Aécio: Brasil precisa fazer defesa da população sem radicalismos 

“Muito mais importante do que a alteração do ministro é a alteração da política externa brasileira. Não adianta trocar o ministro por alguém que siga a mesma cartilha. Como presidente da Comissão de Relações Exteriores o que tenho a afirmar é que há um clamor por parte das principais representações diplomáticas, dos principais parceiros internacionais do Brasil, para que haja um redirecionamento da nossa política externa”, afirmou o deputado federal e ex-governador Aécio Neves em entrevista à Rádio Itatiaia, nesta segunda-feira (29/03).

Como presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Aécio disse que o ministro Ernesto Araújo errou na condução da política externa brasileira e defendeu mudanças no relacionamento do Brasil com o mundo.

“Meu papel hoje na política externa é impedir que o radicalismo, que o extremismo, que essa visão atrasada de mundo prevaleça sobre os interesses do Brasil”, disse o deputado.

Aécio antecipou que terá, essa semana, em Brasília, audiências com os embaixadores da China e dos Estados Unidos para tratar sobre a aceleração na vacinação dos brasileiros, considerada por ele como a maior prioridade hoje no Brasil.

“Todo o esforço do país, em todas as áreas, deve ser para avançar e avançar rapidamente na universalização da oferta de vacinas para nossa gente”, declarou.

O ex-governador de Minas Gerais destacou a atuação que o Congresso Nacional vem tendo no enfrentamento da pandemia da COVID-19, desde a discussão do auxílio emergencial e de ações sociais de proteção aos mais vulneráveis até as medidas de socorro aos municípios e estados e no amparo a empresas e diferentes setores da economia.

Ele lamentou a ausência de Minas Gerais no debate nacional e afirmou que o Estado deveria retomar seu protagonismo no país.

“Fui criado vendo Minas Gerais conduzindo a politica do país e hoje vejo um alinhamento absoluto. Minas não é consultada, Minas não se organiza ao lado de outros governos estaduais para impor uma agenda que interesse a nós e também ao Brasil. Minas Gerais do alto das suas montanhas tem o dever de enxergar além das suas fronteiras. Eu lamento que estejamos nos contentando com muito pouco. Minas está absolutamente distante das grandes discussões nacionais”, afirmou o ex-governador.

Aécio falou também sobre seus 35 anos de mandatos populares consecutivos e avaliou o quadro político no país para as eleições de 2022. Ele voltou a defender a união de partidos em torno de uma candidatura de centro capaz de reunir as forças políticas em torno de um projeto nacional.

“A nossa responsabilidade é construir ao centro uma grande alternativa para um nome apenas. Se o PSDB não tiver um nome competitivo deve sim abrir mão da cabeça de chapa e ajudar na construção, com muito desprendimento, de uma alternativa ao centro. Isso se ela vier com mais força do que uma alternativa do PSDB. Temos de abrir uma janela de novas oportunidades, um oxigênio no quadro político nacional. E aí defendo o que chamo de centro ampliado para que tenhamos uma só candidatura, mesmo que ela não largue com margem expressiva de intenções de voto”, declarou.

Clique aqui para ouvir a entrevista do deputado federal e ex-governador Aécio Neves à Radio Itatiaia.

Declaração de Aécio sobre mudança no Ministério das Relações Exteriores

“A saída do Chanceler Ernesto Araújo é uma oportunidade de mudança na condução de nossa política externa, buscando maior integração com o mundo.

A diplomacia brasileira tem longa tradição de respeito, tolerância e equilíbrio e esses  preceitos e valores precisam ser reafirmados. Devemos levar em conta análises rigorosas das oportunidades que se apresentam na conjuntura internacional para a promoção dos interesses nacionais, isentas de quaisquer preconceitos ideológicos ou partidários.

