O senador Aécio Neves esteve em Porto Alegre, hoje (11/11), para ministrar uma palestra na Federação da Indústria do Rio Grande do Sul (Federasul) e concedeu entrevista à imprensa. Aécio Neves falou da alegria de estar na capital gaúcha e comentou sobre o intervencionismo do governo federal, que vem colocando em risco a estabilidade da moeda, a credibilidade do Brasil junto a investidores e, até mesmo empresários nacionais.
Leia a transcrição da entrevista do senador:
Sobre a agenda em Porto Alegre
Queria dizer da alegria de estar hoje em Porto Alegre mais uma vez, aqui na Federasul. E aqui estou sendo recebido com grande alegria por um conjunto grande de lideranças do meu partido, do PSDB, a começar pelo presidente Adilson Trocas, o deputado Lucas Redecker, minha queridíssima amiga Zilá, o Jorge Pozzobom, Elisabete Felice, o Pedro Pereira, o meu grande companheiro de Câmara dos Deputados, Marchezan Jr., que é meu companheiro de Executiva Nacional do partido. Aqui também alguns prefeitos importantes. Eu os cumprimento através do meu queridíssimo amigo Eduardo Leite, nosso prefeito de Pelotas. Também o Moacir da Silva que vai nos receber daqui a pouco em São Leopoldo. São inúmeros os companheiros.
Venho mais uma vez ao Rio Grande como presidente nacional do PSDB para falar o que o PSDB pensa desse momento. O PSDB se prepara para apresentar ao país um conjunto de ideias, não diria ainda de programa, mas de ideias a serem debatidas com a sociedade brasileira, porque na nossa avaliação o governo do PT, esse longo período de governo do PT, coloca em risco algumas das principais conquistas que nos trouxeram até aqui. A partir da própria estabilidade da moeda, a credibilidade do Brasil junto a investidores e, até mesmo empresários nacionais, abalada em razão de um excesso de intervencionismo do governo. Setores essenciais da economia – terei oportunidade ainda quando falar um pouco mais tarde de discorrer sobre essas questões –, mas feita essa introdução, o que posso garantir é que o PSDB estará absolutamente unido porque ao PSDB não é uma opção, não é uma possibilidade ter uma candidatura presidencial. É uma obrigação. É a nossa responsabilidade com o país que nos levará a apresentar uma proposta alternativa a essa que está aí.
Sobre o PSDB e as declarações do ex-presidente FHC
O PSDB é um partido democrático, é um partido de quadros extraordinários. E que bom que temos dentro do PSDB quadros em condição de enfrentar o debate. Para não fugir à pergunta, o que diz o presidente Fernando Henrique é que acha muito bom que cresça a candidatura do governador Eduardo Campos. Nós também esperamos. Mas temos absoluta convicção de que pela clareza do discurso, pela história do partido, pela estrutura que temos no Brasil inteiro, o PSDB tem todas as condições de ser a principal das alternativas a esse modelo de gestão que aí está. Devo é saudar como presidente do maior partido de oposição a chegada no campo oposicionista, de importantes figuras políticas que até pouco tempo atrás estavam no campo governista. Estamos falando de dois ex-ministros do presidente Lula que hoje estão no campo oposicionista. Isso tem que ser visto por nós como mais uma constatação de que o Brasil precisa iniciar um novo ciclo, e esse ciclo de governo caminha para o seu final.
Sobre as propostas do PSDB e o anúncio de candidatura
Repito apenas para ficar muito claro, venho hoje a Porto Alegre como presidente nacional do PSDB. Vamos apresentar ainda este ano aquilo que não chamaria de um programa de governo porque não é. Um programa de governo demanda detalhamentos, propostas objetivas a serem discutidas com a sociedade, propostas legislativas a serem discutidas no Parlamento. Pretendo apresentar até a primeira quinzena de dezembro, fruto das inúmeras que viagens que tenho feito pelo país, e aqui é mais uma importante viagem, aquele que é o sentimento que colho, quais as necessidades mais urgentes do Brasil para que recuperemos a confiança na economia brasileira, e a partir daí, a retomada dos investimentos. O que faríamos para que aquilo que parece satisfazer o PT, que é a simples administração da pobreza, possa nos permitir um salto para sua efetiva superação. E o que faremos para destravar os investimentos que estão hoje, em infraestrutura, paralisados em grande parte do país. O Brasil virou, na verdade, um grande cemitério de obras inacabadas, e vocês aqui são testemunhas, no Rio Grande, disso. A absoluta falta de planejamento do governo está nos trazendo problemas gravíssimos.
