O deputado federal Aécio Neves defendeu hoje (27/03) autonomia e pragmatismo no relacionamento do Brasil com o mundo. Durante debate com o ministro Ernesto Araújo, realizado na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa, na Câmara dos Deputados, Aécio destacou a condição do Brasil de país em desenvolvimento e alertou para o risco de retomada de uma política externa pautada pelo viés ideológico, a exemplo do que ocorreu durante a última década, quando os governos Lula e Dilma Rousseff privilegiaram parceiros em razão da identidade política, e não dos interesses comerciais brasileiros.
“Combatemos de forma vigorosa uma política externa que considerávamos, subordinada a interesses de um governo e não do Estado brasileiro, e principalmente a um claro viés ideológico. Fomos contrários ao apoio do Brasil à filiação da Venezuela ao Mercosul por não cumprir as cláusulas democráticas daquele tratado. Combatemos fortemente os financiamentos via BNDES a países amigos como Cuba e a própria Venezuela. Condenamos a aceitação do Brasil da expropriação de refinarias da Petrobras por parte do governo boliviano. Digo isso para dizer que percebo que há uma sensação crescente no Parlamento, e na sociedade brasileira, que possamos estar desenhando uma outra face da mesma moeda. Essa subordinação em nada atendeu aos interesses do país. Não devemos ir para um novo tipo de subordinação”, afirmou Aécio.
Sobre as negociações iniciadas na recente reunião dos presidentes da República, Jair Bolsonaro, e o norte-americano Donald Trump, envolvendo a possibilidade de apoio dos Estados Unidos ao ingresso do Brasil na OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Aécio defendeu uma postura onde haja racionalidade e equilíbrio em favor dos interesses brasileiros.
“Houve uma surpresa muito grande com a decisão anunciada em Washington de que o Brasil teria o apoio do presidente Trump para que pudéssemos participar da OCDE. Não renego ou desconheço o simbolismo para o país, e não vejo apenas defeitos na política externa brasileira, como também não encontro apenas virtudes nela, mas não é o fato de amanhã, eventualmente, sermos aceitos na OCDE que mudará a nossa condição de país em desenvolvimento e que ainda depende de flexibilidade na discussão dos benefícios que a OMC nos dá. A virtude muito raramente está nos extremos. Na maioria das vezes se aproxima do centro, do equilíbrio e da racionalidade”, afirmou.
Em lugar de abrir mão de benefícios que o Brasil tem hoje na OMC (Organização Mundial do Comércio), Aécio defendeu que o governo busque condições semelhantes às obtidas na OCDE por outros países também em desenvolvimento.
“Não vi ainda uma manifestação do governo na busca de uma negociação que pudesse nos dar o status que tem o México, a Coréia do Sul ou a Turquia”, acrescentou.
Formada por 37 países desenvolvidos, a OCDE tem hoje o Chile, México e a Colômbia como únicos representantes da América Latina.
Imigrantes brasileiros
Sobre o fim da exigência de visto para entrada de norte-americanos no Brasil, o deputado federal disse entender como uma decisão de governo, mas pediu ao ministro Araújo que o Itamaraty tenha atenção dirigida também aos brasileiros que vivem nos Estados Unidos e que lá constituíram famílias.
“Acredito que pode haver um esforço para que determinadas questões sejam enfrentadas, inclusive a situação dos ilegais brasileiros de segunda e terceira gerações que estão nos Estados Unidos”, afirmou Aécio.