Aécio Neves – Entrevista no Rio de Janeiro sobre a Copa e as eleições

O presidente nacional do PSDB e pré-candidato à Presidência da República, senador Aécio Neves, concedeu entrevista, nesta quarta-feira (11/06), no  Rio de Janeiro (RJ), sobre a Copa do Mundo e as eleições deste ano.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador:

Sobre o ex-governador Marcello Alencar. 

Marcello deixa uma saudade enorme na boa política brasileira e, em especial, naqueles que o conheceram mais de perto. Marcello foi muito importante na minha trajetória política, em várias etapas da minha vida profissional e também na minha vida pessoal Marcello foi sempre um grande conselheiro, um amigo extremamente próximo. Hoje, me emocionei porque recebi do deputado Luiz Paulo um bilhete que Marcello escreveu há 15 dias e que pediu que Luiz Paulo me entregasse na convenção, quase que uma premonição.

Ele disse: “Caro presidente Aécio, somente o impedimento absoluto me ausentará de estar ao seu lado nesse dia de luz, em que você se dispõe a governar o nosso país. Se não puder estar, Luiz Paulo estará ao seu lado e o fará”. Ele fala que apenas o impedimento absoluto o impediria de estar lá no próximo sábado, não é? A morte. Então, é uma demonstração do apreço, do carinho, vou guardar isso com muito carinho. Acabei de receber.

E fica sempre o exemplo de homem que soube ter lado na política, desde a resistência à ditadura, e, depois, representante o Rio de Janeiro como prefeito, como governador, como um dos fundadores do PSDB. A minha caminhada na liderança do partido, depois na Presidência da Câmara, teve seu apoio aberto, claro, incondicional, enquanto poucos do meu próprio partido faziam isso. Marcello sempre teve uma clareza muito grande das suas posições.

E me estimulava, nos últimos tempos, nessa caminhada rumo à Presidência da República. Venho aqui não homenagear apenas o homem público, mas um amigo querido, a Célia, sua esposa, seus filhos, lembrando sempre dos privilégios que tive dos seus conselhos e da sua amizade.

 

Sobre a importância de Marcello Alencar para o PSDB-RJ.

Os melhores momentos do PSDB no Rio de Janeiro foram sob a condução de Marcello Alencar. Ele liderou o partido com uma penetração popular muito forte, na Zona Oeste, de forma muito expressiva. Falava ali com a deputada Lucinha, falando que ele foi fundamental também na sua caminhada. Marcello soube levar a mensagem do PSDB a regiões onde o PSDB tem tido ao longo os últimos anos maiores dificuldades de penetração, a grande verdade é essa. Fica aí o exemplo e uma sinalização. Marcello era o PSDB próximo das pessoas, próximo do povo, como precisava voltar a ser, como tentado fazer com que volte a ser.

Mas é uma perda, para mim, muito pessoal. Era um dos conselheiros mais próximos que eu tinha, inclusive na minha própria vida pessoal. Em muitas vezes que vinha ao Rio, o visitava em São Conrado, era vizinho da minha mãe, muitas e muitas vezes ia lá tomar café com o Marcello e, agora, não terei mais este privilégio. Vai ficar sempre a boa lembrança. A lembrança dos bons momentos, da boa e alegre companhia, do bom humor do Marcello, daquela ironia fina que os bons políticos têm e, sobretudo, o seu amor ao Rio, à sua gente. Ele viveu e morreu fazendo política, respirando política. E essa demonstração aqui de vontade de estar conosco no sábado próximo, é uma demonstração clara de que, até o último dia, ele pensava no Brasil.

Sobre pesquisa Ibope divulgada ontem. O segundo turno é inevitável?

Acho que sim. As pesquisas que mostram que mais de 70%, em alguns estados como São Paulo mais de 80% da população querem mudanças profundas, certamente, levarão as eleições para o segundo turno. E acredito que quem for ao segundo turno com a atual presidente da República, se ela lá estiver, e essa é uma questão que tem que começar a ser avaliada, tem uma grande chance de vencer as eleições. O sentimento é de final de ciclo. O governo perdeu a capacidade de ousar, de transformar, de falar ao futuro das pessoas.

