O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta segunda-feira (21/09), em Brasília. Aécio comentou sobre a condenação do tesoureiro do PT e CPMF.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Com a condenação hoje do primeiro agente político de todo esse processo que estabeleceu-se chamar de Petrolão, assistimos a condenação de todo um esquema institucionalizado de corrupção que o PT estabeleceu no país para se manter no poder. E me chamou atenção, e acho que isso é extremamente relevante, um trecho da sentença do juiz Sérgio Moro quando ele diz que mais do que o enriquecimento pessoal – já comprovado de inúmeros desses agentes que participaram desse processo – a gravidade é maior quando o dinheiro da propina interfere no processo político e no processo democrático como atestam os fatos que levaram a essa condenação.
Felizmente, no Brasil hoje, temos instituições que funcionam apesar de tudo, e é hora de termos muita atenção para que o Tribunal de Contas cumpra com o seu dever e o Tribunal Superior Eleitoral da mesma forma. Não trata-se aqui de antecipar julgamentos, mas de garantir que as investigações alcancem o seu limite porque no Brasil é muito importante, nesse momento em que esperamos virar uma página definitiva na nossa história, que os brasileiros, principalmente os mais jovens, saibam que a lei vale para todos. Desde o mais humilde cidadão, e no caso dos agentes públicos, desde o vereador da menor cidade do país até o presidente da República, todos eles têm que respeitar a legislação e não podem se eleger financiados por dinheiro da corrupção, por dinheiro da propina como, cada vez fica mais próximo de ser comprovado, aconteceu com a campanha eleitoral da presidente Dilma.
Sequestraram o Estado?
Na verdade se apoderaram do Estado nacional com um objetivo: se manter no poder. A utopia foi jogada fora. E o mais grave é que roubaram a alma dos brasileiros, a crença das novas gerações na atividade política. Não existe futuro para uma sociedade sem democracia, sem que os brasileiros, os cidadãos dessa sociedade façam suas opções com liberdade. No momento em que se apodera das empresas públicas para influenciar no processo eleitoral tira-se dos brasileiros essa liberdade para escolher o seu próprio destino.
Eu, na campanha eleitoral, vocês se lembrarão, perguntei à presidente da República e dei a ela a oportunidade de dizer se confiava no tesoureiro da sua campanha. O seu silêncio foi uma confirmação de que confiava, até porque ele permaneceu ainda durante a campanha ocupando cargos na administração federal.
Cabe agora à senhora presidente da República dizer aos brasileiros se continua confiando no senhor João Vaccari Neto, responsável pela arrecadação de parte importante dos recursos que irrigaram a sua campanha, ou se o juiz Moro e a Justiça Federal cometeram com ele uma grande injustiça. Com a palavra a senhora presidente da República.
O PSDB votará contra todas as medidas do pacote fiscal ou vai votar contra a CPMF?
A questão da CPMF para nós é impensável que possa ser aprovada porque vai na direção oposta do que o Brasil precisa. O Brasil precisa recuperar a sua economia, precisa recuperar os investimentos. E essa medida vem como mais uma no campo da recessão ou do aprofundamento do processo recessivo do qual o Brasil está mergulhado. Falta a este governo aquilo que é essencial a qualquer governo para superar qualquer crise – imagine uma dessa gravidade – que é confiança, credibilidade. O próprio governo não tem coesão, não manifesta de forma uníssona confiança na viabilidade dessas propostas, ou mesmo os seus efeitos para melhorar a situação do país. O que eu vejo, e já disse aqui mais de uma vez, é o governo que ainda acha que governa, mas já não governa mais o Brasil.
O governo tenta negociar com o Congresso para segurar as chamadas pautas bombas. Como o sr. vê essa questão dos vetos?
Mais uma vez isso é consequência da incapacidade do governo de negociar com a sua própria base porque grande parte dessas medidas que foram aprovadas, foram aprovadas com voto da base governista e do próprio PT. O que não se pode neste instante é cobrar das oposições aquilo que aqueles que governam o Brasil não conseguem mais fazer. Não há uma orientação fechada do PSDB. Muitos votaram, inclusive, no primeiro momento em razão até mesmo do encaminhamento favorável feito pelo PT a essas medidas. Mas, obviamente, temos preocupação com questões que vão além deste governo. Medidas que amanhã desequilibram ainda mais a situação fiscal do país e criam maiores dificuldades ainda para a recuperação da economia são vistas com muita cautela pelo PSDB.