A derrocada do emprego

Aécio Neves – Jornal Estado de Minas – 28/11/2015

O que já era ruim está ficando muito pior. Em pleno período pré-natalino, os setores do comércio e da indústria ainda não iniciaram as tradicionais contratações temporárias para as festas de fim de ano. Ao contrário, eles estão demitindo. Esse é apenas um dos cenários que ajudam a entender o que anda acontecendo no Brasil quando o assunto é emprego. Os dados do IBGE divulgados esta semana revelam que já temos um exército de 9 milhões de desempregados.


É muita gente, ainda mais quando se sabe que cada emprego representa, em sua extensa maioria, uma fonte de suprimento para várias pessoas – esposas ou maridos, filhos, pais. Cada vaga de trabalho que se esvai significa uma família em apuros. É gente que, de um momento para o outro, perde benefícios como plano de saúde, tiquete alimentação e cesta básica. A crise é contagiosa e voraz. Desemprego impacta na queda do consumo, no crescimento do mercado informal de trabalho e no aumento da inadimplência, entre outras consequências na economia.


A situação é dramática – e ainda não chegamos ao fundo do poço. Economistas do mercado preveem uma taxa acima dos dois dígitos em 2016. Em 11 capitais brasileiras, o índice do desemprego já supera os 10%, sendo que em Salvador chega aos 16%. Não há mais como tapar o sol com a peneira. A economia naufragou e estamos vivendo uma das piores recessões de nossa história. Os mais prejudicados com esse jejum de empregos são os jovens adultos de 18 a 24 anos de idade.


Nesse cenário, uma das vedetes da propaganda petista mostra-se ineficaz como fator de empregabilidade. Para milhares de jovens que acreditaram nas promessas do Pronatec, estudos do Ministério da Fazenda comprovaram que os cursos do programa são irrelevantes para facilitar o acesso ao mercado de trabalho. A realidade tem rasgado muitas das fantasias vendidas pelo governo.


Infelizmente, o fim do túnel não está próximo. Em decorrência dos erros grosseiros de gestão econômica e de governança política, o país navega em mares revoltos, sem rumo. A desaceleração econômica provoca estragos em cadeia, colocando em risco importantes avanços sociais dos últimos 20 anos. Para muitos, o sonho durou pouco: pelo menos 1,2 milhão de famílias já voltaram para as classes D e E. O desemprego cresceu em 22 das 27 unidades da Federação e avança das principais regiões metropolitanas para o interior.


Na esteira dos números ruins, alguns deveriam nos envergonhar. Em 2014, depois de anos em queda contínua, o trabalho infantil voltou a crescer no país. São 3,3 milhões de pequenos trabalhadores com idade entre 5 e 17 anos, um retrato de nosso despreparo para alcançar a maioridade como nação. Nossa dívida com as novas gerações ainda está longe de ser superada. Com a nau governista velejando a esmo, como fazer a travessia para um país melhor? Precisamos manter vivos os nossos sonhos. Precisamos permanecer mobilizados, não apenas na nossa indignação, mas, sobretudo, no nosso amor pelo Brasil.

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