Aécio Neves – Jornal Estado de Minas – 10/12/2016
O Brasil vive um momento delicado de tensão política e econômica que requer de seus protagonistas na vida pública responsabilidade, discernimento e capacidade de diálogo. Nesse momento se confirma o grau de maturidade institucional da democracia brasileira.
É natural que os ânimos estejam acirrados. A dificuldade de equilibrar as contas públicas, a quebra de expectativas em relação a uma retomada mais acelerada da atividade econômica e o aprofundamento da crise social – com o desemprego atingindo mais de 12 milhões de brasileiros – deixam no ar uma sensação de desconforto e de desconfiança.
Ao mesmo tempo, propostas de reformas estruturais começam a ser debatidas, depois de um longo inverno de procrastinação. São questões fortes, polêmicas, até então ausentes da agenda pública, agora postas em discussão de forma transparente.
O ambiente em ebulição das últimas semanas precisa ser analisado com maior isenção, até para se reconhecerem os avanços significativos já obtidos no enfrentamento da crise econômica. A PEC do Teto dos gastos foi aprovada em dois turnos na Câmara e uma vez no Senado, por ampla maioria.
O presidente Michel Temer encaminhou ao Congresso uma proposta de reforma da Previdência, ainda a ser debatida, que sinaliza coragem do governo em enfrentar, o que precisa ser enfrentado para preservar, no futuro, os direitos dos trabalhadores.
São medidas essenciais para livrar o país do caos fiscal após o fiasco da gestão petista. É importante lembrar, igualmente, que o atual governo montou uma equipe de excelência na gestão econômica e requalificou a direção de órgãos públicos e estatais.
Também no âmbito político há avanços significativos. O Senado aprovou a PEC criando instrumentos para racionalizar o quadro partidário brasileiro e agora procede ao debate sobre o importante pacote anticorrupção apresentado pelo Ministério Público, dentro do trâmite normal das comissões. Sem açodamento, sem corporativismo, sem radicalismo.
Em todos esses casos, o que se busca é o confronto de ideias, o aprofundamento dos debates e consensos possíveis. Sem vencidos ou vencedores. Não há clima para a beligerância política. Trata-se de uma mudança radical de paradigma.
A democracia está em pleno vigor no país e a opinião pública protagoniza uma participação inédita. Há um sentimento latente de repúdio à corrupção e de cobrança pelo melhor uso dos recursos públicos.
Nesse ambiente efervescente e dinâmico deve prevalecer a boa e verdadeira política. Exercida de forma transparente, respeitosa com os diversos segmentos sociais e com a pluralidade de opiniões. Uma política que acredita na força das ideias.
Por isso mesmo capaz de compreender e dialogar com as diferentes vozes que expressam os pontos de vista dos brasileiros. É com o debate profundo, aberto e que traduza a realidade que podemos superar palavras de ordem manipuladoras da percepção popular e construir, passo a passo, um novo rumo para o país.