Nossa política externa deve ter como foco o multilateralismo. Nosso relacionamento internacional deve ser amplo, universal, sem exclusões ou alinhamentos automáticos. E isso passa, obrigatoriamente, por uma relação mais ampla com os diversos países e regiões do mundo em busca, nesse momento, daquilo que é a grande urgência mundial e, em especial, brasileira: a vacinação de toda a nossa gente.

Portanto, é importante que a mudança seja de política e não apenas de nomes. E que, com serenidade e responsabilidade, o Congresso Nacional possa dar a sua contribuição para a superação do grave momento que vivemos.”

Aécio: Brasil deve assumir papel central no debate sobre vacinas

“O Brasil pode assumir a liderança, se não da quebra de patentes, e eu reconheço até mesmo consequências futuras que isso poderia gerar, mas que o Brasil assuma, com o peso que tem, a liderança para encontrarmos uma solução alternativa, mesmo que temporária, para atender, não apenas aos interesses do Brasil, mas dos países mais pobres. Aqueles que não têm condições sequer de ter perspectivas de vacinação de sua população”, afirmou Aécio, que presidiu a audiência pública realizada, nesta quarta-feira (24/03), na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados. Ele foi o autor do requerimento que convidou o ministro para o debate.

A vacinação universal e mais rápida dos brasileiros contra a COVID-19 e a produção de imunizantes no Brasil e nos países mais pobres centralizaram as discussões da audiência, aberta a todos os deputados federais. A quebra das patentes das vacinas contra a COVID-19 vem sendo discutida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para ampliar o acesso aos imunizantes a todas as regiões do mundo.

Como presidente da CREDN na Câmara, Aécio abriu a audiência destacando os recordes diários de mortes por COVID. Ele afirmou que a crise sanitária alcançou no Brasil a extensão de uma crise humanitária.

“Alcançamos a terrível marca de 300 mil pessoas levadas pela Covid, são 300 mil famílias em luto e ainda todas as outras que foram acometidas pela doença e conseguiram se recuperar. Alcançamos também uma marca inimaginável de 3.000 mil óbitos por dia! Vivemos uma crise sanitária sem precedentes e essa é uma constatação unânime. Estou entre aqueles que acham que agora é a hora realmente da união de esforços para enfrentá-la da forma mais organizada e qualificada possível. Esta crise sanitária já deriva para uma crise humanitária, haja visto o que vem ocorrendo em vários estados brasileiros”, declarou Aécio Neves.

Falta de vacinas e quebra de patentes

O deputado destacou ao ministro das Relações Exteriores a liderança da diplomacia brasileira na história e alertou que a demora do acesso às vacinas coloca em risco países ricos e pobres.

“Vemos a velocidade com que esse vírus vem se transmutando, as variantes que vêm surgindo. De nada adianta ter as nações mais ricas avançando e as mais pobres passando a ser o epicentro dessa pandemia, com variantes que nem podemos avaliar ainda a gravidade. O Brasil, pela posição de relevo que detém, a meu ver, no mundo, e também por um gesto de solidariedade às nações em desenvolvimento e aos países mais pobres, pode assumir, seja a partir das reuniões do BRICS, mas mesmo na comunidade do G20, um papel de liderança na busca de uma solução temporária que facilite a produção de vacinas”, afirmou Aécio Neves.

Ele destacou que os riscos de novos atrasos no abastecimento de imunizantes é uma ameaça real para o Brasil em razão da forte demanda mundial. O deputado citou o contrato firmado com o Reino Unido para exportação da vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca, que fornece preferencialmente para a União Europeia.

Aécio fez a defesa de uma nova postura do governo brasileiro junto à OMC e aos Brics depois de o ministro afirmar que a quebra de patentes pode gerar prejuízos ao país. O deputado questionou a falta de clareza do posicionamento atual do governo nesse debate.

“Um dos principais entraves da ampliação da oferta de vacinas no mercado mundial é o compromisso de patentes e a proibição de exportações de versões genéricas das vacinas em circulação. As patentes e a solicitação de licença compulsória e o acordo de propriedade intelectual têm sido debatidos na OMC desde ano passado. De um lado criticamos a ausência de oferta de vacinas e, ao mesmo tempo, nos colocamos contrários a um movimento ou uma ação concreta que pode de forma célere ampliar a oferta dessas vacinas. Quais são as perspectivas para que uma solução intermediária possa ocorrer?”, indagou.