Sobre as privatizações do governo do PT
Estava em Manaus (AM) dois dias atrás, atravessei o Brasil para estar hoje aqui, e disse lá algo que posso repetir aqui –, o aprendizado do PT tem custado muito caro ao Brasil. O PT demonizou ao longo de todos esses últimos anos, por exemplo, as privatizações, as concessões, a presença do setor privado em determinados setores da economia. Hoje, curva-se à necessidade de participação do setor privado, mas faz de forma atabalhoada, envergonhada e às pressas. E temos convicção de que o setor privado é um parceiro fundamental, não pode ser visto como um inimigo a ser batido, a ser enfrentado. Ao contrário, é um parceiro a ser permanentemente prestigiado. E como? A partir de regras absolutamente claras, sem intervencionismos absurdos que assistimos em determinados setores e que fizeram muito mal a esses setores, o de energia talvez seja o mais claro deles.
O que a gente vê no Brasil, hoje, na verdade é um software pirata em execução, porque quando o PT copia aquilo que vem do governo do PSDB, o PT acerta. Foi assim quando manteve, por algum tempo, já não é realidade hoje, o tripé macroeconômico de metas de inflação, de câmbio flutuante, de superávit primário, as coisas caminharam melhor. Quando adensou os programas de transferência de renda iniciados no governo do PSDB, acertou. Quando agora, já na fase final do governo, curva-se à necessidade de trazer parcerias para, por exemplo, o setor rodoviário e ferroviário, acerta, mesmo que fazendo de forma atabalhoada. Na verdade, temos que substituir software pirata pelo software original.
Acho que as privatizações que precisavam ser feitas foram feitas. Agora, atrair o capital privado para as concessões é muito importante, em todas as áreas. Mas isso só vai acontecer com um ambiente jurídico e institucional estável. O que o atual governo não conseguiu fazer. E vou mais longe: não tem mais tempo para fazer. Porque a confiança é algo que, quando se perde, não se resgata apenas com um sinal, com a assinatura de um contrato. É expectativa. E a expectativa que se tem em relação a esse governo é muito ruim fora daqui.
Sobre a avaliação do governo da presidente Dilma
Primeiro, há um monólogo hoje no Brasil. Você liga a televisão, você vê a presidente em todo instante. Uma bilionária propaganda institucional das empresas públicas para atender a este objetivo eleitoral. Cadeias de rádio e televisão convocadas como jamais antes na história desse Brasil foram. E não temos mais, me permitam a franqueza, uma presidente full time. Temos uma candidata a presidente da República com agenda de candidata a presidente da República. Mas se há alguém que deva estar reocupado neste instante com as pesquisas, e tenho convicção de que estão, é a presidente da República e seus aliados porque mesmo tendo ela 100% de conhecimento, esta exposição permanente em toda a mídia todos os dias, mais de 60% da população brasileira em todas as pesquisas têm dito que não quer dar um segundo mandato à atual presidente da República.
Fui governador de Minas por dois mandatos. Quando me aproximava da reeleição, as minhas indicações, ou pelo menos a intenção de voto, eram 25 ou 30 pontos acima do que tem a presidente hoje. Cito meu exemplo porque eu vivi, mas outros também. Para que ela tivesse uma posição confortável, ela precisaria estar com indicadores muito maiores do que estão. Então, você fazer uma avaliação apenas de intenção de votos, com pessoas que já disputaram uma eleição presidencial, com nível de conhecimento tão dispare entre uns e outros, obviamente, traz distorções.
O debate ainda não começou. O PSDB está se preparando para este debate. Portanto, em relação a pesquisas, a preocupação deve ser da presidente e vou um pouco além: o meu convencimento de que quem for para o segundo turno com a atual presidente da República, vai vencer as eleições. E o PSDB, muito mais do que definir e oficializar uma candidatura, hoje, na minha modesta avaliação, tem de apresentar uma proposta.
Sobre as propostas do PSDB
As pessoas têm de, no momento da campanha, olhar para o PSDB e entender como o PSDB vai tratar os municípios e estados, de que forma o PSDB vai financiar a saúde, diferentemente do que está acontecendo hoje.
Como vamos enfrentar a dramática questão da criminalidade e da violência no Brasil hoje. Há uma omissão absurda do governo federal nesta matéria. 87% de tudo o que se gasta em segurança pública no Brasil hoje vem dos cofres estaduais e municipais. Apenas 13% da União. E a União é responsável pelas nossas fronteiras, pelo tráfico de armas, pelo tráfico de drogas. Portanto, a União transfere esta responsabilidade para aqueles que menos têm.
Na saúde, há dez anos quando o PT assumiu o governo, de tudo o que se gastava em saúde pública no Brasil, do total de financiamento para saúde pública, o governo federal investia 56%. Hoje, passaram-se dez anos, o governo federal participa com 45%. Quem paga esta conta? Estados e, principalmente, os municípios que são os que estão hoje em situação pré-falimentar.
