“Fui condenado previamente sem nenhuma chance de defesa. Tentaram execrar-me junto à opinião pública. Fui vítima de uma armadilha executada por um criminoso confesso de mais de 200 crimes”, diz Aécio.
Dizendo-se sereno e determinado a provar ter sido vítima de uma armação planejada para incriminá-lo, o senador por Minas Gerais Aécio Neves retomou, nessa terça-feira (4), suas atividades no Senado.
Em discurso no plenário da Casa, o senador disse que sua volta aos trabalhos legislativos é resultado do cumprimento da Constituição Federal e destacou os projetos e ações que defendeu, ao longo de 32 anos de mandatos consecutivos, em favor da transparência, da ética e das boas práticas na área pública.
“É com espírito altivo e com absoluta serenidade que retorno hoje a esta Casa. A esta que é também a minha Casa. Meu retorno se dá, única e exclusivamente, pela estrita observância da lei, pelo respeito a direitos assegurados e pelo que determina a nossa Constituição. Sempre atuei na defesa do interesse público, na preservação do patrimônio dos brasileiros e na correção de injustiças que impedem o Brasil de alcançar a condição a que tem direito”, afirmou Aécio Neves, em seu pronunciamento.
O senador enfatizou que foi condenado de forma precipitada e injustamente, sem ter chance de defesa, em razão da situação armada por Joesley Batista para forjar a prática de crime que possibilitasse o delator a negociar uma delação premiada. Aécio reiterou que propôs ao dono da JBS a venda de um apartamento de sua família, quando o empresário de forma proposital ofereceu em troca um empréstimo de R$ 2 milhões. A partir do empréstimo, Joesley então forjou um crime na entrega do dinheiro para fabricar uma prova contra o senador.
“Fui condenado previamente sem nenhuma chance de defesa. Tentaram execrar-me junto à opinião pública. Não aceitei recursos de origem ilícita, não ofereci ou prometi vantagens indevidas a quem quer que fosse e tampouco atuei para obstruir a ação da Justiça, como me acusaram. Fui, sim, vítima de uma armadilha engendrada e executada por um criminoso confesso de mais de 200 crimes, cujas penas somadas ultrapassariam mais de dois mil anos de prisão”, destacou o senador.
Falso crime
Aécio ressaltou que o empréstimo aceito por ele não envolvia dinheiro público e nenhum benefício em troca, e seria formalizado por meio de contrato de mútuo se a intenção de Joesley já não fosse desde o início fabricar um falso crime com ele e seus familiares. O senador disse ainda que as investigações mostrarão que a JBS jamais recebeu a seu pedido qualquer benefício fiscal ou favores de outra natureza, como admitiu o próprio ex-diretor da empresa em depoimento.
“Não houve envolvimento de dinheiro público e muito menos qualquer contrapartida, como as próprias gravações demonstram e ficará cabalmente provado perante a Justiça. É de se questionar, e não fujo do tema, uma vez mais: como alguém pode pagar aquilo que se estabeleceu chamar de propina sem que tenha recebido qualquer benefício ou tenha qualquer expectativa de recebê-lo? O delator Ricardo Saud, executivo da JBS, afirma, de forma clara, em um de seus depoimentos. E abro aspas para ele: “Ele (Aécio) nunca fez nada por nós”. Fecho aspas”, questionou.
Operação Lava Jato
O senador por Minas Gerais ressaltou que sempre defendeu, ao longo dos últimos três anos, as investigações em curso no Brasil e as instituições envolvidas, mas acrescentou que é preciso separar atividades legais no exercício do mandato daquilo que são práticas ilegais.
“O papel de investigar, apontar erros e puni-los é fundamental para o aprimoramento de nossas instituições, mas não pode ser feito ao arrepio do nosso ordenamento jurídico. O país vive, sim, um importante e inédito acerto de contas com a sociedade e com o mundo político. E temos que estar preparados para ele, separando o que é crime daquilo que não é. Separando condutas ilícitas daquilo que é simplesmente atividade política. Misturar tudo e todos só interessa aos que não querem mudança alguma”, afirmou Aécio.