Durante a audiência, Ernesto Araújo disse que o país não teria os insumos e tecnologia suficientes para produção emergencial de imunizantes.

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Alerta de economistas e empresários

Na condução da audiência, Aécio destacou as perdas econômicas que vem sendo geradas pela pandemia e citou o documento assinado por empresários, economistas e lideranças da sociedade apontando os altos custos para a economia causados pela condução que tem sido dada pelo governo federal durante o último ano.

“O documento alerta para outra consequência extremamente nefasta dessa crise que é a consequência econômica. Já houve uma perda de arrecadação tributária em torno de 7% do conjunto da arrecadação apenas no âmbito federal. Há uma estimativa que teremos uma renda não gerada em torno de R$ 130 bilhões em 2021. Tudo isso aponta para um período pós-pandemia de extrema gravidade. A dicotomia criada entre saúde e economia mostrou-se absolutamente falsa e equivocada”, disse Aécio.

O deputado concluiu que: “Ou enfrentamos de forma adequada, unindo todos os esforços possíveis na busca da ampliação e da universalização da vacinação, acelerando esse processo que, a mim, ainda parece lento, ou, além das dramáticas mortes que diariamente nos sensibilizam, teremos ainda maiores dificuldades de superar, do ponto de vista econômico, os danos que esta pandemia nos traz”, afirmou.

Mercosul e União Europeia

Aécio apresentou para o debate com ministro o tema da condução dada pelo governo para ratificação do acordo do Mercosul com a União Europeia.

“O Mercosul esta semana completa 30 anos de fundação e, obviamente, precisa de revisões. Aguarda-se com muita ansiedade a conclusão da revisão jurídica do Acordo de Livre Comércio com a União Europeia. É a mais importante nova fronteira que se abre para o Brasil. Estudo recente fala no incremento de US$ 87 bilhões, em 15 anos, no PIB brasileiro e pode chegar em US$ 125 bilhões se consideradas as reduções das barreiras não tarifárias com aumento de investimentos no Brasil da ordem de US$ 113 bilhões. De acordo com dados coletados pela CNI e CNE, a expectativa de exportações brasileiras para a União Europeia com ganhos de US$ 100 bilhões até o ano de 2035”, mencionou.

Ele incluiu ainda na discussão a importância de que o Brasil assuma novos compromissos ambientais para a conclusão do acordo e citou também a necessidade de maior presença do país nas decisões dos Brics, grupo formado com a Rússia, Índia, China e África do Sul.

“A Declaração de Moscou, adotada por ocasião da 12ª Cúpula do Brics, no ano passado, reconhece a imunização extensiva como um bem público global. O documento garante que os Brics iriam trabalhar em conjunto para assegurar que as vacinas para a Covid19, quando disponíveis, seriam distribuídas de forma equitativa. Que tipo de vantagem a nossa presença no Brics está auferindo ao Brasil? Que tipo de posicionamento o Brasil está tendo nessa relação para que possamos, dada a dimensão da nossa população, ter um tratamento diferenciado a partir da nossa relação com o Brics?, questionou.

Como presidente da CREDN, Aécio prestou uma homenagem, em nomes dos colegas presentes, ao ex-deputado e ex-dirigente histórico do PCdoB, Haroldo Lima, que faleceu nessa quarta-feira vítima da COVID-19.

PGR conclui que inquérito sobre Furnas nunca reuniu provas contra Aécio

A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que atestou a inexistência de quaisquer provas contra o deputado Aécio Neves, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, determinou o arquivamento do inquérito que investigava o ex-governador por supostas irregularidades envolvendo empresas contratadas pela estatal Furnas Centrais Elétricas S/A.

