Local: Belo Horizonte
Assuntos: Criação do PSDB Sindical, crise no governo, ex-presidente Lula
Senador, a entrada dos sindicalistas no PSDB significa uma nova forma do PSDB trabalhar, negociar com os trabalhadores questões como fim do fator previdenciário, redução da jornada para 40 horas, que são questões que sempre opuseram trabalhadores e empresários. O PSDB vai ter que intermediar todas essas questões agora. Internamente, o partido está preparado para Recber todas essas propostas?
Em primeiro lugar, essa filiação em massa de sindicalistas no PSDB demonstra que não há exclusivismo hoje dos sindicatos junto a um projeto. Na verdade, há uma sintonia muito grande do PSDB com os trabalhadores aqui em Minas e em outros estados brasileiros. Vamos ter sim espaço para discutir essas questões, mas, vamos encontrar muitas afinidades. Pode ser que em uma ou outra questão não haja convergência absoluta, mas o PSDB está absolutamente aberto para discutir todas questões que digam respeito aos interesses dos trabalhadores. E isso é uma demonstração de que, por maior que tenha sido o esforço do governo federal, ele não conseguiu aparelhar todo o movimento sindical. Parcela dele sim. Mas, aqui estamos vendo, com muita clareza, que o movimento sindical busca outros parceiros, outros intérpretes para os seus sentimentos, suas angústias e seus projetos. O PSDB, acho que, ao receber da forma que recebe um grupo tão expressivo de sindicalistas, na verdade, retoma suas origens. E é o que o PSDB tem buscado fazer. Esse ano, aqui passo a anunciar a vocês, vamos fazer um grande seminário, onde vamos abordar o legado do PSDB para o País e o futuro do Brasil. Vamos reunir as grandes figuras do PSDB na área econômica, por exemplo, aqueles que elaboraram o Plano Real. Vamos fazer também a transição para uma nova geração, também, de economistas. Vamos falar de políticas sociais. Estamos reunindo em torno do PSDB aqueles que têm condições de nos ajudar a construir um projeto de País. O que falta hoje no Brasil um projeto de País, porque o PT representa exclusivamente o projeto de poder. Isso está absolutamente claro. Então, acho que temos uma estrada longa para percorres, mas com muitas possibilidades de, nessa caminhada, aglutinar forças, reunir parceiros, e os sindicalistas serão fundamentais para esse novo PSDB que estamos buscando construir.
Como o senhor avalia essa aproximação da presidenta com o presidente Fernando Henrique?
Acho que a presidente está incomodada com alguns dos seus aliados, então, talvez tenha buscado ficar um pouco mais próxima dos tucanos. Mas, tenha uma avaliação muito pessoal em relação ao que está ocorrendo no Brasil. Na verdade, é um governo reativo, não é um governo pró-ativo. Nenhum dos instrumentos que o governo dispõe, através da Controladoria-Geral da União, das auditorias prévias, tem servido para que essa chamada faxina ocorra. Na verdade, o governo reage às notícias de jornal, o que não dá a certeza de que há sinceridade efetiva para se mudar o modus operandi do governo. Tudo isso é conseqüência do violento aparelhamento da máquina pública, jamais visto na história do Brasil, não iniciado agora, mas, há oito anos atrás. E as consequências estão aí, os feudos partidários levam a essas distorções, leva à corrupção. Portanto, o PSDB que tem o combate à corrupção no seu DNA, vai estar sempre apoiando medidas de combate à corrupção. Vai cobrar instrumentos de investigação, quaisquer que sejam eles, para que efetivamente essa faxina deixe de ser um slogan de campanha para ser algo efetivo, que impacte positivamente na vida dos brasileiros.
Sai ou não sai a CPI?
Depende, sobretudo, de setores da base. Aqueles que querem efetivamente a averiguação, a investigação, irão assinar a CPI. E nós, do PSDB, diferente do PT no passado, saindo a CPI, teremos a responsabilidade de fazer uma investigação correta, séria, responsável e não tratá-la como assunto político. Portanto, não há o que temer. Aqueles que querem efetivamente as investigações e virar essa página triste da história do Brasil não devem temer a CPI. É o que penso.
O senhor vê um enfraquecimento da base da presidenta?
