernambuco também nessa última semana, Joaquim Francisco, além de milhares de pessoas Brasil a fora.
O que tenho dito é que o PSDB, além de combater esse governo, denunciar as suas irresponsabilidade e ilegalidades que cometeu, tem o dever de cada vez mais apresentar-se como a principal alternativa para um novo projeto de país. Convido os senhores para hoje à noite acompanharem o programa do PSDB, que já sinaliza de forma muito clara qual o caminho que nós iremos trilhar, que combate firme a mentira, a incompetência, mas apontando para caminhos que acreditamos que o Brasil deverá trilhar para encerrar esse ciclo perverso de governo que aí está, e iniciarmos um outro, virtuoso, de crescimento com desenvolvimento social.
Essa semana, encerro com essa afirmação, estamos vendo mais um gesto que demonstra a incapacidade que a presidente da República demonstra de governar o país. Como disse o presidente Fernando Henrique, ela é governada hoje, não governa mais. A forma como espaços importantes de poder estão sendo entregues a aliados com o único e exclusivo objetivo de mantê-la no poder por mais algum tempo é a antítese, é o oposto daquilo que se espera de um governo honrado à sociedade brasileira.
Lamentavelmente, sem forças mais para comandar uma agenda positiva para o país, a presidente se entrega aos seus aliados do Congresso Nacional. E aquilo que poderia ter sido o último grande gesto à disposição da presidente da República para reconectar-se com a sociedade brasileira, mesmo fazendo aquilo que na campanha eleitoral desdenhou, que é o enxugamento da máquina pública, a diminuição do número de ministérios, corte de cargos de livre nomeação. Mesmo em algo que poderia ser positivo, a presidente se confunde e passa opinião pública um sentido de que os cargos públicos não servem para melhoras as políticas públicas, e sim para angariar mais 20, 30 votos na Câmara dos Deputados. A entrega do Ministério da Saúde – e fico nesse por ser o mais emblemático de todos – em contrapartida de 20 ou 30 votos na Câmara dos Deputados é, a meu ver, a demonstração clara de que a presidente da República não se coloca mais em condições de governar de forma adequada o país. É triste, é lamentável, e repito: o governo da presidente Dilma vive seus estertores.
O programa que vai ao ar hoje à noite confirma a determinação de não se falar claramente em impeachment?
O impeachment – e é preciso que isso fique claro – é uma previsão constitucional. Se adquirir os componentes políticos e jurídicos, que têm que se encontrar, o impeachment é uma previsão que deve ser respeitada, como outras que venham dentro daquilo que a Constituição define. Falo no programa hoje de forma muito clara: a saída para a crise se dará dentro daquilo que prevê a Constituição. Não cabe ao PSDB escolher a saída, se é via impeachment, se é via cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral em razão das denúncias cada vez mais fortes de dinheiro da corrupção da Petrobras alimentando e irrigando o caixa de campanha da presidente da República. Se um afastamento por livre e espontânea vontade ou se sua continuidade no cargo, isso não depende do PSDB.
O PSDB enquanto partido de oposição, é maior deles, tem de garantir que as instituições funcionem. Não podemos permitir que hajam constrangimentos ao Tribunal de Contas, que avalia as chamadas pedaladas fiscais dadas pela presidente da República, que nada mais é do que o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal com o objetivo meramente eleitoral. Não podemos permitir que o Tribunal Superior Eleitoral seja de alguma forma também constrangido e não faça o seu trabalho.
A nossa expectativa, e esse é um dado que eu divido aqui com vocês hoje, é que esta semana estaremos iniciando a partir da finalização da votação que está em curso naquele tribunal, iniciando o processo de investigação das contas da presidente da República para que se possa constatar ou não, porque ela tem direito à defesa, se houve dinheiro da propina na campanha eleitoral. Nosso papel, portanto, não é propor este ou aquele caminho, mas garantir que a saída se dê dentro daquilo que prevê a Constituição.