O ministro acolheu o parecer da PGR que recomendou o arquivamento do inquérito em razão da ausência de qualquer prova contra Aécio. A PGR informou em seu relatório que a investigação realizada durante quase cinco anos não reuniu provas mínimas para  a manutenção do inquérito.

Na sua avaliação, o ministro Gilmar Mendes afirmou que o inquérito se baseou apenas em depoimentos indiretos, ou seja, “por ouvir dizer”, prestados por delatores, mas sem qualquer elemento externo de corroboração capaz de sustentar, minimamente, as investigações. O ministro destacou, ainda, que a Lei 13.964/2019 proibiu o recebimento de denúncia com base apenas em relatos de delatores.

A defesa de Aécio Neves afirmou que o arquivamento do inquérito foi mais uma demonstração dos abusos de que o deputado foi vítima.

“Depois de quatro anos de investigações, a própria PGR concluiu que não há provas contra o deputado. Não há provas porque nunca houve crime. Infelizmente, isso não impediu os vazamentos parciais e ilegais feitos por aqueles que, à época, deveriam zelar pela correta condução do inquérito e, consequentemente, a enorme exploração midiática e política do caso. Esse é mais um alerta para abusos que em passado recente foram cometidos. Lamentavelmente, a correta decisão da PGR não corrige os danos causados”, diz nota da defesa.

Aécio aprova convite a Ernesto Araújo e Azevedo para audiências na Câmara

O presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, deputado federal Aécio Neves, aprovou hoje (17/03), por unanimidade no colegiado, convite para audiências públicas com os ministros Ernesto Araújo (das Relações Exteriores) e Fernando Azevedo (da Defesa). A expectativa é de que as audiências ocorram na semana que vem, se confirmadas pelos ministros.

Os dois requerimentos aprovados na CREDN foram apresentados por Aécio Neves com o objetivo de dar início aos trabalhos da comissão este ano e para ampliar a discussão no Congresso sobre a crise sanitária gerada pela pandemia. As audiências poderão ter a participação de todos os deputados da Casa.

Como presidente da CREDN, Aécio destacou a urgência necessária do debate. Em especial da audiência com o ministro das Relações Exteriores.

“É absolutamente urgente que tenhamos a presença do ministro Ernesto Araújo para que, além do planejamento do ano de 2021, somemos esforços para sanar lacunas e não perdermos um segundo sequer no esforço para dar aos brasileiros insumos para fabricação de vacinas, quando isso for possível, e também a importação de vacinas. Venham elas de onde vierem e, obviamente, que estejam aprovadas pelas autoridades de saúde. O ministério das Relações Exteriores tem um papel importante a desempenhar nisso e nós, como representantes do Congresso Nacional nessa área, devemos ter a responsabilidade de suprirmos as lacunas em temas extremamente urgentes”, afirmou Aécio.

A comissão enviará os convites aos dois ministros ainda nessa quarta-feira. Aécio ressaltou que a pauta da CREDN inicia debatendo medidas contra a COVID-19 porque a busca por soluções da pandemia deve ser global.

“A tragédia humana de tamanha magnitude que se abate sobre o mundo, e sobre o Brasil em especial, traz um enorme ineditismo. Todos temos que atuar com responsabilidade e serenidade na busca da solução dos problemas porque, independentemente de partidos políticos ou de convicções ideológicas, acima de disso tudo, está a vida das pessoas”, destacou Aécio.

E acrescentou: “No que depender de mim, essa comissão terá uma ação proativa na busca do enfrentamento mais adequado dessa pandemia sem proporções que o mundo está vivendo e cujas consequências o Brasil vem sofrendo”.

Defesa Nacional

O deputado e ex-governador defendeu também a importância da audiência com o ministro Fernando Azevedo.

“É natural que no início dos trabalhos, como já ocorreu no passado, que convidemos o ilustre ministro de Estado da Defesa para que possamos ouvi-lo. Para que ele traga à Câmara, não apenas o planejamento da sua pasta para este ano, mas também informações que serão naturalmente solicitadas pelos membros dessa comissão. Esta comissão nos permite ter debates sempre no mais alto nível”, disse Aécio.

