Aécio Neves – Entrevista em Porto Alegre

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva, nesta segunda-feira (07/04), em Porto Alegre (RS), onde participou do 27º Fórum da Liberdade. Aécio Neves falou sobre a dívida dos estados, pesquisa eleitoral, CPI da Petrobras, entre outros assuntos.

 

Leia a transcrição da entrevista do senador Aécio Neves

Sobre dívida dos estados

O Rio Grande do Sul talvez seja o estado de todos o que tem a equação mais perversa. Minas Gerais também tinha. Acompanhei de perto essa questão com a governadora Yeda Crusius. Agora o governo central, do PT, não permitiu qualquer tema na agenda da federalização avançasse. Nem essa questão da agenda, o ministro da Fazenda nos convida, no gabinete do presidente do Senado, para dizer que não podia votar dentro do que havia sido acordo com todo os estados com receio de rebaixamento da nota de crédito do Brasil. Algo inédito o ministro da Fazenda quase se humilhando dizendo isso encarece o crédito Brasil, das empresas brasileiras. O que aconteceu? Eles têm maioria, comandado pelo PT, retiraram da pauta e o rebaixamento aconteceu, por quê? Porque a desorganização da economia é enorme.

Essa maquiagem fiscal acabou  e dilacerou com a credibilidade da política econômica brasileira e tem um impacto enorme na fuga de investimentos. Não temos condições, pois somos  minoria no Senado, de dizer que votaremos (projeto que altera índice de correção das dívidas estaduais). Minha sensação é de que será muito difícil, a não ser que haja uma mudança muito radical do governo. A orientação da base do governo é para não votar, a orientação da oposição, encaminhada pelo PSDB, é o mais rapidamente o possível para votar e dar um alívio às finanças estaduais, inclusive dos estados do PT. Acham que isso pune o PSDB? Não, pune a população. Infelizmente seja a tributação do Pasep, que havia uma negociação para acabasse, seja o aumento do Fundo de Participação, da senadora Ana Amélia (PP-RS), nada disso é discutido porque a maioria do governo não permitia que fosse discutido.

 

Sobre Dia do Jornalista

Vou romper um pouco o protocolo e, antes de agradecer a presença de tantos e tantas companheiros e companheiras, e essa é uma oportunidade muito especial. Gostaria de cumprimentar meus companheiros de partido através do presidente Broca, aos companheiros de outros partidos através do presidente Celso Bernardi, cumprimentar a ex-governadora Yeda, mas cumprimentar em especial, de forma especialíssima, vocês, jornalistas, porque hoje é o dia dos jornalistas. A atividade de vocês é absolutamente essencial à democracia. Nós estamos lembrando, este ano, os 50 anos do golpe e 30 anos da campanha das diretas, e não há ativo mais valioso para uma sociedade do que a liberdade de ela própria escolher o seu destino. E isso nós conquistamos – não foi um partido, um cidadão. Foi um grupo de brasileiros. E a nossa geração – eu costumo dizer que sou da geração dos filhos da democracia e da liberdade – nós temos que fazer o que for possível para preservá-la, para aprofundá-la, nos levantando sempre contra qualquer ação, por mais escamoteada que possa ser, que venha no sentido de proibir ou de alguma forma cercear a liberdade de imprensa. Então, a homenagem a vocês que são parte fundamental dessa construção que nos trouxe até aqui. Estou absolutamente à vontade e à disposição para responder o que vocês acharem necessário.

 

Qual a sua análise sobre a pesquisa? 

Pesquisa, onde você avalia indicativos de voto para pessoas que têm um nível de conhecimento tão distante entre si, tem que ser vista sempre com alguma reserva. Estamos falando de um nome que é conhecido por 100% da população, e outros que têm um nível de conhecimento muito mais baixo. É um indicativo que está aí, que a nós satisfaz imensamente. Eu chamo a atenção de vocês para um dado que, para mim, é relevante nesse momento de uma caminhada eleitoral. Estamos a exatos seis meses da disputa eleitoral. O sentimento que deve ser avaliado, sobre o qual devemos nos debruçar e fazer as nossas análises, é um que é isonômico, é claro, é forte em todas as pesquisas eleitorais: mais de dois terços da população brasileira quer mudanças profundas no Brasil. Esse é o dado relevante nesse instante. E porque é relevante? Porque se nós voltássemos quatro anos no tempo, nesse mesmo momento, no mês de março para abril, início de abril de 2010, o sentimento era exatamente o inverso, era de continuidade. E a atual presidente da República, candidata então, ela só foi vestir o figurino da continuidade, só foi ultrapassar o nosso candidato, o governador José Serra, no final de julho. Cito esse exemplo factual para dizer o seguinte: é preciso que as pessoas comecem a perceber a chegada das eleições, comecem a se aprofundar da análise dos nomes, e isso não acontecerá antes que nós tenhamos um espaço na mídia aberta mais efetivo.

