Qual Crise?

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 20/07/2015

No país das múltiplas crises, já não se sabe qual é a pior e a mais danosa: a que alcança o cotidiano dos cidadãos ou a que compromete o futuro do país?

São, como se sabe, crises diferentes, ainda que de certa forma complementares e com a mesma gênese, o mesmo ponto de partida.

A crise, vista de Brasília, é, hoje, essencialmente moral e política, mistura explosiva de aparelhamento da administração federal, compadrio político, corrupção endêmica, má gestão e, agora, risco de comprometimento de algumas das condições básicas de governabilidade.

Acuado pelos seus próprios erros e incomparável arrogância, o PT enfrenta dificuldades crescentes para governar. Acabou refém da realidade, temendo que a responsabilidade sobre irregularidades, desvios e escândalos de toda ordem se aproxime ainda mais do governo.

Enquanto o quadro se agrava, outra crise avança, atingindo inúmeros setores da economia e, especialmente, a população mais pobre. O Brasil parou, literalmente.

O cenário é de recessão com inflação alta, a pior equação entre os países emergentes. O Brasil está, de novo, na contramão da história, com o esperado crescimento negativo para este ano.

Com o país mergulhado em desconfiança e descrédito, desapareceram os investimentos e perdemos nossa dinâmica econômica, migrando para um quadro de profundo marasmo e letargia.

Assistimos agora à escalada progressiva do desemprego, que não poupa mais nenhum setor, região ou classe social.

Como se tudo isso não bastasse, no mundo real, longe de Brasília, os cidadãos estão enfrentando a forte inadimplência gerada pelo engano do crédito farto e barato. Juros na estratosfera e os drásticos aumentos das tarifas, em especial de energia, alimentam as dificuldades das famílias brasileiras.

Há ainda que se contabilizar os cortes orçamentários em áreas capitais do serviço público, como saúde e educação, a paralisia das obras públicas, e, apesar do avanço da inflação, a ausência de reajuste, já há um ano, para o Bolsa Família, do qual dependem milhões de famílias brasileiras.

Difícil saber, portanto, qual, entre tantas, é a pior crise.

Ouso dizer que talvez seja a de esperança, pois tiraram dos brasileiros a capacidade de acreditar em seu próprio futuro.

Ao final, dissemina-se a sensação de que nunca antes na história do país fomos tão iludidos pela propaganda e pela má-fé.

Não tenho dúvidas, no entanto, de que seremos capazes de superar essas graves dificuldades, que, em muitos aspectos, poderiam ter sido evitadas ou amenizadas.

E, ao superá-las, seremos um povo mais amadurecido, menos sujeito a manipulações e mais atento ao verdadeiro significado das ações e omissões dos governos.

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O golpe do golpe

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 13/07/2015

 

A velha cantilena usada de forma estridente pelo governo petista sempre que se sente acuado já não surte efeito. Mais uma vez, o grito de guerra de um hipotético complô contra o partido está em curso. A estratégia tem uso recorrente. Em momentos distintos, já foi usada para atacar a mídia, as elites intelectuais, os protestos de rua e por aí afora.

Nesse raciocínio, tudo o que contraria os interesses do PT é golpe. No atual contexto, a imprensa divulga os escândalos do petrolão? Trata-se da imprensa golpista. O TCU analisa as contas do governo Dilma? Para o PT é golpe. O TSE investiga se houve recursos de propina na campanha da presidente? Golpe de inconformados, dizem os petistas. A Polícia Federal e o Ministério Público cumprem com independência suas funções? Golpe, dizem eles. Milhões de pessoas ocupam as ruas com críticas ao governo? Trata-se de golpistas de direita, analisa o partido. Ninguém escapa, somos todos golpistas –menos os iluminados do PT.

Para eles, os outros são sempre os culpados de todos os males. Os outros tramam dia e noite para tirar o PT do poder. Não cola mais. Os brasileiros não aceitam mais o engodo.

A quem serve o factoide do golpe criado na semana passada? Claramente uma estratégia do marketing petista, a ideia de propagar com insistência uma mesma mentira, repetidamente, em coro orquestrado, serve para tentar dar unidade e amplitude ao discurso do seu fragilizado campo político. É uma velha receita seguida de novo por todos os níveis do PT, do mais alto escalão ao militante pago para insuflar as redes sociais. Entre lidar com a verdade ou se esconder na mentira, o partido escolheu, de novo, evitar a realidade.

Sabemos todos –inclusive o PT– que, felizmente, não existe espaço para nenhum retrocesso no sistema democrático brasileiro. O que o partido teme, na verdade, é o funcionamento dos instrumentos da nossa sociedade democrática.

Existe, sim, um grande golpe em curso –mas ele vem do andar de cima. Um golpe contra os brasileiros que deram ao governo um voto de confiança e que, em troca, receberam um bilhete de entrada para um país em queda livre, com desemprego nas alturas, redução de benefícios trabalhistas, inflação beirando a casa de dois dígitos em algumas capitais, tarifas públicas em aumento crescente.