A comissão é responsável por debater na Câmara dos Deputados os projetos relacionados à política externa e à área de defesa nacional. Na reunião de hoje também foram aprovados os textos dos Acordos Sobre Serviços Aéreos entre os governos do Brasil e do SriLanka, firmado em 2017, e de Luxemburgo, assinado em 2018.

Leia o pronunciamento de Aécio após eleição na CREDN

Pronunciamento do deputado Aécio Neves durante instalação da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional

Brasília – 12-03-21

Caros colegas parlamentares,

É com muita honra que assumo essa enorme responsabilidade que os senhores me outorgaram de dirigir essa importante Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

Os temas tratados nessa Comissão sempre foram prioridade no exercício de minha já longa vida pública, que conta com 35 ininterruptos anos de exercício de mandato popular, a maior parte deles nessa Casa à qual devo grande parte da da minha formação política e que tive a honra de presidir em tempos de importantes transformações no país . Da mesma forma, esses temas sempre estiveram presentes em inúmeras discussões do meu partido, o PSDB, que nos últimos 10 anos presidiu por 6 vezes essa prestigiosa comissão e ofereceu ao país quadro extraordinários como chanceleres quadros como Fernando Henrique Cardoso, Celso Lafer, e mais recentemente José Serra e Aloysio Nunes Ferreira.

Esse último, meu companheiro de chapa na eleição presidencial de 2014, coordenou recentemente um belíssimo trabalho, que em parte reproduzo aqui que traduz as opiniões que sempre defendemos é que acredito que essas ideias que elenco aqui hoje poderão subsidiar os debates que travaremos aqui.

Afirmo, desde já, que serei sempre fiel à minha história e minhas enraizadas convicções democráticas, garantirei que todos os temas trazidos serão debatidos e garantirei todas as opiniões respeitadas.

Senhoras e senhores parlamentares,

Cada vez mais a forma com que o Brasil se insere no mundo traz consequências cruciais para o desenvolvimento de nosso País e para a condição de vida de nossa gente. Assim, a política externa, agora como antes, implica opções que afetam os principais atores da nossa política interna.

É correto, inclusive, dizer que a atuação do Brasil no mundo configura uma “política de Estado”. No caso presente, a expressão não é mero rótulo. Ela remete a um sentido que define nossa identidade em face dos demais países. É algo que ultrapassa os limites de uma única gestão governamental e está embasada na própria Constituição. Lá estão, no artigo 4º do título I, os princípios pelos quais a República se rege nas relações internacionais. É sempre útil rememora-los: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, concessão de asilo político. E no parágrafo único desse artigo há a afirmação enfática da latino-americanidade do Brasil, uma vez que o País deve empenhar-se na consolidação de uma comunidade latino-americana de nações com dimensão econômica, política, cultural e social.
Esse artigo da nossa Constituição afirma um padrão de ação do Brasil que foi constante ao longo dos melhores anos de nossa história republicana. A observância dessas normas decorre do respeito ao texto constitucional, mas reveste-se, sobretudo, nas relações internacionais, e destaco isso, de enorme utilidade: a de dizer claramente aos nossos interlocutores quem somos nós e que comportamento esperar do Brasil seja nas relações diretas com outras nações ou em nossa atuação nos organismos internacionais.

Caros colegas, a alternância das forças políticas do poder nacional é inerente à democracia. E existem nessa matéria, como em tantas outras, diferenças de ênfase, de prioridades, de objetivos traduzidos em ações e discursos dos presidentes que se sucedem no comando da Nação, e cada uma delas, em seu tempo, tem de ser respeitadas. Essa variância é perceptível na condução que os diferentes presidentes da República, situados em pontos distintos do espectro político e ideológico, imprimiram à nossa política externa em seu tempo.

