Local: Brasília
Assuntos: balanço das eleições municipais, agenda do PSDB, mensalão/PT, royalties da mineração, reformas
Qual a sua análise das eleições?
Temos que avaliá-las no seu conjunto. Temos um quadro hoje pluripartidário no Brasil. Então houve uma distribuição de vitórias por vários partidos políticos. Mais do que havia em outras eleições. Mas no caso do PSDB em especial, nosso resultado foi muitas vezes além das expectativas que tínhamos há seis meses.
Na verdade, nos reinserimos, por exemplo, na região Nordeste do país, onde vencemos no conjunto das oposições já duas capitais em primeiro turno e disputamos outras três ou quatro. Nos reinserimos no Norte do país disputando o segundo em capitais da importância de Manaus e de Belém.
Mantivemos uma posição sólida no Sudeste, inclusive com vitórias importantes em Minas Gerais e, em São Paulo, indo na capital pra o segundo turno além de outras vitórias importantes no interior. E tivemos uma situação melhor do que nas outras eleições, no Sul e no Centro-Oeste.
Portanto o PSDB sai mais vivo do que nunca dessas eleições e o que é mais importante, com lideranças novas, com caras novas, com figuras que vem falando aquilo que o PSDB deve falar diretamente para as pessoas. De forma clara, objetiva. O PSDB tem falado da nova agenda, a agenda que o Brasil precisa viver pelos próximos dez ou vinte anos.
Então, além do resultado quantitativo que nos coloca mais uma vez como o segundo partido dentre todos com o maior número de prefeitos eleitos, o PSDB se renova também, não apenas do ponto de vista geracional, mas também do ponto de vista das ideias e da postura dos nossos candidatos.
Eu viajei por mais de 20 estados nessa campanha eleitoral e o que percebi que mais me animou e encantou foi exatamente a capacidade de renovação que tivemos. Não apenas nas disputas das capitais, mas em cidades extremamente importantes do país.
Portanto, o PSDB agora tem o dever de se preparar durante o ano de 2013, de construir o seu discurso, de renovar as suas ideias, para o grande embate de 2014.
Como o senhor avalia esse discurso do PT agora de que o mensalão não pegou. Isso é desculpa ?
A questão do mensalão é um marco definitivo na vida pública brasileira. A política brasileira tende a ser melhor do que era até o julgamento do mensalão.
O sentimento de impunidade, com o qual todos convivemos ao longo de décadas e décadas, não existirá mais a partir de agora. Os agentes públicos terão que ter muito mais cautela e muito mais respeito aos princípios éticos e morais.
É natural que o PT pague uma parcela dessa conta. Não como partido apenas, mas a partir do momento em que líderes importantes do partido estão aí, sendo condenados. Não pela oposição, mas pela Justiça.
Não acho que esse seja o tema eleitoral mais importante. As questões municipais se decidem pelo debate de ideias, de propostas, pelo perfil dos candidatos. É isso que assistimos pelo Brasil afora.
Mas é natural que a questão do mensalão paire como uma mácula, como uma mancha muito importante em um período expressivo de governo do PT há alguns anos atrás.
A presidente Dilma esteve em Minas Gerais e, em uma tentativa de ganhar as eleições lá, falou do projeto dos royalties da mineração como se fosse dela. Mas parece que o governo sentou em cima disso.
O governo do PT completa seu décimo ano sem que essa questão tenha sido enfrentada. Há cerca de cinco anos o governo promete o envio, ao Congresso, do marco regulatório do setor, que até hoje não chegou.
O que fizemos foi, exatamente, cobrar do PT não apenas esse contencioso com Minas Gerais e com estados mineradores, no caso dos royalties, mas vários outros que ficaram pelo meio do caminho.
As grandes reformas por fazer, há dez anos, são as mesmas reformas ainda por fazer hoje. O PT não aproveitou em um momento muito produtivo e positivo da economia internacional, com reflexos importantes no Brasil. Como a altíssima popularidade do presidente da República, veja o Lula, em boa parte do seu mandato, e a presidente Dilma agora e uma ampla base de apoio, como jamais houve na história desse país, para enfrentar os grandes gargalos que têm feito o Brasil crescer de forma inexpressiva ao longo dos últimos anos.
Portanto, os grandes contenciosos não foram enfrentados pelo PT. E quem paga a conta é o Brasil com um crescimento, mais uma vez, irrisório durante o ano passado, e também mais uma vez, neste ano de 2012. O que nos permite já prever dificuldades nos anos que virão.