Sobre o Farol da Oposição
O PSDB vai ocupar novamente espaço de protagonismo na política nacional. Não pelo PSDB, mas pelo Brasil. Não há outro partido político com essa disposição. Não há outro partido político atuando no Brasil hoje com a história do PSDB sem querer ter vínculos com o atual governo do PT, ao contrário, quer reafirmar sua oposição às práticas do governo do PT e sem identificação com várias das teses do bolsonarismo. Então, eu costumo dizer aos críticos que falam que o PSDB ia desaparecer, que o PSDB está passando por uma lipoaspiração para voltar mais forte, mais musculoso, para cumprir o seu papel.
Temos o dever de furar essa bolha, de dar aos brasileiros a oportunidade de votar a favor de um projeto e não contra o projeto A ou o projeto B, como vem fazendo boa parte da população brasileira hoje. Fechada a janela partidária, o PSDB tem uma contabilidade muito positiva. Vamos ter mais de 1.200 candidatos a prefeitos pelo Brasil. E o ITV, que eu presido hoje, vai alimentar esses candidatos, a nossa militância, os nossos mandatários com informações diárias sobre os malfeitos, os equívocos do governo e as consequências desses equívocos para a vida das pessoas.
E, ao mesmo tempo, vamos lembrar que não faz tanto tempo assim, o país teve no governo central, e vários estados tiveram, partido que entregava políticas públicas. Em Minas Gerais, levamos o estado com 853 municípios a ter a melhor educação fundamental do Brasil. Os programas de transferência de renda começaram em Goiás e governos do PSDB. Então, foram sempre governos transformadores, como foi o do presidente Fernando Henrique. O PSDB está renascendo com força e vai ocupar o seu papel.
Como vai funcionar?
Estamos com um grupo muito qualificado de técnicos, de colaboradores do PSDB, sob a coordenação do economista André Lacerda. Vamos produzir quase que diariamente, matérias curtas em relação aos equívocos do governo federal, sempre buscando apresentar uma alternativa a esses equívocos. Vamos estar constantemente e, concomitantemente, paralelamente, apresentando exemplos de boas gestões. Com qual objetivo? Reafirmar a nossa postura de oposição a esse governo, mas não apenas uma oposição raivosa para desconstruir, uma oposição que demonstre que nós somos alternativa.
Esse é o objetivo do PSDB, mostrar que somos alternativa de poder. Sabemos governar e o Brasil está carente de governos qualificados, com gente qualificada, com coragem para fazer as coisas acontecerem. Digo sempre que o PSDB não pode ser quantificado, não pode ser avaliado por número de vereadores, de deputados ou de governadores. Queremos ter cada vez mais, mas devemos ser avaliados e considerados pelo que já fizemos e pela coragem que vamos ter de voltar a fazer.
Então, vamos estar com as nossas bases, a nossa militância alimentada diariamente de informações, de denúncias em relação aos equívocos do governo, mas também de exemplo daquilo que fizemos quando governamos.
Como faz para romper essa polarização, que está bem consolidada?
Acho que o PSDB perdeu pouco de identidade ao longo desses últimos anos. E eu concordo, é desafio. Temos duas alternativas, ou vamos aceitar passivamente que os nossos filhos, os nossos netos viverão num país polarizado, uma polarização inculta, rasa, improdutiva, ou vamos lutar para furar essa polarização. Uma boa parcela dos votos que o Lula teve, que o Bolsonaro teve, não foram votos deles, não foram votos de simpatizantes deles. Claro que existem os fiéis de um lado e de outro, mas existe uma parcela que votou no Lula porque tinha horror ao Bolsonaro e que votou no Bolsonaro porque tinha o horror ao Lula.
A esses é que temos que voltar a falar. Esses que votaram, inclusive, comigo em 2014. Essa população está aguardando que alguém dê um grito e diga: Olha, existe novo projeto para o Brasil. Não precisamos ser reféns disso que está aí, da pobreza da política. Que se reflete no Congresso Nacional, nas relações no Congresso Nacional. Hoje só se fala de quê? De cargo e de emenda, de venda e verba, de dinheiro. Não é isso. O PSDB tem o dever. É fácil? Não é não. Acho que é difícil, mas é possível? Acho que é.
Furarmos essa bolha e apresentarmos um projeto para o país. E esse projeto vai resgatar a parcela dos eleitores de centro do Brasil, do centro democrático, que num determinado momento migraram para a extrema direita, e vai resgatar alguns que votaram no Lula ou no lulopetismo exatamente pela rejeição que tinha ao que o bolsonarismo representava. Repito mais uma vez: existe vida inteligente entre os extremos e o PSDB que vai liderar esse caminho.