Agora, entretanto, na etapa atual da globalização, da interdependência das nações, que fica cada vez mais clara em tempos de pandemia, acentuada sempre pelo drama por que passam milhões de pessoas em todo o mundo, o Brasil, umas das economias mais relevantes do mundo deve sempre defender seus interesses junto a quem ofereça melhores oportunidades em cada situação concreta.

Há questões já colocadas, como o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a ratificação do acordo Mercosul-União Europeia, dentre inúmeras outras, que devem merecer atenção especial dessa comissão. Me refiro também as já iniciadas negociações e acordos do Mercosul com o Canadá, a Coreia do Sul e Singapura, que precisam e devem ser aceleradas, assim como devemos avançar no fortalecimento dos laços econômicos que nos unem a países da Aliança para o Pacífico, nossos vizinhos e o próprio Mercosul, que completa 30 anos de sua criação, deve ser objeto de profundas discussões que possibilitem o seu fortalecimento como importante instrumento para o desenvolvimento nacional.
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Obviamente, garantindo especial atenção às relações com os nossos principais parceiros econômicos e me refiro aos Estados Unidos e a China, além do fortalecimento da nossa presença absolutamente estratégica no BRICS.

Essas são algumas ações que deverão ser imprimidas por esta comissão e que demonstram a dimensão do desafio que nos aguarda.

Mais integração, mais desenvolvimento. Esse, sem dúvida alguma, a meu ver, é o norte a ser buscado.

A diplomacia brasileira tem longa tradição de respeito, tolerância e equilíbrio. Estes preceitos e valores necessitam ser reafirmados. É preciso restabelecer os princípios norteadores da nossa política externa, inscritos na nossa Constituição como compromissos do Estado brasileiro.

A nossa política externa deve ter, a meu ver, como objetivo maior a promoção do desenvolvimento do país nos planos econômico, social e cultural. Sua formulação precisa levar em conta análises rigorosas das oportunidades que se apresentam na conjuntura internacional para a promoção dos interesses nacionais, isentas de quaisquer preconceitos ideológicos ou partidários.

A política externa brasileira, a meu ver, deve ter como foco o multilateralismo. Nosso relacionamento internacional há de ser amplo, universal, sem exclusões ou alinhamentos automáticos. O Brasil precisa, acredito eu, amplificar sua atuação em grandes temas globais, inserindo-se em debates mais amplos, nos quais nossa contribuição como país é relevante, especialmente em assuntos relacionados a direitos humanos, ao meio ambiente, à imigração e cooperação no combate internacional ao tráfico de pessoas, de armas e de drogas e, é preciso enfatizar, nesse instante o necessário e urgente o enfrentamento à pandemia que tem assolado o mundo e, de maneira especial, o Brasil. E isso passa obrigatoriamente por uma relação mais ampla com os diversos países e regiões do mundo em busca daquilo que é grande urgência mundial, e em especial brasileira: a ampla e universal vacinação da nossa gente.

Nesse documento enfatizamos a necessidade de ampliarmos os espaços de influência brasileira em âmbito regional, dando prioridade à América do Sul como cenário imediato da nossa atuação. A integração com nossos vizinhos do Mercosul e também da Aliança para o Pacífico, à qual já me referi, pode ser plataforma poderosa para nossa inserção no resto do mundo. Nossa voz no continente há de ser sempre no sentido de estimular o diálogo e valorizar a democracia.

Precisamos de mais e não menos negócios com o resto do mundo, revertendo o isolamento que tem marcado nossa política exterior em boa parte deste século, não me refiro a um governo apenas. Neste sentido, ressalto a importância da negociação de novos acordos de livre comércio pelo Brasil.

Devemos, senhoras e senhores, buscar sempre a nossa inserção de forma competitiva nos fluxos mundiais de comércio, investimento e tecnologia, bem como estabelecer novos espaços em organismos internacionais. E essa comissão pode ter papel de destaque na formulação dessa estratégia.

