O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, homenageou, nesta quarta-feira (06/07), o ex-governador de São Paulo e um dos fundadores do partido, o ex-senador Franco Montoro, que completaria 100 anos na próxima semana.
Em pronunciamento no plenário do Senado, Aécio ressaltou o papel histórico desempenhado por Montoro no processo de redemocratização do país, ao lado de homens públicos como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães.
“Se hoje, num Brasil de tantos desencontros, há algo que ainda nos sustenta, são exatamente os pilares da democracia, construídos por esse e outros homens públicos, seus contemporâneos naquele tempo, e que hoje se mostram ainda extremamente sólidos”, ressaltou Aécio Neves em aparte ao senador José Aníbal, que também prestou homenagem a Montoro.
Leia, a seguir, o pronunciamento do senador Aécio Neves:
Senado Federal – 06/07/2016
O senador José Aníbal dá ao Plenário do Senado Federal, hoje, uma oportunidade rara de homenagear um dos mais extraordinários homens públicos do seu tempo. Ao ver aqui, na tribuna, seu filho, meu querido amigo Rico Montoro, faço quase que um passeio pela história, pela bela história construída por Montoro, por Tancredo, por Ulysses e por tantos brasileiros que deixaram, às gerações que lhes vieram a suceder, exemplos, caminhos, mas, sobretudo, uma Pátria democrática. Se hoje, num Brasil de tantos desencontros, há algo que ainda nos sustenta, são exatamente os pilares da democracia, construídos por esse e outros homens públicos, seus contemporâneos naquele tempo, e que hoje se mostram ainda extremamente sólidos.
Teria inúmeras boas lembranças de manifestações políticas, como aqui fez o senador José Aníbal, e também de algumas passagens pessoais, que me fazem lembrar com muita saudade do governador Franco Montoro. Mas quero aqui me restringir a uma apenas, que é ilustrativa, emoldura, de forma extremamente completa, a personalidade do então governador, depois senador e homem público, Franco Montoro.
Existe um pensamento universal que diz que, se você quer conhecer de verdade um homem, dê-lhe poder – e óbvio que não faço aqui uma restrição de gênero quando me refiro a homem. O que temos visto na vida pública do Brasil – e de outras nações do mundo, isso não é uma exclusividade nossa – são abusos, são excessos, é ausência de compreensão da dimensão daquele momento, daquele posto, daquele poder que, de forma efêmera, esse homem público exerce.
Com o Montoro aconteceu algo que não é comum aos homens público. É a esse episódio que quero me referir aqui, no plenário do Senado, quando homenageamos o centenário de nascimento de Franco Montoro.
Era ele o mais poderoso, era ele o mais importante líder da oposição ao regime autoritário quando se elege governador de São Paulo, em 1982. Outros governadores, entre eles meu avô, Tancredo, entre eles José Richa, elegeram-se naquela mesma quadra. Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, e, ao lado de outros extraordinários homens públicos, deram início à construção da redemocratização, da fase final da redemocratização no País.
Era absolutamente natural que Franco Montoro, governador do mais importante Estado brasileiro, fosse, de alguma forma, o nome consensual, o nome a surgir de forma absolutamente unânime por parte das principais lideranças da oposição, em especial dos governadores de oposição naquele instante.
Lembro-me e tantos e nos ouvem aqui se lembrarão de uma antológica, de uma histórica reunião, no Palácio Bandeirantes, quando, ao lado de outros governadores da oposição – lembro-me de Gerson Camata também nesse episódio –, Franco Montoro pede a palavra e declina de uma indicação que poderia, repito, com razoável naturalidade, caminhar na direção do seu nome como candidato das oposições à Presidência da República.
Entendendo o quadro político, fazendo ali a sua análise, mas mostrando um extraordinário desprendimento, colocando sempre o interesse do País e da democracia à frente dos seus próprios interesses, ele ali indica o nome do então governador eleito de Minas Gerais, Tancredo Neves, como o nome que poderia melhor representar o conjunto das forças de oposição e mais rapidamente construir a saída do Brasil do regime autoritário. Foi um gesto surpreendente para muitos. Tancredo levou-o na alma e no coração durante toda a sua existência.
E, a partir do gesto de Franco Montoro, outros gestos de desprendimento, como o de Ulysses Guimarães, acabaram por levar Tancredo a ser eleito Presidente da República no colégio eleitoral. Quis o destino que ele não assumisse a Presidência da República, mas sua obra, sua obra principal, o restabelecimento dos princípios, dos valores e das instituições democráticas no Brasil, essa, sim, foi concluída.
E se, de tantos brasileiros que poderíamos homenagear, tantos que tiveram papéis de enorme destaque naquela construção pudesse eu aqui destacar um, sem sombra de dúvidas e sem qualquer constrangimento, dentre tantos ilustres homens públicos daquele tempo, eu diria que a construção da candidatura de Tancredo e a retomada da democracia brasileira tiveram como seu maior inspirador a coragem, o espírito público e a grandiosidade de André Franco Montoro.