Qual é a sua análise que o sr. diz é positiva no final da janela partidária? Há quatro anos o PSDB elegeu o prefeito da maior cidade do Brasil e a maior bancada da Câmara de Vereadores. Passada a janela partidária em São Paulo, não sobrou nenhum parlamentar.
Eu vou mais longe que você, você está sendo econômico. O PSDB passou por um tsunami em razão dos equívocos, inclusive de São Paulo, nas últimas eleições, ao nos impedir de ter uma candidatura à Presidência da República, para focar única e exclusivamente no projeto de São Paulo, projeto natimorto, que nunca existiu, com o ex-governador Doria, o PSDB sofreu as consequências no restante do Brasil, com uma bancada muito pequena.
Agora, é aquilo que eu disse, eu não acho que a questão do número de vereadores, ou número de deputados, seja fundamental para nós. O que o ITV está fazendo? Recuperando e resgatando, tentando pelo menos fazer isso, o nosso discurso. O que nós representamos no cenário político brasileiro? Olha, o Brasil tem hoje um número enorme de partidos políticos extremamente pragmáticos, que vivem na seguinte lógica: Olha, vou fazer deputado, que com deputado eu faço fundo eleitoral, com isso eu faço mais deputado e vou para o governo, qualquer que seja o governo.
Não preciso citar nomes porque vocês sabem, a maioria dos que estão aí. Então, o PSDB se diferencia nisso. Não estamos atrás de boquinha em governo, não estamos atrás de ministérios e, ao mesmo tempo, não somos irascíveis. Somos democratas, não nos alinhamos a uma agenda autoritária. Acho que chegou o momento de o PSDB voltar a falar alto para o Brasil. Olha, nós estamos vivos, temos projeto para o Brasil. O Brasil não merece ficar subordinado apenas a essa polarização, apenas a esses dois extremos.
E lá atrás, não conseguimos fazer isso. A verdade é essa. Desde 2018, onde fracassamos na eleição presidencial, e depois, em 2022, onde fomos impedidos de ter candidato, nos levou a hoje. A situação é muito difícil, mas eu estou aqui gritando porque eu acredito. Eu acredito que o PSDB vai voltar a ter protagonismo na política brasileira.
Em relação às votações no Congresso, esse projeto, essa tentativa de recuperar o protagonismo da oposição, vai de alguma forma tentar reorientar a postura que a bancada do PSDB tem tomado nas votações de interesse do governo no Congresso?
Até vi uma matéria sobre isso hoje e compreendo a sua pergunta. É preciso ver que votações que são essas. Porque, por exemplo, o PSDB votou a favor da reforma da Previdência no início do governo Bolsonaro. Fomos acusados de bolsonaristas. Será que a gente devia ter votado contra porque eu não era bolsonarista? E contra projeto que o PSDB defendia há 30 anos e que chegou maduro para ser votado, que foi o que aconteceu no início do governo Bolsonaro.
Agora vem a questão, por exemplo, do Bolsa Família, que o governo do presidente Lula botou para votar. Nós devíamos votar contra? Se ele é necessário para o Brasil. Eu teria outro modelo, mas ele é necessário ao Brasil?
Olha, nós somos oposição porque esse é governo perdulário, esse é o governo que não tem gestão, é um acinte, é uma vergonha, é tapa na cara dos brasileiros naturalizar um governo com 40 ministérios. É um governo que se impõe sobre as empresas estatais, como já fez no passado, com consequências gravíssimas para a gestão dessas empresas. Até nas privadas quis entrar recentemente com a Vale. É governo do compadrio, não mudou nada, é governo atrasado. As relações externas desse governo chegam a ser piores do que a do governo anterior, mas as duas são muito ruins.
O Bolsonaro fez alinhamento ideológico à direita na política externa, que afastou o Brasil de todos os fóruns relevantes do mundo. O Lula faz esse alinhamento, eu acho até que nisso ele é melhor que o Bolsonaro, sobretudo na questão ambiental, e eu reconheço – eu não tenho dificuldade de reconhecer que é muito melhor a gestão ambiental do governo atual do que era a do bolsonarismo. Mas isso não me faz ser aliado do governo, E não me faz concordar com a política externa do Lula, que é essa de sempre de ter uma palavra de compreensão em relação às ditaduras amigas. Tem espaço enorme para alguém caminhar. E o PSDB vai caminhar. Eu pelo menos vou caminhar. Tomara que tenha mais gente caminhando comigo.
Com essa movimentação do partido, o sr. pretende disputar novamente as eleições do governo de Minas Gerais? E como é que está a questão do apoio do senhor ao pré-candidato, à prefeitura de Uberlândia, já que o PSDB tem candidato e o amigo do senhor, Odelmo Leão, apoia outro candidato?