As participações da presidente da República, ontem, nas convenções em que ela esteve foram absolutamente patéticas. A presidente falando de medo, a presidente culpando a inflação, culpando o baixo crescimento da economia ao papel da oposição. Esquecendo-se de que o passado são eles. O passado desses 11 últimos anos são eles que estão no poder, é PT.  Se temos um crescimento pífio da economia hoje, uma inflação saindo do controle, uma perda enorme de credibilidade do país, uma ausência de melhoria nos nossos indicadores sociais, a responsabilidade única e exclusiva é do atual governo. Por isso, esse ciclo caminha para terminar. E o PSDB tem a obrigação de se colocar com a alternativa consistente, corajosa, verdadeira para fazer as mudanças que o Brasil precisa.

Estou muito tranquilo nesse momento da caminhada. A partir do sábado próximo já me ouvirão falar como candidato formalmente à Presidência da República. E vamos falar de propostas. Enquanto eles falarem de passado, vamos falar do futuro. Enquanto eles falarem de medo, vamos falar de esperança para os brasileiros.

 

Sobre o PSDB-RJ.

Respeitarei a decisão que o partido tomar. Agora, recebo manifestações de apoio de forças políticas que vão além do meu partido. E esse apoio é muito importante para nossa caminhada. Hoje, a nossa responsabilidade maior é com a construção das bases de um projeto nacional. Ter uma posição importante no Rio de Janeiro, sustentada no Rio de Janeiro, é extremamente decisiva. Sobretudo, porque, muito provavelmente, avançaremos bem em Minas Gerais, temos uma construção muito sólida em São Paulo, com o governador do Estado, uma ampla base de apoio, e o terceiro maior colégio eleitoral é exatamente o Rio de Janeiro. E a aliança que pretendemos ter aqui, os apoios que busco ter, vão além da nossa base nacional de apoio.

Pretendo manter a nossa base com o Democratas, o Solidariedade e outros partidos que possam somar a nós, mas, do ponto de vista regional, ela será ampliada, como acontece em vários estados. As lógicas estaduais, as lógicas regionais, nesse quadro político exageradamente plural que temos hoje, um número exagerado de partidos políticos, isso leva a construções regionais que quase nunca seguem a lógica das alianças nacionais.

Você vê que ontem, na minha avaliação, a presidente da República recebeu uma derrota fragorosa. No momento em que o PMDB, apesar de toda a participação que tem no governo, da oferta sem limite de espaços públicos, de cargos públicos, apenas 60% do partido, ou menos um pouco, manifestam apoio a ela. E se formos ver nos votos válidos, porque muitos deixaram de comparecer, praticamente metade do partido diz não à candidatura da presidente da República.

Depois de 11 anos, ter este resultado é, na verdade, a sinalização da falência desse modelo, porque nem o seu sócio majoritário na aliança consegue dar apoio integral a este projeto. Como já disse, a presidente da República terá alguns minutos a mais de apoio de tempo de televisão, com base nesta oferta de espaços de governo, mas não terá o trabalho, entusiasmo, a militância de nenhum desses partidos políticos. E vamos respeitar as construções locais. E elas, na verdade, se dão a partir dessa realidade local e não pela influência nacional. 

 

A Copa pode ter alguma influência no bom humor do eleitorado?

Sinceramente, não acredito. Acho que isso é coisa do passado. Na década de 1970 via-se essa preocupação: o futebol vinculado à política. O que é triste é a presidente da República querer fazer reviver os tempos da ditadura. Se apropriar do sucesso da seleção, como fez ontem acintosamente em mais uma ilegal convocação de cadeia de rádio e televisão. Para avisar o Brasil que vamos ter Copa do Mundo a partir desta quinta-feira? É usar o dinheiro público para fazer campanha eleitoral. E querer se apropriar, lembrando sim os piores momentos da ditadura, do êxito da seleção como patrimônio eleitoral. Ela vai se frustrar porque vamos vencer a Copa do Mundo, espero que isso aconteça para dar alegria aos brasileiros, e vamos vencer as eleições para dar ainda mais alegria aos brasileiros.

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