Olha, um governo que, com oito meses, está até agora apenas premido pela agenda ética é um governo que não age, um governo que não tem iniciativa. O que lamento é que, em oito meses, não apenas a queda dos ministros, parece o principal, mas o que chama mais atenção é a incapacidade do governo de propor, de agir. Onde estão as grandes reformas? O governo hoje se satisfaz apenas em dizer que está afastando A, ou afastando B, como se isso fosse um grande programa de governo. Não é. O Brasil quer muito mais, o Brasil precisa de muito mais. O Brasil precisa das reformas, precisa discutir a questão tributária para valer, a questão previdenciária, a própria reforma do Estado, a reforma política. Onde está a ação do governo? Não tem tempo para isso. O governo, hoje, acorda todo dia, deve abrir o jornal quase que como filando uma carta de baralho para saber quem é o próximo denunciado para, a partir daí,saber quem é o próximo denunciado para a partir daí agir. Se ninguém denunciou naquela semana ninguém, para o governo está muito bom. Mas, acho que o governo, com oito meses apenas de duração, já está muito envelhecido, e infelizmente as grandes questões que deveriam ser propostas pelo governo, e inclusive com a nossa disposição de discuti-las no primeiro ano, que é o ano do capital político ainda vigoroso, não ocorreram. Vamos assistir infelizmente, no governo da presidente Dilma, aquilo que assistimos no governo do presidente Lula: a indisposição para enfrentar qualquer contencioso, falta de coragem política para enfrentar as grandes reformas. O presidente Lula teve o privilégio de durante seis anos ter altíssima popularidade, uma ampla base de apoio e as condições econômicas necessárias para enfrentar as grandes reformas. Não fez nenhuma delas. E a presidente Dilma vai pelo mesmo caminho, infelizmente, é isso que está ocorrendo e o governo, a meu ver, se apequenou, porque deixou de propor uma agenda ao Congresso Nacional.
Os ministros que caíram são todos herdados do governo Lula. Acha que o governo está tentando tirar um ranço dos mandatos anteriores?
Olha, só se faz faxina onde há muita sujeira, né? É preciso saber de onde vem isso, acho que está faltando um pedaço dessa história. Lamentável que isso não tenha ocorrido no primeiro ano de governo. Não estamos falando de um governo novo. Estamos terminando o nono ano de um mesmo governo com as mesmas figuras, com o mesmo modus operandi. Então, é preciso que o governo pelo menos faça a mea-culpa de dizer que, se está efetivamente fazendo uma faxina, é porque criou as condições para que ela fosse, lamentavelmente, necessária nesses últimos nove anos. Repito, são nove anos de governo do PT, que infelizmente não permitiu que o Brasil fizesse as grandes reformas e hoje coloca, como plataforma de governo, a limpeza de uma sujeira que sabemos de onde vem.
O presidente Lula esteve aqui essa semana e falou que vai tentar interferir junto aos sindicalistas, com os professores. Como o senhor avalia essa interferência do presidente? Ele citou, inclusive, que o senhor, na história dos governadores de Minas, foi o que mais recebeu dinheiro da União. Como o senhor vê esse surgimento do presidente Lula, que ficou mais afastado?
O presidente Lula é uma figura política que tem todo direito de se movimentar, de conversas com seus aliados. Pessoalmente, respeito isso, até porque respeito o ex-presidente Lula. A mim ele não incomoda. Talvez incomode um pouco a atual presidente, pela movimentação que faz. Aqui, em Minas Gerais, já demos demonstrações muito claras, definitivas, nas últimas eleições, em Belo Horizonte de forma muito especial, que todas de lideranças de fora são muito bem-vindas, mas, na hora de definir o nosso futuro, o que nós queremos, nós, mineiros, é que resolvemos. Gostaria que ele pudesse estar aqui, também, quem sabe anunciando os investimentos no metrô, que não vieram até hoje, os investimentos na 381, que não vieram até hoje, no Anel, que não vieram até hoje. Infelizmente, essas demandas continuarão ocorrendo. Agora, ele se reunir com seus aliados é algo absolutamente natural e será sempre muito bem-vindo em Minas, mas, não acredito na capacidade dele influenciar o destino de Minas Gerias.
Sobre o evento, senador.
Hoje é um momento extremamente importante, de repercussão além das fronteiras de Minas. Estamos recebendo sindicalistas da maior expressão, que vêm formalmente somar conosco no PSDB, dando a demonstração que o PSDB tem um projeto para o País. Obviamente, um projeto que passa pela questão social, pelos interesses do trabalhador. Hoje, acho que iniciamos um projeto que, repito, terá consequências em outros estados brasileiros e que vai redefinindo o perfil do novo PSDB, um partido que tem um projeto para o País e diferente do PT, que tem, hoje, exclusivamente um projeto de poder.