O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta quarta-feira (11/11), em Brasília. Aécio falou sobre a Desvinculação de Receitas da União (DRU), CPMF, Joaquim Levy e Eduardo Cunha.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Quero informar que o PSDB tomou a decisão de votar favoravelmente à prorrogação da DRU, da Desvinculação das Receitas da União do patamar de 20% como vinha sempre aplicado no passado. É uma demonstração clara de que nas questões que dizem interesse ao equilíbrio fiscal do país, portanto, a retomada do crescimento e dos empregos, os brasileiros encontrarão no PSDB permanente apoio.
Da mesma forma, nos oporemos à criação de novos impostos ou aumento de alíquota dos atuais porque não acreditamos que isso melhore a vida dos brasileiros. Portanto, é uma sinalização clara de que estamos dando. Nas questões que interessam à vida dos brasileiros tão prejudicados pelas irresponsabilidades e pela incompetência do governo do PT, o PSDB se colocará favoravelmente. Já apresentamos a esta proposta na Câmara e é a mesma que apresentei hoje ao líder do governo nesta Casa.
E discutiremos outras questões no campo fiscal sempre que acharmos que elas interessam ao país.
A DRU com um percentual maior que 20% não?
Não, porque não é necessário. Os 20% consideramos adequado. Há um orçamento hoje extremamente engessado. É a possibilidade de algumas movimentações. Em relação à questão da criação de impostos, o governo na verdade não fez o seu dever de casa. Anunciou em mais uma ilusão aos brasileiros um conjunto de medidas, de cortes, que na prática não ocorreram. Sequer os cargos comissionados anunciados que seriam extintos ou cortados não foram na sua integridade. Portanto, não vemos neste governo autoridade política e nem mesmo autoridade moral para cobrar novos sacrifícios da população brasileira. Cada uma das propostas do ajuste será discutida por nós intensamente na busca de caminhos para que o Brasil possa superar as dificuldades de hoje. Mas eu quero aqui mais uma vez reiterar que não vejo na atual presidente da República, nas contradições do seu governo que aqui propõe medidas e ao mesmo tempo combate aqueles que a conduz, que é o ministro da Fazenda, não vemos mais na presidente da República as condições de tirar o Brasil desta crise. Mas não seremos nós da oposição que vamos agravá-la ainda mais.
A proposta do governo era esticar a DRU até 2023. Quanto a este prazo vocês estão de acordo?
Esta não é uma questão para nós tão central. É algo que é possível ser negociado. A Câmara achava que o prazo era extremamente longo, mas alguma coisa entre quatro e oito anos, como já defendem algumas lideranças do governo na Câmara, é algo que para nós é assimilável. Mas queremos reiterar que achamos que os fundos regionais, assim como os fundos do pré-sal para a educação e a saúde, deverão ser retirados do conjunto dos recursos passíveis de movimentação.
Como fechar as contas do governo sendo que há um rombo de R$ 120 bilhões e a oposição não concorda com a CPMF que daria um caixa de R$ 32 bilhões?
É uma pergunta para ser encaminhada ao governo que gerou este rombo, que já denunciávamos já atrás, com enorme irresponsabilidade, gastando com objetivos meramente eleitorais, muito mais do que podia gastar. Cometendo, inclusive, crime de responsabilidade como atesta o Tribunal de Contas. Cabe ao governo fazer cortes ainda mais profundos e apresentar uma agenda que não seja da carga tributária, porque ao nosso ver, aprofunda ainda mais a crise.
Estamos já recebendo previsões de um crescimento negativo da economia. Não neste ano, que já está aí de alguma forma assimilada em torno de 3%, anunciada em torno de 3% do PIB. Mas algo parecido com isso no ano que vem. Alguns analistas já falam em um crescimento negativo da economia em 3% no ano de 2016. Volto a dizer: não vejo na presidente da República a autoridade moral e a liderança política necessárias para que o Brasil retome um ciclo de crescimento. Não será com o aumento de impostos e com a supressão de novos direitos dos trabalhadores que vamos permitir ao Brasil voltar a ter esperança. Essa questão específica da DRU, para manter a nossa coerência com aquilo que pregamos e praticamos no passado, nos parece adequada.
Portanto, não fazemos como fez o PT no passado, que votava contra o governo por ser do governo, que encontrava vício de origem em tudo que vinha do Planalto. Estamos nos dedicando a debater cada um dos temas, e essa questão da DRU, anuncio formalmente como presidente do PSDB, será apoiada por nós nesses termos, em 20% na Câmara e no Senado.
A troca do ministro Levy ajudaria?
O que não ajuda é essa contradição do governo. O governo vem ao Congresso Nacional debater matérias que são fruto do entendimento interno, e ao mesmo tempo bombardeiam sem piedade o condutor dessas propostas, que é o ministro da Fazenda. Hoje, no Congresso novo ministro assumir. Como cobrar da oposição apoio a medidas que sequer o governo nelas confia ou a elas dá o seu apoio? Isso é absolutamente incompreensível. Não é a oposição que cria dificuldades para o governo. É o próprio governo, nas suas contradições, na falta de convencimento do que é necessário fazer, que vem levando o Brasil a mergulhar numa crise que já é social, com desemprego alarmante, com inflação saindo mais uma vez de controle, já ultrapassando os 10% antes do final do ano, com mais da metade das famílias brasileiras endividadas, enfim, com um conjunto de desacertos, com um conjunto de desatinos cometidos por este governo que jamais, na história contemporânea do Brasil, já havíamos vivido.
Sobre o Eduardo Cunha.
Em relação ao Eduardo Cunha, a nossa trajetória é muito clara. Votamos no candidato Júlio Delgado, quando da eleição da Presidência da Câmara. A partir da vitória de Eduardo Cunha, ele ofereceu espaço para que exercêssemos nosso papel de oposição em Comissões Parlamentares de Inquérito, em relatorias importantes de matérias, por exemplo, como a reforma política. E fizemos isso à luz do dia. Esse foi o entendimento formatado entre a oposição e aquele que oferecia à oposição esses espaços.
As denúncias vieram. Demos oportunidade a que chegassem aqui as provas, como parece que chegaram. Depois demos tempo necessário para que as suas explicações pudessem vir, e o entendimento do partido é de que elas são absolutamente insuficientes. Portanto, a posição do PSDB de votar com as provas – e as provas são contundentes hoje contra o presidente da Câmara dos Deputados –, essa será a posição do PSDB no Conselho de Ética e será a posição do PSDB no plenário da Câmara dos Deputados.