O mais grave neste cenário é a incapacidade do governo de governar de fato. No lugar do trabalho sério, a bravata. O governo e o PT fariam um enorme bem aos brasileiros se imprimissem à gestão do país o mesmo vigor que despendem ao incorporar roteiros mirabolantes ditados, mais uma vez, pelo marketing da mentira e da conveniência.

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Desafio

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 06/07/2015

 

A retórica desconexa e o raciocínio enviesado da presidente Dilma brindaram os brasileiros recentemente com o uso inapropriado de duas palavras duras –delação e traição. Sobre a primeira nem há o que falar –o instrumento da delação premiada é legal e está inserido nas normas democráticas.

Quanto à traição, ainda que não se discuta a legitimidade da presidente para tocar no assunto, afinal não se tem memória de um governante que tenha traído tão profundamente os que nele acreditaram, é preciso anotar a infelicidade da fala. Basta dizer que ao comparar o senhor Ricardo Pessoa a Joaquim Silvério dos Reis, a presidente terminou por comparar o ex-tesoureiro do PT João Vaccari a Tiradentes, o que demonstra no mínimo o absurdo do pensamento.

Estamos vivendo um dos piores períodos de nossa história republicana. As contas públicas, a inflação, a produção industrial, o mercado de trabalho, as obras do PAC, nada resistiu ao monumental conjunto de erros protagonizados pelo governo petista. À incompetência gerencial se soma o oportunismo político, a miopia ideológica e o desapreço pela transparência, para termos pronta a receita do caos. Eis o Brasil do PT.

É preciso, no entanto, reconhecer que o país tem hoje, a favor da preservação da governabilidade, um sólido aparato institucional. Instituições como o Congresso, o Ministério Público, o STF e as demais instâncias do Judiciário atuam com independência e responsabilidade para assegurar a plenitude do Estado de Direito e dos preceitos constitucionais.

Esse é o avanço da democracia que devemos saudar e respeitar. Quando o PT tenta interferir nas ações da Polícia Federal, o partido dá um péssimo exemplo de como devem ser pautadas as relações institucionais no país. Não há mais como calar a sociedade, muito menos suas instituições representativas.

A verdade é que vivemos tempos ruins, agravados a cada dia pelo atual governo, que mentiu e ainda mente, aumentando o índice de desconfiança de empresários, investidores e trabalhadores.

É nesse contexto que o PSDB realizou no domingo (5) a sua convenção nacional, reafirmando compromissos com os brasileiros. Em um encontro repleto de emoção, líderes e militantes de todos os cantos do país trouxeram a sua mobilização intransigente em favor da democracia, da luta por um país mais justo e igualitário, do compromisso com a ética e o interesse público.

A sociedade brasileira está ávida pela boa política. Os partidos da oposição têm o apaixonante desafio de aprofundar a interlocução com a população e responder ao enorme desejo de participação de milhões de cidadãos mobilizados e indignados. É esse o caminho a trilhar, com coerência, transparência e respeito, sem desvios ou concessões.

 

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Propaganda Enganosa

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 29/06/2015

 

O desapreço do governo petista pelos limites fixados pela lei, ou recomendados pelo bom senso, já é conhecido dos brasileiros. Começa pelas pedaladas fiscais, passa por mentiras eleitorais e chega à corrupção generalizada.

Agora, temos mais uma demonstração de como, sem constrangimento, o governo financia com recursos públicos a divulgação de mentiras.

Basta ver a milionária propaganda que foi ao ar para tentar justificar o ajuste fiscal. Ela deixou de prestar contas ou informar à população, transformando-se em mera peça partidária que alterna opinião, autoelogio, dados questionáveis e mentira pura e simples.

Transcrevo os principais trechos do comercial levado a milhões de brasileiros. “(“¦) O mundo passa por uma crise cujos efeitos no Brasil foram amenizados com ações do governo federal (“¦) O governo manteve o crescimento do emprego e da renda (…) e a ampliação dos créditos subsidiados ao acesso à educação. Conquistas garantidas. (…) Os direitos trabalhistas e benefícios conquistados estão todos assegurados (…) As tarifas de energia tiveram que ser aumentadas em função da seca.”

A propaganda fere a lei e a verdade. Fere a lei pois deixa de informar para opinar (ações do governo amenizaram a crise, por exemplo). Agride a verdade quando diz que o crescimento do emprego e a ampliação dos créditos subsidiados para a educação estão mantidos. Ou quando afirma que os direitos trabalhistas estão todos assegurados e que as tarifas de energia aumentaram por causa da seca.

Ao contrário do que diz o governo, dados oficiais evidenciam o aumento do desemprego e a diminuição dos investimentos na educação. Direitos trabalhistas foram reduzidos. E chegamos ao absurdo de ver a seca responsabilizada pela crise sem precedentes que atingiu o setor elétrico.

Semana passada, o juiz federal Ricardo Coelho Borelli, da 20ª Vara do TRF da 1ª Região, determinou a suspensão da campanha, afirmando que “a publicidade feita pelo governo federal ofende diretamente os princípios basilares da boa administração pública, trazendo inconsistências entre sua divulgação e o efetivamente ocorrido”.

