“O Brasil precisa se fazer presente de forma mais afirmativa no debate internacional sobre meio ambiente. As urgências ambientais já nos obrigam a mudanças radicais nos nossos hábitos, no nosso modo de vida, na forma de cultivar alimentos e de produção na indústria, nos transportes e em tudo aquilo que envolve a emissão de gases do efeito estufa. Políticas públicas responsáveis passaram a ser uma necessidade humana e também econômica de quem pensa com responsabilidade o futuro. É preciso mostrar ao mundo como nosso país fará essas mudanças”.
A afirmação é do deputado federal Aécio Neves, presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara, durante o Seminário Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Negociações Internacionais, realizado nesta quarta-feira (22/09), pela Folha S. Paulo, com a participação de representantes da Confederação Nacional da Indústria e do Congresso Nacional.
Aécio destacou as reuniões de cúpula marcadas para este ano (COP-15 e COP-26) como agendas fundamentais para o Brasil retomar o protagonismo no debate sobre meio ambiente e citou as implicações econômicas que poderão impactar o país em razão das medidas anunciadas pela União Europeia, e em estudo pelos Estados Unidos, na taxação de produtos originados de países não comprometidos com a redução de emissão de gases.
“Temos um ano extremamente estratégico, em que nossa inércia e isolamento podem nos comprometer. A COP-15, em outubro, e a COP- 26. Em ambos, o Brasil tem interesses estratégicos e precisa estar ativo nas discussões. São inúmeras as iniciativas no mundo que taxarão produtos com base na produção de carbono. Já em 2023 para importação pela União Europeia de aço, ferro, cimento, fertilizantes, alumínio, eletricidade, o que afetará diretamente nosso comercio externo. Cerca R$ 2 bilhões de dólares poderão estar comprometidos já em 2023. O governo Biden caminha na mesma direção e teremos 40% do comércio internacional cobertos por algum tipo de tarifa de carbono”, alertou Aécio.
A COP-15, da Biodiversidade, tem abertura virtual marcada para outubro e a COP-26, sobre mudança do Clima, está agendada para novembro, em Glasgow. Para a COP-15 está prevista a conclusão do Marco Pós-2020 para Biodiversidade, documento que deve ter o mesmo peso que o Acordo de Paris teve para a agenda de mudança do clima.
No caso da COP-26, o Brasil enfrenta o desafio de contribuir para a conclusão das negociações sob o artigo 6 do Acordo de Paris, que definirá as regras de implementação de um mercado internacional de emissões.
Desmatamento
O desmatamento das florestas tropicais é tema central dos debates. O atual ritmo de desmatamento dessas florestas é responsável por cerca de 20% das emissões globais de gases do efeito estufa. No Brasil, as emissões geradas pelo desmatamento são 45% do total de emissões. Só o desmatamento da Amazônia representa 36%.
“Em Minas Gerais, como governador, já defendia que a política ambiental não devia mais ser vista como um nicho de ambientalistas, e sim uma necessidade de quem pensa com responsabilidade o futuro. A realidade foi mais rápida. Hoje é uma condição para acesso aos mercados internacionais. Tanto ao mercado de capital, para garantir investimentos, quanto ao mercado de bens para escoar nossas exportações. Ou nos adequamos ou vamos ficar muito para trás”, afirmou Aécio.