Hoje, é quase que um monólogo o que assistimos. A presidente da República se manifesta na mídia espontânea, o que é natural, nas cadeias de rádio e televisão, nessa bilionária propaganda oficial que apresenta um Brasil que tem muita pouca relação com o Brasil real. Então, quem nesse instante deve estar preocupado com as pesquisas eleitorais, são aqueles que estão no governo, porque há uma percepção, de todos os brasileiros, do esfacelamento das nossas conquistas. Esse é o pano de fundo dessas pesquisas, e eu quero falar mais objetivamente sobre isso numa próxima oportunidade.

 

Sobre aliança com PP

Começo por repetir o que disse aqui na liderança do PP: tenho pela senadora Ana Amélia uma extraordinária admiração. Ela é o fato novo do Senado federal, respeitada não por seus correligionários ou aliados, mas por todo o Senado da República. Portanto, é uma figura nova da política brasileira e repito mais uma vez o que disse lá: eu acredito nas coisas naturais na política. As conversas vêm ocorrendo de forma adequada, os entendimentos ocorrerão, obviamente, entre partidos até o mês de junho, que é o nosso prazo fatal. Não há por que antecipar esse processo. Mas, repito que a companhia da senadora é, para mim, um privilégio, uma honra. E obviamente as direções estaduais do nosso partido – no que diz respeito ao Rio Grande – vão estar aqui, ao lado dos parlamentares, avançando nos entendimentos com as forças políticas com as quais nós temos identidade.

 

O senhor gostaria de ter a senadora Ana Amélia como vice, ou gostaria de tê-la aqui no Rio Grande do Sul?

Obviamente, não cabe a mim essa resposta. O que eu posso dizer é que as conversas com o PP – dizendo sobre questões práticas – elas existem em muitos estados da federação. O PP, por exemplo, em Minas Gerais é o maior aliado que temos. O PP, nesse exato instante em que eu estou aqui, governa Minas e tem o presidente da Assembleia de Minas. Em muitos outros estados, essa aproximação é orgânica, ela existe. E eu, pessoalmente, gostaria muito de ver essa aproximação, que eu posso dizer sem qualquer constrangimento.

Quanto à definição de espaços, de cargos, isso será decidido pela direção dos partidos. Na questão nacional, enquanto o PP fizer parte formalmente do governo, obviamente pelo respeito que tenho até pelo presidente nacional, que é o meu amigo Ciro Nogueira, não cabe a mim fazer qualquer tipo de especulação. Agora, eu não escondo a minha alegria de estar aqui hoje, de ter sido recebido por companheiros de várias forças políticas, muitas que inclusive eventualmente não poderão estar conosco pelas circunstâncias ou pela conjuntura, eu quero dizer da minha alegria muito especial de ter encontrado e ter ao lado o presidente do PP, Celso Bernardi.

 

Sobre CPI Petrobras e Eletrobras

Tenho dito que estamos assistindo a um desmonte do Estado brasileiro. O que fizeram com as nossas empresas públicas, o que estão fazendo com a Petrobras, é um acinte, é vergonhoso. Eu deixo hoje à noite Porto Alegre, vou de madrugada para Brasília e amanhã de manhã vamos ao Supremo Tribunal Federal, ao lado de lideranças da oposição, pedir que se cumpra a Constituição e se garanta o direito das minorias de investigar. No caso da Eletrobras – eu volto em seguida à Petrobras – é a mesma coisa. Uma intervenção desastrada do governo através da Medida Provisória 579 gerou fuga de investidores e quase a quebra de inúmeras distribuidoras. Alertávamos para isso lá atrás.