Diante da gravidade desse fato, é justo que se indague quem, agora, informará à população que ela foi enganada.

É para responder a esse tipo de abuso que apresentei, no Senado, projeto de lei que responsabiliza gestores públicos pela divulgação de informações não confirmadas por fontes confiáveis e obriga governos, quando for o caso, a pagarem pelo esclarecimento.

Hoje o Brasil sabe que o PT mentiu para vencer as eleições. E agora percebe que ele continua mentindo. Só que com o nosso dinheiro.

 

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Intolerância e Omissão

Aécio Neves – Folha de S. Paulo – 22/06/2015

 

Na última quinta-feira (18) estive na Venezuela, na companhia de outros sete senadores, em visita de caráter oficial para levar solidariedade aos presos políticos do regime de Nicolás Maduro. Queríamos visitar o líder oposicionista Leopoldo López, no presídio desde fevereiro de 2014, e Antonio Ledezma, prefeito metropolitano de Caracas, mantido em prisão domiciliar.

Não conseguimos ir muito além do aeroporto. A estrada de acesso a Caracas estava bloqueada. Nosso carro foi cercado e impedido de continuar. Hostilizados e sob ameaça de agressão física, apesar de outras tentativas, não conseguimos avançar.

Nossa viagem atendeu ao apelo feito pelas mulheres dos líderes presos e se insere no conjunto de mobilizações e visitas de lideranças de outros países que têm ido à Venezuela levar apoio aos cidadãos perseguidos por discordarem do governo. Não há nada de original nesse esforço. Muitos devem se recordar da importância de gestos de solidariedade internacional como esses, ocorridos em favor de presos políticos brasileiros durante a ditadura implantada em 1964.

O que não nos deixaram ver na Venezuela nos dá uma ideia do que é viver hoje em condições de democracia ameaçada onde não há lugar para vozes dissonantes, para o diálogo e o confronto legítimo de opiniões. Onde a verdade pertence ao governo, como em velhos manuais aposentados pela história.

É inconcebível que ainda haja países onde os princípios invioláveis são permanentemente colocados em risco. Onde há prisões, cassações, pressões de todo tipo para constranger e imobilizar as vozes contrárias. Vozes que têm direito de se expressar e de serem ouvidas.

É incompreensível o apoio da presidente Dilma –em função da própria biografia de ex-presa política– a um governo que tenta silenciar seus opositores pela força.

Quem cala consente. O silêncio do Brasil é constrangedor e imoral. Em pleno século 21, é intolerável a existência de presos políticos. Não se transige com a liberdade. Há valores que, por sua força e significado, estão acima de diferenças partidárias e políticas. Temos o direito de viver com nossas opiniões e crenças. E de não sofrer violência de qualquer espécie por pensar diferente do governo de plantão.

Antes de ser política ou partidária, esta é uma causa humanitária. O tempo do vale-tudo, que justifica qualquer arbitrariedade em nome de um discurso político, precisa ser enterrado. A dignidade do homem deve sempre prevalecer sobre qualquer conveniência política. É isso o que, surpreendentemente, o governo brasileiro ignora, mesmo tendo a presidente Dilma vivido e sentido pessoalmente o que a intolerância é capaz de fazer. 

 

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Venezuela autoriza voo da FAB com senadores da oposição

O senador Aécio Neves anunciou no início da noite desta terça-feira (16/06) que a Venezuela autorizou a Força Aérea Brasileira (FAB) a entrar no país com a comitiva de senadores da oposição que farão uma visita de apoio aos presos políticos venezuelanos.

 

Aécio Neves sobre o pouso do avião da FAB na Venezuela:

“Houve, em primeiro lugar, uma ação importante do senador Renan, presidente do Congresso, a partir de uma solicitação formal do senador Aloysio e minha por uma aeronave que levasse uma comissão de senadores. O ministro Jacques Wagner veio comunicar que, após gestões, segundo ele encaminhadas junto ao governo venezuelano, houve autorização para o pouso de uma aeronave militar que levará uma comitiva de senadores à Venezuela na próxima quinta-feira. Me parece o gesto do ministro Jacques, também, extremamente correto e, na verdade, até de alguma reciprocidade.

O Brasil recebeu na última semana o presidente da Assembleia venezuelana que veio, num avião também oficial, visitar o Brasil. Vamos lá, atendendo um convite das oposições da Venezuela, agora, de forma oficial, numa aeronave oficial. E nós achamos que essa foi uma decisão acertada, tanto do governo brasileiro quanto do governo venezuelano.

Vamos então organizar nossa comitiva. Vamos decolar na próxima quinta-feira pela manhã e chegaremos por volta de 11:30 na Venezuela, e faremos uma programação organizada pelas oposições. Com dois objetivos prioritários: fazer mais um chamamento à libertação dos presos políticos e também clamar pela definição da data das eleições parlamentares naquele país, sob a fiscalização e o acompanhamento de organismos internacionais.”