É, mas é natural isso. Isso é da política. Começando pelo final, Odelmo é meu amigo querido, foi meu secretário de Estado, sou amigo de toda a família, mas o meu partido, o PSDB, tem candidato que apoiamos, que é o candidato Leonídio (Bouças). As pessoas na política têm que saber que o adversário não é inimigo. Até isso está mudando na política, com esse radicalismo que está aí, o sujeito, dentro da sua família, dentro do seu grupo de trabalho, se você tem uma posição, você é inimigo do outro. Eu não sou. Vou continuar sendo amigo de vários adversários políticos meus. Vai ter o tempo de tomar o chopinho, mas, na época da eleição, vou distribuir o santinho do meu aliado.
Você tem falado muito em falar alto, mas o que traz de novo?
Acho que é uma posição clara de oposição. A imprensa, a sociedade brasileira, e não culpo ninguém por isso têm muita dúvida sobre a posição do PSDB. Isso que nós falamos aqui agora, nas votações, aquilo que for importante para o Brasil, venha do governo, venha de quem vier, nós temos que votar a favor. Mas eu concordo que a gente tem que ter uma agenda de oposição mais clara. Essa talvez seja a grande novidade, seja novo momento. Estamos assumindo um papel claro de oposição. O nome desse projeto, Farol da Oposição, já ajuda a deixar claro que não somos independentes, não somos coniventes, somos oposição ao governo que está aí. É esse que é o diferencial. E acho que isso tem que ter, concordo, consequências na nossa ação no Congresso, na nossa ação dos nossos governadores, na nossa ação nas Assembleias.
Quero é municiar as bases do partido, a militância do partido, os vereadores do partido, todos aqueles que têm simpatia pelo partido com conteúdo. Enquanto a única alternativa ao lulopetismo for o bolsonarismo raiz e o que ele representa, acho que o Lula pode viajar pelo mundo aí com a sua esposa, que vai continuar ganhando eleições. Mas é muito pouco para o Brasil. Temos que dizer que existe uma outra oposição, dura, firme, mas qualificada, uma oposição em condições de governar. Nós nos colocamos como essa oposição, madura, experimentada, em condições não apenas de combater o governo, mas de governar no momento que derrotarmos o governo. É isso que eu estou querendo apresentar ao Brasil, uma nova e vigorosa oposição ao governo do PT, porque o Brasil merece muito mais do que estamos tendo hoje.
E nessa oposição, o PSDB e o senhor vão entrar nesse pacote proposto pelo Lira com CPIs, com várias ações contra o governo? Como é que estão vendo isso?
A CPI não pode ser uma coisa genérica? Se você me perguntar sobre determinada CPI, obviamente, se tiver fato objetivo que a justifique, vamos apoiar. Não vamos fazer uma agenda de prejudicar o governo. Basta denunciarmos os equívocos do governo. Porque eu acho que quem faz oposição ao PT é o próprio PT, que não avançou, não evoluiu. É aquela coisa do compadrio, é aquela coisa da distribuição dos cargos pelos amigos, nunca vi tanta gente empregada. Acho que não tem nenhuma família de petistas que tenha alguém fora do governo hoje, porque toda hora tem notícia de um cargo a mais, ou ministério a mais, ou uma estrutura de estatal a mais a serviço do PT.
Eu vou dizer, para encerrar, o seguinte, já dizia isso lá atrás: O PT tem uma prioridade, que não é o Brasil, infelizmente. É o PT. Sempre foi assim, historicamente. O PT votou contra Tancredo no colégio eleitoral porque achava que isso não interessava a eles, porque Tancredo não era do PT. O PT encaminhou, e o líder do PT chamava-se Luiz Inácio Lula da Silva, eu estava no plenário da Câmara, pode não parecer, mas eu era constituinte ainda, e o Lula encaminhou contra a Constituição. Celebraram ela e agora a Constituição da Democracia e votaram contra. Votaram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Se tivesse prevalecido as posições do PT, onde é que estaríamos? Talvez não tivéssemos nem recuperado a democracia no Brasil. Isso tem que ser denunciado. Eu não consigo aceitar passivamente o PT hoje posando de os grandes democratas, tendo votado contra a Constituição do Brasil em 1988.
Sobre eleições em Belo Horizonte.
Estou indo para Belo Horizonte amanhã, terei uma reunião com o deputado João Leite e eu defenderei com todas as forças que o João Leite seja o nosso candidato à Prefeitura do Belo Horizonte e se for, vai ganhar a eleição.