Nossas empresas produzem com enorme qualidade, mas de forma cada vez menos competitiva, dados os altos custos internos, e isso não vem de hoje. É preciso criar condições que colaborem para que elas se integrem nas cadeias produtivas globais e para diversificar nossa matriz de exportações, o que demanda profunda melhoria, racionalização e simplificação do ambiente econômico interno. Não escaparemos tampouco dessa inflexão.

Senhoras e senhores,

É da nossa tradição democrática, e também da tradição diplomática, o firme compromisso com o repúdio às tiranias, o direito à paz, a solidariedade internacional em defesa da democracia, o respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. Esses são traços marcantes da nossa identidade nacional que devemos recuperar, aperfeiçoar e preservar, independentemente de qual seja o governo de hoje ou de amanhã.

Senhoras e senhores membros dessa Comissão,

a importante agenda de defesa nacional, que está sob a esfera de trabalho dessa comissão, não pode ser relegada a segundo plano. Devemos ampliar nossa interlocução com as Forças Armadas e a sociedade, na busca da definição de qual política de defesa o país necessita em tempos de tantos desafios. Devemos dar uma atenção especial à integração dessas discussões que envolvem, no Congresso Nacional a Aeronáutica, Marinha e o Exército, vários deles com seus representantes aqui hoje presentes para que possamos definir suas prioridades e que sejam também aquelas do conjunto das forças de segurança, inclusive na discussão orçamentária.

Estão aqui no Congresso, para análise e apresentação de sugestões, os principais documentos orientadores da nossa política de Defesa: Estratégia Nacional de Defesa, Política Nacional de Defesa e o Livro Branco da Defesa Nacional. Fontes riquíssimas de informação que permitirão a qualificação cada vez maior do debate que aqui deveremos travar. Trabalharemos em estreita sintonia com as autoridades responsáveis por definir essas estratégias e cuja experiência e expertise serão de grande valia a essa comissão.

São, portanto, caros colegas, inúmeros os desafios que se colocam à nossa frente e não tenho dúvidas de que a nossa Comissão, pela sua relevância, e pela qualidade de seus membros, poderá assumir um papel extremamente relevante no momento em que o Brasil precisa fortalecer sua integração à comunidade internacional das nações.

Devo informar ainda que, como presidente dessa comissão, e em respeito à resolução número 2 de 2013 do Congresso Nacional, e ao seu parágrafo primeiro do artigo sétimo, assumirei concomitantemente a presidência da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI), comissão permanente do Congresso Nacional, órgão de controle e fiscalização externos das atividades de inteligência previsto no artigo sexto da lei número 9883 de 7 de dezembro de 1999. Comissão que contará com a participação de outros membros das duas Casas do Congresso Nacional.

Ao final, comunico que na nossa primeira reunião deliberativa, em data a ser definida na próxima semana, e que será previamente comunicada a todos, Quartas-feiras, 9h a meio-dia, estarei, na condição de presidente da Creden, apresentando requerimento de convite aos senhores ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Defesa, general de Exército Fernando Azevedo e Silva, para que compareçam a essa comissão, em data a ser celeremente definida, para trazerem as informações acerca do planejamento de suas ações para o presente ano e, claro, para que possam responder às indagações dos ilustres membros dessa comissão.

Termino, portanto, caríssimos colegas, por afirmar que a beleza da democracia está exatamente no respeito à pluralidade das opiniões. Me lembro de uma máxima que o ex-presidente Tancredo costumava repetir muito. Ele dizia que na política quem deve brigar são as ideias, não as pessoas. E eu seguirei essas recomendações do ex-presidente Tancredo quase que como um mantra para permitir que nessa comissão os debates ocorram com a profundidade necessária para, da mesma forma, com o respeito que cabe a cada um de nós, como representantes da população de nossos estados, e a partir do instante que nos tornamos membros dessa comissão, como representantes das mais altas expectativas da sociedade brasileira, em um dos temas mais delicados que o Congresso Nacional tem a responsabilidade de tratar.

Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada a presente reunião.