O senador Aécio Neves conversou, hoje (27/08), com a imprensa, no Senado, em Brasília, sobre a crise no Itamaraty, o afastamento do diplomata Eduardo Saboia e a proposta de reforma política.
Leia a entrevista completa:
Sobre a atuação do governo brasileira no caso do senador boliviano Roger Molina
Mais uma decisão extremamente equivocada da diplomacia brasileira, que se curva ao alinhamento ideológico. O que foi feito pelo diplomata brasileiro sediado na Bolívia foi um gesto humanitário, que me faz lembrar gestos de outros diplomatas brasileiros no tempo de Hitler. Era o tempo do nazismo. A senhora Aracy Guimarães Rosa e o embaixador [Luiz Martins de] Souza Dantas, que, contrariando ordens superiores do próprio Itamaraty à época, permitiram que inúmeros refugiados do nazismo viessem para o Brasil e, portanto, não morressem, e são reconhecidos hoje como heróis, até pelo governo do PT. Uma decisão extremamente equivocada mostra o governo brasileiro, que tinha uma tradição secular de respeito aos direitos humanos, aos tratados internacionais, se curvando a um alinhamento ideológico. É algo a ser lamentado: a posição do governo brasileiro, que não se esforçou, ao longo de 450 dias, para que houvesse o salvo-conduto ao senador, gerando obviamente uma decisão extremada do diplomata, que recebe absoluta e total solidariedade da oposição brasileira, em especial do PSDB.\
Esse caso terminou com a saída do chanceler brasileiro, do ministro das Relações Exteriores
Mais uma decisão também inexplicável. Mas tirar ou não embaixadores ou ministros é uma responsabilidade da presidente da República. Não entro nessa questão. O que vejo é que esse caso, na verdade, vem na sequência de outros, como o retorno, a entrega dos boxeadores cubanos, que buscavam asilo no Brasil. A situação do Zelaya, de aproximação do governo do PT com o regime iraniano. Uma série de alinhamentos ideológicos que não fazem jus à história da diplomacia brasileira. Repito, o que fez o diplomata deve ser respeitado por nós como uma decisão humanitária e, portanto, mais uma decisão equivocada do governo brasileiro que se curva ao alinhamento ideológico.
Sobre a situação, agora, do senador Molina
Ele tem que ser respeitado aqui no Brasil e recebido como asilado político e ter todas suas garantias de vida respeitadas. É o que se espera de um país democrático como o Brasil e, sobretudo, que tem tradição de respeito aos direitos humanos. A questão central é o que o governo brasileiro nesses cerca de 450 dias não se empenhou para que houvesse por parte do governo boliviano aquilo que dele se esperava: o salvo-conduto. Em não havendo, o diplomata tomou a decisão correta, que foi de preservar a vida do senador, trazendo-o para o Brasil. E aqui ele deve receber o asilo formal e, obviamente, ter as garantias de vida dadas pelo governo do Brasil.
Como o sr. vê o fato de a presidente Dilma não ter sabido de nada desse episódio?
Foi um caso extremado. O lamentável é que não tenha havido por parte do governo brasileiro, da presidente da República, do próprio chanceler Patriota, o empenho necessário para que o asilo temporário dado na embaixada, no escritório da embaixada em La Paz, viesse acompanhado do salvo-conduto. Existia ali uma posição extrema. E foi em uma outra situação extrema, como essa a que me referi durante o regime nazista, que vidas foram salvas. Acredito que o diplomata ajudou a salvar a vida do senador boliviano.
O presidente Renan anunciou que na quinta-feira será realizada a primeira seção temática do Senado, com a presença da presidente do TSE, sobre reforma política. Vai adiantar essa sessão temática?
Há um esforço quase que secular dessa Casa para avançar nas questões relativas à Reforma Política. Em reforma política não é possível você construir consenso onde tantos interesses contraditórios estão em jogo, mas é possível construir maiorias. O PSDB definiu, pelo menos, cinco temas que considera que venham aprimorar o processo político brasileiro. O fim das coligações proporcionais, o voto distrital misto, o tempo de televisão vir a ser calculado apenas pelo partido que compõem a chapa e não por um a um partidos cooptados, sobretudo por governos, e o fim da reeleição com mandato de 5 anos. Essas são as questões, para nós centrais e, a maioria que pudermos construir em torno delas, acredito são boas para o país. Agora, é preciso reconhecer, quem tem maioria é a base do governo, não somos nós.