Folha de São Paulo
Aécio Neves
Temos assistido a um verdadeiro teatro do absurdo, encenado pelos ex-executivos da JBS, réus confessos de centenas de crimes, que buscam desesperadamente manter a incrível imunidade penal dos seus acordos de delação.
Cumprindo um enredo previamente determinado, omitem boa parte dos crimes que cometeram, em especial aqueles que têm relação com suas empresas e os generosos favores públicos que obtiveram, e passam a fazer falsas acusações exatamente àqueles com quem jamais tiveram qualquer relação ilícita.
Contrato publicitário comprovadamente executado por emissora de rádio da minha família se transformou em “mesada”, apenas porque assim decidiram os delatores. A JBS investe bilhões em contratos de publicidade em TVs, rádios, jornais, revistas e sites em todo o país. Mas apenas esse único contrato foi, por eles, colocado sob suspeita. Amanhã, qualquer veículo de comunicação pode ser alvo da mesma falsa narrativa, bastando para isso que ela atenda aos interesses dos delatores.
De repente, doações oficiais de campanha passam a ser “recursos para comprar partidos”, só porque os delatores assim resolveram tratá-las. Não importa a realidade, não importa que os partidos citados fossem os mesmos que em diversas eleições já vinham se coligando ao PSDB. As próprias doações ao PSDB registradas no TSE e compartilhadas com vários estados são colocadas repentinamente sob suspeita.
Trecho do depoimento do delator Ricardo Saud dá a medida da irresponsabilidade com que o tema é tratado: “Mas o Solidariedad…não foi comprado…porque eles já vinham contra a Dilma, eles já iam automaticamente para o PSDB…mas…vamos falar que foi comprado também por R$ 15 milhões…”
Para sustentar suas falsas acusações, os delatores vão além. Sem conseguir apontar nem uma contrapartida sequer que tenha sido feita por mim em 8 anos de governo e em 25 de Parlamento, o que, aliás foi reconhecido por eles mesmos –“ele nunca fez nada por nós”–, surge, candidamente, a singela afirmação: “ele nos ajudaria se fosse eleito”.
O fato é que eu já havia sido eleito deputado, governador e senador e nada, absolutamente nada, foi feito em favor deles. Então, na narrativa criminosa dos delatores, exatamente quem nunca os ajudou passaria a ser aquele que, no futuro, os beneficiaria.
Aceita essa tese absurda, entraríamos no terreno perigoso em que qualquer candidato que, em qualquer tempo, tivesse recebido recursos legais na sua eleição estaria prestes a ter cometido um crime, bastando, para isso, que o doador, em razão da sua conveniência, dissesse simplesmente: ele ia me ajudar no futuro.
Mas por que tudo isso?
A verdade salta aos olhos. Esses cidadãos têm hoje uma só prioridade, que é a manutenção dos incríveis benefícios de seus acordos de delação. Acordos cujas rescisões foram pedidas exatamente pelas mentiras ditas e pela tentativa de manipular as instituições do país, usando até mesmo o “serviço” de um então membro do Ministério Público.
Tentam, portanto, a qualquer custo, criar um falso crime para dar ares de efetividade às suas delações, cuja validade está sendo questionada no STF.
A farsa que se tenta montar é repugnante, e contra ela, me levantarei todos os dias.
Mas, mesmo no castelo de falsidades construído, os delatores não conseguiram apresentar contra mim uma única acusação de uso indevido de dinheiro público.
Apesar de todos esses ataques infames, me resta o consolo de ver que grande parte da agenda econômica que apresentei em 2014 faz parte do programa do presidente eleito e, para sua viabilização, me empenharei agora na Câmara dos Deputados.
Ao final, registro que os inquéritos abertos pelo antigo procurador-geral da República nos quais sou citado convergem exclusivamente para o financiamento de campanhas eleitorais e para o cumprimento de minhas responsabilidades como dirigente partidário, sempre dentro do que determinavam as regras à época.
Jamais recebi benefício indevido, e isso ficará cabalmente provado. O país não pode permitir que se inverta a lógica da justiça e os criminosos que se enriqueceram às custas do dinheiro público sejam poupados para, em seu lugar, inocentes serem acusados para saciar a sanha inquisidora de alguns.
Artigo publicado na Folha de S.Paulo – 19/12/18