Ao ser convidado a escrever sobre uma Copa inesquecível, fiquei em dúvida sobre de qual falar: sempre fui um apaixonado por futebol desde que, pelas mãos de meu querido e saudoso pai, Aécio Cunha, muito cedo comecei a frequentar não só os estádios mas inúmeras vezes até os treinos do meu time do coração, o Cruzeiro, do qual ele foi por muitos anos vice-presidente.
Pensei em lembrar o time mágico de Telê Santana em 82, com Zico, Falcão e Sócrates, mas logo me veio a lembrança de Paolo Rossi e desisti da ideia. Ou do esforço do pouco acreditado campeão de 94, comandado por Dunga, Romário e Bebeto. Pensei ainda em lembrar o sofrimento de 98 na França (eu estava lá) ou a heroica conquista de 2002 com os gols mágicos do maior artilheiro de todas as Copas, meu amigo Ronaldo.
Mas resolvi viajar ainda mais no tempo para falar da primeira Copa a que assisti. A do tri, em 1970 (México).
Eu tinha então dez anos de idade e sabia, mesmo sem entender direito que alguma coisa ruim acontecia no país, fosse pelas conversas em voz baixa nas visitas que nos fazia meu avô Tancredo ou pelas inúmeras reuniões que aconteciam na minha casa, em que as conversas eram interrompidas sempre que as crianças entravam na sala.
Mas era tempo de Copa e, com meu álbum de figurinhas completo debaixo do braço, fazia questão de ser dos primeiros a chegar ao Instituto Zilah Frota para repetir, como se fosse profundo conhecedor da matéria, tudo o que ouvia meu pai comentar com os amigos.
Minha primeira bronca fora com o corte de Dirceu Lopes, craque celeste e hoje um querido amigo. Depois para dizer que só um louco poderia achar que não havia lugar para Pelé e Tostão no mesmo time (e tinha gente que achava). E, por fim, para defender um lugar para Piazza no time. Não por coincidência, todos cruzeirenses.
A Copa começou, a TV colorida que meu pai disse que encomendara jamais chegou. Tenho até hoje sérias dúvidas se essa encomenda existira mesmo. Nem sei se na época havia transmissão em cores ou se foi apenas uma fantasia para alimentar a minha imaginação. Mas não importa. A categoria do time de Pelé e cia. coloria a tela.
Foram quatro semanas de alegria e êxtase. Depois da final contra a Itália, saímos para comemorar no Aero Willys de meu pai, que, disciplinador enérgico, pela primeira vez me deixou sentar no capô do carro. Era a glória! Comemorei muito e cheguei a me orgulhar do Brasil.
Não passaram muitos anos para eu perceber que fora das quatro linhas não havia do que nos orgulhar.
Volto a 2014. A bola rola em mais uma Copa do Mundo, agora na nossa casa, e meu sentimento é que nos preparamos para duas históricas vitórias: a primeira delas em julho, dentro de campo, e a segunda, a da democracia, em outubro, fora dele. Ambas farão muito bem ao Brasil!
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