Sobre as desonerações e o baixo crescimento da economia
O governo cuidou da macroeconomia com instrumentos da microeconomia. As desonerações pontuais, onde você elege determinados setores, não se mostraram eficazes como política de estímulo ao crescimento da economia, que era o objetivo inicial. Estabeleceu-se que esses e esses eram os setores privilegiados. Ao mesmo tempo, o BNDES também com uma política absolutamente equivocada de ali os grandes campeões nacionais não nos ajudou a ter um crescimento minimamente razoável. O Brasil vai crescer em 2013 apenas mais que a Venezuela na nossa região. No ano passado crescemos apenas mais que o Paraguai.
O governo do PT gosta de fazer muitas comparações, mas comparações têm que ser feitas com qualidade e com correção. E, obviamente, dentro de um mesmo momento. Querem comparar o crescimento agora com o crescimento do governo Fernando Henrique. O crescimento do Brasil no período FHC tem que ser comparado com o crescimento daqueles países naquele mesmo o período. Óbvio que a situação do mundo mudou. Crescemos no período FHC, mesmo com quatro grandes crises externas, um momento ainda de consolidação da estabilidade, alguma coisa como o dobro do que cresceram os nossos vizinhos na América do Sul.
O governo da presidente Dilma, vou falar nesses três anos, mas posso até incorporar o ano que vem, onde as perspectivas são menores que os dois e meio esperados para este ano. Nós crescemos nesses três anos um ponto oito por cento em média. Enquanto os nossos vizinhos, olha que não estou indo nem em países mais desenvolvidos, com parques industriais vigorosos, os vizinhos cresceram, em média, 5,1%.
Isso é inaceitável para um país com as potencialidades do Brasil. Não dá mais para terceirizar as responsabilidades, não dá mais para dizer que o problema é da economia externa. É claro que nesses próximos 10 anos nós vamos ter um crescimento do mundo muito menor que nós tivermos no passado, mas não se justifica o pífio crescimento que estamos tendo hoje, com a inflação remitente no teto da meta.
Sobre a inflação
Essa inflação em torno de 6% ao ano porque existem preços controlados. Na hora que essa tampa da panela de pressão sair, a inflação média vai a 9%. A de alimentos está em torno de dois dígitos e é essa que pune. Então, a marca final do governo da presidente vai ser este: crescimento pífio, inflação alta, descontrole das contas públicas, maquiagem fiscal, que é o pior dos combustíveis para um país que queira trazer investimentos privados. A desconfiança em relação ao Brasil é enorme em razão dessa montagem de números que já não se sabe mais quais que são reais e não quais não são.
Eu tenho um respeito pessoal pela presidente da República. Acho que ela é uma mulher de bem. Infelizmente, o governo da presidente Dilma fracassou. Essa é a realidade. Nós não podemos contentar com o que está acontecendo e achar que tudo é normal.
Sobre as obras inacabadas e o TCU
Não podemos achar que as obras com sobrepreço pelo Brasil afora e inacabadas sejam uma coisa normal. A transposição do São Francisco começou orçada em 3 bilhões e meio de dólares. Já gastou-se mais de 4 bilhões, era para ser inaugurada em 2010 e não se sabe quando que vai ser, se é que vai ser. A Transnordestina, um eixo importantíssimo também ferroviário de desenvolvimento regional. Orçada também em menos de 4 bilhões, já gastou isso, não se sabe quando que vai ficar pronta. Tem uma refinaria sendo construída, a Abreu e Lima, em Pernambuco, orçada em 4 bilhões. Já gastaram 17 bilhões, e não fica pronta por menos de 30. O governo não tem planejamento. Não adianta a presidente reunir num feriado, chamar a imprensa, para cobrar resultados, porque os resultados não virão. Não adianta criticar o Tribunal de Contas, ela deveria criticar são aqueles que não fizeram o projeto adequado, não mantiveram o preço previamente estabelecido e não conduziram a obra com gestão adequada. Não adianta transferir essa responsabilidade. É muito cômodo para qualquer governante. A responsabilidade é do Tribunal de Contas ou da Controladoria? Não, é da ineficiência de um governo que não planeja, faz tudo de forma absolutamente atabalhoada, e está colocando o Brasil, infelizmente, no final da fila dos investimentos.
Sobre as posições de economistas publicadas
Cada um dos economistas, e eu vi hoje a matéria do Valor, falou das suas convicções. Eu ouço economistas, como ouço cidadãos de todas as formações. Mas não tenho porta-voz nessa área. É muito bom que pensem também. Gosto muito das usinas de ideias. Mas eu não tenho porta-vozes. São economistas muito qualificados, eu os ouço, mas não quer dizer que o que está dito ali sejam posições minhas.