Os prejuízos foram enormes. A Eletrobras perdeu também mais da metade do seu valor de mercado, e, só nesses últimos dois anos, isso vai custar a vocês – o meu, o seu, o nosso dinheiro – R$ 32 bilhões. E o que é hoje, ainda impede – e felizmente o Brasil não tem apagões de maior monta – seria, como se não fosse trágico, é o crescimento pífio da economia. Se tivéssemos crescendo nos indicadores que o ministro Guido Mantega gosta de alardear em todo início de ano – nesse último até acho que ele não falou, mas nos outros – nós não teríamos energia. Então, é o governo da improvisação. Isso tudo é reflexo do aparelhamento absurdo da máquina pública.

 

Sobre IPEA

Esse é o caso mais recente e aproveito para dar a informação aqui em primeira mão. O IPEA é uma instituição de excelência. Os dados do IPEA são aqueles sobre os quais nos baseamos para estabelecer políticas públicas. O IPEA tem a responsabilidade de nos dar uma radiografia da sociedade brasileira em várias ações, inclusive em relação ao emprego. Então, acho que esse aparelhamento chegou ao IPEA. Chegou a estruturas que eram absolutamente inexpugnáveis para intromissão política. Estamos criando, no ITV, o Instituto Teotônio Vilela, um grupo com três estudiosos próximos ao IPEA. Queremos agora, alertados que fomos por esse desencontro, que o presidente chama de fatalidade, para identificar quais são os métodos que o IPEA vem utilizando para fazer suas pesquisas. O IPEA sempre fez avaliações, pesquisas e estudos de cenários para a sociedade. Então, em defesa do IPEA, queremos ver se agora eles não estão fazendo em defesa de um governo, o que é extremamente grave. Vamos criar no Congresso, e vocês estão convidados para serem os primeiros signatários, uma Frente Parlamentar em Defesa do IPEA, e vamos investigar o que está acontecendo com esse importantíssimo instituto da cidadania. E que agora me parece muito mais próximo de um governo, de um partido político.

 

Sobre pesquisa Datafolha

Infelizmente, hoje, e isso as pesquisas mostram, cerca de 60% da população se informa sobre política através dos veículos de comunicação de massa. TV aberta, por exemplo, rádios. O espaço das oposições é muito pequeno, e isso reflete nos índices de conhecimento dos candidatos, por isso que não temos crescimento de tantos candidatos que jamais disputaram uma eleição nacional, como é o caso do eventual candidato do PSDB, do próprio candidato Eduardo.

A nossa preocupação agora, acho que em política você não deve nunca saltar etapas, é fazer o que eu estou fazendo: dizer o que pensamos. O que pensamos em relação à visão atrasada de mundo que traz o PT, com esse alinhamento ideológico que tanto mal vem fazendo ao país. O que achamos de gestão pública, onde pregamos a meritocracia, a eficiência, o estabelecimento de metas, para nos opormos em contraponto a esse aparelhamento absurdo da máquina pública.

Então, é a hora de dizermos as nossas propostas, mostrarmos que o Brasil não pode se contentar com esse crescimento pífio que tem sido uma regra entre nós desde o governo da presidente Dilma. O crescimento médio do Brasil é sempre 2%. Crescemos, no ano passado, imagina, apenas mais do que a Venezuela aqui na América do Sul. No ano retrasado, apenas mais do que o Paraguai. Isso não é uma cota que pode ser aceita com naturalidade para um país com o potencial que tem o Brasil. Nós sequer líderes regionais somos mais. Nós somos caudatários da posição, política inclusive, de países que têm demonstrado muito pouco apreço à democracia.

Então, eu estou ansioso para o momento do debate, porque, na minha avaliação, tenho certeza que os companheiros que estão aqui, sobretudo do PSDB, do Democratas, o governo da presidente Dilma falhou na condução da economia, porque nos deixará de herança um crescimento pífio com inflação alta, com a perda crescente da credibilidade do país. Falhou na condução e gestão do Estado, porque demonizaram durante dez anos as privatizações, fazem agora de forma envergonhada e atabalhoada. O governador Tancredo costumava dizer que o ativo mais valioso da política é o tempo, porque o tempo perdido você não recupera. Você tem que andar para frente e tem que andar rápido, mas aquilo que se perdeu não se recupera. O Brasil perdeu dez anos com esse aprendizado do PT. E falhou na condução das áreas sociais.

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