O fato concreto e claro que eu divido com vocês, é que temos um governo cada vez mais refém da semana seguinte. A presidente da República Dilma Rousseff tem como seu projeto de governo apenas se manter no cargo por mais uma semana. Entrega-se ministérios, entrega-se cargos públicos, e o Brasil, e a sua gravíssima crise na qual este governo nos mergulhou, continua acompanhando perplexo essa incapacidade do governo de responder à altura das dificuldades que ele mesmo criou. Lamentavelmente, o único projeto visível da presidente da República, e para isso como ela mesma diz, faz-se o diabo, é manter-se no poder. Mesmo que tenha de entregar a saúde dos brasileiros, mesmo que tenha de entregar a condução da infraestrutura e outras áreas importantes de governo para aliados, independentemente da sua qualificação.
Como unificar o discurso sobre o impeachment dentro do PSDB?
Vejo isso como algo absolutamente natural. O PSDB é um partido de quadros. Um partido onde as pessoas pensam e emitam as suas posições. É natural que na Câmara dos Deputados onde se dá o embate diário, o enfrentamento seja mais aguerrido. Mas todos nós, o presidente Fernando Henrique, o governador Geraldo Alckmin, e todas as outras lideranças do partido, cada vez acreditam menos na capacidade da presidente se sustentar no cargo. Digo isso porque converso com todos eles. Todos nós estamos atentos ao desfecho dessa crise. Repito, o PSDB na Câmara faz o seu trabalho no combate diário ao governo, cobra as mentiras, as contradições, as incoerências do PT.
Cabe a nós, como disse, enquanto partido político, enquanto o maior partido de oposição permitir que os tribunais funcionem e funcionem com independência, e que com coragem façam o seu trabalho. E o desfecho será seguido por todos. Não vejo contradição. O PSDB como um todo não acredita nas condições da presidente Dilma Rousseff de levar o Brasil à superação dessa gravíssima crise, que começa econômica, passa pela crise moral e hoje traz talvez a mais danosa de todas que é a crise social, que leva empregos, que com a inflação tira comida da mesa dos brasileiros. Aquele mesmo prato de comida que na propaganda oficial do PT nas últimas eleições dizia que a oposição ia retirar dos brasileiros.
O PMDB está se colocando como uma opção para 2018 e uma boa parte da força do partido vem do Rio. Como que o PSDB quer combater o PMDB no Rio?
O PSDB tem um projeto para o Brasil e deve ter um projeto para o Rio de Janeiro. O resultado que tivemos no Rio nas últimas eleições presidenciais, a meu ver, sinalizam para um potencial de crescimento enorme do partido. Mesmo disputando as eleições com quatro candidatos a governador que apoiavam a candidata do PT como ocorreu no Rio de Janeiro, com os quatro principais candidatos apoiando a candidatura do PT, tivemos, na cidade do Rio praticamente empatamos as eleições, e no estado do Rio fizemos mais de 45% dos votos.
O deputado Otávio Leite, presidente do partido, ao lado do deputado Luiz Paulo e de vários outros dirigentes do partido estão organizando o PSDB para as eleições do ano que vem. Quadros extremamente importantes estão vindo para o PSDB e acho que em nenhum outro momento nos nossos 27 anos de história tivemos um momento tão positivo. Porque o PSDB é antítese disso que está aí, do mal que aconteceu com Brasil. Então, e é natural que isso ocorra, o PSDB será adversário não apenas do PT, mas daqueles que sustentam esse projeto do PT.
Vamos qualificar os nossos quadros, vamos discutir internamente, estamos conversando com outras forças partidárias também do Rio de Janeiro – não apenas da capital, mas em várias outras regiões do estado. Acho que essa eleição de 2016 vai ter a marca daquela em que houve o maior crescimento do PSDB desde a sua fundação. Esse é o momento do PSDB. E repito, aqueles que cansaram do que está aí – do PT e de seus aliados – terão no PSDB a principal alternativa de uma nova história, seja no Rio de Janeiro, seja no Brasil.